Yasuhiro e Yoruichi #11


- Não sei mais o que fazer... Já faz uma semana e ele ainda não voltou!

- Não se preocupe, ele vai voltar.
- Mas e se não voltar? O casamento é daqui há cinco horas...
- Se acalme, mandamos homens atrás dele, vão trazê-lo, são bons com cheiros.
Yoruichi havia voltado para casa, eram oito da noite, e o casamento seria a meia noite daquele dia. Não havia sido carregado por ninguém, havia voltado sozinho, porque sabia que apesar de tudo tinha os próprios compromissos, teria que casar com ele, embora ele fosse desprezível. Não havia sumido ou viajado para longe, passara uma semana em uma pequena estalagem onde poderia comer e beber saquê a vontade, e não tinha com quem se preocupar se não consigo mesmo, quando se cansou e julgou ser suficiente o susto, voltou para o casamento.
- Yoruichi, onde diabos você se meteu, garoto?!
- Em lugar nenhum, estava há poucos quilômetros daqui, não se preocupe.
- Você perdeu suas aulas e até mesmo o ensaio do casamento!
- Posso dizer eu aceito e depois beber o sangue, não se preocupe. 
- Vá se trocar!



- Nós iremos de qualquer forma. Duvido, pela criação que minha irmã deu aquele garoto, ainda que seja um rebelde, eu duvido que ele vá causar essa desonra, eu mesmo o mataria.
Disse a mãe de Yasuhiro, o que causava um sorriso canteiro nele. Já estavam a caminho da cerimônia, sob muitos protestos, na casa dos tios, ainda que fosse no jardim extenso por lá, preferia um templo, no entanto aquela altura tudo havia sido decorado de acordo com os gostos dos pais, de si e do noivo havia apenas sido de acordo com comes e bebes, também os trajes ainda que com muito do agrado dos pais. Ao chegar desembarcou, vestia-se com um quimono preto e branco, cintilante, perolado. Usava os cabelos louros e longos soltos e um adorno sóbrio nos cabelos que passeavam livremente nos ombros e costas a medida em que caminhava.
- Minha tia, meu tio.
Disse o loiro a cumprimenta-los, e fazia-se avulso aguardando as notícias, ainda que mais ansioso estivesse a mãe. 

- Yasuhiro! Nossa, como você está lindo! Yoruichi retornou há pouco, está se arrumando, peço desculpas pelo susto.



Após um tempo se arrumando e tendo três criadas consigo, Yoruichi desceu as escadas, o kimono branco cobria todo o corpo, e embora originalmente devessem ser sóbrios e sem demais estampas, havia pedido que fossem colocadas pequenas borboletas na manga, imperceptíveis já que prateadas, quase sumiam conforme mexia as mãos, o obi era de um cinza claro, que combinava com o restante da roupa. Os cabelos haviam sido metade presos, num penteado que se desfazia nos fios longos sobre os ombros e a maquiagem do rosto era suave, quase não se notava que a usava, somente pelo delineador no canto dos olhos. Ao descer, ouviu a conversa cessar conforme saiu pela porta de trás e os olhares diziam somente uma coisa, era um imbecil por ter sumido.
Após algumas horas, o fim das arrumações necessárias, Yasuhiro guiou-se à pequena ponte entre os jardins e esperou-o antes de cruzar a passarela, tomaria sua mão e levaria-o até o responsável pela cerimônia. Não haviam ensaiado nada, portanto, aquela situação seria de responsabilidade de ambos. Com sua chegada, não se voltou para ele, fitou-o somente quando ao próprio lado, onde aceitou sua mão e segurou-o para guia-lo pela ponte pequenina e cruzar o lago, por isso mesmo somente ao chegar até o homem foi capaz de fita-lo, na pouca iluminação dos jardins com lamparinas, daquela forma sua beleza era até exaltada, estava bonito, como sempre fora. Gostava do contraste de seus cabelos escuros em sua pele, invejava-os, mas tinha sorte de tê-los de alguma forma, afinal, pertenceria a si, mas claro, não era algo o que se daria consciência agora. Tinha cor leve em suas bochechas, o que certamente não era natural, a maquiagem não era diferente do habitual, poderia elogia-lo, mas não fez, haviam acabado de uma forma estranha da última vez, a hora que lhe dissesse algo, certamente o provocaria.
O moreno visualizou de longe o noivo parado, soltou a mão da garota que ajudava nos passos com o sapato alto e segurou agora a mão dele, sendo guiado sobre a ponte, e junto dele o observou, estava bonito, seus cabelos lisos, olhos brilhantes, ele era lindo, não podia negar, sempre fora, desde o dia em que o vira pela primeira vez do alto da colina, se apaixonara por ele, mas nunca diria isso alto, nunca diria isso nem para si. Agora estava finalmente se casando com ele, e embora estivesse irritado pelo ocorrido, ao mesmo tempo estava feliz por poder dizer que ele era somente próprio.
Quando finalmente defronte, Yasuhiro ajoelhou-se sobre as almofadas dispostas para os joelhos e o ajudou a se acomodar. De frente a ele, curvou-se num cumprimento formal e via-o repetir o ato, até que estivesse apto a ouvir as palavras do cerimonialista, dos quais aguardou até que pudessem aceitar um ao outro como legítimos companheiros.
Yoruichi ajoelhou-se junto dele, e observava-o vez ou outra entre as palavras do rapaz, que uniriam a ambos, e pensava sobre ficar junto dele pelo resto da vida imortal que teria. De fato, um vampiro deveria poder escolher o seu companheiro, já que nunca se largariam. O queria, mas tinha as dúvidas se ele queria a si, obviamente, parecia que não.
- ... Aceito.
Disse numa pequena reverência e o observou em seguida, recebendo o pequeno recipiente onde beberia o sangue dele.

- Aceito.
Disse o loiro como ele, aceitando a união, e mesmo que não quisessem, aquela deveria ser a resposta. Aceitou o cálice prateado das mãos do rapaz e com uma fina e delicada estaca, rompia uma pequena fenda na mão, o que gotejou o suficiente para um trago de sangue dentro do recipiente e entregou a ele.

O moreno pegou de volta a pequena taça, observando o sangue que cheirava bem, agora ele poderia sentir a si, os próprios sentimentos, tudo que sentia por ele, e ponderou por uns instantes a observar o sangue.
- Beba.
"Acordou" ao ouvir o rapaz e desviou o olhar ao loiro, assentindo e bebeu os poucos goles do sangue, lambendo os lábios a limpá-los em seguida, logo após, cortou a própria mão com o objeto, fechando os olhos a sentir a fisgada e entregou a ele a taça, agora com o próprio sangue.
O loiro observou em sua inércia, o que levou algum tempo para interromper, o qual foi chamado logo o viu tragar, aparentemente contra sua vontade, o que fez com que lhe desse um canteiro sorriso, provocativo. Aceitou logo a seu sangue e tragou sem seus rodeios, deixando o cálice vazio entre ambos. Dado o fim da cerimônia, encerrava com um beijo em seu dorso da mão, ganhava um igual e então pôde se levantar e enfim ajuda-lo a fazer o mesmo.
Yoruichi beijou-o em sua mão, observando-o meio de canto, evitando suas provocações e com ele se levantou, seguindo para atravessar novamente a ponte e já podia observar os pais ali, que receberam a si e a ele.
- Vocês irão para a casa de vocês agora, e espero ter boas notícias de sua noite de núpcias amanhã. 
O moreno observou a mãe, igualmente de canto, não tinha intenções de se deitar com ele, mas foi guiado para a liteira, e contra a própria vontade, entrou, esperando-o.
- Eu pretendia participar da comemoração, mas parece que não estamos aqui para comemorar.
Yasuhiro disse para a mãe, em desagrado com a autoridade da tia, trataria de conversar com ele mais tarde e podia ver que nem mesmo o pai entendera a questão, mas entraram no veículo, tratando de serem levados para o destino onde poderiam trocar as roupas e seguirem a breve viagem até onde passariam a morar e onde mesmo teria a noite de núpcias. No meio caminho é claro, fazia questão de encara-lo de uma forma provocativa, não que pensasse ir pra cama com ele, mas o fez pensar que o despia visualmente, por pura diversão.

O menor observava calmamente a paisagem enquanto era levado junto dele e se despedia do próprio jardim, o lago e tudo que havia nele, não voltaria mais ali. Não fazia tanta questão de ficar na festa, ao contrário do que ele pensava, muito certamente a própria mãe havia feito aquilo por pressa de que se deitasse com ele e lhe desse netos de sangue puro, mas não iria fazê-lo, não queria fazer aquilo com ele. Ao desviar o olhar, notou o outro observando a si, e não entendeu, mas ao vê-lo desviar o olhar para si, sentiu um leve arrepio percorrer a coluna.
- Pare de graça.

- Não estou com "graça".
Yasuhiro retrucou a ele e continuou a fita-lo da mesma forma, despudoradamente, ainda que na própria cabeça, não se passasse nada sexual, não que não quisesse, mas o estava provocando somente. 

- Claro que está, me olhando desse jeito. Nem pense que vou me deitar com você.
- Você é meu, Yoruichi. Se eu quiser, eu vou toma-lo ainda que não queira.
- Vai me estuprar?
- Não vou te estuprar, você é meu companheiro.
- ...Tsc. Me dê um tempo.
- É claro.
O loiro disse, não tinha realmente intuito de obriga-lo, faria birra como ele mesmo. Ainda assim, continuava a encara-lo do mesmo modo.

- E pare de me encarar!
- Me obrigue.
O moreno estreitou os olhos e desviou o olhar.
- O que você quer?

- O que eu quero o que? Só estou olhando você. É meu, posso fazer isso.
Yoruichi suspirou e assentiu.
- Se despediu dele?

- Não tenho porque me despedir, mas ele sabia sobre o casório hoje.
- Não tem? Vai voltar para visitá-lo?
- Eu vou? - Yasuhiro indagou a ele, esperando receber alguma patada típica.
O moreno desviou o olhar para fora do veículo e suspirou, assentindo.
- Pode vê-lo se quiser...

- Hum. Eu esperava algo mais agressivo.
- Estou cansado das suas provocações.
- Eu não te provoco tanto, você que é sem graça.
- Hum. Sentiu saudade?
- É claro, como não sentiria falta do meu primo e noivo amado, tão dócil.
Yoruichi desviou o olhar a ele, estreitando os olhos. Yasuhiro não conteve o riso ao percebê-lo se voltar a si com aquele olharzinho afiado. 
- Você podia não ser você, só por cinco minutos?
- Claro, serei você por cinco minutos.
Disse o loiro e até fechou a expressão, acomodando-se como ele em seu lugar. O menor r
evirou os olhos, e desviou o olhar para a janela novamente.
- Esqueça.

Yasuhiro fitou-o e o ignorou como ele fazia, voltaria a provoca-lo alguns minutos depois. O moreno suspirou e por fim manteve-se daquele modo mesmo, ignorando o outro pela viagem.- Abra o quimono, Yoruichi. - Disse o maior a provoca-lo, o importunaria. 
O menor desviou o olhar a ele.
- Quando eu for me trocar.

- Faça agora, aqui. - Disse e até soou firme.
Yasuhiro negativou, ainda estavam no carro, não tinha porque abrir o kimono ali, seguiam para a pequena estalagem na divisa da cidade onde trocariam as roupas. No quarto.
- No quarto.
- Mandei tirar aqui, Yoru. Abra o quimono.
O moreno estreitou os olhos, negativando a ele, e impôs-se, não poderia tirar as roupas em frente aos empregados e ele pedir aquilo era até mesmo um insulto.
- Abra, Yoruichi, eu posso vê-lo agora, você é meu.
- Você já me viu, Yasuhiro. Ou está esquecendo? Por que está agindo assim?
- Já vi, mas quero vê-lo agora. Quero ter algo pra ver durante o caminho. Abra ou vou tirar por você.
Yoruichi uniu as sobrancelhas e encolheu-se no banco, negativando. Yasuhiro esticou-se até ele, tocando o obi de seu quimono menor e confortável para a viagem. 
- ... - O menor negativou e deu um tapa sobre a mão dele. - Pare!
O loiro riu, achando graça no leve tapa, no entanto voltou a insistir, tocando o obi que fez menção de desenlaçar. 
- Yasuhiro!
O menor gritou, segurando as mãos dele, impedindo-o de segurar a si. O maior b
rigou com suas mãos, até atrapalhando um tanto seu toque, de propósito para irrita-lo. 
- Para, inferno!
Yoruichi falou, gritando com ele ainda, e não achava graça.

Yasuhiro arqueou a sobrancelha e desfez o enlace sem dificuldades, simplesmente por seu mau humor, e expôs levemente sua cútis pálida, que já havia visto.
- Você é muito chato.

O moreno uniu as sobrancelhas e encolheu-se, segurando o kimono junto ao corpo.
- Eu sou chato? Como me desnuda assim no meio do nada?

- Não é no meio do nada, e estamos somente nós dois.
- ... O que? Quer transar em uma liteira?
- Não estou pensando em fazer isso. Queria apenas dar uma olhadinha.
Yoruichi suspirou e afrouxou o kimono que usava sobre o corpo, devagar expondo os ombros e tórax, a pele clara sem marcas e deixou-o observar a si, até a marca dos quadris, mais do que isso, não expôs, logo, voltou a fechar a veste.
Yasuhiro percebeu-o se mover e expor sua cútis, o qual já havia parcialmente visto até então. Timidamente deixou-se exposto por um minuto, mas voltou a se esconder enquanto torcia a expressão. Acabara por novamente rir, embora entre os lábios cerrados e somente então se acomodou como antes, no próprio lugar.
- ... Por que quer tanto me ver sem roupas? Você já viu tudo isso... Não tem nada de novo.
- Queria provoca-lo, somente isso. - Disse o loiro e sorriu-lhe com os dentes aparentes. - Saber se é igual vê-lo antes e depois de casado.
- Hum... Sentiu algo diferente?
- Não vou dizer.
- Ah não?
- Não. - Disse o maior e apoiou-se com a face sobre a palma da mão, voltado a ele.
- Vou morrer com o mistério então. - Disse Yoruichi ainda ajeitando as roupas e suspirou. - Espero que cheguemos logo.
- Você não morre, vai conviver com ele. Ou descobrir quando você for ver meu corpo.
- Hum, talvez. Eu nunca o vi.
- Uma parte você viu.

- Não toda.
- Verá.

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