Saga encostou-se na divisa entre cômodos, dali podia ver o que era o próprio estúdio, por assim dizer, tinha guitarra, tinha um violão, tinha também um piano. Ao erguer o olhar os olhos cinzentos doeram pela claridade que vinha da porta transparente, deixando invadir a sala com a luz de fora, embora fosse uma simples fresta solar, era mais do que havia visto naquele dia. Caminhou com passos arrastados, não estava realmente indisposto, mas não estava disposto também. Podia sentir na sola dos pés a barra da calça flanelada, preta, simples, assim como a regata que mais era um tecido desajeitado no tronco, embora pelo número de tatuagens não fosse possível distinguir se aquilo era mesmo sem mangas. Sentou-se no banco aveludado, não achava aquilo realmente confortável. Com o dedo indicador tocou uma, duas vezes, três vezes a mesma tecla, aos poucos criou coragem para pensar numa continuidade. Estava sozinho naquele dia, o agente não estava para encher o saco, felizmente havia ganhado uma folga de sua presença, os caras da banda estavam tentando passar pelo mesmo, uma breve desintoxicação de vícios, embora eles com certeza não precisassem tanto quanto a si. Gostava daquele descanso de pessoas, às vezes precisava disso, no entanto, percebeu por um instante que uma presença seria boa por ali, aquele garoto, Azaiichi. Teclou o instrumento, murmurando algumas palavras, se havia algo na vida que amava, era a música.
- Moshi dare ka no... Kimi de... Aru koto ni furu... - Grunhia as palavras, até que elas estivessem mais fortes para si, assim como a melodia do piano, até que a voz rouca fluísse após um trago daquela bebida tão sem graça, água. - Kanashimi no subete wo kaze ni noseta yureru kagerou mite kimi wo daiteta... Ima kore ijou kono mama hanareta nara... Koware sou na yokan ni obieru darou... Toki ga tomaru koto wo tada negatteta...*
Um suspiro deixou os lábios de Azaiichi, estava cansado, tivera que pegar um avião para a escola e depois, voltar para ele, não podia ir todos os dias e nem queria se afastar dele, então havia conversado com a professora sobre a possibilidade de fazer as tarefas pelo computador, assim como a aula, era inteligente, alegou que um membro da família estava doente, mas ele era mais do que um membro da família para si, era uma parte que não podia mais simplesmente perder, estar longe dele um dia já era ruim o suficiente, havia tipo três tipos de ansiedade, se ele iria fazer alguma besteira, se iria se machucar, se iria se drogar de novo, se iria chamar outra pessoa se não a si, não entendia os medos que tinha, sempre quisera somente uma parte dele, mesmo que fosse pequena, que pudesse chamar de própria, e de repente se via tendo ciume dele, pensando nele com outra pessoa. Talvez aquilo havia acontecido já que agora não era só um amigo ou conhecido dele, haviam selado um namoro que para ele soava até meio infantil, mas para si significava muito. Havia se sentido carregando um peso nas costas desde que ele havia dito para si que queria se matar, mas não era um peso de cuidar dele, e sim o peso de nunca ter notado isso antes, de nunca ter se aprofundado nele mais do que o que faziam na cama, e aquilo era amargo nos lábios, tinha medo. Agarrou a barra da camisa do uniforme enquanto olhava pela janela, tinha lágrimas nos olhos, e havia percebido que não chorava desde a última vez que o viu doente, tentou se manter forte por ele em sua desintoxicação, mas a verdade é que algumas vezes se trancava no banheiro com lágrimas nos olhos, detestava ver ele daquele jeito, detestava o que haviam feito com ele, o que ele havia feito consigo mesmo. Silencioso retirou o fone de ouvido que tocava uma música dele, precisava ouvi-lo, mas notou a presença de alguém lado a si.
- Azaiichi-san.
- Sim?
- Já chegamos, tem um carro esperando você lá fora.
- Obrigado.
Sorriu meio de canto e pegou a mochila e mala que havia levado, estava pensando em trocar de escola, para uma escola mais perto dele, mas não sabia se podia de fato morar em sua casa, não faria aquela sugestão ou poderia assustá-lo, mas de algum modo, já estava morando lá. Ao seguir para o carro, entrou e encostou a cabeça no banco, dentro da mochila pegou o estojinho de maquiagem, passou a base no rosto, lápis de olho, não queria estar feio para vê-lo, em alguns minutos, estava de volta. Ao sair do carro, subiu as escadas, não conseguia ouvi-lo pela casa, então sentiu o coração bater num soco no peito, correu para seu quarto, fitando sua cama vazia.
- Saga?
Chamou, deixando a mochila e a mala de viagem ali mesmo, foi até o banheiro, batendo na porta antes de abrir, a banheira estava vazia, não havia sinal dele. Caminhou até a cozinha, sala, e por último, o estúdio no andar de cima, iria chamá-lo de novo, mas pela porta aberta ouviu os toques no piano, então silenciou-se e devagar caminhou para dentro, em dias, ele estava tocando, e cantando, teve que sorrir para si mesmo.
Saga ouviu ruir alguns passos de si, o que fez com que desviasse a atenção dispersa, não olhava nada ali fora, embora os olhos estivessem abertos, era como se olhasse para dentro de si mesmo, buscando a letra que pronunciava aos poucos, viu no entanto Azaiichi, sorriu para ele daquele típico jeito preguiçoso, mas nem por isso deixou de cantar a música, por um momento imaginou se estava cantando aquilo para si ou para ele. Azaiichi sorriu a ele, não queria que ele houvesse visto a si, mas ficou em silêncio quando percebeu que ele continuava a cantar, gostava muito de ouvir, era uma letra nova, e prestava atenção em cada uma das palavras, não estava certo se parecia uma letra romântica, ele não era do tipo que escrevia coisas assim. Saga cantou um pouco mais, até que as palavras fossem virando apenas murmurios e enfim, interrompeu, junto a última teclada no piano.
- Okaeri, pirralho.
Azaiichi sorriu novamente conforme o ouviu e caminhou até ele, parando lado ao piano.
- É nova? É linda.
- Hum, não realmente. É uma que comecei há algum tempo, mas que vou fazendo aos poucos. Acho que sem querer terminei ela hoje.
- Ah... - O menor disse conforme se aproximou e selou os lábios dele. - Você vai lançar?
- Hum, não, acho que não. Você ia gostar de ouvir algo assim?
- Eu iria adorar. - Azaiichi sorriu.
- Uh, você vai adorar até se eu disser que vou cantar uma música falando sobre macarrão instantâneo.
O menor riu.
- É claro que ia, eu adoro macarrão instantâneo.
- Hum, eu também gosto. Vamos almoçar lamen hoje.
Azaiichi riu e assentiu, tocando os cabelos dele e abaixou-se, roçando o nariz ao dele, embora ele ainda achasse a si uma criança, sentia que não era mais o mesmo de quando o conheceu.
- Senti sua falta...
Saga o observou a medida em que se aproximou, teria dado uma das pernas para ele se sentar, imaginava que pretendia fazer isso, mas ganhou aquele estranho afago de nariz e riu, achava graça embora soubesse que era um gesto de carinho.
- Hum, talvez eu também tenha sentido a sua. - Brincou, mas havia sentido mesmo.
Azaiichi sorriu e continuou a carícia em seus cabelos.
- Sentiu mesmo?
- É, senti sim. - Saga disse e ao se levantar passou o braço ao redor de seu pescoço. - Vamos, vamos fazer lamen. Está cansado da viagem?
Azaiichi sorriu novamente, dessa vez o sorriso era bem maior.
- Vamos! Iie, eu vim de avião, foi rapidinho. Estou um pouco cansado da aula, eu tive três aulas de matemática seguidas e odeio matemática...
- Como foi na escola?
Saga indagou e a medida em que chegaram à cozinha, buscou a louça o qual preparou a água para ferver.
- Ah, isso está tudo certo, eh vou enviar as atividades pra ela por computador, e... Eu estava pensando em me transferir temporariamente pra uma escola daqui
- Hum, mas é sua mãe que pode decidir isso pra você.
- Eu posso pedir pra ela. Ela não se importa que eu esteja aqui aparentemente.
- Ela sabe o que você tem feito?
Saga indagou e se encostou ao móvel atrás de si.
- Eu mando mensagem pra ela, ela sabe que eu estou com você. É que ela trabalha muito, quase nem visualiza o que eu mando, nem me responde. - Azaiichi disse num pequeno sorriso. - Ela ia me visitar geralmente só uma vez no ano, no natal.
- O que ela faz afinal? Talvez eu já tenha perguntado mas não lembro.
Azaiichi sorriu meio de canto e negativou.
- Ah... Ela é empresária.
- Hum, uma resposta bem evasiva.
- É complicado. Não é importante. Eu só... Só não a vejo muito.
- Sei, se não quer falar sobre isso então tudo bem. Pais são complicados mesmo.
Azaiichi sorriu meio de canto, estava evidentemente incomodado, não gostava de falar sobre a mãe, quando perguntavam sempre tentou ser evasivo, mesmo na escola, em dias das mães, era sempre sozinho, a via uma vez por ano, no máximo, no natal, e ela geralmente só trazia um presente, a família era a empregada com quem vivia.
- ... Você... Vai ter show no natal esse ano?
- Temos evento de ano novo na verdade, algumas bandas vão se apresentar na virada.
- Ah, eu posso ficar com você ainda assim?
- Você sabe que é convidado, pirralho.
Azaiichi sorriu e assentiu, pegando o macarrão no armário a entregar a ele.
- ... Minha mãe não gosta muito de mim, sabe?
Murmurou, era a primeira vez que falava algo pra alguém. Saga aceitou o macarrão e abriu a embalagem, dispondo na panela onde a água fervia. - Você não precisa falar disso se não quiser, Azaiichi.
O loiro assentiu e abaixou a cabeça.
- Desculpe.
- Desculpe o que? Eu não estou brigando, só não quero que se sinta obrigado a falar alguma coisa, mas pode falar comigo se quiser me contar.
- Não, tudo bem...
- Não quer falar? - Saga se aproximou dele.
Azaiichi ergueu a face para olhar pra ele, sorriu meio de canto.
- Acho que você tem muita coisa na cabeça.
- Não aja como se eu fosse um cristal, Azaiichi. Eu já sou adulto, você que é o pirralho aqui. - Dito, Saga beliscou sua bochecha.
Azaiichi riu baixinho e negativou, abaixando a cabeça.
- Ah... Minha mãe não mora comigo, mas também não trabalha tanto quanto eu disse pra você... Quando eu tinha doze anos, meu pai bateu o carro voltando pra casa. Murmurou, era difícil contar então os lábios tremiam um pouco. Ele estava voltando rápido porque era meu aniversário e ele não... Queria perder a festa, então... Ele ultrapassou um sinal e bateu. Minha mãe, eu sei lá, eu acho que ela ficou com raiva de mim por isso... Ela não falava mais comigo, se afastava sempre que eu tentava falar com ela... Até o dia em que ela me deixou na casa e se mudou pra outra cidade dizendo que ia trabalhar... Mas eu pesquisei ela no facebook e sei que ela tem outra família lá... Então...
Saga voltou-se para o preparo do macarrão, mas não deixou de olha-lo porém enquanto ouvia o que dizia. De alguma forma havia pensado exatamente sobre outra família a respeito de sua mãe e sua ausência, preferia não ter acertado esse detalhe.
- Sinto muito, garoto. Sua mãe é uma vagabunda.
Azaiichi riu conforme o ouviu, não era algo pra rir, mas, se surpreendia sobre como ele havia falado.
- É, eu sei que ela é. Eu já cheguei a pedir pra ela pra passar o natal com eles, mas, pelo jeito ela não quer que saibam que eu existo. Então... Por isso eu não me importei muito quando fui atrás de você a primeira vez, acho que se você tivesse me matado, estaria fazendo um favor pra ela. - Sorriu meio de canto.
- Hum. - Saga murmurou em compreensão. - Bem, se ela não se importa, você não deveria se importar também, mas eu não sou bom em dar conselhos, eu não sei o que dizer embora eu sinta muito que tenha que passar essas coisas, eu sei como é lidar com família. Azaiichi assentiu, assim como ele, não sabia o que dizer, então por isso mesmo preferia não falar sobre isso, só ficava triste por ser tratado daquela forma, como se fosse lixo, uma sobra, era como se tivesse morrido junto do próprio pai.
- As vezes eu sinto falta dele... Ele era uma pessoa incrível.
- Bem, dizem que o que é bom dura pouco, talvez seja o mesmo com as pessoas.
Saga disse e dispôs seu macarrão num bowl de cerâmica, preto com detalhes dourados sutis. Serviu-se como para ele e parou a sua frente enquanto segurava o recipiente que aquecia a palma das mãos a seu redor.
- Bem, mas eu estava esperando você voltar.
O menor observou o bowl nas mãos dele e sorriu conforme o ouviu, aceitando a comida e piscou algumas vezes para afastar as lágrimas nos olhos. Saga sorriu canteiro e tocou seus olhos, secou as lágrimas e lambeu o dedo salgado pelo toque das gotas. Ao se aproximar dele, o menor não o abraçou porque segurava o bowl entre as mãos, mas encostou-se nele, em seu peito e fechou os olhos. Saga abaixou a cabeça o suficiente para dar um beijo no topo de sua.
- Depois eu fico peladão pra você ver e ficar feliz. - Brincou, tentando descontrair.
Azaiichi sorriu meio de canto conforme o ouviu e riu baixinho, assentindo.
- Tá bem...
- Me desculpe, garoto, eu nunca soube aconselhar alguém. Eu também não me dou bem com os meus pais, mas não me importo com isso e bem, a única coisa que eu sei pra me sentir bem é usar drogas e transar.
- Iie, não vamos mais falar de drogas. E também, isso não é importante pra mim, eu estou bem. Vamos só comer o lamen. - Sorriu.
- Mas de todo modo, mesmo não sabendo bem o que dizer, estou aqui pra deitar com você e fazer um lamen se quiser. - Saga sorriu, canteiro. - Transar também.
Ao ouvi-lo, Azaiichi sorriu e deixou o lamen de lado por um segundo, abraçando-o agora. Talvez ele não fizesse alguma noção de como era ouvir dele que ele estava ali para si, ele era só o homem que mais admirava e amava na vida, e já estar há um mês sem ouvir que era um pirralho, era um avanço. Embora para ele parecesse um pirralho ainda, havia cuidado de si mesmo desde os doze anos, talvez fosse sempre ser daquele jeito meio infantil, mas dava o próprio melhor.
- Obrigado...
Saga deixou o almoço preguiçoso de lado e o retribuiu em seu abraço. Não conhecia muito além das coisas que dizia a ele, era problemático demais e sabia disso, não ousava dizer a alguém o que fazer para se sentir melhor, porque no fim não sabia sequer o que fazer consigo mesmo. Mas sabia que a presença daquela criança era algo bom, então podia imaginar que fazer o mesmo para ele, poderia ser de alguma ajuda.
- Vem, vamos... Vamos comer seu macarrão, parece uma delícia.
Azaiichi disse num pequeno sorriso e ergueu o rosto a selar os lábios dele.
- Parece um macarrão instantâneo. - Saga sorriu canteiro e retribuiu seu beijo. - Sinto muito não saber como confortar você, Azaiichi.
O menor riu baixinho ao ouvi-lo e negativou.
- Eu gosto de macarrão instantâneo. - Disse e tocou-o no rosto. - Não tem problema, você estar comigo é mais importante.
- Você quer comer aqui ou quer ir descansar?
O moreno indagou e tocou sua mão antes no rosto, afagou breve seu dorso com o dedo polegar. O loiro sorriu a ele, ele estava amável naquele dia, era quase um sonho.
- Vamos sentar aqui, eu gosto desse clima meio escuro de chuva. - Riu.
- É, também gosto.
Saga disse e sorriu canteiro, se sentou, acomodado aonde o outro também estava. Feito isso, acabou se levantando para servir a bebida para os dois e então retomou o almoço. Azaiichi sorriu, bebendo alguns goles do suco.
- Eu trouxe cigarro, sei que... Você precisa dele, então...
- Obrigado.
Saga sorriu canteiro enquanto seguiam formulando o almoço. Não era suficiente com certeza, o cigarro nunca teria a mesma intensidade, mas certamente precisava dele.
- Comprei dois de cravo. - Azaiichi sorriu e bebeu um pouco do caldo do macarrão. - Hum, qual é a sua confiança salgada favorita? É algum pãozinho?
- Hum, eu gosto de sushi. Meio tradicional, ah? E a sua?
- Hum, mas sushi é muito bom mesmo. Ah, eu gosto de macarrão ao molho funghi. - Azaiichi riu.
- Bem específico. Bom, vamos ver se em algum momento encontramos algum restaurante bom para isso.
- Eu gosto de comida italiana. - O menor riu.
- É, eu gosto também. Como pouco, mas gosto.
- Hum, então podemos ir num restaurante qualquer dia.
- Sim, foi o que eu disse, procurar um bom lugar pra você comer seu macarrão com funghi.
Azaiichi assentiu e finalizou o almoço.
- Ah! Eu trouxe chocolate também! Pode ser a sobremesa.
- Hum, eu tenho alguns bolinhos mágicos, quer provar? - Saga sorriu, canteiro.
Azaiichi desviou o olhar a ele, incrédulo.
- Saga!
- O que? É só maconha, Azaiichi. Não é nada de mais...
- Você está fazendo desintoxicação, não pode comer essas coisas...
- Eu já fiz a desintoxicação. É diferente do vício. E não é nada forte.
O menor uniu as sobrancelhas.
- ...Promete?
- Sim...
- Hum... Eu experimento.
Saga sorriu, risonho.
- Certo, depois do nosso almoço saudável.
- Hum, tá bem. Disse num pequeno riso e bebeu pouco mais do suco. Eu já acabei!
- Isso é vontade de provar o bolo?
Saga riu enquanto terminava a própria refeição.
- Eh? Não, eu já terminei faz tempo, por isso falei do chocolate, ora.
- Certo, então vamos te deixar provar uns bolinhos.
Dito, Saga levou a louça até a pia, lavou rapidamente as peças, sem deixar de dar atenção é claro mas tão logo deu fim a atividade e buscou os doces armazenados. Um dos bolos pegou e levou até ele, estendendo a sua frente. Azaiichi o observou enquanto lavava a louça, era algo que nunca havia visto ele fazendo, ele tinha empregados e ainda assim lavava o que usava. Sorriu meio de canto conforme viu o bolinho e aceitou, o fitando antes de pensar em provar.
- E se eu morrer?
- Não vai, nem eu morri fazendo coisas piores. - Saga sorriu, canteiro.
Azaiichi assentiu e mordeu um pedaço do bolinho, fez uma pequena careta, mas mastigou.
- Hum...
- Hum, tem gosto de chocolate mas um pouco de grama também, não seja fresco. - Riu.
- Eu pareço uma vaca comendo grama. - O menor riu.
- Ah, você não gostou mesmo?
Azaiichi riu.
- Gostei sim, não é tão ruim...
- Daqui a pouco você vai gostar mais. - Saga sorriu. - Quer beber alguma coisa? Chá, chocolate quente?
- Hum, não...
Azaiichi murmurou e mordeu mais um pedaço do bolinho, entregando a ele.
- Quer saquê?
- Quero.
- Hum, só um pouco, ah?
Saga indagou e foi até o bar pequeno na sala de jantar aonde nunca recebia qualquer visita. Trouxe a garrafa de saquê e levou até a cozinha, aqueceria a bebida, no meio tempo ia mordiscando o doce.
O menor riu baixinho.
- Ah, tudo bem eu beber saquê.
- É, numa quantidade moderada.
Saga sorriu canteiro enquanto preparava os copos para servir a bebida. Feito, serviu a dose quente para ele, mas voltou dar atenção ao bolo. Azaiichi aceitou o saquê e bebeu de uma vez a pequena dose do copinho, mas olhou a ele enquanto mordida o bolo e uniu as sobrancelhas.
- Não vai dividir não?
- Vou.
Saga riu, disse, abafado pelo bolinho que mordia, propositalmente. No fim entregou de volta para ele, quer dizer, fez menção mas não deu, provocou um pouco mas devolveu. Um pouco de álcool e aquela erva que não era realmente saborosa e podia ficar um pouco mais animado. Azaiichi estreitou os olhos e aceitou o bolinho, mordendo alguns pedaços, e permaneceu em silêncio alguns segundos, olhando pra ele, e riu, sem motivo algum, não conseguia parar. O maior sorriu, achando graça de sua graça, sabia a razão, mas diferente dele não ficava risonho, exceto por sua expressão engraçada. O menor abaixou a cabeça por um momento, guiando uma das mãos sobre a boca e tentava parar de rir, mas não conseguia.
- Saga... Eu vou morrer...
- Sh, o que é engraçado? - Saga indagou e sorria em contágio. - Você é muito iniciante. - Riu.
Azaiichi negativou e tentou parar de rir, mordendo o lábio inferior e desviou o olhar a ele, mas voltou a rir em seguida. Saga riu e negativou enquanto terminava a dose de saquê, guardou o restante, pelo jeito não precisariam de muito mais que isso.
- Hum, eu queira mais. - Azaiichi disse a unir as sobrancelhas. - Isso é bizarro
- Já está brisando com um bolinho, imagine se beber mais.
- Eu não estou brisando.
- Ta rindo de que então?
- Sei lá!
- Então, seu pirralho! Quer mais bolinho, quer?
- Quero, dá mais um pedacinho.
- Acabou.
Disse Sagara enfiando o restante do bolo na boca. Azaiichi uniu as sobrancelhas.
- Fofe fer mais?
O moreno indagou com a boca ocupada pelo restante do bolo, propositalmente. O loiro riu sem conseguir conter novamente e uniu as sobrancelhas, segurando-se na mesa.
- Falma, Afaicchi.
Saga disse e buscou mais um dos bolos pra ele, entregando. Azaiichi riu e aceitou o bolinho, tentou comer, mas não conseguia parar de rir.
- Vai acabar com falta de ar, pirralho.
- Eu vou mesmo. - Azaiichi disse conforme parava a risada.
Saga sorriu canteiro e se aproximou dele, selou seus lábios, da forma que deu, diante de seu riso constante. Azaiichi retribuiu o selo e puxou-o para si, erguendo-se e abraçou-o ao redor do pescoço.
- Oi.
Saga levou os braços em sua cintura, abraçando-o como ele a si e ergueu, tirando seus pés do chão.
- Parou de rir.
Azaiichi sorriu a ele.
- É que estamos pertinho, gosto de olhar pra você.
- Ah, se ficar perto você não ri?
- Não.
Saga riu baixinho, ainda que houvesse dito que não riria.
- Se você me chupar acho que não ri.
- Ah, seu oportunista.
- Você gosta, eu gosto.
Azaiichi riu.
- Tá bem, senta e abaixa a calça.
- Não aqui, vamos pro quarto ou pra sala. Aonde você prefere?
- Hum, não posso te chupar na cozinha? Tem uma regra? - O menor riu. - Na sala.
* A música descrita se chama Kagerou, do Sadie.
Um suspiro deixou os lábios de Etsuo, sabia que já havia transado com o irmão, mas mesmo assim, as coisas ainda pareciam um pouco complicadas, os dias ainda eram cinzas para si, ainda sentia uma dor no peito ao lembrar o que havia feito, e não conseguia comer, tinha vontade de beber sangue, mas não tinha forças para engolir. Sentado no balcão, observava o mármore em silêncio, até abaixar a cabeça e encostar a testa sobre ele.
- ...
Ritsu havia se levantado há algum tempo, naquele período quase não havia saído, na verdade não havia mesmo e naquele dia resolveu tentar. Passeou pelos arredores, descobrindo se a noite seria diferente e parecia mesmo, tinha vários cheiros mais acentuados, teria percebido como humano, mas naquela nova forma, eram muito mais fortes. Algumas pessoas agora arrancavam a atenção, pessoas que em algum outro momento provavelmente teriam passado despercebidas, seus cheiros eram muito mais que suas belezas. Mas sabia que ninguém seria tão bonito ou tão "cheiroso" quanto o irmão. Por um momento o imaginou ao lado, provavelmente falaria empolgado como era, feliz por ensinar coisas mesmo óbvias para si, foi assim que decidiu voltar para casa e deixar para descobrir essas coisas com aquele bobo professor. Se lembrou porém que não andava comendo, assim resolveu levar o macarrão que ele gostava de comer e só então chegou em casa, observando sua inércia estranha sobre o balcão.
- Hum?
Etsuo manteve-se ali, não íris acordar de todo modo, havia perdido as forças, teria que ser alimentado para voltar, ele provavelmente não saberia disso. Os músculos do corpo estavam tensionados, esse era o motivo por não ter caído da cadeira, estava como uma rocha, porém desacordado. Ritsu caminhou até o balcão, não teve rastros de seu interesse, ele teria feito algum ruído, ainda assim não desistiu de chama-lo.
- Etsuo. - Tocou seu ombro, sentindo-o tenso. - Etsu... Eu trouxe seu macarrão.
Segurou seu cabelo e ergueu seu rosto uma vez que não obteve resposta ao chama-lo.
Nem um suspiro era audível em Etsuo, nem havia aberto os olhos, embora as pálpebras estivessem trêmulas, como se tivesse um sonho incômodo, os punhos estavam cerrados. Ritsu franziu o cenho, desconfortável com o aspecto do irmão. Deu-lhe um tapa no rosto, buscando saber se apenas dormia de fato.
- Etsuo.
Nada, o moreno não se moveu, mesmo com o tapa recebido do irmão. Ritsu franziu o cenho, não unindo as sobrancelhas, mas pensativo, um pouco aflito. Não tinha certeza se conseguia pegar o irmão no colo, não tinha consciência daqueles aspectos ainda. Não era um humano, não tinha como ajudá-lo. Ele parecia firme como alguém com ataque epiléptico embora não estivesse com espasmos.
- Sangue...
Disse numa reflexão para si mesmo e buscou o que pudesse dar a ele, a questão era como fazer engolir. Ao voltar até ele, pegou a bolsinha de várias que os pais armazenavam, o fez sentir o cheiro ao chegar perto dele, como o álcool seria para um humano. Etsuo uniu as sobrancelhas ao sentir o cheiro do sangue e devagar, abriu os olhos a observar o irmão em frente, a coloração que geralmente estaria tão vívida dos próprios olhos, agora, parecia um amarelo morto. Ritsu observou o moreno e o cheiro parecia predominantemente a seu estado débil, felizmente.
- Beba isso, nii-chan.
Etsuo assentiu a ele conforme pegou a bolsa de sangue e guiou-a aos lábios, bebendo alguns goles da bebida, e embora soubesse que estava naquele estado, com consciência disso, não era afobado para melhorar.
- Ritsu...
- Beba tudo. - Ritsu disse em sua interrupção para falar, voltando a por a quantidade do sangue em sua boca. - Tome tudo.
Etsuo assentiu e bebeu mais alguns goles do sangue, até sentir que havia finalizado a bolsa e os olhos novamente estavam em seu tom normal. Ritsu tocou seu ombro, buscando sentir se tinha novamente sua suavidade conforme deslizou pelo braço. O moreno suspirou, sentindo o corpo novamente amolecer sobre a mão do irmão. Quando enfim constou que estava bem, o loiro buscou qualquer cantinho de seu quadril onde não estivesse acomodado na cadeira e lhe deu um tapa quase na bunda.
- Palhaço.
- Ai! - Etsuo riu. - O que foi que eu fiz?
Ritsu deu-lhe outro tapa.
- Virou uma pedra na mesa.
- Ah... Foi um acidente.
- Não é um acidente, você está sendo imaturo negligenciado as necessidades do seu corpo.
Ritsu disse e mesmo aborrecido pegou a caixinha de sua comida chinesa, nela mesma despejou o conteúdo inteiro de uma daquelas bolsinhas dos pais e misturou ao alimento, mexeu com os hashis e pegou uma quantidade para levar até sua boca. Etsuo observou-o enquanto misturava o macarrão ao sangue e sorriu, como um bobo a observá-lo.
- Desculpe.
Dito, aceitou a comida, como um cãozinho obediente. Ritsu serviu-o à boca, e deu um tempo porém para que ele mastigasse. Havia o visto sorrir mesmo de soslaio.
- E se você morresse?
- Eu não morro e talvez eu devesse, pelo que fiz a você.
- E valeria a pena ter feito o que fez se for pra morrer?
Etsuo negativou, unindo as sobrancelhas.
- Ritsu... Por favor... Eu não sei se você ainda esta chateado comigo ou se já me perdoou, mas eu não vou conseguir ficar em paz enquanto você não me castigar de alguma forma, eu não ligo como, só faça isso.
- E saber que me chateou já não pune você?
- Sim, o problema é que eu mesmo fico tentando me punir... E eu vou acabar me matando.
- Cale a boca, seu egoísta de merda.
Ritsu disse e como ele mesmo sabia, pouco falava daquele modo, pouco falava palavrões, mas não queria mais aquilo, estava com os nervos um tanto aflorados, fosse pela situação ou pelo comportamento dele, já haviam alguns dias desde que acordou e ele continuava lamentável.
- Acabou de concordar ao dizer que não teria valido a pena, agora diz que vai acabar se matando. Me deixaria aqui por seu egoísmo duplo, tanto por me fazer viver para sempre, quanto por me fazer viver para sempre sem você. Coma!
Etsuo uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, sentindo as lágrimas presas aos olhos e assentiu, abaixando a cabeça a observar o pequeno pote de comida e levou pouco do macarrão aos lábios. Ritsu franziu o cenho, diferente dele, não por unir as sobrancelhas mas por tensiona-las, causando rugas temporárias entre elas, segurou sua mão antes que comesse.
- Não estou magoado com você, não por ter adiantado algo que já ia acontecer, mas por estar tão frágil, porque eu sei que você não está sendo você. Sinto saudade...
Etsuo desviou o olhar ao irmão, sentindo uma das lágrimas que escapou dos olhos a escorrer pela face e ainda unia as sobrancelhas.
- ... Me desculpe. Eu serei melhor.
- Só precisa ser como sempre foi. - Ritsu disse e tocou sua bochecha, secando sua pele. - Quero você mesmo neurótico, mesmo reclamando e quero que coma minha comida humana.
Etsuo assentiu e uniu ainda mais as sobrancelhas, sentia as lágrimas que saíam dos olhos rápido demais, desde que ele havia acordado, não havia ainda todo aquele tipo de reação, que extravasava os sentimentos que sentia, que tirava a tristeza do peito, a culpa. Estava chorando e o havia abraçado, firme contra o próprio corpo, soluçava e talvez o irmão nunca tivesse visto a si daquele modo.
- ... Eu sinto muito, eu não queria te machucar, eu... Achei que você iria acordar rápido, que iria ficar tudo bem. Eu sinto muito... Eu sinto muito.
Desajeitado Ritsu seguiu para ele conforme puxado com seu abraço. No início os braços eram presos mas pôde desvencilhar deles com a facilidade que não sabia ter. Passou os braços em torno de seu pescoço e o acomodou no ombro. De alguma forma o achava um exagerado e sentia que ainda devia se emputecer, sentir a sensação de estar prestes a morrer era horrível, e se refletisse muito, ainda podia se lembrar como era não respirar enquanto tentava, porém, queria estar com ele e queria lidar com sua personalidade mimada.
- Tudo bem, eu estou aqui agora, não é?
O moreno abraçou-o, firme, era firme mesmo, não como o segurava antes quando era humano, mas estava trêmulo, sentia as mãos tremerem, os braços, não tinha força em nada, sentia que a qualquer momento poderia cair no chão, e teve que encontrar forças em si para se manter sentado ali, o amava tanto, que não cabia no peito, machucava pensar que havia causado dor a ele, e saber que fora tão mimado a ponto de tirar sua vida. Se sentia doente, sentia-se como se algo estivesse errado, como se não pudesse ser assim, como se precisasse de um tratamento, sentia a própria mente doente, e de alguma forma, amenizava saber que ele sentia falta de si, mesmo mimado como era antes, mas sabia que agora, nunca o machucaria de novo, por mais forte ou fraco que ele fosse do que a si.
- ... Eu te amo tanto... Eu... Te amo tanto.
Murmurou, mais para si mesmo do que a ele e fechou os olhos, firme.
Ritsu ouviu se declarar, ouvia-o chorar e apertar seus braços junto a si, e não disse nada embora naquele momento talvez estivesse mais desconfortável do que esteve ao desfalecer em seus braços. Aquela bola de neve em seu peito, tinha que derreter, era intenso demais e sempre foi, mas estava depressivo.
- Oy.
Disse e se afastou, pegou seu rosto e fitou, continuava bonito, mesmo como um bebê chorão.
- Pare de se envolver nesse seu abismo, as coisas não são assim tão complicadas. Eu estou bem. Você vai me ensinar as coisas novas, vamos poder ir à encontros e você nunca mais vai ter medo de que algo ruim aconteça. Pare. Está tudo bem agora.
Etsuo desviou o olhar ao irmão, piscando algumas vezes e na verdade, tentava parar de chorar, sentia-se um pouco mais calmo agora que havia feito tudo aquilo, sentia o peito mais leve.
- ... Pode... Pode me levar pra passear depois do jantar?
- Você quer passear? Onde você quer ir?
Ritsu disse e acariciou seus cabelos, observando seu rosto contraditório aquela fragilidade, mas era adorável.
- ... Quero ir na praça...
Etsuo murmurou, e guiou uma das mãos aos olhos, limpando-os.
- Por quê? Quer caçar?
- Só quero sentar no banco com você.
- Hum, mas, só vamos quando você estiver melhor. Quando estiver se alimentando e deixando de sofrer que nem um bobo.
O moreno desviou o olhar a ele e aquilo parecia para si de alguma forma, um castigo, podia lidar com isso. Assentiu e sorriu a ele.
- ... Pode me dar o macarrão?
Disse, e grunhiu, como um cãozinho.
- Também... Só vamos fazer quando melhorar.
Ritsu disse, falando de sexo. Já pegava o macarrão que como antes, pegou generosamente com os hashis para dar a ele.
Etsuo assentiu, silencioso e abriu a boca a aceitar o macarrão, e estava delicioso agora que se sentia mais tranquilo. Após servi-lo, Ritsu pôde pela primeira vez comer junto dele, da mesma forma que ele. Provou da mistura, o encarou em aprovação. O moreno sorriu ao vê-lo comer, estava feliz por poder comer com ele.
- Oishi?
- Oishi. - Ritsu quase riu ao pegar um pedaço de papel toalha e secar seu rosto e mesmo seu nariz. Daquele modo ele quase parecia um humano. - Chorãozinho.
Etsuo uniu as sobrancelhas e sorriu.
- Desculpe.
Ritsu negativou e pegou um tanto mais do macarrão, dando a ele. Ele, que queria sempre cuidar de si, agora parecia que queria o contrário.
- Come tudo.
Etsuo assentiu e aceitou o macarrão, sorrindo ao irmão conforme comia.
- Hai, você não vai comer?
- Hum. Eu comprei uns bolinhos.
Ritsu disse e abaixou na diferença de altura pelo assento. Selou seus lábios.
- Bolinhos? Doce?
Etsuo disse a observa-lo e retribuiu o selo, deslizando uma das mãos pelo braço do irmão.
- Salgado. - Ritsu sussurrou, contra sua boca mesmo.
- Hum... Come comigo então.
Ritsu assentiu e se afastou dele. Pegou a embalagem que havia trazido, colocou os pães num prato onde os trouxe com ele até onde sentado. Etsuo observou os pãezinhos, pareciam gostosos, mas não disse nada, continuou comendo o próprio macarrão.
- Come.
O loiro assentiu e pegou os potinhos descartáveis que ganhava com a compra, colocou o molho de soja e deu a ele também um dos pães.
- Coma esse.
Etsuo assentiu e pegou o pãozinho, sorrindo a ele, molhou em seu pote de molho e levou aos lábios.
- Hum...
- Gostoso, hum? Gosto de gengibre na comida. - Ritsu disse e mordeu o pão.
- Hai. Oishi né!
- É, é bom comer, ah? Não precisa virar uma pedra em cima da mesa.
- Eu sei. - Etsuo riu. - Estou bem.
- Agora sim, mas não pode deixar de comer novamente.
- Não irei. - O moreno sorriu a irmão, mordendo mais um pedaço do pãozinho. - ... Irá a aula comigo na segunda?
- Voltará a ir na segunda? Então, é provável...
- Mamãe já matriculou você lá
- Eu sei, mas estou meio desconfortável sobre isso.
- Por quê?
- Porque sabem que eu era humano até pouco tempo.
- Eles não vão mexer com você.
- Hum, eu sei, eu só não quero me sentir desconfortável.
- Não vai, eu estarei com você.
- Hum. - Ritsu assentiu. - Espero que seus amigos não sejam chatos comigo.
- Não serão, ou eu quebro a cara deles.
- Hum, não fraquinho como está. Vai ter que se alimentar bem até lá.
- Hum, caso alguma coisa, você me defende.
- Eu sou um vampiro há um mês.
Ritsu riu baixinho e pegou outro dos pães percebendo o olhar do irmão para o aperitivo.
- É, mas você foi transformado por um vampiro de quinhentos anos, sei lá, então... Deve ser forte.
- Ah, nós jantaremos com ele.
- É, eu... Fiquei sabendo. - Etsuo sorriu. - Quero agradecer pelo que ele fez por você, então...
- Hum, vai ser legal conhecer outra família...
- Ikuma, você devia ter me deixado colocar uma roupa melhor, todas as bandas do mundo estão aqui... Deus do céu.
Taa falou a observar os cabelos coloridos que circulavam pelo local e também algumas pessoas de terno, se sentia um peixe fora d'água, fazia tempo que não participava de nenhuma banda e agora com a volta dele, era difícil voltar a lidar com isso. Usava uma camisa soltinha e calça preta e a roupa intima que havia ganhado do noivo dias antes.
- Não seja idiota. Está ótimo assim, alguns estão de terno porque são estúpidos.
Ikuma deu de ombros, levando-o consigo pelo salão, buscando o número da mesa que informado no convite. Puxou o assento a ele e o permitiu se sentar. Fazendo o mesmo logo após.
- Carne, carne, carne.
Taa sentou-se no local, notando mais pessoas de terno do que de roupa normal e desviou o olhar, envergonhado.
- Vou pra casa me trocar, Ikuma.
- Pare com isso, Taa. São agentes, eles precisam se apresentar assim, nós não.
- Ai, mas... Seu irmão está aqui e está todo formal... Deus, hoje é dia de passar vergonha!
- E daí o meu irmão?
Taa negativou e desviou o olhar ao prato.
- Onde está a Shizuma e o Takuan hein? Estavam logo atrás de nós.
Taa falou a observar atrás de si, procurando-os.
- Devem estar com os amigos, eles também são músicos. Qual problema do meu irmão estar vestido formal?
- Que ele é sua família ora, e eu parecendo um mendigo,
- Minha família nem se importa com o que vestimos.
- Se bem que se eu irmão não se importa nem com a minha existência. Acho que ele tem raiva de mim porque eu era humano antes.
- Como se o pitoco dele não fosse. Por que você se importa com o que pensa o Yuuki? Ele não liga nem para o fato de estarmos aqui. Provavelmente nem se lembra.
- Ele é pai da Arisu, ele namora nossa filha, eu devia me importar nem que seja um pouco.
- Não deveria, ele não se importa com você.
Ikuma aceitou a bebida servida numa taça. Não tinha sangue, mas ainda assim era saborosa. Taa assentiu e roubou o copo dele, experimentando a bebida que queimou a garganta.
- Ai, caralho. Que porra é essa? Forte.
Murmurou e levantou-se para cumprimentar um dos rapazes que vieram em direção a mesa, conhecidos dele certamente.
- Forte? - Ikuma riu. - Só não é do gosto de um vampiro.
Disse e cumprimentou os demais, porém sentou-se logo. Sorriu, voltando atenção ao pequeno controle no bolso. Aproveitando sua breve conversa, quando fez menção de se sentar, apertou o botão. Taa estremeceu antes de se sentar, quase caindo na cadeira e desviou o olhar a ele, disfarçando ao ouvir a conversa cessar atrás de si, dos rapazes que havia cumprimentado a pouco e sorriu, distraído, arqueando uma das sobrancelhas. Ikuma mordeu a zona interna do lábio inferior, evitando o sorriso ou alguma risada engraçadinha.
- Ué, o que foi isso?
- Que porra foi essa...?
- O que? Eu que digo, está mole, caralho?
Taa arqueou uma das sobrancelhas novamente e negativou, achando estar imaginando coisas e tomou mais um gole da bebida. Com a mão desocupada, Ikuma pegou a taça e bebeu da bebida, dando atenção a qualquer outra coisa a apertar novamente o botão e fingiu não dar atenção ao maior. Taa ergueu-se rapidamente, incomodado com o objeto vibrando em si e uniu as sobrancelhas.
- Ai Ikuma! Tem alguma coisa nessa cadeira...
Ikuma fingiu-se espantar, num leve sobressalto.
- Mas que... Espetou a bunda?
- Tem alguma coisa vibrando...
Taa murmurou e averiguou o bolso de trás, buscando um celular, e nada, logo voltou a se sentar.
- Vibrando? Esqueceu algo aí dentro?
- Eu não, ora. O que ia esquecer? Nem fazemos mais nada com vibradores.
- Vai que você fez.
- Não mexo na sua gaveta. - Taa murmurou e suspirou, observando a carne servida pelo garçom sobre o prato e sorriu. - Hum.
- Hum...
Ikuma murmurou assim como ele e pegou um dos pedaços servidos, por sorte, bem salgado e mal passado. Taa experimentou a carne e suspirou.
- Oishi. Eles vão perder.
- Perder o que?
Ikuma retrucou e na primeira oportunidade, tornou a apertar o pequeno botão. Taa uniu as sobrancelhas, tentando fingir que nada estava acontecendo e mordeu o lábio inferior. Ikuma fechou os olhos, e fingiu estar apreciando imensamente a carne, já que não queria expor o ar risonho.
- Hum, que delícia. Vou assar mais dois quilos em casa.
- Ah...
Taa gemeu baixinho, suspirando e ajeitou os cabelos, na tentativa de disfarçar. Ikuma franziu o cenho, como quem não entendia nada.
- O que foi?
- Alguma coisa está vibrando na minha calça, e eu sei que foi você quem colocou, nem adianta disfarçar.
- Eu? Não coloquei nada, deve ter brincado e esquecido das coisas.
- Não fiz isso, inferno.
Ikuma apertou novamente o botão. Taa fechou os olhos e cerrou as mãos, desviando o olhar a ele em seguida.
- Filho da puta.
- Mãe, o que nós perdemos? Fomos... Dar oi pro pessoal da banda.
- Takuan! Oi... Carne, tem carne. Deixei pra vocês.
- Venham comer, pirralhos. Sua mãe está tendo problemas com a cadeira, troque de assento com ele.
- Não é a cadeira.
Taa estreitou os olhos e negativou, comendo mais um pedaço da carne.
- Que carinhoso papai, obrigado. - Takuan riu.
- Então é sua bunda. - Ikuma piscou ao filho.
- Minha bunda, pois sim, você que.... - Taa desviou o olhar ao filho e negativou.
Takuan riu baixinho e pegou um pedaço de carne, levando aos lábios da irmã. Ikuma desviou a atenção aos filhos, notando o carinho do mais novo.
- Quanto amor com essa irmã, Taku.
- O que? É normal. É minha irmã, ora.
Taa arqueou uma das sobrancelhas a observá-los e desviou o olhar ao marido em seguida.
- Takuan é sempre cuidadoso. - Shizuma brincou e sorriu.
Ikuma observou o olhar preocupado do maior, e riu, achando graça, sabia que em sua cultura isso não era nos padrões do que era considerado normal, mas não achou necessário dizê-lo, mas, novamente pressionou o botão teimoso. Taa estremeceu na cadeira, segurando-se para não gemer novamente e uniu as sobrancelhas.
- Ca...ralho...
Ikuma franziu o cenho, como se não soubesse de nada.
- Você está bem mamãe?
- Estou... Estou bem.
- A cadeira está desconfortável ou confortável demais?
- Confortável... Não se preocupe.
Ikuma sorriu ao companheiro.
- Ora, amor, guarde melhor seus apetrechos.
Taa estreitou os olhos.
- Eu vou degolar você.
O menor riu baixinho, achando graça.
- Ó...
Ikuma disse e voltou a apertar o aparelho. Segurando-o desta vez. Taa agarrou-se a toalha da mesa e apertou-a entre os dedos, unindo as sobrancelhas mais uma vez e gemeu baixinho, sem poder conter.
- I-Ikuma...
Takuan uniu as sobrancelhas a observar a mãe e desviou o olhar à irmã.
- Credo mãe, para com isso.
- Eu não tenho culpa.... O filho da puta... Do seu pai colocou algo na minha roupa.
- Compostura.
Ikuma riu, divertindo-se e continuou a segurá-lo. Taa ergueu o tronco e desviou o olhar ao outro, unindo as sobrancelhas ainda e puxou a toalha, pouco, mas o suficiente para o filho errar o corte da carne.
- Ikuma... Para... Ikuma!
Takuan mordeu o lábio inferior ao ouvir o pai, rindo baixinho em seguida.
- Ó... Não vai bagunçar a mesa, sem zona. - E novamente, Ikuma apertou.
Shizuma franziu o cenho, notando o irmão. Beliscou-o na coxa.
- Pare com isso.
- O que eu fiz?
Takuan uniu as sobrancelhas ao sentir o beliscão na coxa e observou a irmã.
- Ikuma...
Taa murmurou e tentou colocar a mão na calça de algum jeito, porém arregalou os olhos ao notar o membro já duro no interior da roupa intima.
- Cara...lho...
- Hum hum... Crianças, vão passear.
- Não... A carne está tão gostosa.
- Isso, a carne. - Takuan disse, sem realmente dar atenção.
Taa estreitou os olhos e apertou a própria roupa intima, tentando esconder.
- Está louco? Pare de ser nojento, é seu pai. - Disse Shizuma.
- Que isso, lagarta, vão achar que guardou uma linguiça aí dentro.
- Filho da puta, vem pro banheiro e me ajude a resolver isso!
- O que eu fiz? - Takuan riu, observando a irmã. - Estou achando engraçado.
- Não, vou nada. Só em casa.
- Pelo amor de Deus, Ikuma, como vou cumprimentar alguém desse jeito?
- Fique sentado, calabresa.
Taa deu um forte tapa na coxa dele e negativou.
- Vou resolver sozinho então.
- Não vai nada, fique aí.
- Fico um cacete. - Taa levantou-se.
- Fica aí, porra. - Ikuma resmungou e ligou novamente o vibro.
Taa uniu as sobrancelhas e voltou a se sentar, batendo nele novamente.
- Filho da puta!
- Tapas de amor não dói.
- Me dá esse controle!
- Iiiiee...
- Dá!
- Não.
Taa aproximou a cadeira dele e bateu em seu braço, sua coxa e enfiou a mão em seu bolso.
- Dá essa merda!
Takuan riu e negativou a observar os pais, bebendo pouco da própria bebida.
- Para com isso amorzinho, não quer que eu fale para as garçonetes que sou molestado em casa, quer?
Ikuma segurou o controle e voltou a fazê-lo vibrar.
- Você tem cinco filhos, eu que gerei e você que é o molestado é? - Taa estreitou os olhos e abaixou a cabeça, fechando os olhos com certa força. - Caralho Ikuma, vai me fazer gozar... - Murmurou perto do ouvido dele.
O riso soou numa boa gargalhada em Ikuma, divertindo-se, numa altura medida, certamente.
- Dá logo essa porcaria.
- Não.
Taa uniu as sobrancelhas, quase chorando de raiva e afastou-se dele.
- Ah, não, vai chorar? Vai acabar com a brincadeira.
- Brincadeira só se for pra você, eu estou sofrendo. Vai sujar minha calça, e esse filho da puta fica rindo da minha cara. - Taa chutou o filho por baixo da mesa.
- Sou seu filho, ora.
- Porra que nojo, pai. Não quero te imaginar sujo de porra. - Disse Shizuma.
- Engraçado, foi assim que eu acabei grávido de você. - Taa sorriu a ela.
- Foi, mas eu não tive que ver sua calcinha molhada. Do meu namorado eu até gosto de ver. - Shizuma brincou, a fim de provocar repulsa no pai.
- Ai que horror. - Disse Taa.
Takuan riu novamente, porém cessou ao ouvir a irmã e arqueou uma das sobrancelhas.
- Eh?
- Viu que delícia pensar na porra alheia?
- Takuan, não se meta. - Ikuma piscou ao filho.
- Eu nem disse nada...
- Mas que culpa eu tenho, caralho? - Disse Taa. - Chega, vou embora.
Disse e levantou-se de verdade dessa vez, ajeitando as roupas e vestiu o casaco, se afastando da mesa, mas Ikuma estendeu a mão e riu, puxando-o de volta para a mesa.
- Ta bem, ta bem, parei.
- Seu maldito, o que você fez aqui?
- Foi a roupa que eu te dei ontem.
- Então me deu a roupa de propósito pensando em fazer isso? Você não tem vergonha?!
Disse o maior a estapear Ikuma em seu ombro.
- Ai ai! Amorzinho, era só brincadeira!
Yuuki levantou-se após o jantar, o pagamento feito por ele com o uso do cartão no próprio nome. Deu-lhe até uma encarada enquanto formulava o pagamento, talvez uma pressão psicológica, e via-o sorrir, como uma criança tímida após fazer algo errado. Seguiu até o exterior do restaurante, acendendo um cigarro que descansou entre os dedos e tragou, fitando o menor de soslaio. Ao seguir com ele para o caixa, Kazuto passou o cartão, fitando-o de soslaio igualmente e deu a ele o sorrisinho, saindo logo em seguida a observar seu cigarro, e achava seguro ficar pouco longe dele enquanto tinha algo que queimava por perto.
- E aí, pagou a conta?
Yuuki disse, provocando-o ainda sobre seu método de pagamento. Fitando-o na distância que havia tomado cautelosamente, alguns metros de si. Consigo atravessou a rua, seguindo ao lado mais obscuro da região, iluminada por algo como postes sutis de luz, uma luz amarela e baixa demais.
- Não costumava ter uma restaurante aqui.
- Paguei. - Kazuto sorriu a ele meio de canto e riu baixinho, seguindo com ele para o outro lado da rua, embora ainda cauteloso. - Não, abriu recentemente.
- E parece que a você foi muito conveniente, hum.
Yuuki disse, referente a seu novo lugar de observação. Ao chegar lá, encostou-se a parede, fitando a lataria que ele mais cedo havia falado, ao observar o lugar, de alguma forma, tinha uma visão diferente de tudo o que havia acontecido ali e até então. Da mesma forma não entendia como e porque ele tinha apego àquela lembrança ou qualquer outra.
- É, eu gostei.
Kazuto murmurou e sorriu meio de canto, e como ele, observava o local, silencioso, notando a luz quase inexistente, o que havia desesperado tanto a si naquela época, e tinha certeza que se se aproximasse da lixeira, conseguiria sentir o mesmo que sentiu naquele dia novamente, e ao contrário do que ele pensava, não era uma boa lembrança, quer dizer, havia sido a primeira vez com ele, mas havia traumatizado a si de uma forma gigantesca de mesmo modo, nunca havia se sentido tão inseguro sobre o que era e o que queria, nunca havia sentido tanto medo, de tudo ao mesmo tempo, da morte, da dor, de alguém, havia sentido uma injeção de adrenalina, que desde aquele dia, parecia não desligar mais. Um suspiro deixou a si, e talvez ele não entendesse os próprios pensamentos, ainda mais com os sentimentos misturados e caminhou para dentro do local, agora não tinha mais nada a temer, e no chão, viu a pequena mancha de sangue, conhecida, e própria, onde as roupas haviam sido retalhadas pelas unhas dele.
- Se tem tanto medo, por que é que quer vir aqui?
Yuuki indagou, encarando seu passeio, vendo seus passos por onde andava no beco, e sentia vindo dele a incerteza, um desconforto, uma sensação que não era de prazer, e ainda assim queria ir até lá. Estranho era perceber que eram os mesmos protagonistas daquela ocasião, e agora, tinham uma vida completamente diferente. Kazuto desviou o olhar a ele, observando seus olhos vermelhos que brilhavam no escuro, de alguma forma não davam mais tanto medo.
- Porque os humanos se submetem a situações que dão medo, pra se superar e seguir em frente, ou para encarar os medos que tem. - Suspirou e manteve-se em silêncio por alguns segundos. - ... Mas talvez devêssemos ir embora.
- Porque os humanos se submetem. - Yuuki disse, copiosamente. Porém negou. - Não filosofe comigo, humanos são covardes e estúpidos, se você gosta de encontrar o amor na sua dor, é algo seu, mas não seja tão abrangente, a maioria dos humanos são frouxos, medíocres, nada além de comida.
Disse e deixou o cigarro entre os lábios, pegou o garoto como se fosse uma criança, por baixo de seus braços, quase nas axilas, o ergueu e colocou sobre a lataria. Kazuto uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e até engoliu em seco, percebia que haviam se passado vinte anos, mas ainda sentia o medo que sentia naquele dia.
- ... Yuuki, não quero mais fazer isso.
- Cale a boca, Kazuto. Não adianta tentar fazer cu doce agora, só porque acha que isso vai me divertir mais. Apenas vamos fazer isso. Tire a calça.
- Não estou fazendo cu doce. Só estou desconfortável.
O menor falou e encolheu-se a observá-lo, embora não quisesse desobedecê-lo.
- O que você vai sentir vai ser algo bem longe de desconfortável.
Kazuto uniu as sobrancelhas e observou-o, o rosto dele, a expressão, e ainda tinha vontade de chorar, talvez um nó na garganta, em saber que vinte anos depois ele ainda via a si como um verme. Silencioso, retirou a calça e já sentia os olhos molhados pelas lágrimas. Yuuki fitou-o enquanto tirava a roupa timidamente, ou talvez sofrido. Aos poucos seus olhos habitualmente rubros pareciam brilhar um pouco mais que o comum, úmidos.
- Chorão.
Kazuto assentiu, deixando a roupa de lado e desviou o olhar a ele.
- Pronto.
Yuuki fitou a roupa inferior ainda em seus quadris, tornando quase inútil o fato de que havia tirado a calça, já que algo ainda estava no impasse, mas não era um problema. Passeou o dedo pela costura lateral da boxer, rompendo a linha, abrindo a peça, com a unha arisca, afiada, como ele bem sabia. Kazuto sentiu e ouviu o barulho da costura da própria roupa e uniu as sobrancelhas, sentiu-a sair do corpo, quase na mesma hora e observou-o novamente, apoiando-se no local com as mãos trêmulas.
Quando o livrou de sua roupa descosturada, desfazendo a costura do outro lado da coxa, o maior puxou o tecido pelo meio de suas pernas e livrou seus quadris da peça, revelando seu corpo, suas partes íntimas e tomou-o pelos quadris, trazendo-o à beira. Aquela altura, mesmo que ele dissesse não querer sabia que gostava de reviver aquele momento passado, mas que ainda que ele quisesse, nunca faria ser igual, nada naquela situação poderia ser igual. Kazuto suspirou, e estremeceu ao senti-lo puxar a si, aproximou-se dele e observava-o com as sobrancelhas unidas e embora ele pensasse naquilo, não gostava de reviver aquele momento com o sentimento que tinha em si naquela hora. Gostava dele, não, o amava, mas se sentia mal, algo não encaixava em si, sabia que ele, hoje, estava consigo, e tinha a si como parceiro, mas se perguntava se ele não gostava de si só por ser um infeliz irritante ou se realmente gostava, e não poderia perguntar a ele, ele não iria acalmar a si, no máximo, piorar o próprio sentimento. Fechou os olhos, inclinando o pescoço para trás e deixou a cabeça bater contra a lata de lixo, não morria mesmo, e não fora tão forte, fora uma tentativa de afastar os pensamentos. Yuuki franziu o cenho, causando fendas expressivas entre as sobrancelhas, desgostoso sobre o surto breve, não gostava de intensas demonstrações de sentimentos, causavam em si algum desconforto. Ao puxa-lo por sua cintura, virou-o habilmente de costas e empinou seus quadris conforme disposto com o peito junto a lata de lixo. Kazuto uniu as sobrancelhas ao senti-lo empurrar a si de costas e abaixou a cabeça, sabia porque ele havia feito aquilo, então permaneceu em silêncio, e não cogitaria mais alguma ideia.
A mão de Yuuki sobre sua blusa de frio deslizou até erguer de leve e desceu pela coluna onde a ponta das unhas roçavam superficialmente sua pele, dando a ele a expectativa de ser ou não ser ferido por elas, mas não o faria por hora. Deslizou até a lombar, tocou a pequena fenda seguida na entrada ao meio de suas nádegas e resvalou até seu ponto mais íntimo. Kazuto arrepiou-se, dos pés a cabeça, sentindo as unhas afiadas dele a roçar na pele, e sabia que ele estava apenas ensaiando, mas assim que tocasse a si sobre o íntimo e quisesse entrar, a dor seria diferente. Yuuki deslizou com a fina unha em seu âmago, delineando a região na expectativa que lhe dava de feri-lo ou penetra-lo com o dedo, mas não fez.
- Coloque seu dedo.
Kazuto desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas.
- O-O dedo? - Murmurou sem entender.
- Coloque seu dedo em si mesmo. Penetre-se.
O menor assentiu, guiando uma das mãos entre as pernas e suspirou, encolhendo-se pouco conforme tocou-se e massageou sem penetrar.
- Ah, precisa rolar um carinho antes, é?
- Sim ora, eu nunca faço isso...
Kazuto murmurou e tratou de expor a ele o que fazia, sutilmente e suspirou, relaxando um pouco os pensamentos. Por fim, empurrou o dedo para dentro, deixando escapar um gemido baixinho.
- É só você, não é como se precisasse ter cautela com seu próprio corpo.
Yuuki retrucou e voltou a tragar o cigarro, observando seus rodeios para fazer o que mandava, por pouco não enfiou o próprio dedo nele, impaciente. Tomou seu pulso, empurrando seu próprio toque em si, afundando-o.
- Assim, rápido.
Kazuto uniu as sobrancelhas novamente ao senti-lo empurrar o pulso e abaixou a cabeça, assentindo conforme sufocou o gemido e empurrou-o por inteiro em si, iniciando o vai e vem, embora igualmente lento, estava dolorido.
- Vamos, Kazuto. Faça isso como se estivesse tentando me convencer de que dentro de você é bom. - Yuuki disse e tornou empurrar seu punho.
O menor ouviu-o em silêncio e assentiu, de alguma forma, gostava de se sentir coagido por ele de fazer alguma coisa, fora assim que começaram de todo modo. Empurrou o pulso novamente, dessa vez, fora a si mesmo e em conjunto do primeiro dedo, colocou o segundo e gemeu, prazeroso embora fosse dolorido. Yuuki regrediu alguns passos e encostou-se à parede, fitando-o dali no que mandava fazer, não precisou dizer novamente, encarava-o a descobrir seu corpo, se é que nunca o havia feito, agora estava. Kazuto suspirou, e embora estivesse a tocar a si, não gostava de fazê-lo sozinho, já havia feito, para ele mesmo algumas vezes, mas preferia que ele o fizesse, mesmo com as unhas compridas. Gemeu novamente, empurrando ambos os dedos para o fundo do corpo e mordeu o lábio inferior.
- É assim que vai me convencer?
Yuuki indagou, observando em sua penetração manual, e por suas expressões parecia sofrido, dolorido ou tímido. Deu-lhe até um riso que soou soprado, nasal.
- Não gosto de me tocar com os dedos, gosto do seu pau.
Kazuto murmurou e com a mão livre tocou o próprio membro, deslizando por ele, acariciando-o e passou a mover a mão, saindo e voltando a se enfiar no próprio corpo.
- Do meu pau, hum?
Yuuki disse, fitando-o ainda de onde estava e viu-o tomar o membro, o que não lhe havia dito a fazer, ainda assim, não o impediu, pareceu agradável de se ver.
- Contenha-se.
- N-Não me pediu pra te dar vontade?
Kazuto murmurou e apertou-se entre os dedos, porém se soltou em seguida, e já se sentia ereto, dolorido, fora quando passou a se empurrar mais forte para dentro do corpo, buscando o local que gostava, mas não conseguia achar.
- Eu disse pra provocar, não pra você gozar.
Yuuki disse em resposta e lá continuou até que o cigarro se reduzisse em cinzas e por fim o deixasse em qualquer canto da calçada. Dali mesmo tocou o zíper da calça vinho escura, baixou-o e desabotoou-a. Kazuto suspirou, assentindo a ele e pôde ouvir o barulho do zíper da calça, apurando os ouvidos para os movimentos do outro. Observou o local onde se apoiava e sentia as pernas trêmulas, quase podia sentir o sangue escorrendo pelo corpo novamente, pelas pernas e estremeceu.
- O que há com todo esse cheiro?
Yuuki indagou ao garoto, embora não estivesse realmente esperando sua resposta e sorriu-lhe agora com os dentes, seguindo até ele e sua lata de lixo tão adorada. Tomou rapidamente pelos quadris e puxou-o à beira, afastou-lhe as coxas e trouxe-as para as laterais do próprio quadril.
- C-Cheiro?
Kazuto murmurou e uniu as sobrancelhas ao senti-lo puxar a si conforme virou de frente e retirou os dedos do próprio interior, dando espaço a ele entre as próprias pernas, e quase já podia senti-lo adentrar o corpo, estava ansioso por ele, por senti-lo.
- De medo. Está deixando escapar.
Yuuki retrucou em sua questão e fitou seu rosto como sempre, como se estivesse querendo chorar, tinha naturalmente aquela feição chorosa, o que gostava. Ao puxar suas coxas, empurrou-o no peito e o fez se deitar na lata que ressoava com ruído metálico em qualquer movimento. Acomodou seu posterior de coxas contra o peito e sua bunda na altura do ventre, não teve delongas a sacar o membro bem disposto e leva-lo para o meio de suas nádegas, roça-lo pesadamente e enfim adentra-lo, encaixando-o depressa.
- Esse lugar ainda é um pouco desconfortável pra mim...
Kazuto murmurou a ele, porém, assustou-se com seus movimentos e sentiu a lata dura atrás das costas conforme teve que se deitar e gemeu, dolorido, gemido que fora repetido logo após ao senti-lo se empurrar para si e estremeceu, só não fora pior por ter se tocado antes com os dedos, mas ainda assim era dolorido.
- Y-Yuuki!
- Não parece, já que vem aqui e fica no restaurante olhando esse lugar. Você não sabe o que quer.
Yuuki disse e soou um pouco rouco, afetado pela sensação do corpo já imerso no seu. Ao se encaixar facilmente em seu íntimo apertado, sentia-o um pouco difícil, mas não impossível. Apertado por todo o comprimento, firme em toda a base e logo deu a primeira investida, iniciando o ritmo que não demorou para tornar frequente e puxa-lo em vaivém, vigorosamente, manejando pelos quadris.
- É que é diferente vir sozinho e vir acompanhado do vampiro que me rasgou naquela noite em todos os sentidos.
Kazuto falou a ele, e era tímido, mas sabia que aquela palavra poderia excita-lo, e queria fazê-lo, gostava dos fios finos de sentimento dele que sentia, quando algo o excitava de alguma forma, ainda tinha aquelas poucas sensações, tendo o próprio sangue junto ao dele em suas veias e a excitação que ele sentia por estar em si, podia saber como era, mesmo pouco distante. Gemeu, inclinando o pescoço para trás a fechar os olhos por um pequeno tempo e mordeu o lábio inferior, apreciando suas investidas, que aos poucos se tornavam mais firmes, sentia-o em todo o caminho a rasgar o corpo novamente.
- Não é diferente se você sabe que em casa vai encontrar esse mesmo vampiro.
Yuuki retrucou em sua analogia e para ele talvez a palavra podia soar excitante, mas era algo comum para si, talvez por saber que não era a ele algo habitual, por saber que lhe era proposital, gostava mais de sua ingenuidade e sua fragilidade, característica que não importando o quanto deixasse de ser humano, ainda seguia com ele. Penetrou-o com força, sentindo a sensação de passar para dentro dele, tinha ainda, mesmo há alguns anos seu pouco calor humano, algo que levaria um tempo para esvair. Segurava-o por seus quadris estreitos, assim como toda sua pequena estrutura corporal, puxando-o para si a medida em que o penetrava, e acertava insistentemente no fundo de seu corpo já habituado àquilo. Kazuto assentiu ao ouvi-lo, unindo as sobrancelhas, e gostaria de poder entendê-lo, mas era difícil, ele tinha uma mente muito complexa para si. Gemeu, prazeroso e dolorido conforme o sentiu se empurrar para dentro do corpo, e ele certamente poderia sentir aqueles dois sentimentos em si, muito contraditórios, mas que sempre acompanhavam o corpo, talvez uma pontada de medo, bem ao fundo. Sabia que ele era inconstante, e sabia também que era um humano transformado, e ele não gostava de humanos, embora não soubesse o porque, tinha medo de que um dia ele simplesmente enjoasse de si, e não sabia quando aquele dia iria chegar, por isso, vivia insistentemente com medo, e fazendo o possível para agradá-lo, e se dar a ele o próprio corpo da forma como fosse, fosse fazê-lo ficar consigo, então o faria, não importando se partisse a si em pedaços.
Yuuki não tinha ciência de seus pensamentos, embora pudesse sentir suas sensação, a exatidão de seu raciocínio não era possível, a menos que esses pensamentos lhe causassem sensações como aquelas, medo, dor ou prazer que era o que sentia por hora. No entanto o contrário do que ele podia pensar, se fosse capaz de não querê-lo mais, não seria um simples ato sexual, violento ou não, que faria estar ao lado dele, descartaria-o ainda que fosse impecável, mas eram vampiros, e uma vez que fosse ele, alguém capaz de causar algum sentimento amoroso em si, quisesse ou não, não seria possível desfaze-lo, no máximo sentiria raiva, sentimentos contraditórios, mas nada que pudesse desfazer aquela maldição, ainda assim, já estava conformado com a ideia. Tocou suas coxas e deslizou de volta para as nádegas, eram movimentos rápidos, assim como o puxou, penetrando-o novamente vigorosamente e com uma das mãos, que deixou livre, tocou seu peito e subiu por baixo do tecido, e embora roçasse a unha, causando-lhe um ardor na pele, não chegou a rasgar sua cútis. Kazuto uniu as sobrancelhas a observá-lo, guiando ambas as mãos sobre os ombros dele a apertá-lo, e sentiu-o deslizar as mãos por baixo da camisa, tocando a pele, marcando-a, era mais do que obvio que pertencia a ele, não precisava daquelas marcas. Suspirou, e talvez fosse melhor não ler a mente dele, não iria gostar nada de ler palavras como maldição quando se tratava da relação que tinha com ele, de todo modo, não podia fazê-lo, e era acostumado ao silêncio dele, então ao observá-lo, somente se mantinha de mesmo modo, no máximo os gemidos doloridos, e o barulho da lata a bater contra a parede.
- O que há, princesa, não gostou de passar por esse caminho, ah? Não é o que você procura reviver todos os anos? Não queria transar em cima de uma lata de lixo e ser fodido com força?
Yuuki disse, quebrando aquele mesmo silêncio, até então cortado pela lata de lixo e mesmo o ritmo dos quadris a medida em que o atingia, e a pele estalava com a sua. Subiu com a mão em seu peito, tocou seu pescoço, saindo pela abertura de sua blusa de frio. Kazuto desviou o olhar a ele ao ouvi-lo falar consigo, e permaneceu alguns segundos a observá-lo, silencioso, e fazia tanto tempo que não o ouvia falar consigo durante o sexo, que até estranhou, mas o arrepio que sentiu na coluna foi bem pior do que qualquer um teria sido, até o apertou no corpo, sem intenção. Gemeu pouco mais alto em resposta e mordeu o lábio inferior, obviamente entraria no ritmo dele, apesar de não estar mentindo de todo modo.
- E-Eu quero... V-Você é muito forte, vai me quebrar, Yuuki...
Murmurou e gemeu dolorido, agarrando-se a ele com as mãos, apertando-o, mas o sentia tocar o pescoço e inclinou para trás, esperando pelo toque no local, ansiando por ele.
Yuuki segurando-o com os dedos, roçava a ponta das unhas sobre sua pele, o fazendo capaz de sentir, no entanto, ainda que dolorido, não causava feridas além da força, uma leve pressão, com uma pegada naturalmente firme. Tal como os quadris, estocando-o, estalando entre suas coxas, suas pernas e afundava-se insistentemente dentro dele. Abaixou-se, recobrindo seu corpo deitado, deslizou a mão de seu pescoço até o rosto e pressionou-o nas bochechas, fez com que abrisse a boca e separasse os dentes e assim, penetrou-lhe a cavidade, beijando o garoto, e era uma das formas com que conseguia formular algo que chegasse perto de ser gentil, o beijo, por mais firme que o fosse com a língua ou com os lábios.
- Yuuki...
Kazuto repetiu o nome dele, como o ouvira anos atrás, naquele mesmo local, e fora o nome que impediu a si de dormir, de estar em paz por dias, meses após ouvi-lo, até que finalmente estivesse com ele. Sentia-o insistentemente tocar a si a fundo no corpo, firme e forte, e estremecia, visivelmente, se estivesse em pé, não suportaria as próprias pernas, sabia que iria gozar em breve. Sentiu as unhas deslizarem pela pele, rosto e por fim separou os lábios como pedido, esperando por seus dedos no interior, porém recebeu sua língua, e ao recebê-la o retribuiu em seu beijo, firme, tentando beijá-lo de mesmo modo, mas sempre que o fazia com vontade, sentia suas presas roçando no tecido e rasgando a carne, mal havia começado e a língua já escorria sangue, deslizando pelo queixo a manchar a pele branca e claro, gemeu dolorido mais uma vez. Yuuki não tinha certeza se eram propositais, mas entre dez vezes que o beijava, onze delas feria seus lábios, e parecia propositalmente feito por ele, parecia gostar daquilo, parecia querer sangrar ou talvez somente quisesse que ingerisse seu sangue e pudesse sentir mais das sensações do corpo, ainda assim aceitava o desafio e sabia que mesmo sendo sentido, ser interpretado não seria realmente fácil para ele, e na troca de salivas sentia seu gosto, fosse de vinho ou de sangue, ofuscando o sabor da bebida de uva. Com a outra mão ainda em seu quadril, puxou-o para baixo e ergueu-se a penetra-lo vigorosamente, mantendo o ritmo. Kazuto desviou o olhar a ele, meio de canto e não era proposital, embora quisesse que ele tomasse o próprio sangue, podia senti-lo bem, mas era impossível entendê-lo, seus sentimentos para si eram muito primitivos, mas gostava de saber que ele sentia prazer em se enterrar no próprio corpo daquela forma. Uniu as sobrancelhas, mordendo-lhe suavemente o lábio inferior, e também não fora proposital, mas sentiu a presa roçar em sua pele e feri-la, até cessou o toque e encolheu-se amedrontado, mas seguiu contra ele novamente, devagar e roubou uma pequena gota de seu sangue, o máximo que conseguiria antes do próprio aniversário. O gemido mais alto deixou os lábios, sentindo-o pressionar a si contra seu colo e por fim gozou, sujando a própria roupa, e o líquido não chegou a ele.
O roçar leve de seu canino sobre a pele rompia uma fina fenda na mucosa labial, tão fina que embora pudesse sentir o cheiro de sangue e o toque frígido dos gotejos, desatencioso ao fato, dada atenção ao prazer no ventre, Yuuki não deu importância a misera gota que lhe proveu, talvez pelo sexo, talvez porque o sangue o tornava mais excitante, e só por isso não o repreendeu, se não fosse pela estocada vigorosa em seus quadris, que tinha cuidado suficiente para não deslocar sua bacia, o que poderia ser relativamente fácil. E no desvio do toque de seu rosto até a nuca, deslizou as unhas em sua pele, causando-lhe as mesmas finas feridas na cútis, da mesma forma com que ele formulou sobre o próprio lábio, mas com o sangue fresco correndo em suas veias, se fechavam facilmente, deixando somente uma lembrança do ardor na pele. Fechava-se em torno de si, apertando o próprio sexo, e podia sentir sua sensação cada vez mais intensa, denunciando como seu corpo, o ápice que veio a tona sem sujar o corpo senão o dele mesmo, e continuou com o movimento, um vigoroso vaivém à bel-prazer, embora consequente tornasse para ele seu clímax mais prolongado e intenso. Somente interrompeu quando deixou-se fluir para ele e mordeu seu pescoço, na curva que seguia ao ombro, não bebeu do sangue, mas formulou a mordida por puro prazer, e deleitou-se na junção do ápice atingido enquanto enterrava-se para dentro, no fundo, e então, cessou.
Com o pescoço inclinado para trás, Kazuto fechou os olhos ao atingir o ápice e sentia seus movimentos, ainda firmes ,fortes contra o corpo e não conseguia conter os gemidos, era prazeroso, mais ainda saber que ele sentia o mesmo que a si, sentir seus sentimentos pouco mais intensos conforme ele se empurrava para o próprio corpo, sua respiração pesada embora não perdesse o fôlego e seu rastro de voz entre as investidas, ah ele era demais para si, embora rude, gostava daquilo, era uma das coisas que atraía nele, o estranho era que antes dele, nunca tivera um fetiche assim. Sentiu as unhas finas deslizarem pela pele, cortando-a com facilidade, e gemeu, dolorido, contorcendo-se de modo sutil, e a ardência era temporária, logo se fecharam e deixavam a lembrança da passagem dele. As mãos, deslizaram pelas costas dele, acariciando-o, na verdade, estava fraco demais para fazer qualquer coisa, e ao senti-lo se empurrar para si uma última vez, se enterrando fundo ao corpo arregalou os olhos, apertando-o contra si e o gemido rouco rasgou a garganta, não só por senti-lo pressionar a si por dentro, mas pelo barulho seco que ouvira, e a dor que emanou do próprio tórax se espalhando pelo restante do corpo. Fechou os olhos, contendo os gemidos altos e irritantes para ele e repousou a testa sobre seu ombro a medida em que o corpo se soltou nos braços dele, dera fim a contração de prazer do corpo, uma vez que a dor tomou conta dele e sentiu a lágrima escorrer pela face, molhando a camisa dele, e permanecera daquele modo por alguns segundos, quase um minuto inteiro, suficiente para que ele desse fim a seu ápice, e suficiente para que o sangue humano recente anestesiasse a dor do corpo.
- Yuuki...
Murmurou, unindo as sobrancelhas e afastou-se a observá-lo, lhe selando os lábios. Não disse nada a ele, mas tinha certeza que pelo menos uma das costelas havia se partido.
O leve rastro de voz deixava a garganta de Yuuki conforme soprava uma desnecessária respiração pela boca. Com o dígito polegar limpou os lábios conforme se afastou, tirando o rubor da pele, devido o sangue que a tocou. No ombro, o tecido úmido da camisa escura que usava se colou a pele, não transpirava e era por isso que sabia que aquela umidade não vinha de si, mas sim do dono daquela mesma voz baixa, rouca e súplica. Ao tomar espaço do garoto, fitando seus olhos pequenos e inchados, seu típico nariz achatado, o cabelo bagunçado que parecia engraçado, tinha expressão dolorida, tal como as sensações que transmitia a si, deixando de ser o prazer de seu ápice, substituindo-o pela dor. Tsc, resmungou, era como um cristal, havia se ferido e pela intensidade com que sentia, provavelmente havia lhe deslocado a bacia como previsto, não tinha certeza. Segurou seus quadris e puxou de leve, tentando dar jeito em seu tronco, mas parecia sem efeito. Sendo prático no entanto, saindo de seu interior, bem se posicionou com postura ereta e pegou da calça um igual pequeno vidro o utilizado no restaurante, não tinha muito mais que alguns mililitros, mas seria suficiente para alavancar sua recuperação, ao abri-lo, verteu sobre seus lábios.
Kazuto desviou o olhar a ele, e sabia pela expressão dele que ele havia percebido, e não queria que houvesse, queria que ele pudesse abraçar a si, talvez dizer algo e dar um beijo, mas havia parado de sonhar naquela altura. Observou o pequeno vidro e abriu a boca como um filhote de pássaro esperando pela comida, e assim sentiu as gotas sobre os lábios, aliviando o desconforto do corpo, que não fora nos quadris como ele havia previsto, e sim pelo pressionar do corpo contra a lata. Segurou uma das mãos dele e guiou-a sobre o próprio tórax, indicando onde doía e novamente, repousou a face sobre o ombro dele, era como uma criança pedindo colo e abraçou-o.
- Kimochi...
- Kimochi, ah?
Yuuki disse, tendo-se junto dele a medida em que o garoto se acomodou. Descartou o pequeno vidro já vazio, feito o trabalho de cura-lo no que se propôs e pelo resmungo, já estava melhor.
- Se quiser posso quebra-lo de novo, já que você gosta disso.
- Iie... Itai.
Kazuto murmurou, manhoso e deslizou uma das mãos pelos cabelos dele, aspirando seu cheiro gostoso de perfume e banho tomado, misturado ao cigarro mentolado que fumava antes.
- Não precisa me responder. Eu te amo.
- Não é como se eu fizesse isso normalmente.
Yuuki disse em relação a seu comentário anterior à declaração e após se ajeitar na roupa, mesmo na proximidade dele, guardando-se de volta na calça, puxou-o da lata de lixo e sentiu-se agarrado, como um prendedor em uma roupa.
- ...
Kazuto assentiu e manteve-se daquele mesmo modo, agarrando-se a ele e não queria mesmo soltá-lo, queria ficar daquele modo, confortável, sentindo o corpo dele por mais um tempo, mas ao perceber que o incomodava, soltou-se, devagar, colocando os pés no chão e gemeu novamente, pouco dolorido pelo osso quebrado que ainda cicatrizava. Yuuki fitou o garoto, agora já em pé. Pegou sua calça e ajeitou sua roupa, diferentemente da primeira vez, já que na ocasião, havia ido embora sem suas roupas, teve vontade de rir ao pensar como ele havia chegado ou andado pela rua sem roupas inferiores. Fitou suas roupas já dispostas no lugar e analisou aquela sua blusa de moletom azul claro, roupa de criança, pensou, lhe caía bem mas não lhe disse. Kazuto observou-o buscar as próprias roupas e aquela era realmente, sem dúvida uma visão que achou que nunca iria ter. Colocou a calça, meio desajeitado ainda pelo modo como ele ajudava a si e dava apoio para vestir as roupas, e aquele era o modo dele, mesmo sutil, de retribuir o sentimento que havia dito antes a ele.
- ... Yuuki, ainda tenho o apartamento aqui perto, está trancado e eu peço que alguém faça a limpeza dele uma vez por semana, e eu só mantenho porque pensei em dar para o Suzuya quando ele crescesse... Está quase amanhecendo, então... Quer dormir comigo lá?
- Iie, vamos pra casa. Chegaremos rápido.
Yuuki disse em sua sugestão, não se sentia confortável em qualquer outro lugar senão a própria casa, talvez fosse uma zona de segurança? Bem, talvez. Kazuto assentiu, e sabia que ele iria negar, mas a intenção fora boa, talvez uma forma de fechar a noite com a troca de lembranças agradáveis trocando quando fora sozinho e chorara a noite, por uma noite ao lado dele, quentinho na cama. Mas bem, dormiria com ele de todo modo. Segurou a mão do outro, sutilmente e seguiu com ele pela rua, não era longe dali.