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janeiro 2019
Hideki não tinha a respiração dele, já se passavam três dias, podia parecer pouco tempo para qualquer vampiro, até mesmo para um humano, não para si, Yori despertava em si uma sensação de euforia e descontrole, uma sensação de necessidade por controlar tudo, mesmo seu tempo longe, mas sabia que não poderia fazer aquilo. Ainda que estivesse incomodado, por fora havia mantido paciência. Pegou seu corpo pequeno e desfalecido, o pescoço já não estava tão desajeitado, aquilo era um sinal de que estava vindo. Como nos outros dias, levou-o por todo o caminho até a ponte, nos braços, e quando chegava lá se sentava no mesmo lugar, o acomodava no colo e observava o horizonte escuro a noite inteira, até que o dia começasse a aparecer e tivesse de ir embora, esperava que ele acordasse ali e que renascesse onde se propôs a perder a vida em algum momento. Já faziam três dias, e Yori não dera sinal nenhum de que naquela noite fosse acordar. Já era quase de manhã quando ele ajeitou a si em seus braços e caminhou de volta para o carro. Dentro de si, era um vazio enorme, mas alguma coisa, um movimento suave, parecia com uma onda, como o mar, podia vê-lo e senti-lo tocar os pés, era frio, mas era confortável, gostava. Um sorriso delineou os lábios, mas não do corpo em seus braços, na própria cabeça, podia ver um homem de costas, era ele, e parecia esperar por si. Caminhou, devagar entre as ondas da praia, sentindo a água fria bater na perna, na cintura.
- Hideki? - Murmurou. - Hideki por que você não me espera? Hideki!
Yori falou, alto, e dessa vez havia reproduzido no corpo agora acordado, mas ainda de olhos fechados, em seus braços.
- Hi... Hideki... - Murmurou.
Hideki esperava, por todas aquelas horas, e não sabia sequer o que fazer quando o ouviu finalmente falar. Jurou que precisou respirar, porque sentiu o peito tremer.
- Yori.
Sussurrou, baixo como ele falou, e ainda olhava o horizonte, sentindo seu corpo frio e seus movimentos tímidos, mas o abraçava calorosamente, ainda que o toque fosse frio.
- Você demorou.
Ao ouvi-lo, o menor finalmente conseguiu forças para abrir os olhos, devagar piscando algumas vezes e fitou seu rosto, estava tão assustado, tinha tanto medo de se afogar, de não conseguir voltar com ele, para ele.
- ... Hideki...
Murmurou e igualmente o abraçou, sem muita força, estava fraco, mas conseguia fazê-lo e sentiu o cheiro da água, tão vivido quando o cheiro dele, sentiu o vento bater no rosto, nos cabelos, sentiu o toque, mais pesado do que de costume, sentiu ele, como nunca havia sentido, mesmo o pequeno toque de seus dedos, conseguia sentir tão bem.
- ... Ainda vamos nos afogar? Eu não consigo respirar...
Disse e não tinha noção do tempo em que estivera morto, para si, ainda era o mesmo dia, e não sabia, mas não conseguia respirar porque não precisava mais.
- Hideki, eu estou com medo...
Murmurou, e agora, finalmente ele poderia sentir a si, o medo que sentia, por não saber o que estava acontecendo.
- Nós já fizemos isso. Você está nascendo hoje.
O maior disse e pela primeira vez talvez, sorriu, sorriu mostrando os dentes, era na verdade muito suave ainda assim. Sentir seu medo era sentir alguma coisa.
- Já?
O menor disse e desviou o olhar a ele, tinham um tom vermelho suave, bem no fundo, precisava de sangue, mas não disse nada ainda que a boca estivesse seca. Desviou o olhar com ele, para o horizonte, viu a água e sorriu, fora um sorrisinho fraco que aos poucos ficou maior, havia sobrevivido, havia acordado com ele, nos braços dele.
- ... Eu voltei... Eu consegui voltar!
- Voltou, você voltou.
Hideki disse e sentia suavemente suas sensações. Olhou seus ofuscados olhos vermelhos dos quais faria acender tão longo. Pegou seu queixo e segurou ao vira-lo para si, olhou por algum longo tempo, ansioso, mas não manifestou qualquer reação, guardou e esperou o que sentiria vir dele. Conforme o viu, Yori fitou seus olhos dourados, ah, e havia sentido tanta falta dele, do rosto dele, e pela primeira vez o via sorrir, o via sorrir para si. Sorriu de volta, mostrando os dentes novos, as pequenas presas e ergueu-se rapidamente, abraçando-o, firme e sentiu as lágrimas que deixaram os olhos, estava tão feliz de estar de volta, de vê-lo, ainda que estivessem naquela relação conturbada sempre, ele poderia sentir, ele saberia, o amava.
Por sorte, Hideki tinha um bom equilíbrio, senão teria caído na água conforme ele se moveu, o segurou, sentiu seu abraço, sentiu com alguma languidez seus sentimentos. Queria mais, queria sentir mais, mas por hora, era suficiente, por hora ao menos sabia que estava perto de ser para ele o que ele era para si. Sem querer, acabou sorrindo de novo, notando o quanto ficava bem com seus dentes novos.
- Vou ficar com você mais tempo agora, não vou? Eu não... Não vou envelhecer como um humano, ficar fraco... Eu... Eu estou com sede...
- Não vai, vai ficar assim pra sempre. Vai jantar comigo, vai viver comigo. Vai dormir e acordar comigo. E vai poder sair porque eu vou saber onde está se tentar fugir.
Yori uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, mas sabia que ele era daquela forma, então não discutiria. Naquele momento, sentiu o velho Yori se afogar no rio, já não era mais o humano fraco que fora antes, sentia todos os cheiros ao redor, inclusive o dele, e estranhamente, era doce, suavemente azedo, como um morango, quase riu com a comparação.
- ... Me leve pra casa. - Murmurou.
- Vou leva-lo. Mas eu imaginei que poderíamos ver isso quando você acordasse.
O maior disse, sugerindo a paisagem. Não que tivesse aquele hábito, mas foi ali que começou, terminou e então começou outra vez. Yori uniu as sobrancelhas, ainda não enxergava corretamente, então virou-se pouco, observando o rio, que parecia calmo naquele dia, e no horizonte, o céu estava manchado de laranja.
- ... Hideki... É lindo...
Hideki observou da mesma forma como ele. Mas ficou em silêncio, segurando-o no abraço, não tentaria porque não conseguia mensurar as sensações, pertenciam a si e também a ele. Yori suspirou, mesmo sem precisar e não tinha medo, se equilibrava no colo dele, fitava a água do rio, que parecia limpa naquele dia, estava tranquilo porque sabia que se o corpo batesse na água, não morreria, voltaria para ele como havia acontecido, não sabia que se quer havia caído. Estava feliz, verdadeiramente. Mesmo que fosse noite, podia ver os traços do sol no céu.
- ... É o sol...
- É, estou vendo...
O maior falou em retribuição, mas não estava mesmo olhando adiante, olhava para sua nuca descoberta pelos cabelos, mas sim, via o sol.
- Ele não vai matar a gente?
O menor murmurou e segurou a mão dele atrás de si, entrelaçando os dedos aos dele.
- Bem, temos que voltar pra casa agora.
Hideki disse e segurou sua mão, embora não estendesse porque daquele toque. Mas se levantou e levou consigo o menor antes no colo, colocando-o no chão. De frente o olhou novamente e selou seus lábios.
- É muito cedo pra caçar?
Ao ser colocado no chão, o menor sentiu-o nos próprios pés, estava sem meias, sem sapatos, foi um alívio, era só o asfalto, mas queria sentir a grama. Desviou o olhar a ele num pequeno sorriso e retribuiu o selo nos lábios, tentou caminhar para ele, mas as pernas estavam fracas, e quase caiu.
- ... Caçar?
- É, ir se alimentar.
Hideki o segurou pelos ombros estreitos.
- Ah... Eu não acho que eu consiga morder alguém, eu tenho que... Me acostumar com a ideia.
O maior assentiu, naquilo teria alguma paciência, afinal, quase o forçara a morder a si.
- Você quer me morder?
Yori aproximou-se dele, devagar a se apoiar em seu corpo para ficar de pé e aconchegou o rosto em seu pescoço, aspirando seu cheiro, e ele tinha um cheiro tão gostoso.
- Na verdade eu quero... Você tem cheiro de fruta fresca.
- Não vou matar sua fome, mas você pode fazer isso.
Hideki disse e deslizou as mãos que foram de seus ombros até sua cintura. Yori assentiu e devagar aconchegou a face em seu pescoço e abriu a boca, como se fosse morde-lo quando humano, mas agora, antes que os outros dentes o tocassem, as presas furaram sua pele macia e o sangue dele veio para os lábios. Sugou, e não se lembrava de ter tomado algo melhor em toda a vida, era exatamente como o cheiro, como uma fruta doce e crítica, tão gostoso.
O maior sentiu sua mordida que cautelosa, parecia ainda pior do que se não fosse, era vagarosamente dolorido, mas gostava de sentir aquilo, junto da sensação de dor ou desconforto, vinha também uma certa satisfação. Fechou os olhos e apenas sentiu, até que ele se sentisse satisfeito. Yori bebeu bastante, concentrado no sabor dele, só cessou quando percebeu que havia sido demais e o lambeu na pequena ferida que devagar se fechou.
- Você é tão gostoso... Tem realmente o mesmo gosto do cheiro.
Hideki sentiu um leve arrepio na pele ao tirar seus dentes pequenos e afiados do pescoço. Ia precisar se alimentar com ele, mas ia ser sua primeira refeição, sentiu-se como um pai deveria ser, deveria.
- Está tudo bem? - O menor disse a unir as sobrancelhas.
- Sim, não sei exatamente expressar minha animosidade.
O menor sorriu meio de canto.
- Eu... Deveria sentir você melhor... Não é?
Hideki segurou sua mão e o puxou para o colo, tomando-o nos braços logo seguiu o caminho com passos que talvez para ele agora parecessem normais, mas eram rápidos.
- Vai amanhecer logo.
- Ah... - Yori aconchegou-se nos braços dele e fechou os olhos por um momento, era confortável. - Hum... Logo chegamos em casa
O maior não precisou de muito para chegar em casa, rapidamente entrou, livrando-se do possível alcance do sol. Percebeu que a casa havia ficado silenciosa demais sem ele, mesmo que sua voz fosse sempre baixa, ouvia-o facilmente. Havia se acostumado com ele e embora não quisesse assumir para si mesmo, tinha alguma dependência.
-... Yori-chan acordou? - Disse Ophelia ao vê-lo entrar com o pequeno e sorriu afável. - Bem vindo de volta, Yori.
- Oi Ophelia... - O pequeno disse num sorriso. - Obrigado.
- Vamos beber alguma coisa, você quer?
Hideki indagou e pegou brevemente a mão do garoto, levou seu dedo pequeno até a boca e mordeu, queria sentir seu gosto novo, queria saber o que estava sentindo. Yori assentiu a ele, distraído, porém sentiu o dedo mordido e gemeu dolorido, mas não realmente, a dor era diferente agora. Naquele momento, não sabia o que ele poderia sentir, não estava pensando nele de modo romântico, ele precisaria esperar um pouco.
O maior olhou para ele, ficou confuso, havia sentido uma sensação diferente quando ele acordou. Franziu suavemente o semblante mas não disse nada.
- Certo, Ophelia, dê algo a ele. - Disse, certamente não tão afável quanto antes.
Yori uniu as sobrancelhas conforme ouviu o tom de voz dele mudar, mas se levantou e esperou pelo copo de algo vermelho que ela havia dado a si. Observou o líquido e estranho um pouco, mas tinha um cheiro doce, parecia gostoso então deu o primeiro gole e sorriu a ela, com os gostos pequenos franzidos, só então golou todo o sangue até terminar com o copo.
- Oishi.
Hideki o observava e sentia sua sensação de sede passar, mas tinha uma euforia pela nova descoberta de sabor, imaginava se ele estava entendendo que se tratava de sangue. Ainda assim, estava mais atento e curioso sobre outras coisas, sobre como ele deixava a si confuso e isso emputecia a si mais do que antes agora, porque agora não podia sequer se enganar.
- Posso tomar mais?
Yori falou a ela e estendeu o copo, esperando pelo sangue que ela deu a si e bebeu mais um copo cheio, deixando-o sobre o balcão. Aquela altura os olhos já estavam vermelhos.
- Eu dormi por quanto tempo?
- Três dias, quase quatro.
Hideki respondeu, precisamente. Fitava-o logo a frente, bebendo o sangue, saciando sua sede, havia esperado por tantos dias, eram poucos, mas quando não sabia o que ia acontecer, pareceram eternos e agora, estava ali, como se nada tivesse mudado.
- Hum... Aconteceu alguma coisa?
Yori murmurou e desviou o olhar a ele.
- Não, estava apenas esperando.
- É que você parece bravo. - O menor disse e uniu as sobrancelhas, Ophelia o olhava como se soubesse o motivo, mas não queria perguntar a ela. - ... O que eu fiz?
- Nada. - Hideki disse entre os dentes. - Vou me deitar.
Ao menos saberia onde ele estaria se tentasse sair dali, ainda que descobrisse daquela forma que só sua presença não era suficiente. Yori uniu novamente as sobrancelhas conforme o viu sair e desviou o olhar a outra atrás de si.
- ... Ophelia, o que eu fiz?
Ela sorriu num sopro nasal, já havia sido humana então muitas vezes tinha aquele hábito.
- Ele pensa demais, Yori-chan. Ele é silencioso mas tem muito barulho naquela cabeça, muitas vezes tanto barulho que não consegue ouvir a verdade corretamente. Mas após descansar, tenho certeza que ele será um pouquinho mais paciente, um pouquinho. - Novamente sorriu. - Mas foi bom ver Hideki-san cultivar alguma coisa. - Referia-se a ele.
Yori assentiu ao ouvi-la, estava um pouco confuso ainda.
- ... Ele está pensando que não gosto dele? Mas ele pode sentir a mim.
- Talvez ele esteja cansado, ficou acordado esperando anoitecer e então te levava até o local onde foram, chegava antes de amanhecer, banhava você e então te acomodava em sua cama. Então ele deve precisar descansar.
Yori uniu as sobrancelhas novamente, imaginou todo o percurso que ele fazia consigo naqueles dias, e sentiu um aperto no peito.
- Ele fez isso por três dias?
Disse a fita-la e sentiu as lágrimas nos olhos.
- Ora, não fique triste, ele vai saber se ficar triste agora. E estando aqui, vai achar que eu quem o deixou triste. Ele fez, queria que acordasse num lugar específico, eu imagino. Por não dormir, Hideki-san tende a se irritar mais facilmente, então espere por amanhã.
O menor assentiu e abaixou a cabeça, só então notou que realmente não usava as mesmas roupas que usava no dia, e que estava limpo, provavelmente ele havia dado banho em si há pouco tempo. Devagar caminhou para o quarto, ainda sentia aquele aperto incômodo no peito e ao abrir a porta, o procurou visualmente e no escuro agora podia ver.
- Hideki...?
O maior saiu do banho, o que fez cruzar e parar em seu caminho, na verdade logo atrás dele. Ainda tinha a toalha ao redor do pescoço, certamente era por isso que sua conversa havia sido longa demais com Ophelia ou teria freado a língua da vampira. Ao sentir o cheiro de banho, Yori virou-se devagar e fitou-o, ele era tão bonito que teve que suspirar ao vê-lo.
- Eu não sabia que tinha esperado tanto por mim...
- Foram apenas três dias. Não precisa ter pena de mim.
Hideki disse, sentindo sua leve angústia.
- Eu não tenho pena de você. Eu na verdade, achei adorável.
Yori disse num pequeno sorriso e aproximou-se dele, abraçando-o, apertado e agora ele poderia sentir a sensação gostosa que irradiava o peito, era a prova de que gostava dele. O maior tocou seus cotovelos ao sentir o abraço da forma como sentiu o enlace. Satisfação foi sentir o que sentiu vindo dele, não pelo carinho mas sim porque falava a verdade, porque sabia que era verdade.
O retribuiu no abraço. Ao sentir o abraço, ainda que ele fosse frio, era quase quentinho, era confortável. Yori ergueu a face e selou os lábios dele, podia sentir o toque da pele dele de modo mais suave.
- É estranho, porque toda vez que eu fico perto de você eu quero te morder. - Riu baixinho. - Seu cheiro é muito bom. Como você aguentava ficar perto de mim?
Hideki sentiu seu beijo, seus lábios agora pareciam ter o mesmo toque, não sentia um leve choque com a sua temperatura como costumava sentir.
- Eu sempre bebia alguma coisa antes. Mas agora é diferente, porque você é um vampiro, seu sangue agora vai ser mais saboroso pra mim.
Disse e subiu a mão até seus cabelos, o segurou e desviou até seu pescoço, roçando os lábios, os dentes. Yori arrepiou-se conforme sentiu os lábios dele contra o pescoço, sentia o cheiro dele, o que acendia os olhos, e era assim que tinha uma ideia suave de que estava apaixonado por ele, como vampiro era óbvio, mesmo perto de Ophelia, o cheiro dela não parecia com o dele, não era interessante.
- Hideki... - Murmurou. - Faz amor comigo?
- Vem. Vem cá.
Ritsu dito, bateu levemente na perna e esperou para que ele se levantasse. Segurava sua coleira na mão. Vestia roupas escuras e faziam-na contrastar com os cabelos claros. Os olhos estavam um pouco inchados, embora já houvesse acordado há pelo menos uma hora. Ele estava na cama, parecia um cão preguiçoso exatamente como o chamava.
- Vem passear.
- Ah, não quero onii-chan...
Etsuo murmurou, preguiçoso, vestia somente a boxer, estava coberto e cochilava, então levou um tempo até se levantar, engatinhando até ele.
- ... Hum?
- Não quer ir passear? Ir no parque.
Dito, embora preguiçoso, Ritsu não deixou de estar na brincadeira.
- Hum... Está tão frio lá fora... Não tem dó do seu cãozinho?
- Hum, você não tem vergonha na cara, ah? - O menor disse, afável porém. - Quem sente frio sou eu, seu porcaria. Também não levo mais.
O maior riu e negativou.
- Iie, vamos.
- Não levo. Vou sozinho.
- Não vai. - Etsuo falou e estreitou os olhos. - Até parece que te deixo sair de noite sozinho.
- Vou sozinho. Vou te abandonar em algum lugar.
- O que?
- É, pegue suas coisas, vou jogar tudo numa caixa e você dentro dela.
Ritsu dizia e soava até muito sério. Etsuo uniu as sobrancelhas.
- Por que você brinca com isso?
- Eh?
O menor disse, surpreso com a forma como não o havia irritado.
- ... - Etsuo abaixou a cabeça, desviando o olhar a ele após alguns segundos. - Não faça brincadeiras assim novamente.
- Ora, não seja bobo. Não jogaria você de verdade, inu.
Etsuo negativou.
- ... Estamos no inverno, foi quando eu achei você. Se eu não tivesse achado, poucos minutos, você teria morrido. Nunca vou perdoar sua mãe por ter feito isso, nunca.
- Que mãe? Minha mãe nunca me abandonaria. - Ritsu disse e deu de ombros a lhe dar as costas. - Se falar isso, vou falar pra ele. - Disse novamente, referia-se ao enfermeiro não ali naquele momento e seguia para a sala, como se fosse deixa-lo para trás. - Vamos, vou sozinho.
Etsuo uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo e assentiu, levantando-se num pulo e vestiu rapidamente as calças, assim como um casaco mesmo sem a camisa, meio desajeitado e pegou um cachecol para ele, correndo em direção ao corredor.
- Onii!
Ritsu riu para si mesmo, embora não estivesse a assisti-lo, achou graça na forma como se agilizou. Claro que não sairia dali sem ele. Ao reencontra-lo, virando-se defronte, encarou-o já sem rir, fingindo-se sério, ergueu a mão e colocou a coleira em seu pescoço. Ao contrário de usar o cachecol, colocou no pescoço dele, disfarçando sua corrente. Etsuo sorriu a ele ao senti-lo ajeitar o cachecol em si e uniu as sobrancelhas em seguida.
- Eu gosto da coleira.
- Só pra não correr o risco de encontrar pessoas na saída. Vou te deixar usar ela após sair.
O menor sorriu a ele e afagou seu cabelo. O maior assentiu e esfregou-se no irmão sutilmente, em seu rosto. Ritsu riu e retribuiu seu afago.
- Hum, macio. - Disse e apertou sua bochecha. - Vem.
Disse e então o levou pela casa até a saída, chegou então fora da residência e não cruzou caminho com os pais. Não estava assim tão frio, no entanto, já havia se habituado a parecer sempre friorento para os demais integrantes de casa. Ao sair de casa com ele, Etsuo observou as pessoas que passavam lado a si, e sentia o forte cheiro de sangue, os olhos vermelhos já se acendiam.
- ... Devia ter colocado lentes de contato.
- É noite, ninguém vai ver. Além do mais, trouxe você pra fazer lanchinho.
- Hum... Eu não posso ficar desmaiando muita gente aqui. - Riu baixinho.
- Estamos indo ao parque. Mas certo, se vê tanto impasse em sair não o levarei mais.
Ritsu disse, impaciente. Por fim seguiu com o moreno o caminho, levando-o como havia feito noutro dia.
- Calma nervosinho, foi o papai que disse, eu não ligo de matar o bairro inteiro.
- É porque você está reclamando desde a hora que acordou.
- Hum, estou com preguiça, você gosta de me levar pra passear, ah?
- É a segunda vez. Nunca podemos andar na rua, achei que você poderia gostar.
- Eu gosto. Calma.
Ritsu não respondeu, continuou o passeio. Achava que o irmão estava apenas deitado e entediado e não adormecido, por isso o havia chamado. A noite era bonita, o fluxo de pessoas eram de quem voltava do trabalho. O parque existia há alguns metros de casa, nada muito próximo ou longe. Etsuo sorriu ao irmão e mordeu o lábio inferior, notando o pequeno fluxo de pessoas.
- Eu sinto muito, eu... Quando vejo essas pessoas, fico com medo de acabar perdendo você.
- Tem uma coleira em você, não vamos nos perder.
Ritsu disse a ele, interpretando talvez diferente do que ele dizia. Alguns passos mais tarde, chegou no mesmo lugar, já com um movimento mais sutil. Observou o pequeno lago, algumas pessoas ainda usavam roupas de serviço, mas se sentavam para comer ali, provavelmente no fim do serviço, tinham que se prover de algo bom. Sentou-se onde costumava se sentar com o pai quando criança. Etsuo sentou-se ao lado dele, abrindo um pequeno sorriso e aproximou-se pouco mais do irmão, acariciando os cabelos dele. O menor sentiu o afago nos cabelos e virou-se para o moreno. Levou a mão em sua gargantilha, ou melhor, sua coleira e a desprendeu.
- Já achou alguém que parece bom?
- Hum, quero que você escolha dessa vez.
- Não vou escolher. Você precisa ver o que parece gostoso.
- Iie, você escolhe.
- Apenas vá e escolha. Eu não entendo de sangue, no dia que eu também for beber, eu o ajudo.
- Hum... Certo.
Etsuo disse e se levantou, suspirando e visualmente procurou alguém que tivesse uma aparência agradável. Dessa vez havia escolhido um rapaz e o arrastou rapidamente para dentro do beco. Ritsu levantou-se, observou o irmão em sua seleção. Percebia que ele tinha algum critério de beleza ao fazer aquilo, imaginava se a beleza alteraria o sabor. Seguiu pelo parque, indo sutilmente para a direção o qual ele traçou. Dentre as árvores do parque, podia ver o beco onde ele havia se enfiado com o rapaz. Não o avistava exatamente, mas algo de sua silhueta ao da podia ver. Mas não tinha medo. O maior aspirou o aroma da pele dele, não buscando seu perfume, mas sim o cheiro do sangue, que parecia correr saudável, grosso em suas veias. Cravou as presas em sua carne, sentindo-o se contorcer em meio aos braços e segurou-o firme, sugando-o. Ritsu não entendia o que ele buscava além do sangue naquele rapaz ou em qualquer outro alguém, portanto, se perguntava se não era mais fácil fazê-lo desmaiar antes de então toma-lo, mas ele não fez, provável que o faria apenas vencido pelo medo, mas não por parte dele. O observava dali, estava um pouco escondido entre as cerejeiras que já escurecidas pela noite. Mas imaginava se ele percebia que olhava para ele. Etsuo sentia o cheiro do irmão, próximo, cada vez mais perto, sabia que ele observava a si e fora por isso que os olhos vermelhos foram em direção a ele.
- ...
Ritsu pôde ver em seus olhos habitualmente dourados um tênue brilho vermelho. Sabia como eles poderiam parecer de perto, certamente, o vermelho cobria sua cor natural como se fosse um véu de fumaça crescendo até que completasse toda a cor de sua íris. Ficou por ali, se perguntou o que ele pensava. Após sugar o sangue que achou suficiente, Etsuo empurrou o rapaz para trás da lixeira pesada dentro do beco e seguiu até o irmão, passos calmos até que estivesse a seu lado.
- Já disse pra não olhar.
- Devia tê-lo colocado menos arremessado, ele já vai ter alguma dor amanhã.
O menor disse a ele e via-o tentar higienizar sua boca como faria um gato recém alimentado. Tocou sua calça, pegou-a pela braguilha e puxou o moreno para algum lugar que considerasse escurinho o suficiente. O encostou junto a árvore e não podia tocar sua boca, mas podia tocar seu pescoço, mordiscou a pele e desceu no tronco. A mão já ali, desacasalou o botão.
- Hum, está preocupado com o humano? - Etsuo falou num sorrisinho e riu, lambendo os lábios, porém fora impedido pelo irmão a puxar a si e uniu as sobrancelhas. - Hey... E se alguém vir a gente? - Falou num murmúrio e deslizou uma das mãos pelos cabelos dele, acariciando-o enquanto o sentia beijar o próprio pescoço. - ... Hum... Não sei se... Vai gostar de fazer isso comigo recém alimentado.
- Por que não?
Ritsu indagou e deu um beijo gentil em sua pele logo após o mordisco. Ao estalar de seu botão solto, enfiou a mão em sua boxer, pegou em sua pele maleável e macia.
- Porque... Ah... - Etsuo gemeu, prazeroso e mordeu o lábio inferior. - Meu corpo vai tentar te expulsar para cicatrizar. Vai ser apertado...
- Você já tomou meu sangue enquanto fazíamos, sei como é seu corpo.
O menor disse e enfiou a mão um pouco mais, passou mesmo pela frente no meio de suas pernas e tocou seu âmago apenas com um dos dedos. Etsuo uniu as sobrancelhas novamente ao ouvi-lo e assentiu.
- Mas eu nunca tomei tanto sangue. - Sorriu.
Ritsu retirou-se de dentro de sua roupa, fingiu abandona-lo sob seu protesto. Mas claro, retomou antes que ele assim pudesse reclamar. Pegou sua cintura e o virou de costas, com o apoio na árvore, arreou sua calça e expôs sua bunda firme, pouco podia se ver com clareza, mas tinha uma boa iluminação. Após abaixar sua roupa, abaixou igualmente a própria.
- Imagino que depois de tomar tanto sangue direto de uma fonte, fazer isso seja bem gostoso, hum?
Etsuo sentiu os movimentos rápidos do irmão e sorriu meio de canto, perguntava-se se ele tinha a intenção de trazer a si naquele lugar antes de sair de casa ou se foi algo momentâneo somente. Agarrou-se a árvore e abaixou a cabeça, fitando os pés e cerrou os punhos, sentindo o vento frio contra a pele descoberta, não tão frio para si quanto para ele certamente.
- Claro que é.
- Olhe bem onde você está, Etsu.
O menor disse, constando em uma observação. Daquele modo mesmo a si pôde fitar os arredores. Ouvia passos, mas a folhagem na ventania ofuscava levemente a presença das pessoas, ainda que o vento não estivesse assim tão voraz, estavam entre as árvores. Ao se expor, roçou-se atrás dele e tinha certamente algo para aquece-lo, a própria pele. Etsuo estremeceu conforme o ouviu e realmente desviou o olhar pelo local, fitando as pessoas que caminhavam por ali, aliás, os vultos das pessoas e fechou os olhos.
- Vão pegar a gente...
- Você é o vampiro, onii-chan, você devia ser quem diz o contrário.
Ritsu disse a ele e do ângulo em que o olhava, podia ver um pouco do sangue que restava em sua pele, não havia limpado alguns pequenos traços dele. Aquela altura já havia se preparado para ele, portanto, tinha a ereção. Colocou saliva nos dedos e então os levou entre suas nádegas, massageou seu corpo e empurrou o dedo para ele.
- É que se pegarem a gente, seremos presos, e eu sou o vampiro.
Etsuo murmurou e sorriu, mas não o mandou parar, pelo contrário, empurrou os quadris contra os dele e deixou escapar um gemido baixinho, dolorido conforme o sentiu se empurrar para si.
- Hoje você acordou pra reclamar, Etsuo. Talvez eu devesse fazê-lo dormir.
Ritsu brincou com a falsa ameaça. O dedo no entanto não durou por muito tempo, saiu após dar espaço e então se encostou em sua bunda, se acomodou entre as nádegas e roçou junto de seu incentivo ao se empinar. Ao beira-lo, esfregou-se e então empurrou com ajuda da mão e da pelve, entrando dele.
- Não estou reclamando, seu resmungão.
O maior murmurou e riu, ainda a morder o lábio e mordeu mais forte conforme o sentiu se empurrar para si, sentindo uma pequena fisgada e estremeceu, a pequena gota de sangue escorreu pelo queixo, mas logo a ferida se fechou.
- Ah... O-Onii-chan...
- Resmungão é você. Não quero sair, não posso comer aqui, não posso isso e aquilo, não vai querer sexo comigo recém alimentado, bla. Resmungão. Tem medo de fazer em público?
Ritsu indagou e agora soava pesado e mais rouco, evidentemente afetado pelo gesto, sentindo-se imergir dentro de seu corpo e como ele já havia dito estava apertado, mas ao ferir seu corpo, usava de seu sangue para se lubrificar e então passar a entrar e sair, devagar inicialmente.
- Hum, então vou ficar quietinho.
Etsuo falou, cortado por um gemido dolorido e fechou os olhos com certa força, recolhendo pouco os quadris que logo foram puxados por ele novamente em sua investida.
- Não que eu tenha medo... Só não sou acostumado... Mas... Me parece excitante...
- Então se excite, nii-chan. Se excite comigo.
O menor disse a ele, ainda com a voz baixa e o timbre apertado. Deslizou os dedos em seus quadris, seguiu pela pelve e sentiu os delicados ossos da região onde tomou apoio para puxa-lo, e assim intensificou o ritmo gradativamente. Etsuo assentiu e agarrou-se na árvore em frente a si, queria gemer para ele, mas não podia, e tinha que sufocar os gemidos na garganta, ao menos mover os quadris podia e o fazia, empurrando-se contra ele firmemente, ouvindo o barulho excitante de seus quadris, quentes, contra os próprios.
- Ah...
- Não precisa conter tanto a sua voz.
Ritsu disse ao se debruçar sobre ele, mordiscou seu ombro e lambiscou sua orelha. Voltou se afastar no entanto, dando maior espaço para atrito, penetrava-o já mais rapidamente, ritmado. Etsuo assentiu ao ouvi-lo e estremeceu conforme o sentiu se aproximar de si e virou-se pouco, sorrindo ao irmão a expor as pequenas gotas de sangue nos lábios.
- Droga, queria mesmo era cavalgar em você.
- Queria, hum? Mas você gosta de fazer de quatro. Assim vai tão fundo, inu.
Ritsu disse a ele e com firmeza o puxou, fazendo ir fundo como havia dito a ele. Ao acariciar sua bunda firme que apalpou, seguiu para a frente e tocou com o dorso dos dedos sua ereção. Tomou-o nos dedos e passou a massageá-lo. Etsuo uniu as sobrancelhas ao senti-lo se empurrar contra si firmemente e empurrou-se contra ele igualmente, forte, talvez mais forte do que ele, não se atentava tanto ao fato de que era um vampiro e ele não, sabia que certamente acabaria machucando os quadris dele por acidente algum dia.
- Ah, onii-chan!
- Uh!
O menor murmurou, impulsionado por seus quadris, mas se sustentou no lugar ao segura-lo com firmeza. Voltou a penetra-lo no ritmo, podia não ser tão rápido, mas sabia ter força, mesmo que inferior a dele. Com os dedos em torno dele, passava a acaricia-lo no mesmo ritmo com que movia o quadril. Etsuo gemeu, mesmo que ainda baixo, sabia que o irmão podia ouvir e estremeceu, prazeroso com o toque sobre o sexo. Deslizou uma das mãos pelo pescoço, sentindo a coleira e desviou o olhar a ele.
- Cadê minha corrente, dono?
- Não está sentindo?
Ritsu indagou e pegou o acessório que deslizava acima de seu casaco nas costas. Ao soltar seu quadril, alcançou a corrente e puxou-a para que então ele a sentisse. Ao deslizar até sua coleira, junto a corrente segurou-a, apertando o pescoço do moreno, sem força no entanto. O maior negativou ao ouvi-lo, porém sentiu quando por fim fora puxado e inclinou o pescoço para trás, não respirava, mas ainda tinha a sensação incômoda.
- Ah!
- Você quer gozar?
O menor indagou, soou rouco, na verdade ofegante, não tinha o fôlego interminável de um vampiro. Deslizou a mão por sua ereção, esfregou sua glande com o polegar e ao solta-lo, deslizou por sua coxa, subiu para a cintura e passou a puxa-lo mais forte.
- Eu vou gozar em você, inu.
Etsuo assentiu ao ouvi-lo e sabia sobre o fôlego do irmão, se lembrava de como era quando era o ativo e como ele não conseguia respirar consigo, quase riu, o achava adorável de alguma forma. Estremeceu, fechando os olhos e novamente mordeu o lábio inferior.
- Iku... Iku yo...
- Goze sem usar a mão.
Ritsu disse a ele e soou baixo, soprado. Embora não fosse um vampiro, ainda tinha fôlego e por isso manteve o movimento. Puxava-o vigorosamente, e podia ouvir a pele bater junto a dele. Podia ouvir os ruídos dos arredores, podia ver sua silhueta, agarrado ao tronco da árvore, ainda que tivesse diversos aspectos que tornassem o gesto excitante, achava-o adorável daquele modo. Fazia-se cada vez mais perto do ápice e não se ateve, com um pouco mais de firmeza logo gozou dentro dele, tomando mais firmemente, mantendo-se fundo e dentro dele.
Etsuo suspirou, assentindo ao irmão e dono, o que mandasse, faria. Estremeceu, sentindo seus toques onde gostava por dentro e mordeu o lábio inferior, por fim acabou gozando junto dele, porém o próprio havia sujado o local e também o próprio casaco comprido. Abaixou a cabeça, fitando o chão e notou o casaco molhado.
- ... Droga.
Ao atingir o ápice, Ritsu sentiu os espasmos do moreno, denunciando a proximidade de seu clímax e se desfez junto a si. Consequentemente seus apertos tornavam ainda mais intenso o ápice, mais sensível a ele e apenas quando satisfeito, o deixou.
- Hum, Kimochi?
Etsuo gemeu baixinho, a respiração pesada e suspirou, desviando o olhar ao irmão enquanto arrumava a calça.
- Hai... Kimochi...
Ao sair de dentro dele, o menor ajustou-se com a roupa, voltando para dentro dela. Quando enfim o outro se ajeitou, o virou e fez menção de beija-lo mas freou antes de encostar. Etsuo virou-se em frente a ele e queria beijá-lo, tento que seguiu junto dele, porém arqueou uma das sobrancelhas.
- ... Eh?
- Você tem sangue na boca ainda.
- Ah...
Etsuo uniu as sobrancelhas e lambeu os lábios, limpando-os.
- Passeou, hum? Fez um lanche hoje?
- Hai, oishi.
- Então quer ir pra casa?
- Hai, me leva pra casa dono.
Ritsu ajudou o moreno com sua roupa, embora não tivesse muito o que fazer. Na volta, ainda passou e comprou comida chinesa, seguindo com ele para casa, sem distância significativa de lá. Etsuo sorriu ao irmão, um pouco envergonhado pela roupa suja e com ele seguiu para o restaurante chinês, era sua vez de jantar.
- Vai comer tudo isso, é?
- Não, você vai comer comigo.
O menor disse e já levava consigo a sacola com as embalagens de macarrão chinês. Etsuo sorriu.
- Gosto de macarrão.
- Eu sei disso.
Ritsu afagou seus cabelos enquanto caminhavam, regredindo o caminho para casa. Ao chegar abriu a porta, ainda segurava sua coleira. Etsuo sorriu a ele, seguindo-o e parou em frente a porta, esperando que ele desse espaço a si. Após entrar, o menor puxou sua coleira e gesticulou com a mão.
- Vem, totó.
O maior estreitou os olhos.
- Totó não...
- Totó, vem vem.
- Onii...
- Vem, Etsuo.
O menor disse e seguiu então ao quarto, levou consigo a comida, comeriam no box. Etsuo adentrou a casa e assentiu, seguindo com ele ao quarto e ao adentrar, sentou-se na cama.
- Talvez devesse se trocar, onii-chan.
- Hum, eu vou. Sujou todo meu casaco. Vou tomar banho, quer vir?
- Hum, bem, acho que sim.
- Se quiser eu vou rapidinho e você espera.
- Iie, eu também transei com meu namorado.
- Ah é? - Riu. - Zoofilia
- Claro que é. Meu cãozinho gosta.
Etsuo riu.
- Gosta sim.
- Se eu não fizer coisas com ele, ele fica bravo.
- Ah é?
- É, e me morde.
- Hum, não sou tão ruim.
Ritsu riu baixinho.
- É, capaz do meu inu ficar tristinho se não ganhar amor.
- Hum, meu dono me quis até no meio do parque, estou feliz.
- Você é mesmo fofo, não é?
Ritsu disse e seguiu até ele, defronte a si por vez e tocou seus cabelos, acariciando os fios macios e escuros. Etsuo riu baixinho e assentiu, deitando-se na cama como se mostrasse a barriga para ele, como um cachorrinho.
- Eh...
O menor disse, surpreso pelo gesto e se abaixou, acariciando a barriga dele, firme e nada macia como de um cão. Etsuo riu e mordeu o lábio inferior.
- Que foi dono?
- Você é fofo, seu maldito.
A tinta preta decorava com evidência a cútis de Ikuma, em contraste do tom pálido qual possuía. Tinha a imagem estampada, mediana, que vinha ao pescoço a partir da altura do ombro, parcialmente atrás do pescoço, para onde se dirigia em direção ao maxilar, porém sem alcançá-lo e em seu pescoço o réptil possuía uma corrente. Tinha inicialmente a folha transparente colada à pele com ajuda das fitas frágeis, não que fosse necessário visto que a rápida cicatrização já formulada. Deitou-se, usando somente a boxer cor de vinho e uma regata branca e folgada, a espera do companheiro. Taa seguiu pelo quarto da filha a carregá-la nos braços pelo quarto, balançando-a suavemente a tentar fazê-la dormir. Via os olhinhos pequenos se fecharem, tranquila com a musica baixa que cantava e havia acabado de comer, estava satisfeita e sonolenta pelo dia que já estava chegando. Ouviu o barulho da porta, sutil como sempre depois que tiveram o bebê e seguiu até o berço a colocá-la sobre o local, já em sono e a cobriu com o fino cobertor, acariciando o rostinho pequeno a seguir em direção ao quarto.
- Demorou pra chegar, achei que não fosse voltar mais, aonde fo... - Parou a frase ao ver a tatuagem nova no pescoço do outro e aproximou-se, estreitando os olhos. - Mas... Que diabos?
O menor virou-se defronte, cruzando os braços atrás da nuca, em descanso sob o travesseiro alto o fitou e sorriu-lhe sem responder.
- Fez uma... Tatuagem?
- Não, colei uma foto sua no pescoço.
- Não é engraçado... - Taa estreitou os olhos. - Porque eu.. Digo, ela, esta com uma corrente?
- Não era pra ser, é você mesmo. É porque você é meu.
Taa abriu um pequeno sorriso e deitou-se ao lado dele.
- E precisava tatuar uma lagartixa?
- Precisava, por que?
- Achei bonitinho.
Ikuma sorriu.
- Eu sei.
Taa virou-se de lado e o abraçou, selando-lhe os lábios. Ikuma igualmente o abraçou a retribuir tanto o abraço, quanto seu breve beijo.
- Noite agitada?
- Um pouco. Teve uma briga na boate... Foi sangue pra todo lado. Mas, não vem ao caso.
- Hum. Apartou logo, ah?
- Os seguranças fizeram.
- E o sangue, tomou?
- O deles não, claro.
- Podia ter aproveitado um pouco.
- Não, tive que limpar, estava quase todo mundo se matando pelo sangue.
- Tsc. Chutaram eles daqui?
- Chutaram. Mas vampiros as vezes são nojentos...
- Como são os humanos. Alguns valem ou não a pena.
- É, é isso. - Taa riu. - E você, hum? Espero que não tenha ido ver nenhuma vadia.
- Claro que fui. E ela ainda te marcou na minha pele, não viu?
O maior estreitou os olhos.
- Olha la hein.
- Ok, fui ver a vadia depois da tatuagem.
- Estou falando além de mim.
- Não, só você mesmo.
- Ah, imaginei.
Ikuma levou a mão até a fita, tirando do pescoço o plástico, expondo com precisão o desenho na pele.
- Veja.
Taa aproximou-se a observar a tatuagem e sorriu a tocá-la sutilmente.
- É linda.
- Uma graça. Tanto quanto você.
- Isso aí é mentira.
- Não é.
- Não sou uma graça.
- É claro que é. Pra mim é.
Taa sorriu.
- A Shizu dormiu.
- Que bom. Eu vou te deixar descansar hoje, então aproveite.
- E quando é que você me deixa descansar?
- Hoje.
- Só?
- Só hoje.
- Amanhã vai acordar me comendo já.
- Sim, porque amanhã não é hoje.
- Imaginei.
Ikuma sorriu-lhe outra vez e o beijou na testa.
- Deveria aproveitar.
- Eu estou aproveitando. Gosto de ficar assim contigo.
- Hum... Gosta é?
Ikuma levou a mão a sua nuca, afagando-a nos cabelos.
- Gosto sim.
Taa aproximou-se a abraçá-lo.
- Quem fez a tatuagem?
- Um rapaz chamado Katsumi.
- Ele é bom.
- É sim. - O menor sorriu.
- Eu deveria fazer uma pra você.
- Ah não, eu fiz porque queria, só faça uma se for assim também.
Taa sorriu e assentiu a ele.
Kazuto passou pela entrada da gravadora com o pequeno pacotinho, levando o lanche que havia comprado para o outro e logo foi parado pelo segurança que colocou a mão na própria frente.
- Hey!
- Posso te ajudar?
- Cadê o Hikaru?
- Ele foi transferido, posso ajudar?
- Meu marido trabalha aqui. É o vocalista do Lycaon.
- Seu marido? Ta bem, vejo pessoas como você todos os dias, pode sair, eles não querem ninguém incomodando os ensaios.
- Olha como você fala comigo, seu imbecil, chame o Yuuki aqui!
- Já falei que eles não querem ninguém incomodando.
Kazuto estreitou os olhos e cruzou os braços.
- Te dou dois minutos pra me deixar entrar se não amanhã você nem vai trabalhar aqui mais. Isso é, se você não morrer enquanto dorme.
O rapaz estreitou os olhos para o pequeno e por fim virou-se, acompanhando-o até a sala de ensaio do outro e bateu na porta.
- Com licença, Yuuki-san, essa criança está com você?
As batidas solos da bateria do outro músico cessaram conforme a interrupção na porta. Por hora, Yuuki mexia por algum motivo qualquer no microfone, ajustando em seu suporte. Voltou-se à entrada, assim como os demais ali, que deram fim em suas atividades mutuamente e fitou o baixinho perto do homem que daria dois de si.
- Sim, é meu filho.
Brincou, embora não parecesse fazê-lo. Kazuto estreitou os olhos a observá-lo.
- Yuuki!
O rapaz desviou o olhar para o pequeno e deu um pequeno sorriso.
- Bem, está entregue, criança.
Yuuki sorriu de canto, não perceptivo.
- É minha esposa.
Retrucou em seguida, e já podia imaginar o agrado interno do menor ao ouví-lo. - Ah... Certo, desculpe, senhor.A expressão de Kazuto se amenizou aos poucos e abriu um pequeno sorriso, caminhando até ele e entregou o pequeno pacote.
Yuuki deu de ombros ao homem e deixou-o voltar a seu trabalho. Aceitou o pacote, que achou estranho pelo gesto não habitual.
- O que houve?
- Nada. - O menor sorriu. - Eu saí com a Arisu e comprei pra você, ela ficou na casa do Ikuma.
- Hum, na casa da namorada.
- Hai. - Riu.
- Ah, oi gente.
Kazuto acenou aos outros rapazes e logo desviou o olhar a ele novamente.
- Ok, se quiser se sentar e ver o ensaio até eu terminar e sair.
- Hai, eu vou.
- Quer beber alguma coisa?
- Por favor.
- Refrigerante, suco ou água?
- Ah... Suco.
Yuuki caminhou ao pequeno refrigerador na sala e buscou a lata de suco, optou pelo sabor cujo habitualmente o menor bebia em casa e deu-a a ele, tão logo voltando as atividades da banda. Kazuto pegou o suco e sorriu ao maior, sentando-se no sofá e abriu a bebida, bebendo alguns goles.
No fim do ensaio, Yuuki caminhou ao mesmo sofá que o menor onde jogou-se sentado em demasiado conforto. O menor sorriu a ele e deu espaço ao outro, entregando então o saquinho trazido para ele com o pedaço de torta de morango. Yuuki aceitou novamente o pacote, observando o doce. E já havia criado hábito de comê-lo, embora a muito, tivera dito que não gostava de doces. De alguma forma, ele sempre balanceava o gosto forte com algo que amenizasse o doce das sobremesas.
- Eu comprei, mas... Mudei um pouco a receita. - O menor sorriu a ele.
- Eu imaginei.
Yuuki disse a experimentar o doce e oferecê-lo posteriormente ao menor. Kazuto abriu a boca e aceitou o doce, sorrindo a ele.
- Está tudo bem?
- Hum?
O maior indagou sem entender o sentido da pergunta.
- Com você. Se deu tudo certo hoje.
- Pergunta estranha. Tudo correu como sempre. E com você?
- Também. Mas ne... O Suzuya não voltou pra casa.
- Deve ter dormido com o Yukio. Mas tem que ligar pra ele.
- Eu vou.
Yuuki voltou a comer do doce e dividi-lo com o menor.
- Eu estava pensando se a gente podia dar uma volta.
- Hum. Aonde quer ir?
- Não sei, dar um volta?
- Isso você já disse. Quer caminhar num lugar qualquer?
Kazuto assentiu.
- Bem, tá bom.
- Você não quer?
- Só achei atípico.
- Hum... Vamos?
- Sim, vamos. Quer mais suco? - Yuuki indagou ao se levantar.
- Iie.
Kazuto sorriu e levantou-se junto dele, cuidadoso com a barriga que já começara a crescer, era o terceiro filho, mas Yuuki não havia se irritado, na verdade se lembrava bem de como ele havia reagido, tinha um sorrisinho no rosto, curioso com o fato de que havia se desesperado, eram três filhos, tinha medo do que ele fosse pensar, mas o outro só havia dito algo que nunca esqueceria "Se eu não quisesse esse bebê, você nem teria engravidado". Só então havia se dado conta de que os remédios haviam sumido alguns meses antes quando os procurou, Yuuki havia programado tudo, sem dizer uma palavra. Mas não se irritou, queria aquele filho.
- Quer sair pra comer alguma coisa? Não tem sol, e ainda assim é cedo.
- Pode ser. - Kazuto sorriu.
Yuuki despediu-se visualmente dos demais no grupo e seguiu com ele até a saída, deixando o lugar de trabalho. Kazuto seguiu junto do maior, mesmo a sentir o olhar estranho de algum dos integrantes da banda e segurou a mão dele.
- Não gosto daquele garoto novo.
- Por que não gosta dele?
Yuuki indagou já fora do edifício, enquanto sentia o toque de sua mãozinha já não hesitante como era antes.
- Porque ele parece que quer te roubar de mim.
- Está falando de quem?
- Não sei o nome dele.
- O mais recente?
- Sim.
- Você disse a mesma coisa do Hyuu quando entrou. Você vê coisas demais, além de que, olha só a cara dele, ainda que quisesse.
- Mas a minha cara também é feia.
- Você quem acha.
- Não acha?
- Não acho.
Kazuto sorriu.
- Você só é meio idiota. Por que estar "casado" todo esse tempo e achar que te acho feio? É coisa de idiota.
- Mas eu só perguntei...
- Então perguntou sabendo a resposta?
- Sim.
- Bobo.
Kazuto riu baixinho e logo continuou a caminhar com ele. Yuuki continuou a caminhada que até então havia durado em um espaçoso silêncio.
- Onde vamos comer?
- Você nunca me disse onde costumava ir quando era humano, não sente falta de nada?
- Não... Mas... Perto da minha casa, tem um restaurante italiano... Eu sempre quis ir, mas... Quando passava na frente só via casais e não queria ir sozinho...
- Hum... Deve ser para encontros e etc. Se quiser ir.
- Nós podemos ir?!
- Sim. Por que não?
Kazuto sorriu a ele. Yuuki o tocou na bochecha, em carícia breve.
- Tem que dizer onde é.
O menor sentiu a carícia dele sobre si e prendeu a respiração por um pequeno instante, sentindo o coração bater no peito. Sorriu e assentiu, segurando a mão dele novamente.
- Vamos!
Yuuki sentia o agrado em seu humor e retomou o caminho que passou a ser guiado pelo mais novo. Kazuto puxou o outro, devagar e observava a cidade conforme andava para o endereço já conhecido.
-
Por fim o que fez com seu apartamento?
- Ainda está lá... - Kazuto sorriu. - Nunca mais fui, mas... O mantive fechado.
- Deve estar imerso em pó.
- Provavelmente... - O menor riu.
- Podemos passar por lá qualquer dia.
- Podemos ir hoje se quiser.
- Ah não, hoje não. Amanhã.
- Ta bem.
Yuuki seguia ainda o caminho com ele, guiado por sua mão que ainda segurada. Kazuto observou a rua vazia do local e puxou-o consigo, sorrindo a ele, mostrando a entrada do restaurante. O maior seguiu pela escassa até a entrada do restaurante, observando-o na estrutura. Dali já podia sentir o cheiro de massa e molho, uma diversidade deles. Voltou-se ao primeiro atendente que tratou de guiar até uma das mesas. Kazuto observou o local todo a própria volta e só então notou que eram os únicos ali. Sentou-se na cadeira ao lado dele e sorriu.
- Hoje parece vazio. Só parece.
- Eh?
- O Lugar.
- Mas porque só parece? - Riu.
- É porque é óbvio.
- Ah. Você não faz muitas piadas... O que quer comer?
- O que pedir pra você eu peço também.
- Ah... Eu acho que vou pegar macarrão mesmo.
- Eu gosto.
- Então tá bem.
- Vinho tinto.
- Isso.
Yuuki formulou o pedido ao rapaz, que logo se prontificou a sair e seguir ao preparo dos mesmos.
- O lugar é tão bonito quanto eu imaginava... - Kazuto falou baixo.
- E por que a curiosidade de vir aqui?
- Parecia bonito de fora...
- Hum...
Yuuki murmurou em compreensão.
- Fico feliz de ter vindo...
- Demorou até vir. Podia ter fechado.
O maior comentou e voltou-se ao vinho colocado à mesa.
- Ou... Eu podia estar morto.
- E você está.
- Mas podia estar morto morto.
- Você é tão trágico, não?
- Eu gosto.
- Eu vejo.
Kazuto riu. Yuuki serviu-se do vinho e fizera o mesmo ao menor, dosando em sua taça. O menor pegou a taça e apreciou o aroma gostoso da bebida, bebendo um gole em seguida. Yuuki deu um trago, experimentando mutuamente.
- Está gostoso...
- Sim, esse é bom.
- Gosta de... Sair comigo?
- Estou aqui. Não estaria se não gostasse.
Yuuki ditou e descansou a taça sobre a mesa, voltando-se ao garçom que descansava os pratos à mesa, servindo o pedido. Kazuto sorriu a ele e assentiu, observando o prato em frente a si.
- Isso parece tão bom...
- Descubra.
O menor assentiu e provou a comida.
- Hum...
Yuuki voltou-se aos talheres postos e serviu-se da comida, experimentando-a tal como o menor, sentindo o sabor forte da refeição, que embora não fosse o que satisfaria uma fome, era agradável de se prover. Kazuto bebeu um gole do vinho e logo comeu pouco mais da comida, desviando o olhar a ele em seguida.
- O que há?
Yuuki indagou diante do olhar alheio e voltou a comer.
- Não é nada.
O maior bebeu do vinho, ingerindo a comida.
- Está bom?
- Muito.
Kazuto murmurou e na verdade estava feliz, feliz com a vida que tinha agora, como ele parecia grato, como tudo parecia tão bom, confortável. Tinha certeza que se todos os dias fossem como aquele, seria feliz para sempre.
Um sorrisinho Asahi expunha nos lábios quando saiu do quartel, não estava com ele, mas o carro com seu motorista estava esperando a si do lado de fora. Havia tido aulas de enfermagem a manhã toda, gostava, aprendia mais, se tornava útil para ele. Ao sair, podia ouvir as mulheres conversando na porta, um rádio tocava uma música típica japonesa e após as notícias de como estava a guerra no ocidente. Imaginou que tudo aquilo havia acabado, mas pelas notícias estava pior do que imaginava, ele não havia dito a si, não havia mencionado nada. Uniu as sobrancelhas, se sentia um idiota, cego, mas aparentemente a guerra não estava avançando para o Japão, não ainda. Adentrou o carro, silencioso, o sorriso que tinha havia sumido. Ao chegar, desembarcou do carro e seguiu para dentro da casa generosa do outro.
- Asahi-san, que bom que chegou. Kazuma está no jardim.
Assentiu e seguiu pelos corredores bonitos, observava o local e ponderava que a paz que tinha podia ser temporária. Por um momento sentiu o chão quase cair abaixo de si, como se um grande buraco estivesse sugando a si para dentro, se lembrava dos tiros, se lembrava do sangue, do sangue dele, de não saber se o veria vivo mais um dia, e a ideia de que podia ter uma família com ele se dissipava aos poucos. Apoiou-se em uma pilastra, as lágrimas preencheram os olhos e negativou, tentando afastar aquele estranho ataque que fazia o coração bater firme no peito, num momento estava bem, no outro, sem ar e fora quando bateu contra o chão.
- Asahi-san! Kazuma!
Kazuma levantou-se sob o protesto de voz. Havia deixado brevemente o chá que se derramou na pequena mesa a medida em que ao se levantar rapidamente, acabou esbarrando nela. Seria limpa mais tarde.
♦
Kazuma sentou-se ao lado dele na cama, onde já havia passado algum tempo desde que desacordado. Havia sido examinado, passava bem embora houvesse desmaiado, havia sido avisado de um possível estresse ou noites mal dormidas. Colocou a toalha úmida sob sua nuca, com uma leve essência, talvez lhe desse alguma leveza. Asahi abriu os olhos, devagar após um tempo desacordado, fitava o teto do quarto, podia sentir um aroma gostoso de essência, ele estava ali consigo. Desviou o olhar a ele, ainda um pouco embargado por estar tanto tempo desacordado.
- ... Kazuma.
- Padre. - O moreno disse a ele, quando enfim acordado. - Sente alguma coisa? Tontura? Dores?
Asahi uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo.
- Minha cabeça dói... O que aconteceu?
- Você desmaiou. Aparentemente por estresse, mas você está bem.
Kazuma disse e expôs o dedo entre seus olhos, pedindo por segui-los conforme o moveu. Asahi seguiu o dedo dele conforme pedido e suspirou.
- Me desculpe...
O moreno ignorou o pedido sem fundamento e se voltou para o lado, onde preparou um chá com a louça já prontificada.
- Vem, sente-se.
- Hai... - Asahi sentou-se na cama, acomodando-se e sorriu a ele. - ...
Kazuma o ajudou a se ajustar e desse modo entregou a ele a xícara de chá. Asahi pegou a xícara, sentindo-a aquecer a mão e sorriu novamente, aspirando o aroma do chá.
- ... Está tudo bem?
- Sim, ele disse que foi só um estresse. Agora me diz você, o que houve?
- ... Estava saindo do quartel e ouvi no rádio que a Alemanha estava em guerra... Eu tenho medo que acabem convocando você de novo.
- E você desmaiou por isso?
- Fiquei nervoso...
- A guerra te afeta, hum?
- ... não quero te perder.
- Você quer ser enfermeiro quando não tem controle dos seus sentimentos?
Asahi uniu as sobrancelhas e desviou o olhar ao chá.
- Como será capaz de auxiliar alguém se não pode fazer isso por si mesmo?
- Para, Kazuma. Eu não tenho culpa.
- Sei que não tem culpa, mas não está apto pra estudar sobre isso agora. Você vai precisar fazer alguma terapia, só entanto voltará para a enfermaria.
- ... O QUE? Não!
- Não vou discutir com você.
- Kazuma, eu não posso! E se a guerra vier, como eu irei com você?
- Acha que tem condições de ir pra guerra se desmaia ao pensar nela? Na enfermaria tem homens com parte de seu corpo afetado por uma explosão, o que você faz?
- ... Eu estou aprendendo a cuidar deles.
- Você balança na primeira notícia que tem, não está apto a isso. Você estará na hora que ouvir isso e souber que você é um homem que estará pra resolver problemas e ajudar. Não balançar por medo.
- ... - Asahi estreitou os olhos. - Eu não vou sair. Está querendo me afastar do quartel.
- Você acha que consegue fazer algo por lá se eu não permitir?
Kazuma indagou e sorriu, irônico.
- Por que está fazendo isso comigo?
- Porque você é fraco. Tem que cuidar da sua mente antes.
Asahi estendeu a xícara a ele novamente.
- Não vai resolver me contrariando, Asahi. Tenho mais de anos no exército, se estou dizendo a você que precisa cuidar da sua mente, é porque precisa. Não acredita em mim?
- E o que quer que eu faça? Fique meses recebendo médicos me visitando pra descobrir que sou traumatizado, te ver indo pra guerra de novo, não poder ir com você e acabar me suicidando?
- Por Deus, Asahi. Te trouxe pra ser um companheiro e não um dependente.
- Dependente? Eu só quero ficar com você, não quero ficar sozinho. Quão difícil é entender isso?
- Parece o que diferente de dependente dizer que irá se suicidar se não for pra guerra comigo? Fiquei no exercito, subi de escala, comando diversos homens sob minhas ordens, sob a minha direção, pra um pirralho que tem coragem de me dizer que vai cometer suicídio depois de anos na igreja tendo estudado sobre isso, vendo pessoas que morreram e dariam tudo para ter a sorte de estar vivo como você, e desconfiar da minha competência. Não sou imortal, mas não é tão fácil acabar comigo. Te pedi pra se ajudar, não pra parecer um penduricalho. O homem que conheci na igreja tinha sabedoria suficiente pra me responder que cuidaria de si mesmo, para estar bem e ser um homem capaz de me ajudar e estar a meu lado, não escorado e nem atrás de mim. Está agindo como uma criança, não te conheci assim e não me apaixonei por uma criança. Não é difícil se cuidar, as pessoas precisam saber a hora de parar e eu sei quando é a minha hora, também sei que você precisa saber da sua.
Asahi ouviu-o em silêncio e sentia raiva por ouvi-lo dizer que era dependente dele. Vivera dois anos longe dele, sabendo que ele não voltaria, poderia ter se matado, mas não o fez. Era triste saber que ele pensava daquele modo sobre si.
- Não será uma guerra como a dos chineses, será muito maior, será no mundo todo outra vez. Como posso esperar que esteja bem se eles tem bombas e armas terríveis? Devo fazer como uma dona de casa e lavar roupa enquanto você luta na guerra?
Kazuma não o julgava ao todo como um completo dependente, mas seu modo naquele instante era como um. Alegar suicídio para si havia sido um péssimo modo de exemplificar seu ponto de vista, contradize-lo agora uma vez que já havia demonstrado tamanha entrega não adiantaria nada. Ele podia não ter sido, mas estava se tornando dependente não de si, mas dos próprios sentimentos amorosos.
- Eu disse que você ficaria? Eu disse pra você se cuidar e que assim poderia retomar seu posto.
- Quanto tempo isso vai levar?
- Não tem prazo certo, será o suficiente para que se sinta confiante. E que confie em mim também. Quero que se sinta bem e que se sinta destemido como era quando não havia se envolvido comigo.
Asahi abaixou a cabeça e assentiu. Kazuma afagou seu rosto, tocando levemente sua bochecha.
- Não vai ficar sozinho, não o trouxe aqui para isso.
O loiro sentiu as lágrimas nos olhos, e embora tentasse não chorar, já o fazia, embora em silêncio.
- Hum? O que foi? - O maior indagou, soou mais brando por vez.
- ...
Asahi negativou, agarrando o cobertor que tinha sobre si entre os dedos, apertando, firme entre os dedos até ouvir a não estalar.
- Me diz.
Kazuma disse e tocou sua mão, empurrou os dedos para afrouxar seu aperto no cobertor.
- ... Não posso Kazuma... Não posso ver você sair de novo, não posso... - O menor disse em meio a um soluço pelo choro, e não se lembrava de quando havia chorado daquele modo antes. - Não posso ver você machucado de novo, não posso te ver no chão... Não posso... Por favor... Por favor, eu imploro, não faça isso comigo...
- Eu já disse que não vou a lugar algum, Asahi. E se eu for, sou um homem forte, não?
- ... Não, você pode ser o homem mais forte do mundo, não será tão forte quanto uma bomba. Eu acordo toda noite sonhando que você está morto, eu não quero mais sonhar isso, eu não quero mais... Eu... Eu me sinto horrível...
- Hum, achei que ao trazê-lo, acordaria bem, acordaria com flores do jardim, o cheiro de chá. A convivência das feiras mais agitadas. Achei que esse lugar seria bom pra você. Mas parece que está sendo pior.
Asahi desviou o olhar a ele e negativou, segurando sua mão, firme.
- ... Não me mande embora...
- Não vou te mandar embora. Mas estou confuso com você.
- ... Eu... Minha cabeça está muito confusa, mesmo dois anos eu ainda sinto como se eu estivesse em guerra. Passei anos vendo você chegar e sair durante o anoitecer, anos esperando, rezando para que chegasse bem, anos vendo você levar um tiro, explodir, se machucar... Isso... Eu... Eu não consigo...
- Hum. Mas estamos bem, você precisa sair desse mundo em guerra.
Kazuma disse e pela primeira vez desde então, havia começado a se sentir desconfortável. Asahi assentiu, observando a mão junto da dele e por fim deu um pequeno sorriso de canto.
- Eu vou ficar bem.
- Entendo que as coisas podem estar um pouco confusas em sua cabeça. Que os sonhos sejam desconfortáveis, alguns são para mim também, mas é nesse momento que você precisa olhar as coisas boas ao redor, embora seja difícil, como eu disse antes, a guerra te faz ver com maior facilidade a beleza das coisas, então se tudo lhe parece tão bonito, olhe pra elas e perceba que não está no mesmo lugar, não está na guerra, do contrário essas coisas não estariam aqui com você. Acho que a notícia pode ter te abalado desde a visita dos meus companheiros de trabalho, mas eu já disse a você, não farei nada que eu não quiser. Posso até me aposentar a hora que eu quiser. Fique calmo, a noite pode ser difícil, mas a manhã sempre chega. Descanse, tome o chá. Irei acompanhar você nas consultas se precisar, faremos isso juntos.
Asahi desviou o olhar a ele ao ouvi-lo e apertou a mão dele entre os dedos, guiando aos lábios e beijou.
- Me desculpe... Eu... Queria estar bem o tempo todo, mas não consigo. Eu tenho muito medo.
- Não precisa estar o tempo todo se sentindo bem. Só precisa não estar o tempo todo se sentindo mal. Você precisa ter uma sensação pra valorizar a outra.
O menor assentiu, desviando o olhar a ele.
- Deita comigo...
- Hum, acho que você tem que tomar banho. Suininho. - Apertou seu nariz.
- Hum... Não gosta de mim sujinho? - Asahi riu. - Achei que tinha me dado banho enquanto estava desmaiado.
- Hum, banho de toalha só na sua nuca.
O menor riu.
- Quer vir comigo?
- Vou te deixar ter um banho na banheira.
- Hum... Parece gostoso.
- Hum, uhum. Vou pedir ao Touma que o prepare. E mais um chá, esse está frio.
- Hum... Ta bem. - Asahi sorriu.
Kazuma fez menção de se levantar, sentou-se novamente porém e se virou para olha-lo.
- Não precisa estar feliz o tempo inteiro. Só não finja que está bem e me faça descobrir depois que estava fingindo. Não gosto de mentiras.
Asahi uniu as sobrancelhas.
- Não estou fingindo nada. Só queria parar de ter tanto medo.
- Tudo bem.
Kazuma afagou seu cabelo e novamente se levantou, seguiu até o serviçal e pediu a ele para o preparo do banho. Formulou enquanto isso o preparo do chá. Asahi suspirou e desviou o olhar ao cobertor que tinha sobre o corpo, tudo parecia bem, preferia pensar assim, estava tudo bem.
- Asahi-kun. Se sente melhor?
Indagou o rapaz que passava para preparar a seu banho. Asahi desviou o olhar a ele e abriu um pequeno sorriso, assentindo.
- Obrigado, Touma...
- Vai ficar tudo bem. Senhor Kazuma pediu que fizesse seu banho. Vamos colocar o que? Flores? Ervas?
Asahi sorriu e desviou o olhar a porta, o outro ainda não havia voltado.
- Gosto dos dois, você... Pode colocar os dois?
- Claro que sim. E uma água bem quentinha. - O garoto voltou-se para a porta onde ele olhava - Está fazendo seu chá.
Asahi assentiu novamente.
- ... Obrigado.Pouco depois a água e os preparos do banho haviam terminado. O garoto saiu com as mangas do quimono bem dobradas e tinha o cheiro da essência e folhagens do banho.
- Esta pronto, Asahi-kun. Pode vir. Precisa de ajuda para se levantar?
Asahi negativou e Levantou-se, sentindo o cheiro agradável do banho e agradeceu ao outro numa reverência.
- Obrigado.
Kazuma cruzou o caminho com o rapaz ao entrar no quarto e ele assim sair. Agradeceu ao pedido e então seguiu até o banheiro onde o menor já se ajeitava a prover do banho.
- Jasmim é bom pra você?
Asahi adentrou o banheiro, sentindo o cheiro gostoso das ervas e das flores e retirou o casaco que usava, assim como o restante das roupas, virando-se a observa-lo conforme ouviu sua voz.
- Hai....
- Entre na água, peladinho. - Kazuma disse e deixou o chá ao lado, ajudou a entrar na água e então voltou a atenção a bebida que entregou a ele. - Beba, tente relaxar, talvez alivie sua cabeça.
Asahi adentrou a água com a ajuda dele e deu a ele um pequeno sorriso, acomodando-se na banheira a receber o chá.
- Obrigado.
O maior sentou-se na beirada da banheira, observando o rapaz. Estava ainda um pouco incomodado com a situação, mas não o estava culpando. Talvez alguns anos no exército haviam feito ter a ideia de que tudo era como ordenado que fosse, não ter o controle de algo, parecia desagradável. Asahi experimentou o chá, desviando o olhar a ele e sorriu meio de canto.
- Kazuma... Posso te perguntar uma coisa?
- Hum?
O moreno indagou em resposta. Nesse meio tempo aproveitou e pegou uma cigarrilha com cravo, acendeu e levou até a boca. Era a primeira vez que o fazia perto dele.
- Por que você foi me buscar se você poderia ficar com qualquer mulher por aqui?
- Acho que já falamos sobre isso. A resposta é bem óbvia também, não?
- Eu sei, mas não paro de me perguntar porque... Eu sou só um garoto.
- É um homem, não faça eu me sentir mais velho.
Kazuma disse e sorriu a ele, sob o véu de fumaça que soltou entre os lábios. Asahi riu e assentiu.
- ... Posso fumar?
- Você quer, hum?
- Hai.
Kazuma estendeu a ele, entregando a cigarrilha.
- Cravo.
Asahi observou a cigarrilha, um pouco confuso sobre como usar e guiou aos lábios, sugando pouco da fumaça e claro, tossiu ao soltá-la, unindo as sobrancelhas. Previsível, o maior pensou ao ouvi-lo tossir. Aceitou de volta e tornou tragar.
- Precisa ir com calma. Sente seus lábios amortecidos?
- Um pouco... Droga... - Tossiu. - Vou pro inferno.
- Por quê? - Kazuma sorriu, achando graça.
- Sou um padre fumando. - Asahi riu.
- Você não é mais um padre.
- Bem, é força de expressão.
- Então você é um padre homossexual e está fumando.
- Vou duas vezes pro inferno! - O menor riu.
- Padre, preciso te dizer algo.
Asahi desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas.
- Eh?
- Acho que você não sabe. Mas nós já estamos no inferno. Eu sou seu demônio. - Kazuma sorriu no fim. - Te tirei do caminho da fé. Tomei seu corpo e fui o único capaz de lhe prover a dor.
Asahi arqueou uma das sobrancelhas e riu por fim.
- Hum... Eles não estavam brincando quando disseram que o demônio era o anjo mais bonito.
Kazuma sorriu com os olhos franzidos enquanto tragava do cigarro, evitando a fumaça.
- E sorrindo é mais bonito ainda. - Asahi riu.
- Hum, então vou ter que sorrir sempre? Quer mais? - Kazuma indagou a sugerir o cigarro.
O menor riu baixinho.
- Quero mais sim, sorri mais pra mim.
Falou, brincando e pegou a cigarrilha, tentando tragar, novamente sem sucesso.
- Me de motivos pra sorrir então, rapaz. - Retrucou. - Trague devagar.
- Como eu devo fazer isso? - Asahi murmurou, observando a cigarrilha. - Hum, eu sou péssimo com piadas.
- Melhorando.
Kazuma disse e tomou posse da cigarrilha de volta. Uns tragos mais e a apagou. Asahi devolveu a cigarrilha e assentiu.
- Hum, dizer que você é bonito te faz sorrir.
- Hum, na verdade me deixa um pouco desconfortável. - O maior sorriu embora.
- Por isso sorri. - Asahi riu baixinho. - Você é lindo.
- Pare com isso, rapaz. - Kazuma disse e beliscou sua bochecha ao se levantar. - Já está se sentindo melhor?
Asahi riu e negativou.
- Hai... Entra comigo.
- É o que vou fazer.
O moreno disse e deixou de lado a cigarrilha sem uso. Voltou a atenção as roupas, passando a se despir. Asahi sorriu a ele, observando-o enquanto se despia.
- Sabe... Acho que a guerra não foi tão ruim assim... Eu conheci você nela.
- Eu já disse isso a você.
Dito, já despido, Kazuma seguiu até a água e entrou com ele, tomando uma parte de seu espaço.
- Eu sei, mas quis ser otimista.
Asahi murmurou num sorriso e aproximou-se dele, aconchegando-se em seu colo. Kazuma o assistiu se aproximar e com isso, tomar espaço no colo. O acomodou e deu o ombro a seu rosto.
- Hum, males que vem para o bem?
- Hai. - O menor sorriu e repousou a face sobre o ombro dele. - Kimochi...
- Quis banho com flores, é?
- Tem um cheiro gostoso. - Asahi sorriu.
- Gosto das ervas. Se você se abaixar pode quase tomar um chá.
Kazuma brincou, embora soasse sério. Asahi uniu as sobrancelhas.
- Chá sujinho.
- Uhum.
O maior riu, sem altura.
Asahi riu igualmente.
- ... Queria poder ficar aqui pra sempre.
- Terá tempo pra fazer outras coisas e ainda voltar a fazer isso no fim do dia se você quiser.
Asahi assentiu e virou-se devagar, sentando-se no colo dele, em frente a ele dessa vez e selou-lhe os lábios. Kazuma o observou a medida em que se virou, apoiou as mãos em suas coxas. O retribuiu em seu selo. O loiro sorriu a ele, deslizando uma das mãos por seus cabelos e não tinha de fato alguma malícia, o observava apenas.
- Quando a guerra começou, cortaram a água quente da igreja... Estava tomando banhos frios há uns meses.
- Eu sei. Meus banhos também eram frios. A comida era enviada, mas nada que pudéssemos exigir. É por isso que não me importo em gastar, quero que compre roupas, que compre frutas, quero que compre o que quiser. E que tome todo banho quente que quiser.
Asahi assentiu e repousou a face sobre o ombro dele, ainda o acariciando.
- Também poderá ter algo melhor no seu aniversário esse ano.
- Hum... - Asahi falou e ponderou sobre o dito, e realmente, o próprio aniversário estava perto. - ... Esqueci do meu aniversário.
- É, também me esqueço do meu. Ainda mais depois da guerra.
O menor desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas.
- Vamos comemorar esse ano.
- Por que essa cara?
Kazuma indagou ao percebeu seu cenho franzido.
- Não gosto de pensar que não teve um bom aniversário.
- Eu não me importo com isso. E não é como se você houvesse tido um também.
- O meu foi bom. - Asahi sorriu.
- Não de fato.
- Eu estava com você, e ganhei um bolinho improvisado. - Riu.
- Esse ano terá um bolo melhor.
- Não precisa se preocupar com isso.
- Me diz o que você gosta em um doce.
- Eu não comi muitos doces na vida, mas... Eu gosto de frutas.
- Misturadas ou prefere uma específica?
- Não tenho preferência eu acho...
- Certo. Vou te deixar provar um doce bem gostoso.
Asahi sorriu.
- Ta bom.