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março 2021
Após sair de casa, já era início de noite, talvez fim de tarde, era suficiente para Masashi ser capaz de sair. No vilarejo, podia ver que a feira estava sendo montada, algumas outras bancas já estavam feitas. A iluminação era tão agradável, pensava ao ver os balões iluminando as quitandas. O cheiro era de flores e comida frita. Adorava aquela localização, porque pareciam sempre festejar, pareciam sempre em comemoração, uma vez que era um ponto turístico.
- Yo, Masashi-chan!
Sua pronuncia era dócil e rouca, fazia jus a sua aparência, era como uma avó muito vaidosa, imaginava que se Katsuragi fosse capaz de envelhecer, provavelmente daquele modo seria. Trocou com ela algumas moedas, já se conheciam das diversas vezes em que passava para comprar as flores. Falavam sempre elas ou dos quimonos que usavam no dia. Sabia que tinha 65 anos, que tinha uma companheira de "chá" ao chegar em casa, e que já tomavam juntas há pelo menos 30 anos. Já ela, aguardava ansiosamente para descobrir que tipo seria o próprio filho. Após retomar viagem, cada vez mais a vila se tornava distante e se perdia entre as árvores até que chegasse lá. Aquele lugar tinha cheiro de água fresca e grama molhada, se localizava ao lado de um lago delicado, onde sempre haveriam folhas descansando. Ao lado da árvore generosa, as flores do dia anterior ainda estavam vivas sob sua sombra. Formava-se uma grande roda de flores plantadas, já estavam maiores e bonitas, circulando a árvore, onde se encaminhou e parou antes que pisasse entre as flores.- Cheguei mais cedo hoje, hm? - Disse e somente após uma tênue curva, um breve cumprimento e então, gentilmente passou pelas flores e alcançou a árvore, onde no final de seu tronco, lascado escrevia seu nome, indicando além das flores, que alguém, eternamente descansaria sob a sombra e o cheiro da água florida. Ao se sentar com cortesia, embora o quimono sedoso de cor preta se espalhasse com certa graça pelas flores que davam a ele a beleza para descansar, parecia poética a vista que alguém que o visse, poderia ter, o destaque de cada pétala sobre o tecido sóbrio espalhado, se unindo aos cabelos que percorriam as costas arqueadas, pareceria, se não fosse a amargura do peito. Aquele dia, não importando a beleza local, a beleza de qualquer coisa que passasse por ali, era um dia triste. Debruçou a testa junto ao tronco, encostou-se a seu nome marcado, e sabia que aquela altura da vida, tinha dinheiro para lhe dar uma lápide decente, mas no fundo não faria diferença, ele não saberia, ele não iria ver, preferia acreditar que aquela altura, Masami havia crescido como aquela árvore gloriosa. E os dedos tocavam com leveza cada áspero pedaço de madeira, acariciando-a.
- Feliz aniversário.
Falou, como num sussurro entre ambos. Tentou lhe dar um sorriso, mas a única coisa que tinha na cabeça era uma breve lembrança.
- Oni... Eu.. não quero ir embora. Eu queria ficar aqui com você. Mas... eu acho que cada vez mais, eu estou menos aqui. Nii... Você vai ficar bem sozinho? Não vai se esquecer de mim, nee? Honto ni? Zutto... Yakusoku.
- Yakusoku...
Masashi lembrava-se com clareza de seu timbre, da forma como parecia dolorida cada palavra, mas não apenas por sua dor física, mas por sua dor emocional, ousando achar que em algum momento ele não estaria presente nas próprias lembranças, como se sua pequena e tão significativa existência, fosse ser esquecida. Descobriu naquele momento que um vampiro poderia sentir o estômago doer. Lembrou-se do fato de que já havia morrido é diferente dele, não estava ali, sentia-se como um traidor. Uma das mãos levou ao peito, sentia-o dolorido, talvez fosse a garganta, não sabia exatamente. Ao tocar o rosto, os dedos tingiam-se de vermelho, reflexo do que agora eram as lágrimas no corpo mórbido que tinha.
- Masami, você vai ser titio.
Murmurou enquanto deslizava o dorso da mão no rosto, tentando não terminar todo manchado.
- Nós decidimos que o nome dele será Masami. Talvez, você possa voltar a vida desse modo. Eu sei que nunca trouxe aquela pessoa especial aqui, mas, eu prometo que o trarei em breve.
Com gentileza, novamente acariciou o tronco, delineando seu nome cravado. Levou um tempo em silêncio e somente então deixou mais uma porção de flores, comprara lírios naquele dia. Tocou-lhe uma música e então adormeceu com ele, recostado no tronco do bordô-japonês.
Katsuragi suspirou, e os passos levaram a si até a porta de casa, havia acordado há pouco tempo, a noite estava fresca, afinal, era primavera, deveria realmente estar fresco. Lá fora, podia ver a lua cheia, que brilhava no algo do céu. Não sentia o cheiro dele, estranhamente, naquela noite ele não estava em casa, talvez estivesse no bordel, mas não tinha essa certeza, desceria até lá em breve para procurá-lo, por hora, faria para si um chá, para si e para o filho, que agora chutava na barriga, tornando dolorido ficar em pé.
- ... Ah Masami, sossegue.
Disse, e falava com ele, como sempre fazia, o que geralmente fazia com que ele se acalmasse, mas não naquele dia, achou que talvez, ele pudesse sentir algo errado, quanto a si, tentava, mas não conseguia sentir nada, apenas um sutil incômodo, distante, que não sabia exatamente o que seria, mas era ele, era uma certa tristeza, um aperto no peito, e compartilhava aquilo com ele agora, sabia o que ele sentia, e também sentiria.
- ... Masashi...
Disse a observar a lua, como se pudesse adivinhar onde ele estava só de olhar pra ela, sabia que ele sofria, mas não fazia ideia do porquê. Desviou o olhar para dentro da casa, fitando o garoto na cozinha, o gatinho sorridente, que agora estava pouco mais velho, esquentava a água para o próprio chá mesmo antes que dissesse a ele.
- Kaito...
- Sim senhor, o que foi?
- Sabe onde está Masashi?
- Ah, não senhor... Ele me disse que iria sair, mas não disse onde iria
Katsuragi uniu as sobrancelhas e novamente desviou o olhar para fora.
- Veja se ele está no bordel, por favor.
- Senhor, sabe que não pode ficar sozinho...
- Eu sei, mas preciso que faça isso pra mim, estou sentindo algo ruim nele, preciso vê-lo.
- Eh?! Tem alguém machucando ele?
- Não alguém... Ele parece estar se sentindo triste.
Conforme disse, Katsuragi novamente havia sentido um chute do bebê, o que causou um suspiro em si.
- Eu sei, Masami... Eu sei...
Disse ao pequeno, tocando a barriga sobre o quimono leve de seda, e conforme caminhou para fora para ver as luzes da cidade, sentiu a fisgada dolorida no ventre, o que fez a si unir as sobrancelhas e cerrar os punhos.
- ...
- Eu vou descer para procurá-lo então. Senhor...?
Katsuragi uniu as sobrancelhas e cerrou os dentes, mesmo que fosse forte e que já houvesse sentido dores bem piores do que aquela, parecia estranha, havia em si um sentimento ruim, e pelo visto, também incomodava o filho.
- ... K-Kaito...
- Senhor, está tudo bem?
- ... Chame o médico...
- Mas, e o Masashi?
- Ele virá...
Quando acordou um tempo mais tarde, Masashi havia repousado junto ao tronco da árvore, com o instrumento de corda no colo. Mas o que acordava a si, não era a carícia leve da brisa fria, era a junção de um sentimento ruim junto ao própria já menos intenso, dormir era sempre um analgésico em casos mais fortes. Levantou-se rapidamente, atento ao portador do desconforto. Acariciou o tronco da árvore com a gentileza de um irmão a colocar o outro para dormir.
- Oyasumi, Masami.
Sussurrou-lhe como um segredo e se apressou, tanto que esqueceu de levar o instrumento que portava antes, partiu, retomando pequena viagem, agora menos desapressado, em busca do companheiro.
Um suspiro deixou os lábios, Katsuragi agora estava sozinho, e já havia se acomodado na cama, junto a si haviam toalhas e até mesmo as roupas do filho, nunca havia tido um filho antes, mas sabia que ele estava vindo, sabia pela dor, pelo sentimento incômodo, e droga, como doía, doía tanto que fora obrigado a cravar as presas na mão, tentando concentrar a dor em outro lugar.
- Masashi!
Chamou, para si mesmo já que ele não estava ali e negativou, sentindo a pele aquecer e inclinou o pescoço para trás, o médico tinha que chegar logo, ele... Tinha que chegar.
- ... Calma Masami, por favor...
No meio do caminho porém, Masashi encontrou o pequeno serviçal do companheiro, parecia aflito e muito atento.
- Masashi-kun!
Disse ele, mas somente o olhou e passou como se não percebesse exatamente. Ao chegar na casa, a porta estalou ao correr no batente. Por seu cheiro, seguiu até o quarto e ao ver as roupas e toalhas, sabia que ele estava se preparando.
- Koibito... - Disse, quase afável, embora alerta.
Katsuragi desviou o olhar em direção a porta e agradeceu por ele estar ali, o coração estava apertado, não batia, mas naquele momento ele bateu numa martelada no peito.
- Masashi... Graças a Deus...
Murmurou e gemeu, dolorido, os fios de cabelo estavam sobre o rosto, desajeitados e o quimono pouco aberto a expor os ombros, sentia tanta dor que não conseguia se ajeitar na cama. Masashi jogou-se para seu futon, se sentou na beirada e ajeitou seus cabelos após tocar seu rosto.
- Ele quer vir hoje, hm? Vai ser prematuro...
Katsuragi desviou o olhar a ele e suspirou mais uma vez, dolorido, só então segurou a mão dele sobre o próprio rosto, firme.
- Por que... Por que você estava triste?
- Eh? Eu não estou triste, só estava passeando. - Masashi disse, não queria falar sobre aquilo enquanto ele sentia dor. - Eu vou fazer seu parto!
Katsuragi mordeu o lábio inferior e inclinou o pescoço para trás, dolorido e apertou a mão dele, firme, era uma contração, e doía ainda mais por saber que não adiantavam, não conseguiria ter um parto natural como uma mulher.
- ... Não... O doutor... O doutor já vai chegar...
Disse a apertar novamente a mão dele, porém, viu o garoto correr para dentro do quarto.
- Senhor, eu já fui a toda parte! Não encontro o médico!
- ... - Katsuragi uniu as sobrancelhas, desviando o olhar ao outro e podia sentir as lágrimas nos olhos. - Vai... Vai doer muito?
- Por que quer outra pessoa?
Masashi indagou e franziu levemente o cenho, incomodado por ser sua última escolha.
- ... Quero que segure minha mão... Ou eu vou morrer de medo.
Katsuragi disse e talvez para ele, ver a si daquela forma fosse um tanto estranho, mas a verdade é que, já havia sonhado com aquele dia, e nem em sonhos a dor fora tão intensa quanto realmente era, e tinha tanto medo que as mãos tremiam, embora nunca houvesse dito nada a ele.
- Eu vou estar tocando você. Sabe que nada vai acontecer a vocês dois. Será rápido, te darei o sangue depois que ele vir. - Dito, Masashi debruçou-se para beijar sua testa. - Kaito, traga um pedaço fresco de carne crua, consiga algum animal recém abatido e com bastante fluxo sanguíneo.
- Sim senhor!
Disse o pequeno a correr para baixo, quanto a Katsuragi, o observava e assentiu a suas explicações, ainda assim, sentia arrepios só de pensar na sensação.
-... Tudo bem...
- Será muito rápido, ele já quer vir.
Masashi disse e sorriu a ele, embora esboçasse evidente preocupação, não por ter receio de fazer, mas por saber a sensação de aflição que vinha dele. Ao se esticar, pegou uma pequena manta, seria do filho, entregou a ele.
- Aqui, segure, ele estará aqui essa noite.
Disse, tentando fazê-lo se voltar mais a ideia de tê-lo do que por seu medo. Só então se levantou, buscou alguns paramentos que usava nos estudos. Estava ansioso mas no fim, só pensava no presente que estava ganhando. Katsuragi assentiu conforme o ouviu, podia sentir as lágrimas nos olhos, mas não queria chorar, queria ser forte, como ele estava sendo para si naquela hora. Era estranho pensar que ele estava acalmando a si, deveria ser o contrário, mas se comportava como um adolescente tendo o primeiro filho, amedrontado, como se não tivesse passado coisas bem piores na vida, até dores piores do que aquela, talvez. Naquele momento, se agarrou a manta, observando-a e só assim fora capaz de se acalmar um pouco, podendo vê-la, pensando que estaria com o filho, menina ou menino não importava, seria dele.
-... Masashi. - Murmurou, não tão amedrontado quanto antes estava. - Ele se incomodou com você... Por isso... Por isso ele quis vir.
Ao voltar para ele, Masashi gentilmente tocou seu quimono, expôs seu corpo bonito e sua barriga volumosa, podia ver com sutileza os movimentos do filho junto a sua barriga.
- Porque eu estava longe de vocês. - Masashi sorriu, não lhe diria sobre algo triste naquele momento, queria que ele estivesse calmo, e agora parecia mais estável. - Isso, fique calmo, nosso bebê dormirá conosco hoje. - Sorriu, agora sim, era um sorriso feliz. Após preparar tudo o que precisava, entre suas pernas e seu corpo nu, acariciou seu ventre. - Calma, não judie da mamãe... Você está pronto?
Ao vê-lo desatar o quimono, por um momento, Katsuragi se sentiu envergonhado, e fora a primeira vez na vida que havia se sentido daquela forma, com vontade de esconder o corpo dos olhos dele, realmente como se fosse um adolescente, sentia com eles sensações que nunca havia sentido antes, e aquilo era estranho e agradável ao mesmo tempo, ainda que a idade humana e vampírica fosse avançada, ele fazia com que se sentisse como um menino. O observou e sorriu, sentindo as lágrimas nos olhos novamente e dessa vez não era o medo, talvez uma emoção diferente, felicidade. Observou os movimentos do filho assim como ele e assentiu, mordendo o lábio inferior.
- ... Tudo bem...
- Segure firme.
Masashi disse e lhe deu apenas uma dose de chá para dor, embora soubesse que o efeito não lhe fosse tão intenso, ao menos um placebo poderia ajudar sua mente a descansar. Feito isso, tão logo iniciou o procedimento, tocou sua pele e pressionou a pele, na região do ventre, causou uma fenda e tentou ser rápido. Era engraçado como numa situação onde ele dependia de si, olhava para sua ferida como uma questão a resolver, não olhava como um corte, como camadas mais profundas de pele cortadas, era apenas um procedimento.
- Calma, estou aqui.
Katsuragi aceitou o chá, e de alguma forma, sabia que não iria adiantar daquela forma, só um chá não seria suficiente, mas bebeu tudo quase numa golada só. Era estranho porque, a dor não havia sumido ou algo parecido mas estava tonto, ainda tonto, podia sentir o bisturi cortar a si, profundamente e a dor que já era forte antes agora se tornara ainda mais intensa. O grito deixou a garganta, dolorido enquanto agarrava-se ao lençol e fechou os olhos, firme a inclinar o pescoço para trás, e agora sim as lágrimas escorriam pelo rosto, assim como o sangue escorria das feridas feitas por ele, e não sabia mais se estava tonto pelo remédio ou pela dor que sentia.
- Não... Masashi... Para... Para por favor...
Disse e havia ouvido o que ele dizia, mas ainda assim, diria que parasse, doía muito.
- Se concentre no bebê, ele está vindo. Fale com ele.
Masashi disse, e se sentia ansioso, novamente, não pelo procedimento mas por suas sensações. O corte foi rápido e espaçoso o suficiente, após todas as camadas suficiente para encontrar o bebê, as contrações eram suficientes para que o pequeno viesse a tona, o ajudou, esperou por ele, assim, no movimento uterino em espasmos, tão logo o tomou nas mais e sem que houvesse qualquer gemido de voz, ele porém, abriu a boquinha, como se bocejasse, e tão logo o riso saiu como um sopro de alívio.
- Estou aqui, mamãe... - Grunhiu como se fosse ele e acariciou seu rostinho mesmo sujo de sangue. - Kaito!
Disse, pedindo pelo sangue e pela carne que ordenara antes. Entregou a ele o bebê, ainda que quisesse vê-lo, ainda que estivesse um pouco trêmulo no gesto, o ajudou a estancar o sangue, suficiente no tempo para tomar o sangue das mãos do garoto e deu a ele, como se alimentasse uma criança aprendendo a usar um copo. Katsuragi negativou, e a inclinar o pescoço para trás, se sentia dolorido demais para pensar em alguma coisa se não na dor que sentia. Podia até mesmo sentir as gotas de suor pelo rosto, algo que era totalmente improvável num vampiro, somente em atividades que envolvessem a si de uma forma tão intensa. Sentia tudo, podia senti-lo puxando algo para fora de si, sentia seus movimentos, seus cortes e houve uma hora em que mesmo a dor intensa se anestesiou, quase fechava os olhos quando o ouviu falar consigo, o que fez com que piscasse algumas vezes, buscando estar acordado e ouviu os passos rápidos do garoto que adentrou o quarto. Recebeu o filho nos braços, ao mesmo tempo em que sentiu o gosto de sangue invadir a boca, ele estava dando o sangue para si e teve que fechar os olhos contra a própria vontade quando tragou a bebida, longos goles que trouxeram a clareza as vistas e também a cor aos olhos. Aos poucos, sentia a dor diminuir como um poderoso remédio, e a pele, tudo que havia sido cortado, voltava ao lugar conforme bebia. Aquele copo não havia sido o suficiente, ainda assim, fora para ver o filho, podia vê-lo, seu rosto, seu pequeno corpo e novamente chorava num sorriso frouxo, era um menino.
Masashi observou sua consciência vir aos poucos, seus olhos pálidos logo brilhavam outra vez, embora agora estivessem turvos pelas lágrimas. Ganhou do garoto, novamente mais sangue, e a carne que instruiu a pegar, levou em frente a sua boca.
- Morda.
Era aquilo o mais próximo que lhe daria do sangue fresco, sem que trouxesse um humano. Queria apreciar cada momento do nascimento do filho, mas naquele momento precisava cuidar dele. Katsuragi aceitou o sangue, novamente empurrado para a própria boca e queria ver o filho, mas entendeu o que ele fazia, precisava estar bem acordado para poder vê-lo, e bebeu sem reclamar, inclusive a carne, também mordeu sem reclamar e por fim, afastou-a quando se sentiu apto a levantar a mão, agradecendo a ele, somente com o olhar e logo voltou-se ao pequeno corpo entre os braços que se mexia suavemente, até emitir um choro fraco, que se tornou mais forte aos poucos.
- ... Sh... Mamãe está aqui... Mamãe está aqui, Masami.
Quando enfim tudo o que precisava fazer já havia terminado, Masashi acomodou-se a seu lado e bem de perto, junto dele, assistiu ao pequenino. Aquela altura, conseguia sentir o coração palpitar como quando era vivo. Na porta, podia ver Kaito sorrir feito um bobo e lacrimejar como se ele fosse da familia. Katsuragi sorriu, voltando-se ao outro lado a si e mostrou a ele o bebê, e podia ver o rostinho dele, mesmo que seus olhinhos fechados estivessem pressionados enquanto chorava e devagar, entregou ele nos braços do outro, notando que só então o choro havia amenizado. Novamente sorria e desviou o olhar ao garotinho na porta.
- Venha...
Masashi pegou o pequenino nos braços, estava tão recolhido, era tão pequeno, havia nascido com sete meses e meio e mesmo que o acariciasse, acariciava também o moreno, em seu leito, como podia.
- Tinha pressa, meu amor?
Katsuragi desviou o olhar a ele e viu o garotinho caminhar em direção a cama, olhava a ambos e o bebê ainda da beirada da cama, silencioso, e desviou o olhar ao outro, vendo-o observar o rostinho do filho, e ele era lindo, mesmo tão pequeno.
- ... Ele corre algum risco?
- Não... Ele é um vampiro. - Masashi disse, quase soprado e mostrou ao garoto o próprio filho. - Vem, pode ver.
Katsuragi viu o pequeno se erguer na beirinha da cama para fitar a criança e deu um sorrisinho para ambos, com os olhinhos grandes e castanhos.
- Eu vou contar pra todo mundo na casa! - Disse e correu para fora, havia entendido que ele iria ao bordel e quase chegou a rir. - ... Temos que dar um banho nele.
- Eu posso limpar ele, se você estiver indisposto ou se quiser fazer isso...
Katsuragi desviou o olhar a ele e sorriu.
- Quero ajudar... Estou cansado, mas... Quero ver você com ele...
- Você precisa se alimentar.
Masashi disse e embora estivessem conversado, o pequenino tinha a pele de sangue, agora seco, assim como as próprias mãos. Ele já estava cicatrizado, mas o restante ainda tinha sangue. Katsuragi assentiu.
- Eu sei... Eu vou me limpar e beber alguma coisa. - Sorriu. - Bem, então... Pode dar banho nele.
- Não, vamos juntos..
Katsuragi sorriu e assentiu, deslizando uma das mãos pela face dele e embora não sentisse mais aquela dor intensa, se sentia exausto, precisaria de bastante sangue ainda para se recuperar daquilo, e também, psicologicamente precisaria de descanso.
- Você... Traria a banheira aqui?
- Hum. Vou levar você até ela.
Masashi disse e após se levantar, abaixou-se para pegá-lo, tanto ele quanto o filho nos seus braços. Estava ainda parcialmente nu pela forma como as roupas haviam sido ajeitadas para seu parto. O levou consigo até a sala privativa de banho, no ofuro. Sabia que era um pouco fundo para um bebê, mas sabia também que ele não soltaria a criança, mesmo durante o banho. Katsuragi segurou-se nele, com cuidado já que segurava o bebê entre os braços e por fim sorriu conforme se sentou na beira da banheira.
- Vai dar banho em nós dois, papai?
Na banheira suavemente aquecida, Masashi deixou a água para banha-los e ia mesmo fazer isso. Buscou o sabão que higienizou o moreno, ajeitado a seu lado na banheira, limpando do sangue, quanto ao filho, apenas o assistia tirando o sangue sem qualquer produto em sua pele tão sedosa, talvez seus cuidados ainda seriam como o de uma criança humana, por mais que não precisasse.
Katsuragi observou o pequeno corpinho em meio aos braços, era tão miudinho, realmente havia nascido cedo demais e se fosse uma criança humana, não sabia se sobreviveria. Deslizou a mão pelo rosto dele, limpando os resquícios de sangue e logo desviou o olhar ao outro.
- Ele é lindo...
- É... - Masashi sorriu e beijou o outro, no tipo de sua cabeça. - Por sinal, parabéns, você foi muito corajoso, mamãe.
Katsuragi assentiu e sorriu a ele.
- ... Foi horrível. Foi a pior dor que eu já senti na vida e eu já sofri bastante...
- Mas valeu a pena, hum?
Masashi disse e pegou o sabonete, levou seus cabelos também. Katsuragi assentiu, deixando-o lavar os próprios cabelos e observava o pequeno entre os braços, sempre quis ter um filho, e vê-lo, saber que havia feito junto dele, era maravilhoso.
- ...Por que você estava triste?
- Eu não estava triste.
Katsuragi disse, massageando seu couro cabeludo enquanto olhava por cima de seu ombro, assistindo o pequenino.
- Não minta pra mim, Masashi, eu posso sentir você... E ele também.
- O dia só estava triste hoje, até ele vir. Talvez tenha vindo por isso. - Masashi disse e beijou a cabeça do moreno, passando a mão por cima de seu ombro, tocou o pequenino.
- Não demore a abrir os olhinhos, quero vê-los.
Katsuragi ouviu dizer, mas não respondeu, sabia que estava mentindo. Não se sentiria tão triste apenas por ser um dia ruim sem motivos, mas preferiu não discutir e deslizou uma das mãos pelo rosto do filho igualmente. Masashi o observou de soslaio, entrava no dilema entre respondê-lo ou não, não queria que se chateasse por tal, ao mesmo tempo em que não queria que ele ficasse triste também.
- Ele vai demorar a abrir os olhinhos, hum? É preguiçoso.
- Bem, parece bem tranquilo, enquanto não estiver com fome. Ao menos não vai nos acordar muito a noite.
- Masami, você veio porque o papai te incomodou, é? Aposto que a barriga da mamãe era muito mais legal.
Katsuragi viu os pequenos movimentos do bracinho dele e segurou uma de suas mãozinhas, deixando o dedo em meio a ela, era tão pequeno, que quase cabia nas duas mãos que o segurava, inteiro.
- ... Ele parece frágil demais... Como se fosse quebrar.
- Não é, deve ser forte como você.
- Mas por que nasceu tão cedo...?
- Era apressado. - Masashi sorriu - Hoje era aniversário do Masami. Será o dele agora.
Katsuragi desviou o olhar ao outro.
- ... Foi por isso então?
- Hum.
Masashi disse, assentindo à pergunta, embora não tivesse certeza sobre o que ele perguntava. Katsuragi uniu as sobrancelhas.
- ... Sinto muito.
- Mas eu acho que Masami quis fazer esse dia melhor para nós.
Katsuragi assentiu e sorriu a ele, segurando firmemente o filho em meio aos braços.
- Ele se parece com ele? Digo quando era bebê...
- Hum, é tão adorável quanto Masami. Mas bebês são sempre muito difíceis de diferenciar, só existem os feios e os bonitos. - Riu, baixinho.
Katsuragi riu igualmente e assentiu.
- Ele é lindo.
- É, com um pai como você, difícil que não seja.
Katsuragi sorriu.
- Hum, acho que ele puxou você também, mocinho.
- Pronto. Estão limpinhos agora.
Katsuragi assentiu num pequeno sorriso e beijou a pequena cabeça do filho, tão pequeno que tinha medo de machuca-lo.
- Está tão feliz quanto eu?
- É claro que estou. - Masashi sorriu. - Hum, você queria tanto um bebê. - Afagou sua nuca. - Vamos. Precisa de ajuda para sair?
Katsuragi assentiu e podia sentir as lágrimas nos olhos.
- ... Ele é um presente muito importante pra mim... - Murmurou. - Não... Posso sair sozinho.
- Para nós dois.
Masashi afagou sua orelha antes de então se levantar e ajuda-lo, mesmo que não o tomasse no colo. Katsuragi sorriu a ele e levantou-se, devagar e apoiou-se nele.
- Droga... Dói um pouco ainda...
- Direi que façam algo nutritivo pra você.
Masashi disse e após tomar a toalha, pegou-o no colo. Katsuragi assustou-se ao senti-lo pegar a si e riu baixinho.
- Hum, me sinto como uma esposa recém casada.
- E não é isso? - Masashi indagou e sorriu enquanto o levava pelo caminho - Mas agora temos um bebê na lua de mel.
Katsuragi riu ao ouvi-lo e assentiu, inclinando o pescoço para trás e sentiu os cabelos longos e negros pendendo a cair nas próprias costas e ainda segurava o pequeno nos braços.
- Vou colocar ele na caminha do lado da cama.
- Hum. Vai ser difícil dormir e deixar de olhar pra ele, ah?
Masashi assentiu a sentir algumas lágrimas nos olhos.
- ... Eu nem acredito que ele está aqui...
- Eu nem acredito que sou pai.
Katsuragi riu.
- Nunca pensou que seria?
- Eu nunca pensei que num bordel eu poderia encontrar meu companheiro e ter meu filho.
O menor sorriu.
- ... Bem, a vida é estranha.
- É, mas está sendo bom agora.
- Fico feliz que você... Tenha aparecido pra mim. - Katsuragi sorriu.
- Hum, quando vi você, foi como um gato que adota um humano na rua. - Masashi riu e o acomodou no futon. Sentou-se de frente para ele. - Quis entrar na sua casa e dormir ao lado da sua cama.
- Ou na minha cama.
Katsuragi riu e ajeitou o filho no futon pequeno ao lado da cama, confortável, macio e com vários cobertores quentinhos para ele. Logo, voltou-se para o outro e acariciou os cabelos dele.
- Eu te amo.
- Também te amo.
Masashi disse e descansou a cabeça junto a palma de sua mão, brincando diante do que lhe dizia sobre ser um gato atrás dele. Katsuragi riu e negativou.
- Deite comigo, vem... Um dia, quero lhe contar toda a minha história.
- É, talvez eu retribua com a minha. Eu ainda preciso tomar banho. - Masashi sorriu a ele. - Você não tem que alimentar ele?
- Preciso, pode me trazer um pouco de sangue?
- Claro. Pra você e pra ele? Ele talvez uma seringa?
- Ah... Acho que sim. - Katsuragi sorriu.
- Hum.
Masashi assentiu e antes que pudesse sair em busca do alimento, observou o filho, esperando mesmo que ele logo abrisse os olhos. Só então saiu. Katsuragi sorriu ao outro, sabia que ele estava aflito por sair e deslizou a mão pela face do filho.
- Você... É um presente maravilhoso, pequeno.
Orochimaru sentiu o corpo pisoteado, como se tivesse sido atropelado por uma liteira, mas não havia. Abriu os olhos, devagar e fitou o quarto, era estranho porque estava escuro, mas podia ver nitidamente mesmo no escuro, podia ver as formas dos objetos, tudo estava no devido lugar, era a casa dele. Sentou-se na cama e deslizou a mão pelo rosto, tentando se lembrar o que havia acontecido, mas ao tocar a si, sentiu algo estranho na pele, era como escamas, o toque era bizarro, teve que tocar novamente, só então percebeu estar assim no queixo e nas bochechas, não sabia o que era, e foi quando sentiu o coração acelerar.
- Akuma! Que porra é essa?!
Gritou, chamando por ele embora não fizesse ideia de onde ele estava e sentiu a língua pesar na boca, era estranho, como se não coubesse nela, era grande demais. Expôs a língua, tentando vê-la e conseguiu, para a própria surpresa enxergar a língua, comprida, fina e partida na ponta, como a de uma serpente.
- Mas que... Que inferno!
Buscou lado a cama as próprias roupas e nu, achou apenas a espada deixada sobre o móvel, empunhou ela, firmemente entre os dedos.
- Akuma! Aparece logo! Tira essa merda de mim!
Akuma sorriu, do lado de fora como estava sentado à varanda, observava a paisagem escura e nublada, adorava aquele clima pesado e leve ao mesmo tempo, era quase sombrio. Soprou a fumaça da piteira, exalando o cheiro de cravo queimado. Dali ouvia seu surto, raiva e confusão, mas já esperava por isso. Se levantou e embora pudesse partir para dentro de casa sem muito esforço, apenas caminhou até a porta, encostou-se no limiar. Olhou para ele e suas escamas aparentes, ele saberia esconde-las em algum momento, com o tempo, mas gostava de como caiam bem em seu rosto, assim como o novo aspecto de seus olhos.
- Tirar o que?
- Você está me zoando, não está? Tira essa coisa do meu rosto, anda! Agora!
Orochimaru disse, estava puto e as presas compridas haviam esbarrado na língua várias vezes, sentiu o corte atravessado e estremeceu, cuspindo o sangue no chão.
- Mas que... Que merda é essa? O que você fez?!
Disse e empunhou a espada, em frente ao próprio corpo enquanto o fitava. Akuma riu embora soasse entre os dentes, guardado na garganta.
- Se acalme pequeno Orochi. Você só é o que deveria ser. Eu lhe dei sua nova forma.
- Nova forma?! Que nova forma?! Eu não te pedi isso! Mas que inferno, até falar é uma merda com essa língua. - Disse, irritado e estendeu a espada, guiando-a ao pescoço dele. - Você me matou, não foi?! Eles estavam certos, você é um demônio, não queria a mim, queria minha alma. Devolva!
- Não está morto, está aqui, não está?
Akuma retrucou e não se moveu milímetro sequer mesmo sob o manejo de sua espada, não tinha medo dele. Erguera a mão, levando a piteira entre os lábios.
- Seu maldito desgraçado! - Orochimaru disse a ele, irritado por sua posição, se quer havia se movido. - Vamos! Vai ficar fingindo que não posso te machucar?!
Akuma erguera novamente o olhar para ele, fitando-o sob a fumaça da cigarrilha que queimava entre os lábios. Sentiu dali o cheiro do tabaco, do cravo e de sua raiva.
- Eu te dei uma forma adorável, te fiz se tornar seu próprio medo, você ia ser meu parceiro, agora terá a eternidade pra isso.
Orochimaru cerrou os dentes.
- Você não perguntou se eu queria ser uma cobra!
- Você queria ser o que? Um coelhinho talvez? - Akuma sorriu canteiro e deu um passo a sua direção. - Eu sei o que você precisa, disse que seria meu parceiro, então aceitou a sentença.
Orochimaru estava puto, qualquer coisa que ele dissesse só faria piorar isso, e foi por isso mesmo que firmou a mão na espada e conforme o ouviu e o atingiu em seu rosto, sobre o nariz, num corte que pegou bem o meio de seu rosto, não queria mata-lo, mas queria lembrá-lo que não deveria mexer consigo. No minuto em que seus dedos se firmaram na espada, Akuma soube o que viria para si, no entanto, ficou ali como estava, não interrompeu, não o prendeu, se ele se achava forte o suficiente, não diria o contrário. Encarou o moreno enquanto a fenda faria expelir gotas densas na pele, um sangue que não era de fato próprio, era o sangue que ingeria, das pessoas quais roubava a vida. Ergueu a mão e tocou a pele, nos dedos rubros deslizou a língua e aproveitou o que ele tirou de si.
- O que está tentando fazer?
Orochimaru suspirou conforme abaixou a espada, percebeu só então que mesmo que quisesse, mesmo que tentasse, não teria forças o suficiente para mata-lo, e não queria, o corpo recusava tentar usar a espada contra ele com aquele fim. Maldição, gostava dele.
- Não faça nada comigo sem a minha autorização de novo! Ouviu?
Akuma podia lê-lo, podia fareja-lo, sentiu dispersar seu odor furioso a medida em que empunhou a espada, a medida em que causou a ferida no próprio rosto, era como se houvesse se arrependido no minuto em que se manifestou, era um tolo, um tolo bondoso demais, era o que o tornava tão saboroso. O riso soou nasalado.
- ...
Orochimaru suspirou e caminhou até ele, tocou seu rosto quente, acariciou e deixou que a espada caísse ao chão, era um otário e sabia disso, mas não conseguia, não conseguia feri-lo. Estava frágil naquele dia, confuso e por isso o abraçou, apertado.
- Desculpe.
Akuma não se afastou conforme se encaminhou, ele não tinha qualquer intenção de tentar o que fizera antes, tinha de admitir, ou fora ou impulsivo, e corajoso ou apenas tolo. Seus dedos frios deslizaram na pele, aquela era sua nova temperatura e dali correu para um abraço, se apertou consigo, pobre criança, pensou e então tocou seus cabelos a que afagou brevemente antes de devolve-lo ao futon.
- Precisa descansar por hora, pequeno Orochi.
Orochimaru deixou-o deitar a si, estava assustado, parecia realmente uma criança, e quando ele chamava a si daquela forma, fazia parecer a própria mãe. Tocou o sangue no rosto dele e limpou com um dos dedos, mas era muito, então se sentiu mal por ver o que havia feito com ele, ele era um demônio, havia enganado a si, e ainda assim se sentia mal.
- Não, por favor... Por favor, não me deixa sozinho...
- Eu não vou te deixar sozinho, sabe que nunca esteve sozinho.
Akuma disse e sorriu, era um fato, nunca o havia deixado sozinho desde que se conheceram, talvez algumas poucas horas. Pegou sua mão, seu dedo sujo, lambeu o sangue em sua pele e cicatrizou a pele, cauterizando a ferida que embora estivesse lá, já se parecia com algo causado há muito tempo. Orochimaru assentiu conforme o ouviu, provavelmente estava apenas tendo um ataque de pânico, estava se vendo sozinho no mundo, abandonado por tudo e todos, e agora com aquela forma estranha, se achava grotesco mesmo sem ter se visto no espelho. Sentiu as lágrimas nos olhos e lutou para afasta-las, o coração batia acelerado e a respiração era descompassada, mas estava passando, estava melhorando, aos poucos, ficaria melhor, ele deixaria a si melhor, Akuma... Sentir as mãos quentes dele na pele, saber que ele estava ali, mesmo depois de tê-lo atacado, ele não havia se zangado, droga, nunca quis machuca-lo, não queria causar nenhum dano nele, só estava confuso. Segurou a mão dele em meio a própria e apertou-a.
- Me desculpe... Eu não queria te machucar... - Murmurou. - Eu não queria...
Akuma sentiu a euforia que tomou posse dele, seus pensamentos eram rápidos, pouco processados. Ao soltar seu dedo deslizou a mão para sua nuca e com o dedo indicador, pressionou sua pele e com ele irradiou vagarosamente uma onda de calor que se iniciou no ponto, mas seguiu por todo seu corpo, como uma dose de álcool, causando uma leve sensação em seu corpo, não ia interromper seus pensamentos, mas ao menos o tornou mais lento, mais brando.
- Você queria sim, mas não quis quando conseguiu, talvez não pensou que fosse conseguir. Mas tudo bem, sou uma criatura justa, eu te marquei. Você, minha pequena cobra, será eterno como eu.
Ao sentir a sensação estranha, mas confortável, Orochimaru suspirou e gemeu baixinho, um pouco dolorido por tudo que estava passando naquele dia. O fitou, piscando devagar, processando a informação.
- ... Hum... Ficaremos juntos... Para sempre?
- É, é o que pretendo. Você é um homem amaldiçoado agora. - Akuma disse e podia notar o efeito relaxante que tomou seu corpo.
Orochimaru assentiu, um pouco confortável demais e suspirou.
- Deita comigo... Vem...
Akuma riu e se deitou, aproveitou para causar em si mesmo a mesma sensação que deu a ele.
Orochimaru virou-se de frente a ele, os cabelos bagunçados estavam em frente ao rosto, parecia uma droga com efeito suave no corpo. O olhou com os novos olhos esverdeados de íris fina, era uma cobra agora e lambeu os lábios, mesmo sem intenção, a língua tocou o rosto dele, próximo a si e o lambeu no sangue que o sujava.
- Quero fazer amor... Fazer amor com você...
- Ora, te ponho relaxado e você fica ereto?
Akuma riu, sentindo a leveza que lhe provia, mas talvez por sua falta de força naquele momento, sua brisa terminava mais intensa. Orochimaru sorriu meio de canto, mas negativou em seguida.
- Não estou ereto... Eu preciso sentir você.
- Quer me sentir? Por quê?
Akuma Indagou curioso, embora pudesse descobrir, queria falar com ele.
- Porque eu me sinto vazio. Preciso que me preencha de você.
- Ah, meu pequeno Orochimaru, vai ter muito de mim em você.
Ele disse e o virou de costas sem mesmo tocar em seu corpo. O pressionou na cama, enfiando seu rosto junto a almofada sob sua cabeça. Ao se virar, Orochimaru agarrou-se no lençol com ambas as mãos e uniu as sobrancelhas com a pressão em si.
- Ah...
Diferente da rapidez dos movimentos quais o submeteu, devagar, Akuma subiu atrás de sua forma entregue no futon. Deslizou os dedos quentes em sua pele, sua coxa, suas costas, seu pescoço. Despiu-se, encaixou-se nele. Orochimaru fechou os olhos, a sensação que ele provia a si era tão boa, era leve, era uma droga boa. Mordeu o lábio inferior quando o sentiu se ajeitar em si e a língua deslizou pelos lábios, lambendo-os. Akuma observou o gesto, parecia se adaptar facilmente ou talvez apenas estivesse afetado demais. Riu, consigo mesmo, mas moveu a pelve, fez parte dele como ele pedia por fazer, preenchendo seu corpo estranho e novo, para ele. O menor gemeu baixo, dolorido e excitado ao mesmo tempo, agarrou mais firme no lençol e fechou os olhos apertado.
- Akuma... Ah!
- O que você quer, Orochimaru?
Akuma indagou. Sentia sua umidade, algo que não precisava mais influenciar, era parte de seu corpo agora, de seu preparo físico para ter o sexo. Orochimaru mordeu o lábio inferior e desacostumado com as presas acabou perfurando por acidente, por sorte, o veneno não afetava a si mesmo, então nem o sentiu. Estremeceu conforme sentiu as gotas de sangue pingarem na cama.
- Me... Me fode... Akuma...
Akuma levou a mão entre seus cabelos, puxou nos dedos e torceu os fios, o tirou do futon, pôs de quatro e se afundou nele, tão vigoroso quanto o puxou começou o ritmo, se queria foder, se tinha fome, o alimentaria e já não precisava intensificar suas sensações. Ao se erguer, Orochimaru sentiu as pernas fraquejarem, estava se sentindo leve, mas era tão bom, parecia que o efeito fazia sentir vontade dele ainda mais. Gemeu pouco mais alto conforme o sentiu se empurrar para si e contraiu-se ao redor dele, apertando-o em si.
- Você gosta disso, não é?
O maior indagou, não realmente esperando sua resposta. Com os dedos ainda em seus cabelos curtos, o agarrava e o puxava tal como a mão em seu quadril, puxando-o vigorosamente para si, ouvindo a pele estalar ao encontrar a dele e suas nádegas se contraiam junto a seu interior conforme se apertava ao redor do corpo.
- Hum, eu vou gostar disso, pequeno Orochi.
Orochimaru assentiu e estremeceu.
- Kimochi...
Murmurou, mas mordeu o lábio inferior mais uma vez, deixando o cheiro de sangue bem evidente a ele. Empurrou os quadris contra os dele e os encontrou de forma dolorida, gemeu mais alto conforme o fez.
- Akuma!
Akuma arqueou-se para ele, ao soltar seus cabelos deslizou a seu rosto, virou-o para si e lambeu sua boca ferida, sentiu seu gosto, sentiu seu veneno. Não deixou no entanto de se mover, penetrando-o sem rapidez de fato, mas era firme. O menor sorriu a ele meio de canto.
- Que gosto eu tenho agora?
Murmurou e mordeu o lábio inferior dele, não perfurou, mas roçou as presas.
- Continua tendo seu gosto, agora um pouco ácido.
Akuma sorriu ao dizer, calou o assunto porém a medida em que lhe deu outro solavanco, tomando sua atenção ao sexo, ao que provia a seu corpo. Orochimaru gemeu pouco mais alto e sentiu as mãos fraquejarem, caiu sobre a cama, mas manteve as pernas erguidas, ajoelhadas.
- Ah! M-Mais Akuma, mais forte...
- Hum, que sede.
Akuma sussurrou e forçou mais contra seus quadris, atingindo-o vigorosamente. Cerrou os dentes, como se aquele gesto sustentasse a força com que o atacava. Orochimaru uniu as sobrancelhas, não era mais humano, percebia devido a força que ele se jogava contra si, sem tanto medo de machucar o próprio corpo, era dolorido, mas não menos gostoso por isso, parecia mais resistente. Cessou os dentes de mesmo modo, tentando não ruir, mas os gemidos deixavam a si de forma involuntária.
- Você quer gemer pra mim, geme pra mim. Quer mais, Orochimaru? Quer que eu te faça gozar?
- Quero, quero mais sim... Me fode Akuma, me fode com vontade, mostra pra mim que você quer me foder!
Orochimaru falou a ele, estava irritado ainda embora tivesse aquela pequena brisa no corpo, agarrou-se firme no lençol porque sabia o que viria. Akuma lançou a mão em seu cabelos curtos, tomou firmeza ali novamente mas correu a seu pescoço aonde o segurou, firme, não iria deixar de respirar por isso no fim de tudo. Aquela altura nem precisava sensibilizar o moreno e ele sabia disso, sabia que toda aquela libido pertencia a si mesmo e tal como disse a ele, ia mesmo gostar daquilo. O puxou mais vigorosamente, e se pretendia esconder a voz, não seria capaz de faze-lo, tiraria ou por prazer ou por dor. Com a face enfiada no travesseiro, Orochimaru tentou virar de lado, mas ele era tão forte que não conseguia se livrar, era sufocante, se fosse um humano, teria desmaiado, mas conseguiria aguentar um tempo mais daquela forma, e ele estava certo, os gemidos deixaram os lábios, altos, abafados contra o travesseiro e cerrou os dentes mais firme ainda, sentindo-se dolorido a cada investida grosseira dele contra o próprio corpo.
- A-Akuma... Meus... Quadris... Ah!
- Você não pediu pra foder? Estou fodendo você, cobrinha. Você está bem molhado agora, está gostoso afinal ah? - Akuma indagou e deslizou a mão desocupada em sua pele, dando calor a seu corpo frio.
Orochimaru uniu as sobrancelhas, e apesar da dor que sentia, o corpo estava ereto, e podia sentir o arrepio percorrer o corpo a medida em que ele insistia naquele local que gostava, droga, ele sabia fazer aquilo ser bom mesmo sendo ruim ao mesmo tempo. Não conseguia respirar, teve que insistir em mexer a cabeça até achar um pouquinho de ar e tossiu quando o fez, mordendo a fronha do travesseiro dele, e sentiu as presas afiadas atravessarem o tecido.
- Ah!
Akuma afrouxou os dedos, dando espaço a ele em seu pescoço já dolorido aonde deixou marcas para descobrir no dia seguinte. Deitou-se em seu dorso, fazendo-o cair sobre o futon, recobrindo suas costas com o peito, acomodando o ventre em suas nádegas firmes e ainda macias. Penetrava-o sem precisar sair inteiro e daquele modo gostava da posição.
- Vou gozar em você.
Ao sentir o corpo dele sobre si, Orochimaru gemeu prazeroso, ele era quente, parecia tão bom, tão confortável e assentiu conforme o ouviu, virando a face de lado agora que tinha espaço pra isso.
- Goza... Eu... Vou gozar com você...
- Você quer que eu goze dentro de você, ah?
Akuma indagou, ele estava mais excitado que o normal, então arrancar as palavras de sua boca estava mais fácil. Deslizou a mão de seu pescoço até seu rosto, penetrou sua boca e tocou seus novos dentes, deu a ele um pouco de sangue, deixando sentir uma parte de si. Aos sentir o gosto dele, não era mais como antes, era como uma comida fresca, era como um suco saboroso, Orochimaru sugou-o e suspirou, retribuindo a gentileza conforme cortou a própria língua e deu do próprio sangue a ele. Gemeu, contra os lábios dele, talvez até um pouco manhoso, estava excitado, por isso agia daquela forma.
- Quero...
Akuma observou ao que se virou, tinha o rosto pedinte como o de uma criança, embora sua lascividade não pudesse ser vista num rosto angelical. Se aproximou dele e retribuiu o beijo que ele queria dar, trocou o sangue com ele, tragou o seu, seu veneno ácido e quando interrompeu, só então respondeu o que perguntava antes. Com movimentos firmes aos poucos o trazia e trazia a si mesmo ao clímax, logo, desfez-se nele, gozou e gemeu perto de seus lábios, num ruído e evidentemente satisfeito. Orochimaru fechou os olhos, sentindo os últimos movimentos dele contra si, estava leve, mas de sentia tão bem, não se lembrava de ter se sentido assim antes, e quando ele chegou, chegou com ele, gemeu, pouco mais alto quando atingiu o ápice. Ouviu sua voz ruir sem recato, diferente do habitual, daquela vez não estava se contendo, estava de fato se desfazendo e aproveitando isso. Quando enfim a sensação se esvaiu, Akuma deixou um tempo até então sair de dentro dele, entregando-o de volta ao futon e ao descanso que seu novo corpo precisava para se recompor. Ao senti-lo sair do corpo, Orochimaru se deitou, e sentiu o coração acelerado, batia forte no peito, não sabia se estava morto, de não estava, parecia que o corpo ainda se machucava como um humano comum, não havia se tornado um demônio como ele, então provavelmente ainda era realmente um humano com algo a mais.
- Akuma...
Akuma sentou-se no futon e ao lado dele, em suas costas nuas deslizou os dedos.
- O que, cobrinha?
- Kimochi...
Orochimaru murmurou, a respiração pesada e mordeu o lábio inferior.
- Você não sabe o que sente, não é mesmo? - Akuma riu, entre os dentes. - Você me intriga.
- Por quê? É claro que sei o que eu sinto.
- Você acordou furioso, me atacou e depois pediu pra eu ficar com você, transar com você.
- Tem razão, talvez eu não saiba o que eu sinto. - Orochimaru disse e suspirou. - ... Mas amanhã eu vou matar aquele homem...
- É, aposto que sim. - Akuma sorriu, canteiro. - Jogue veneno nele.
- Hum, falando nisso, o que meu veneno faz?
- O que o veneno de uma cobra faz?
- Mata. Mas o meu mata mais rápido? Já que eu sou uma cobra gigante.
- Bem, você deve descobrir isso em algum momento. - Akuma sorriu, canteiro.
- Hum. - Orochimaru assentiu. - Você vai comigo?
- É claro, como perderia isso?
Orochimaru sorriu.
- Obrigado.
- Como está se sentindo, ah?
- Destruído e agora, com dor nos quadris.
- Você vai se sentir melhor daqui uns dias.
- É, eu imagino... Até lá vou sofrer bastante
- Mas vai se sentir muito melhor depois, não vai ser mais um humano qualquer.
- É, eu acho que sim... O que eu posso fazer de especial?
- Hum, você pode virar uma cobra. Mas claro, você vai descobrir mais sobre você com o passar do tempo.
Orochimaru assentiu e suspirou, queria medir os próprios poderes, mas estava fraco, então não poderia agora.
- Deita comigo?
Akuma surpreendeu-se que não tivesse ficado curioso sobre sua forma animal, mas após se pôr limpo, deitou-se, confortando-se no futon. Ao se virar para ele, Orochimaru abraçou-o, não se importava em estar sujo, estava cansado.
- Hum, todo romântico hoje. Certeza que é porque me atingiu com sua espada.
- Hum, só porque eu te abracei?
- Você me deu carinho no rosto também. Pediu desculpas.
Orochimaru sorriu meio de canto.
- ... Eu não queria ter te machucado.
- Queria sim.
- Eu só estava com raiva... Mas eu agi no impulso...
Na segunda ida para o consultório, Kuro deixou seguir consigo o aprendiz, que certamente faria alguma companhia a seu gentil doutor, claro que reclamou não saber dos charmes que dava para o homem. Quando chegou, seguiu para a sala dele, onde silenciosamente se sentou durante seu sono. E havia falado com Katsuragi. Ao ouvir o barulho no quarto, Tsukasa piscou algumas vezes, estava escuro, era noite já, mas ele havia voltado e não pôde deixar de sorrir. Havia trocado o curativo do ombro, embora ele já estivesse vermelho pelo sangue novamente, e também o remédio que usavam.
- Kuro...
- Oi bonitão. - Kuro sussurrou ao vê-lo desperto. - Tentei não ser ruidoso.
- Não, eu estava te esperando. O que Katsuragi disse?
- Disse que depois conversará com você. Mandou lembranças. E eu trouxe isso. - Kuro disse, colocando os pequenos obentos acima do balcão. - Está frio, achei que ia gostar de tomar. - Disse, usando de suas mesmas palavras.
Tsukasa assentiu.
- Hum, sei que tipo de conversa teremos. - Riu. - Eu pagarei bem pelo dias que o tomar. - Disse, desviou o olhar aos pequenos recipientes e sorriu. - ... Obrigado.
- Pague apenas a quantidade dele, a mim não precisa pagar.
- Preciso sim, perderá seus serviços.
- Não é necessário. Quero cuidar do meu amigo. - Kuro disse e tocou seu rosto.
- Amigo, ah? - Tsukasa disse num sorriso de canto.
- Como devo chamar? - Kuro indagou e sorriu como ele.
- Hum, você quer ser meu namorado?
- Ora, sabe que não posso namorar, sou um prostituto.
- Hum, ninguém vai saber e não vou exigir sua fidelidade. É só pra poder te chamar de namorado e não amigo, isso parece horrível.
- Então você quer fingir?
Kuro indagou, o que no fim parecia ser o seu pedido. Sentia como se o estivesse fazendo sofrer.
- Hum, basicamente. - Tsukasa riu.
- Tudo bem, embora isso pareça cruel. - Kuro dorriu, não realmente provido de graça. - Posso dar sopinha pra te aquecer, hum?
- É claro.
Tsukasa disse num sorriso, estava feliz de tê-lo consigo, estava realmente feliz, ele havia voltado mesmo. Kuro pegou o pequeno pote, abriu a tampa após ajeita-lo no colo. Pegou a colher tipo concha, era funda embora pequena.
- O cheiro está gostoso, ah?
Indagou e olhou para ele, vendo seu rosto, parecia bem, mesmo que estivesse ferido. Tsukasa assentiu num sorriso e abriu a boca, esperando pela sopa. Era gracioso como ele tinha traços firmes e masculinos, mas que ao abrir a boca, como já havia feito antes, esperando por algo, parecia uma criança esperando seu alimento. Kuro conteve o sorriso, encheu a colher com a sopa e então a deu para ele. Tsukasa aceitou a sopa, experimentando e sorriu em seguida.
- Hum... Você fez? Que delícia.
- Eu ganhei a ajuda de Masashi para fazer.
Kuro sorriu e encheu mais uma colher para então soprar e dar a ele a sopa.
- Hum, são bons cozinheiros. - Sorriu.
- Ele é bom, porque Katsuragi tem fetiche por vê-lo cozinhar, então ele gosta de passar tempo fazendo isso.
- Hum, que fetiche estranho.
Kuro riu, entre os dentes.
- Bem, fetiches são normalmente estranhos, senão, não seriam fetiches. Apreciar coisas incomuns. Você gosta de alguma coisa?
Tsukasa sorriu meio de canto e desviou o olhar a ele.
- Hum... Eu... Acho que não tenho nada estranho. Talvez eu goste um pouquinho de dor.
- Oh, verdade? Então está se deleitando agora.
Tsukasa riu.
- Não esse tipo de dor.
Kuro riu e então lhe deu mais alguma sopa, mas tomou dela também. Tsukasa aceitou a sopa e sorriu.
- Hum, ele arrancou um pedaço do meu ombro. Acho que vai ficar uma falha na tatuagem.
- Eu pensei sobre isso. É uma pena que marque, mas vai ter seu charme. Quando se é um homem bonito. Não vai me bater porque estou dando em cima de você, ah? - Provocou.
Tsukasa estreitou os olhos.
- Vem aqui que eu vou te dar uma surra.
- Claro.
Kuro disse e colocou o pote ao lado, no pequeno móvel. Se levantou e então passou cada braço a cada lado de seu corpo e o fitou de cima. Pelos ombros os cabelos se arrastaram até que caíssem em seu rosto. Aquela altura já usava um kimono menos chamativo, era preto, completamente.
- Então dê.
Disse e soou baixo, de onde estava, era perfeitamente audível embora sussurrasse. Ao vê-lo se ajeitar sobre si, Tsukasa fitou seu rosto bonito, seu tórax que aparecia no kimono suavemente aberto, quase gemeu inconscientemente, ele era lindo, ficava duro só de olhar pra ele. Ergueu uma das mãos, a oposta, que não estava com o ombro machucado e acertou o rosto dele, sem força. Kuro fitou o suave movimento de sua mão até que alcançasse o rosto, sorriu quando sentiu atingir a face com leveza. Virou-se para sua mão e pegou-a antes que ele a abaixasse, o beijou na palma da mão.
- Uh, que agressivo.
Tsukasa riu e tentou se erguer para selar os lábios dele, mas não conseguia, a costela doía de uma forma que irradiava. Kuro abaixou-se por ele, selando seus lábios e como já havia lhe dado um beijo firme, não se preocupou em deslizar suavemente a língua em sua boca machucada, delineando-a, mesmo que o toque ainda não fosse um hábito com ele. Tsukasa retribuiu o selo e suspirou contra os lábios dele, estava dolorido, mas não conseguia olhar pra ele normalmente, queria toca-lo.
- Você não faz ideia do quando eu quero fazer amor com você.
- Hum, se mandar, eu posso tocar mesmo com seus machucados. - Kuro disse e sorriu-lhe com os dentes a mostra.
Tsukasa sorriu meio de canto.
- Feche a porta.
Mesmo que não acreditasse que ele estava mesmo falando sério, Kuro se levantou e seguiu para a porta, não tinha como tranca-la, mas encostada e ouvia um falatório suave do lado de fora, era Mitsuru. Voltou para ele então. Tsukasa sorriu a ele ao vê-lo voltar.
- ... Acho que não consigo abrir as pernas pra você, mas aceito seus dedos.
- Ah, é? - Kuro disse, evidentemente, não espantado mas surpreso pelo pedido. - Vou adorar. - Disse ao se acomodar ao lado dele. - Que roupas está usando aí embaixo? - Indagou e ergueu seu lençol para então fitar suas peças.
Tsukasa sorriu ao ouvi-lo e mordeu o lábio inferior, mas gemeu dolorido.
- Só roupa íntima.
- Hum, o médico tirou sua roupa, ah?
Tsukasa indagou e se ajeitou a seu lado, sem que tocasse seu corpo onde ferido. Enfiou a mão sob o lençol e olhava para ele ainda que a mão estivesse trabalhando mais embaixo, tocando-o por cima da roupa íntima.
- Hum, deve ter tirado. - Tsukasa sorriu e suspirou conforme sentiu o toque. - Eu estava dormindo.
- Tadinho do meu Tsukasa, estava desacordado, estava?
Kuro indagou e deslizou a palma da mão acima do tecido, sentindo a fricção dele, massageando-o para ganhar sua rigidez. O maior inclinou o pescoço para trás e suspirou.
- Ah... Eu agradeço o agrado, mas não era só aí que eu queria os seus dedos.
- Meu querido, preciso começar em um lugar, não é? Ou você quer meu dedo direto no ponto?
Tsukasa riu.
- Queria só deixar claro, "meu querido".
- Eu sei o que você gosta.
Kuro sussurrou e deslizou para dentro de sua roupa, tocando seu sexo já levemente ereto. Correu por seu comprimento até o fim, alcançando onde ele queria ser tocado. Tsukasa suspirou e mordeu o lábio inferior, porém, a atenção se voltou para a enfermeira que adentrou o quarto, e observava a prancheta, então, não viu a mão dele abaixo do lençol.
- Amai Tsukasa?
- Oh, Amai.
Kuro disse, fingindo-se sério, ele sabia que não. Moveu o punho, mesmo com a jovem enfermeira ali, sendo sutil no ritmo, mas empurrou o dedo para dentro. Tsukasa desviou o olhar a ele, rapidamente conforme ela havia adentrado o local, ainda assim ele não retirou a mão, e franziu o cenho.
- C-Cala a boca Kuro... - Resmungou, sabia que o nome era ridículo. - Sim, s-sou eu.
Disse e o sentiu empurrar o dedo para dentro de si, teve que engolir o gemido, e também a expressão dolorida.
- Ah, desculpe, não sabia que estava acompanhado, eu vim dar sua medicação, sei que a dor está aumentando, então vou aplicar um remédio na veia, tudo bem?
- Eu... Não vou dormir, vou?
- Ah, ele pode deixar você um pouco sonolento, mas vai demorar um tempo.
- Ah, tudo bem.
Tsukasa disse num suspiro e sentiu-a furar a veia, mordeu o lábio inferior, o outro, continuava em sua posição, do lado contrário a dela.
- Tem medo de agulhas, Amai-san?
Kuro indagou e moveu o dedo, sabia que o braço fazia um leve movimento, porém era cuidadoso e ambíguo, ela precisaria erguer o lençol para saber o que fazia de fato. Tsukasa suspirou e negativou ao ouvi-lo, estava bem, apenas esperou a finalização da aplicação do remédio, e agora ficaria novamente com a sonda.
- Prontinho. Boa noite, Tsukasa-san.
- B-Boa noite.
- Não tenha medo, depois de um tempo você se a acostuma com a agulha, nem vai ter medo quando precisar de uma.
Disse Kuro e voltou empurrar a mão, agora em sua partida, com mais firmeza. Tsukasa mordeu o lábio inferior conforme o sentiu se empurrar para si e deu um sorrisinho de canto.
- Filho da puta...
- Ah, que agressivo. - Kuro disse e se curvou para ele. - Posso te beijar? - Disse diante de seus lábios feridos e fitava de perto, sentindo o gostinho salgado em sua boca, pela sopa ao lamber seu lábio inferior.
Tsukasa sorriu e assentiu, selando os lábios dele conforme sentiu sua língua roçar em si.
- Hum... Pode.
- Hum, bem que você disse que gostava de um pouquinho de dor.
Disse e lambeu seus lábios, empurrou vagarosamente a língua em sua boca, massageando seus lábios conforme passou. Ao beija-lo, deu o mesmo ritmo do qual os dedos, devagar, mas firme. Conforme o sentiu empurrar a língua para si, Tsukasa gemeu, dolorido e prazeroso por seus movimentos, devagar ergueu a perna, deparando-a suavemente para dar espaço a ele, embora dolorido, conseguia fazer. Retribuiu o beijo dele, e queria toca-lo, mas não conseguia, um dos braços tinha o ombro machucado e o outro, tomava o remédio na veia, que de alguma forma, havia deixado a si um pouco tonto, como uma bebida.
- Hum...
Kuro deslizou a língua para ele, sentindo seu gostinho salgado. Quando desviou o beijou na bochecha e desceu ao pescoço, era firme, mas tinha gentileza sobre suas feridas. Penetrou mais rapidamente com os dedos, dois deles, massageando uma parte que conhecia bem dentro dele.
- Ah!
Tsukasa gemeu, pouco mais alto conforme o sentiu mover os dedos, na verdade, não havia percebido a altura e estremeceu em seguida, mordendo o lábio inferior ferido.
- Kuro...
- Sh...
Kuro murmurou ainda que quisesse mesmo ouvir sua voz rouca escapar da garganta, não queria porém trazer a enfermeira no quarto. Ainda assim, penetrou e forçou no mesmo lugar, massageando com insistência. Tsukasa uniu as sobrancelhas conforme o sentiu se empurrar para si novamente.
- Ah, Kuro... Me fode.
Murmurou, e na verdade, não tinha real noção do que falava naquele momento.
- Hum, parece gostoso.
Kuro disse ao ouvi-lo, e parecia gostoso sempre que o fazia soltar algumas resmungos dos quais se envergonharia mais tarde. Sorriu e desviou até sua orelha, lambiscou o lóbulo e mordiscou em seguida. Tsukasa gemeu novamente, dessa vez mais baixo. Queria mais forte, queria mais rápido, na verdade, queria ele entre as próprias pernas.
- Kuro... Droga, queria tanto transar com você.
- É? Eu também quero muito você e hoje vou ter de ficar na mão.
Kuro disse e sentia que podia dar o que ele queria, mas, tinha seu próprio impasse. Vigorosamente massageou aquela parte dele. Tsukasa mordeu o lábio inferior mais uma vez, gemendo novamente dolorido.
- Eu... Ah...
- Vem, Tsukasa, pode gozar, não tenha medo de me sujar.
Kuro disse e com o dígito polegar massageava a parte frontal, onde alcançava com o toque.
O maior franziu o cenho, assentindo e fechou o punho, sentindo a agulha incomodar na veia e finalmente gozou, inclinando o pescoço para trás, e teve um efeito melhor que o remédio, porque sentiu todo o corpo anestesiado.
- Ah...
Quando os espasmos do corpo dele se intensificaram, Kuro fez o mesmo com o punho, penetrando mais rapidamente, insistindo no ponto até então obriga-lo a se desfazer de prazer.
- K-Kuro... - Tsukasa murmurou em meio ao gemido e fechou os olhos, inclinando suavemente o pescoço para trás. - Ah... Isso é tão, tão bom...
- Kimochi, ah?
Kuro beijou sua bochecha, seu pescoço e quando extraiu todo seu prazer, então saiu de dentro dele. Tsukasa assentiu e suspirou, desviando o olhar a ele, e sorriu meio de canto.
- Isso foi... Tão gostoso...
- Eu queria poder tocar você...
- Não se preocupe comigo.
Kuro disse conforme se afastou, encostando-se na cadeira onde sentado, acomodando as costas ao se curvar para o assento e então tocou o obi, afrouxou o laço sem tirá-lo completamente, deu um espaço no kimono, mostrando para ele a ereção o qual se expôs, tirando-se da roupa. Tsukasa desviou o olhar a ele ao ouvi-lo e fitou seu corpo, ah, ele era tão bonito, podia endurecer novamente só de pensar em toca-lo.
- Hum, vai... Vai se masturbar do meu lado, hum?
Kuro não o respondeu com palavras mas com o que fazia. Deslizou os dedos para dentro da roupa íntima, empurrando-a um pouco mais para baixo com o dorso dos dedos embora já estivesse exposto. Livre, tomou-se no enlace dos dedos e moveu-os ao redor do sexo viril, passando a formular um vaivém que não era muito rápido e nem muito devagar. Olhava para ele, direta e despudoradamente. Tsukasa sorriu novamente, e mordeu o lábio machucado mais uma vez, era um filho da puta, deixaria a si duro de novo.
- ... Droga, Kuro.
- Me deixa apreciar você, com os olhos já que não posso com meu corpo.
Kuro apertou-se, firmando os dedos, que por consequência retribuía com espasmos dos quais não tinha intenção, era o próprio toque afinal. Mas sabia como fazer, era por isso que não ia demorar. Com a mão livre, deslizou um pouco abaixo do falo, massageou as glândulas sob a ereção, na verdade, se apertou, diferente dos dedos em continuo movimento de sobe e desce. Tsukasa o observava com atenção, silencioso e assentiu, o deixaria se tocar, mas teve que suspirar e até gemeu suave ao vê-lo fazer, era agradável a vista.
- Hum... Você é lindo.
- Você gosta?
Kuro indagou, quase num sopro de altura. Numa pausa breve, afrouxou o quimono mesmo acima, deixando expor o tronco e desse modo, tênues espasmos de prazer diante do ritmo que retomou. Continuava insinuando o toque, imaginando se àquela altura ele já deixava de ter receio sobre aquela parte, queria fazê-lo desejar aquilo. Tsukasa assentiu, os olhos fixos no corpo dele, podia ver suas curvas do abdômen, cintura, peito, ele era tão bonito que não poderia descrever, se sentia eufórico em olhar para ele. E aquela parte específica de seu corpo, seu sexo, era estranho ainda olhar pra ele, mas de alguma forma o olhava com apetite, queria toca-lo, queria senti-lo, contrário de como costumava pensar antes, na verdade, até mesmo antes queria toca-lo, mas algo em si dizia que era errado.
- Hum... Quer colocar na minha boca machucada? - Riu.
Kuro sorriu, numa tênue e maliciosa curva no canto dos lábios. Sem responder continuou com o ritmo, na verdade o agilizou e se expôs para ele, justamente porque sabia que estava perto e dessa forma, o peito subia e descia mais rapidamente, tal como o ventre tensionava os músculos, num espasmo de prazer quando então atingiu o ápice, movendo habilmente os dedos, já sujos pelo prazer. E da garganta soou um rouco protesto de voz que abafou ao morder a bochecha por dentro da boca, e ainda que as sobrancelhas formassem um arco tenso com rugas temporárias entre elas, evidentemente, era de prazer. Tsukasa suspirou ao observa-lo, podia sentir até mesmo o próprio peito a respirar pesado, já estava duro de novo, e dolorido, e o pior, não podia se apertar, não conseguia mover o ombro. Parecia uma maldição. Mordeu o lábio inferior, sem se importar com a dor e fitou cada pequeno músculo do corpo dele, fitou seu sexo ao atingir o ápice, e imaginou-o fazendo aquilo dentro de si, ah, e parecia tão gostoso, droga, maldição!
- ... Kimochi?
Murmurou, novamente só se dando conta de que havia fechado com força a mão quando sentiu a agulha dolorida na veia.
- Kimochi
Kuro disse, embora sem qualquer toque da voz, era apenas o movimento dos lábios. Deslizou os dedos pelo sexo, limpando-se do prazer na pele, e embora não estivesse mais tão viril, também não havia amolecido completamente. Tsukasa suspirou mais uma vez, pesado.
- Me dê a mão.
- Por quê? Está com sede? - Kuro indagou e estendeu a mão para ele.
Tsukasa assentiu e mordeu o lábio inferior.
- Vem.
- Não, não faça isso...
Kuro sorriu canteiro e tomou a mão de volta, limpando-se com os lenços descartáveis deixados na sala, as mãos e o sexo.
Tsukasa uniu as sobrancelhas.
- Por quê?
- Senão quando for me chupar, vai ficar com receio de me deixar gozar na sua boca, então, vou esperar você querer meu garoto.
- Hum, claro que não. E eu já chupei você, você já gozou na minha boca.
- Então você está com apetite pelo gostinho do meu "amor", é? - Kuro indagou e sorriu, tentando distrair sua atenção de seus possíveis desconfortos, embora o que lhe causava sexualmente, era outra história. - Então, quando tiver alta. Eu trouxe isso. - Disse, mostrando a pequena a mala ao lado, logo após se limpar completamente e claro, voltar a se esconder no kimono. - E assim, vou te dar mais disso.
- Na verdade, queria colocar alguma parte de você dentro do meu corpo. - Tsukasa disse num pequeno riso e desviou o olhar a pequena mala, unindo as sobrancelhas. - O que é isso?
- Não vou morar na sua casa por uns dias?
- Hum, são suas roupas?
- Sim, algumas coisas minhas.
- Se você quiser eu posso deixar elas e ir só com meu corpo, assim vivo nu em sua casa.
Tsukasa sorriu meio de canto.
- Hum, e só tem roupas?
- Não. - Kuro sorriu, canteiro.
Tsukasa riu baixo ao ouvi-lo.
- Imaginei, seu pervertido.
- Mas tenho meu shampoo, sabão de banho e algumas coisas mais.
O maior estreitou os olhos. Kuro sorriu.
- Por quê? Você está pensando em perversões? Seu pequeno tarado, está machucado.
- Eu sei que estou machucado, mas uma costela quebrada a mais, a menos, tanto faz
- Não é assim, tem que ficar bem, forte e imponente quando chegar no bordel. Mas pode se derreter em minha cama.
Tsukasa sorriu meio de canto.
- Hum, tudo bem então.
Kuro sorriu a ele e enfiou a mão embaixo do lençol, dando uma conferida e uma ajeitada em sua roupa.
- Vou fazer bem mais gostoso quando você ficar bem.
Tsukasa sorriu e mordeu o lábio mais uma vez.
- Me deixou duro de novo, palhaço.
Disse, porém a atenção fora desviada em direção a porta e fitou o médico que adentrou o local, estava um pouco tonto.
- Amai-san? Está tudo bem?
- Por favor, doutor, me chame de Tsukasa.
- Claro. Estou tomando conta do turno da noite, se precisar de alguma coisa, pode chamar uma das enfermeiras, parece que está tudo okay. O rapaz é seu filho?
- Ele é meu namorado.
Tsukasa disse, e não fazia ideia do que estava dizendo de fato, talvez efeito do remédio.
- Ah...
Kuro arqueou a sobrancelha, confuso pela indagação, não sabia se aquilo havia sido uma tentativa de importunar o moreno, mas diante da resposta, ergueu a mão e acariciou o rosto dele, sua orelha, podia ver seus olhos diminutos.
- Ah, papai, está medicado, não é papai?
Brincou, mas estava na verdade provocando o médico e ele também, o doutor riu e negativou.
- Ah entendi, a enfermeira deve ter dado morfina a ele. - Riu. - Bem, estarei no plantão se precisarem de alguma coisa.
Kuro assentiu e agradeceu. Virou-se para o moreno quando enfim se deu a saída do médico e sorriu.
- Hum, gostei do médico, ele me deu algumas ideias.
- Hum... - Tsukasa sorriu. - Espero que não vá ver o médico quando eu dormir, eu mato você. - Disse, não realmente sério sobre matar. - Ah... Caralho, meu corpo está leve.
- Vou vê-lo sim, pra ele ser bonzinho com você. - Kuro provocou mas apertou sua bochecha como a de uma criança. - Curta a brisa, papai.
- Não, fique aqui. - O maior disse a estreitar os olhos.
Kuro riu, aquele era o momento em que adoraria bolar perguntas idiotas, mas não estava criativo.
- Você pediu pra serviçal cuidar das crianças enquanto estamos fora?
- Que crianças? Você está doido?
- Ora, nossos filhos.
- Escute, eu estou tonto, não louco.
- Tsukasa...
- Nossos bebês, Kuromi e Tsubaki.
Tsukasa riu e negativou.
- São nomes bonitos, vou anotar para os nossos futuros bebês.
Kuro riu, num sorriso entre os dentes na verdade e assentiu no fim, vendo que ainda não podia provocar alguns risos para si mesmo.
- São, hum?
- São. Tem bom gosto.
- Tenho uma imaginação aflorada.
Kuro sorriu canteiro. Na verdade tinha até o mesmo para dar à Asami, e desta vez seriam Kuromi e Azumi. Tsukasa sorriu e assentiu, suspirando pesado, embora dolorido. Kuro olhou para ele, machucado como estava, analisou suas razões e elas sempre faziam ter pena dele, não gostava disso, não gostava de sentir pena, porque ele não precisava disso. Ao se abaixar, interrompeu seus olhos franzidos antes que se fechassem.
- Tsukasa, quando você perceber que não precisa ser fóbico sobre você mesmo, então nós vamos nos conhecer melhor, vou te levar pra um encontro. O que acha?Tsukasa abriu os olhos, devagar, fitando o rosto dele e sorriu, assentindo.
- Certo...
- Porque então vou te chamar como um cara que pode dar em cima de você sem apanhar. - Brincou.
Tsukasa riu.
- Eu nunca bateria em você.
- Se eu for um cretino, deve bater.
O maior sorriu.
- Não bateria, nem se fosse um cretino. - Disse, um pouco tonto ainda, talvez pudesse pensar coisas desconexas, mas era verdadeiro aquilo. - Nem se me abandonar ou me machucar... Eu nunca te machucaria.
- Não deve pensar assim. - Kuro disse e afagou seus cabelos, logo atrás a orelha.
Tsukasa negativou, desviou o olhar a ele e repousou a face em sua mão.
- Você é o que eu tenho de mais precioso, Kuro. Não devo pensar de forma nem que seja mínima diferente disso.
- Você também é precioso pra mim. Mas eu devia punir você, por entrar em meu coração sem sequer pedir licença...
Tsukasa sorriu ao ouvi-lo, meio de canto.
- Hum, não precisa mentir pra mim.
- Não estou mentindo. Talvez eu tenha um pouco de dificuldade em falar sem parecer falso, um amigo costuma me dizer isso.
O maior desviou o olhar a ele, abrindo os olhos completamente.
- Gosta mesmo de mim?
- Gosto, muito.
Tsukasa sorriu, não podia toca-lo, embora quisesse.
- Mas há alguém que eu tenho medo de magoar por conta disso.
O maior uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, porém desviou o olhar em seguida, sabia quem era.
- Asami.
- Hum. - Kuro murmurou afirmativo, foi sincero. - Mas não vou deixá-lo.
- É por isso que não quer ir embora comigo?
- Existem muitos fatores.
Kuro não iria dizer quais eram, embora ele certamente fosse perguntar. Não queria dizer o quanto se sentia diminuto, para ele e mesmo para Asami, não havia tido nada além de uma vida no bordel. Tinha dinheiro o bastante, mas era por trabalhar com aquilo, que era a única coisa que sabia fazer até então. Não pôde protegê-lo sequer de uma briga, ele e nem Asami. Não deixaria Asami, exceto se longe, ele estivesse mais feliz, mas não deixaria Tsukasa, porque aprendera a desejar alguém e sentir que deveria brigar para tê-lo, mas sabia que no fim, carecia de muitas coisas. Tsukasa o observou após um momento silencioso, era uma das poucas vezes em que podia ver na expressão dele, algo real, não a máscara que ele geralmente usava. Ele estava triste, parecia triste de alguma forma, e sabia que era ciumento, sabia que era carrancudo e egoísta, mas naquele momento, não conseguiu simplesmente brigar com ele, ou exigir algo dele, sabia que também era muito insignificante ainda para pedir aquilo.
- ... Eu vou esperar. Quando estiver pronto pra ir comigo, estarei te esperando.
- Obrigado.
Kuro falou baixo e deixou claro que estava grato pela resposta simples que ganhara.
O maior o observou, silencioso ainda e assentiu com a cabeça, aconchegando-se na cama, e não disse nada mais.
- Durma um pouco, bonitão. Eu vou ficar com você.
Tsukasa assentiu e sorriu de canto.
- Tem um cobertor no pé da cama, use.
- Pode deixar, papai.
Kuro disse e talvez estivesse sem sono. Ficou ali algumas horas, olhando para ele, droga, estava um pouco melancólico pelo assunto, mas aos poucos tentou se distrair até então cair em sono.
- Meninos, não vão brincar longe de casa!
Disse Yoruichi conforme os viu correr para a floresta, eles já estavam maiores agora, mais espertos, mas ainda fáceis de se confundir com alguma coisa, dez anos não é de fato uma idade tão avançada. Conforme recolhia os kimonos e dobrava, sentiu um cheiro incomum e foi quando cessou o que fazia, não eram os primos, não eram humanos, era cheiro de enxofre, era a primeira vez que sentia um cheiro como aquele. Seguiu para a floresta, rápido entre as folhas, aspirando o ar, não conseguia sentir o cheiro deles corretamente.
- Yuuki?! Ikuma!
Gritou, tentando encontra-los visualmente e viu os cabelos loiros de um deles conforme se moveram numa árvore. Correu, segurando Ikuma pelo pulso e puxou-os consigo.
- Hey, vamos pra casa.
- Mas mamãe, é só uma cobra.
- ... Não é só uma cobra, saia de perto dela.
Disse e caminhou com eles para longe, em passos rápidos, firmes e olhou para trás somente uma vez, viu os cabelos negros que voavam com o vento, sabia o que ele era, e não sabia se era forte o suficiente para lutar contra ele, talvez não fosse.
- O que aconteceu lá?
- Eu mordi ela. Ia levar pra você.
Yoruichi arregalou os olhos e sentiu os pés doloridos, estava difícil caminhar, teve que cessar os passos e apertou as mãos dos filhos, podia ver a casa a pouca distância. Corram pra dentro de casa, a mamãe esqueceu uma coisa,
- Hum? Vamos ver quem chega primeiro.
Disse num risinho e os viu correr até chegar em casa, entrando para a cozinha. Com os pés presos ao chão, fechou os olhos e ao abrir, viu os dentes pontiagudos e sorridentes do que quer que fosse aquilo.
- ... Boa noite. Eu não quero confusão com você, ou vocês. Eles são só crianças, e eu peço desculpas.
Os olhos dourados se voltaram à direção, em que, embora não pudesse ver, sabia estar o filho. O cheiro era de desconhecidos, mas de uma espécie que conhecia e estavam aos arredores, do mesmo lugar aonde sentia a presença do filho e sua sensação de dor. Maldita fosse a criatura que ousasse tocar a própria cria. Ele se projetou logo à presença do filho, que se enrolava em sua forma animal, e tinha pequenos ferimentos em seu corpo miúdo. Abaixou-se esticando o braço o qual o pequeno subiu em espiral, enrolando-se nele. Os olhos em fúria se voltaram a direção dos corredores ali, não sairia tão facilmente, o peso caiu sobre suas pernas, petrificando seu caminhar. Diferente dele, não correu em direção, mas caminhou até ele e o saudou com um sorriso, vendo sua postura desprevenida da forma como foi obrigado a parar.
- Vampiros. Feriram o meu filho.
Yoruichi uniu as sobrancelhas, estava com medo, e ele saberia, na verdade não sabia exatamente que criatura era aquela, então tinha os pensamentos livres para analisá-lo, buscando algo nele que lembrasse deu filho, mas não encontrou, ele não parecia ser uma cobra.
- Sim, são vampiros, eles queriam levar a cobra pra casa, eles caçam, também deve ter ensinado seu filho a fazer isso, não?
- Não sou uma cobra.
O homem retrucou, deixando claro que sabia o que se passava em sua cabeça, podia lê-lo, podia ler qualquer um, mesmo aquelas criaturas, que como a si, eram abandonadas na terra.
- Você está com fome, filho?
Indagou ao pequeno, enrolado ao próprio braço, ao falar com ele por um minuto deixou aquele rapaz em segundo plano, embora a pergunta lhe fosse uma provocação.
Yoruichi arregalou os olhos, ele podia ler o que pensava? Então era realmente bem mais perigoso do que pensava que ele era, o cheiro era dele, era forte perto dele, não era uma criatura comum como um lobo que pode se transformar em homem, ou uma cobra, era um demônio. Nunca havia visto um, se quer oportunidade de cruzar com um na vida, e aquele fora um azar tremendo que os filhos tiveram. Sentiu as pernas estremecerem com a pergunta dele, não por si, era orgulhoso e nunca imploraria nada, se fosse morrer, morreria de cabeça erguida, mas atrás dele podia ver os filhos na varanda e negativou a eles, indicando que entrassem novamente. Já a pequena cobra, no braço dele, roçou a cabecinha e a língua em sua pele, talvez na tentativa de lhe dizer alguma coisa que não entendia exatamente, ele poderia ler a mente dele, mas a si, não conseguia.
- Hum... Você quer brincar com aquelas crianças?
O homem indagou e tocou sua cabeça miúda, afagando sua pele fria, como a de seu pai. Amava aquela coisa como nunca na vida chegaria a sentir amor por qualquer outro ser, então pensar em qualquer pessoa ou ser se atrevendo a feri-lo, era como um convite à morte. Sorriu ao moreno quando então voltou o olhar para ele.
- As crianças não... Você pode me matar se quiser, mas não machuque os meus filhos.
Yoruichi disse, parado como estava, os pés estavam presos, mas o restante do corpo era livre, ainda assim não se moveu, sabia que era idiotice tentar levantar uma mão para ele. O pequeno filhote de cobra deslizou pelo braço dele e antes de cair no chão se transformou num pequeno corpinho, era ainda menor do que Yuuki e Ikuma, mas não parecia tão criança, era tão adorável que teve que sorrir, ainda que estivesse em frente a ele. Os cabelinhos curtos e negros pegavam quase em seu pescoço e usava uma roupinha desajeitada como um kimono que era muito comprido pra ele em sua manga, passando de seus braços. Ele segurou a mão do pai e pôde ver que sua perninha pequena tinha dois furos que expeliam sangue, onde havia sido mordido, o instinto maternal que tinha quis cuidar dele.
- Papai, não machuca eles. Eu vim brincar com eles só.
Yoruichi uniu as sobrancelhas, esperava realmente uma criança mais velha do que ele era de fato. Abaixou-se, cauteloso, esperando que ele não achasse que poderia machucar seu filho, ele podia ler a própria mente, saberia que não o faria.
- Oi pequeno. Você é a coisinha mais adorável que eu já vi. Qual é o seu nome?
- Shisô.
- Shisô? Como a erva?
Ele assentiu com a cabaça e sorriu sem mostrar os dentes.
- Meus filhos fizeram dodói em você? Posso ver? Não vou te machucar, prometo. Yoruichi disse e desviou o olhar a seu pai, esperando que desse permissão para si.
Do filho os olhos do homem se voltaram logo ao movimento do vampiro, mas não tinha medo do que podia vir a acometer ao filho, o pararia antes que pensasse em qualquer coisa, mesmo Shisô poderia conte-lo. Podia ler seus pensamentos, também o do pequeno, que dizia mentalmente que gostava do rapaz.
- Gosta, ah? - Retrucou e tocou seus cabelos desalinhados e medianos.
Yoruichi sorriu, imaginando o que o pequeno dizia e estendeu uma das mãos a ele, não costumava cuidar de muitos machucados, os filhos batiam algo e logo cicatrizava, então queria mesmo ajuda-lo. O pequeno segurou a própria mão e se aproximou, puxando o kimono grande demais para seu corpo e mostrou a perninha ferida. Deslizou os dedos frios pela pele dele, ele era quente, parecia brasa, se assustou suavemente com o toque.
- Vocês... Gostariam de provar os bolinhos de shisô que o meu marido faz? Ele é muito bom, modéstia parte e vocês podem trazer a sua mamãe, se você... Tiver uma.
- Meu parceiro gosta de Shisô.
O homem disse, podia ver o a tentativa dele de lidar com a situação e sorriu, achava graça, adorava o cheiro do medo, mas sabia também que ele realmente tinha encanto pelo filho, mas bem, dificilmente alguém não o teria. Yoruichi sorriu e se levantou, devagar, ainda que tivesse medo, não agia de forma que o demonstrasse.
- Então venham.
Disse e sentiu o pequeno segurar a própria mão como os filhos faziam, só então sentiu os pés se desprenderem do chão e pôde caminhar novamente em direção a casa, levando o pequeno pela mãozinha. O homem o encarou e o provocou por algum tempo, mantendo-o preso ao chão, mas o filho tinha interesse em ir e aquela altura ele sentia muita vontade de conhecer mais crianças, então permitiria.
- Se seus filhos tentarem morde-lo novamente, sabe que vou arrancar as presas deles?
Yoruichi desviou o olhar a ele atrás de si conforme cessou o passo e abriu um pequeno sorriso.
- Vai ser divertido ver você tentar.
O homem o prendeu novamente em seu lugar, desta vez cada mínimo movimento que conteve.
- Não é como se estivesse me ameaçando, é meu filho. Abra a boca.
Ordenou, era o movimento que podia fazer junto a seus gestos interrompidos. Yoruichi sentiu os movimentos interrompidos e estreitou os olhos, se quer podia falar, mas podia pensar. "Não foi uma ameaça, eu defendo meus filhos da forma como você defende os seus. Eles são ensinados a não morder outras pessoas sem as nossas ordens, mas animais não havíamos ensinado, não sabíamos que haviam criaturas por aqui." Disse, mas involuntariamente a boca estava aberta e as presas a mostra e os olhos o fitavam, estreitos. O homem sorriu a ele, esperto, já estava mentalizando o que precisava dizer, acatou porém.
- Para papai, eu gosto dela...
- Gosta dela é? - Dito, o homem se encaminhou a sua frente. - Dentes bonitos.
O deixou desse modo voltar a se mover. Mentalmente chamou pelo parceiro, convidando a se juntar. Yoruichi moveu o maxilar, dolorido por ser aberto contra a própria vontade e desviou o olhar ao pequeno, sorrindo a ele, era realmente adorável, não quis corrigi-lo dizendo ser homem. O silêncio foi interrompido pelo farfalhar das folhas, a floresta parecia falar naquele momento e arqueou uma das sobrancelhas, nunca havia visto algo semelhante, esperou que ele fizesse algo ruim consigo, achou que fosse morrer, mas da floresta saiu uma cobra, bem maior do que o pequeno Shisô, era inteira negra com um brilho esverdeado, era grande, percebeu naquele momento que era uma cobra adulta, deveria ser o parceiro dele. Quase cravou os pés no chão quando ele se aproximou, parecia irritado e num segundo, como o filho dele havia feito, ele havia se transformado em um humano. A pele de seu rosto cintilava nas pequenas escamas que tinha nas laterais e queixo, a língua longa de cobra havia lambido os lábios e o sorriso dele revelou seus longos dentes pontiagudos, imaginava o tanto de veneno que ele tinha naquela forma, poderia matar um humano em segundos, mas provavelmente para si, causaria apenas uma dor excruciante por algum tempo.
- Foi você que machucou o meu filho?
- Não. Foram os meus filhos. - Yoruichi disse num pequeno sorriso, desprovido de alguma graça. - Foi um acidente.
- Já resolvi, minha cobrinha. Shisô gosta dele e quer brincar com seus filhos.
O rapaz disse ao tocar os cabelos amarrotados dele, talvez estivesse dormindo em alguma árvore. - Seu parceiro deve estar um pouco perdido. - Disse ao moreno ao lhe dar liberdade de movimento novamente. - Há algum tempo está tentando sair de casa, mas o deixei num looping com seus filhos. - Riu, travesso.
- Hum... Então acho melhor eu entrar primeiro.
Yoruichi disse, imaginando que Yasuhiro deveria estar puto, mas ele deveria confiar em si e saber que não faria besteiras apesar do gênio forte, não iria confrontar um demônio como ele. Não deixou de prestar atenção no modo como ele falava, parecia o loiro consigo, "minha cobrinha", era fofo, como Yasuhiro era. Quis beija-lo, toca-lo, naquele medo repentino de saber que havia uma criatura mais forte do que a si no mundo.
- Eu posso saber os nomes de vocês?
- Orochimaru. - Disse a cobra.
- Hum... Você é uma criatura mitológica?
- Não. - Ele sorriu, mostrando os dentes novamente. - É apenas uma coincidência.
- Akuma.
Disse o outro e sorriu ao comentário do parceiro, era por seu nome que lhe havia escolhido a forma, combinava perfeitamente com sua essência. Ao deixa-lo se mover, via o filho seguir o caminho com o vampiro, quase guiava o moreno para a direção de sua casa, ele estava empolgado, interessado nas crianças. Yoruichi assentiu, agora saberia como chama-los. Seguiu para dentro com o pequeno e ao entrar, viu o marido parado na sala, parecia confuso e intrigado ao mesmo tempo.
- Yasu... Esse é Shisô, os meninos morderam ele por engano na floresta. Esse é Akuma e Orochimaru.
Akuma seguiu logo atrás do rapaz, achava a situação estranha, mas continuou de todo modo. Ao entrar, observou o homem de fios dourados, podia ver sua feição indagativa, aquilo era mesmo divertido, teve de rir. Yasuhiro havia sentido as sensações do parceiro, as quais oscilavam, não tinha certeza se havia medo, porque hora sentia e hora deixava de sentir. Tentou ir até ele mas por todas as vezes que cruzou a porta saiu dentro de casa, estava em looping e sabia que algo havia sido provocado lá fora, fossem os filhos, fosse Yoruichi, mas pela situação sabia que não era apenas um outro vampiro, era alguma coisa além disso. Sentiu o peito aliviar quando o viu entrar, mas tinha evidentemente uma expressão indagativa no rosto a medida em que fitou os demais na casa.
- Você está bem? - Indagou, sentindo o cheiro, não eram humanos.
- Estou sim.
Yoruichi disse conforme seguiu até ele e o abraçou, firme, beijando seu pescoço e em seguida seus lábios num selo breve, sentiu falta dele naquele pequeno tempo. Sentiu o coração apertado por pensar que poderia não vê-lo mais. Orochimaru fitava os dois a distância, vampiros eram uma raça que não tinha apreço nenhum, já havia cruzado com alguns bem idiotas, mas ao vê-lo abraçar o outro, sentiu um aperto no peito por pensar que Akuma poderia machuca-lo, segurou a mão do parceiro ao lado e uniu as sobrancelhas a fita-lo, não disse nada, mas pensou. "Relaxe, não os machuque. Eles são boas pessoas."
Ao se afastar, Yoruichi abaixou-se e chamou os filhos com uma das mãos, vendo Ikuma vir primeiro e Yuuki, um pouco envergonhado vir depois.
- Meninos, esse é o Shisô. Ele era a cobrinha…
- Não vou machuca-los.
Akuma disse ao moreno que era facilmente afetado pela demonstração de carinho, sempre foi assim no fim das contas, era uma parte dele que achava atraente, sua bondade essencial. Yasuhiro sentiu o abraço, os beijos, retribuiu suas carícias, percebeu que havia sim sentido medo. Olhou seus olhos dourados que estavam um pouco apagados, não havia se alimentado ainda.
- Está tudo bem. - Sussurrou para ele. Fitou os demais na casa. - São demônios? - Indagou sem recato.
- Eu sou, ele é um amaldiçoado. - Akuma respondeu, igualmente sem recatos. - Meu filho quer brincar com os seus.
- Mas sem machucar... - Disse Shisô.
Akuma sorriu ao filho, ah, aquele era o ponto fraco. Yasuhiro olhou a criança, aquele pequeno pedaço de ser, parecia sábio, mas era miúdo demais, suas roupas ficavam desajeitadas nos braços, quis ter mais filhos.
- Olha só o tamanho disso...
Yoruichi sorriu meio de canto conforme o ouviu e assentiu.
- Ele é tão lindinho, não é?
Disse e se lembrou de que ele ainda estava machucado. Foi para a cozinha onde buscou uma pequena mistura de ervas que usava nas queimaduras eventuais dos filhos e abaixou-se ao lado dele, esperando sua pequena perna onde passou a pastinha, pararia de doer logo.
- Yasu, eu prometi seus bolinhos de shisô, parece que eles gostam muito. Por favor, podem se sentar. - Yoruichi disse e indicou a mesa de centro da sala. - Perdoe a minha postura, não recebemos muitas visitas desde que... Bem, não recebemos. - Disse e sorriu meio de canto, mas o demônio saberia que falava do incêndio. - Vocês gostam de chá?
Ao ouvi-lo, Orochimaru caminhou para a mesa onde se sentou, dali podia ver os pequenos que brincavam com alguns itens de madeira na outra sala, pareciam se divertir juntos, e nenhum deles tentou morde-lo novamente.
- Sim, eu adoraria provar o chá, obrigado por nos convidar.
- Farei os bolinhos. Mas isso foi insuportável e legal. Me diga como faz isso, talvez eu possa fazer quando Yoruichi tentar sair do quarto no meio de uma discussão.
Akuma riu ao ouvir, parecia um homem empolgado e curioso com a situação.
- Não é algo que eu possa ensinar, mesmo Orochimaru não pode fazer, mas eu uso pelas mesmas razões - Akuma falou risonho.
Yoruichi estreitou os olhos ao marido, mas riu em seguida, negativando e na cozinha passou a separar as ervas para o chá e também para o preparo dos bolinhos.
- Desculpe, vocês bebem sangue? Porque ele usa como ingrediente, se não, podemos tirar.
- Pois é, ele usa, e sim, é insuportável. - Orochimaru riu.
- Sim, não é como se precisasse de sangue mas também tomamos.
- Ah, estou muito grato, moça.
Disse Shisô, que já havia partido para a brincadeira, mas voltou com sua gratidão, algo herdado do outro, é claro. Yoruichi sorriu para o pequeno conforme o viu voltar e ao ouvir seu pai, tocou o pequeno vidrinho de sangue e em seguida, tocou os lábios do pequeno, lhe dando um pouquinho do sangue para provar e ao se abaixar em frente a ele o viu lamber a boquinha pequena com sua língua bifurcada.
- Eu sou um rapaz, meu amor.
- Ah, rapaz? Você é menino?! Mentira, tem cheiro de menina...
Yasuhiro riu.
- Eu digo, nem eu acredito que é um menino as vezes. - Disse ao se abaixar para aquela criança. - Quero outro filho...
- Esse é meu. - Disse Akuma.
Yoruichi riu baixinho e acariciou os cabelinhos dele, sentiu vontade de aperta-lo tão forte num abraço até o quebrar, claro, não o faria, era só porque ele era muito fofo.
- Sou um menino sim, acho que nasci errado. - Dito, ergueu-se novamente e sorriu ao marido meio de canto. - Você não desiste, não é?
Orochimaru riu baixinho conforme observou a interação dos dois com o próprio filho, eles pareciam ser ótimos país, sabia que tinha amor entre eles, e era muito bom para si ver criaturas agindo daquela forma, tudo o que diziam sobre si, sobre ele, sobre eles, era mentira naqueles momentos.
- Seus filhos também são adoráveis.
- Até você quer um filho depois dele. - Yasuhiro disse, resmungando.
- Mas esse é meu.
Akuma tornou dizer, brincando é claro. Podia ler os pensamentos do parceiro, parecia uma pedra de gelo tocando a própria pele, derretia com facilidade. Yoruichi riu baixinho e assentiu ao convidado.
- É claro que não vamos roubar seu filho. Até porque, não teríamos como nos esconder sem você nos encontrar. Brincadeira. - Riu novamente e acariciou os cabelos do pequeno. - Vai brincar, vai, logo a comida vai estar pronta e o chá também.
Viu Shisô se curvar, com a mesma postura de Orochimaru, sorriu ao vê-lo e podia deduzir que o parceiro fazia o mesmo. Após sua ida, podia ouvir sua voz junto das crianças, falavam sobre curiosidades, sobre o que ele era, falavam sobre sua língua adorável. Ao se levantar, Akuma curiosamente observou o preparo do loiro e sua receita com Shisô, aquela era uma atividade humana demais, pensava, mas havia aprendido sobre coisas humanas a medida em que ganhou um companheiro e ganhou dele uma família.
- Vocês cozinham?
Yoruichi disse conforme o viu curioso olhar a receita de Yasuhiro e recebeu um sorriso de seu parceiro.
- Eu era humano antes de ser amaldiçoado, o ensinei a gostar de comida humana.
- Não é um hábito, geralmente comemos em lugares fora de casa, mas Orochimaru gosta de fazer algumas coisas.
- E como terminou amaldiçoado?
- Uh... - Akuma murmurou, risonho. - Cativou um demônio.
Yoruichi sorriu meio de canto, ele não era mais um humano, então não tinha porque se sentir amedrontado por ele estar ali na própria casa.
- Você o amaldiçoou?
- Sim, ou ele morreria. E assim ganhei essa cicatriz.
Yoruichi riu.
- E você teve coragem de cortar um demônio no rosto? Espera, você não pode curar essa cicatriz?
- Hum, mexeu com o humano errado. - Disse Orochimaru.
- Eu posso esconder, mas eu gosto dela. - Akuma sorriu mostrando os dentes.
Yoruichi riu ao ouvir Orochimaru.
- Nunca conheci um humano tão corajoso. É fácil você queimar a casa de um vampiro desprevenido, mas cortar um demônio no rosto quando ele claramente pode arrebentar você com um estalar de dedos é novidade.
- Eu sou justo, coloquei uma marca nele então o deixo colocar a dele em mim. - Akuma sorriu canteiro novamente.
- Inusitado é imaginar que um demônio é justo ou que se apaixona. - Disse Yasuhiro.
- É o que se pensa dos vampiros também... - Respondeu Akuma.
Yoruichi sorriu meio de canto.
- Conheço muito pouco sobre demônios pra poder dizer alguma coisa, quando criança minha mãe cantava uma canção pra mim onde dizia que eram as únicas criaturas que eram mais fortes do que um vampiro de mil anos. Acho que já deve ter ouvido essa canção, sobre o demônio da caverna que controlava o tempo. Talvez ela fosse até sobre você. - Riu. - Não existem muitos demônios até onde eu sei. Muitas criaturas, mas demônios não.
- Eu pensava a mesma coisa sobre ele quando o conheci, pensei que ele só quisesse a minha alma. - Disse Orochimaru.
- Na terra é difícil de encontrar algum. Sei qual é a canção a que se refere, é uma boa canção. Sobre sua alma, era o que eu pretendia no início, você sabe.
- No fim foi ele quem pegou a sua. - Disse Yoruichi.
- É quase isso. - Respondeu Orochimaru.
Yoruichi desviou o olhar ao marido e sorriu meio de canto.
- Hum, isso é até meio romântico.
Orochimaru sorriu meio de canto, não gostava muito de assuntos como aquele, sempre fora uma pessoa avulsa dos sentimentos dos outros, já que havia perdido a mãe muito cedo, e fora a única pessoa que amou a si de fato, claro, além dele.
- Sou bem romântico sim, não sou, pequeno Orochi?
Akuma sorriu mas riu entre os dentes. Roubou uma das folhas de shisô e levou até ele. Orochimaru aceitou a folha e sorriu a ele, mordendo um pedaço.
- É estranho uma cobra gostar de shisô. Você não é carnívoro?
- Bem, ele costumava ser
- Hum, foi só curiosidade.
Orochimaru riu baixo.
- Minha comida favorita são ovos de pássaros.
Akuma riu, achando graça da resposta dele, mais por saber que soaria estranho para os outros ali.
- E a minha são as vidas, sabe como é. Embora eu prefira lidar com as emoções, na verdade fico em dúvida.
Yoruichi arregalou os olhos ao ouvir o outro, mas entendeu logo que ele dizia isso porque era uma cobra.
- Ah... Minha comida favorita é moti de matcha.
Disse dando de ombros e riu consigo mesmo ao pensar que Yasuhiro poderia responder que a comida favorita dele era a si.
- Hum, eu nunca parei pra pensar sobre isso. - Disse Yasuhiro.
Akuma se voltou ao moreno e sorriu para ele, mostrando os dentes, a resposta não era a esperada por ele. Yoruichi desviou o olhar ao demônio da sala, arqueou uma das sobrancelhas conforme o viu sorrir e deu um sorrisinho de canto. Akuma aceitou o bolinho, provando-o sem problemas com a temperatura fervorosa pós fritura, na verdade gostava mais de todo aquele calor, havia até passado a colecionar condimentos ardidos, em especial as pimentas.
- Hum, é realmente bom, vai precisar ensinar meu pequeno Orochi, certamente.
Dito, levou o bolinho em frente a boca do parceiro, que já farejava o cheiro.
Orochimaru aceitou o bolinho dado a si e sorriu, lambendo os lábios com a pequena língua estreita.
- Isso é tão gostoso! Você pode me ensinar a receita?
- Hum... Vai me dar o que em troca? - Disse Yasuhiro.
- Eu preciso te dar algo em troca da receita?
- Sim, foi assim que consegui. Mas dei sangue, não meu corpo, claro.
- Acho bom. Estou ouvindo aqui do lado. - Disse Yoruichi.
Orochimaru sorriu meio de canto.
- O que você quer?
- Que tal você dar a receita e eu não te deixar em looping? - Disse Akuma.
- Assim não tem graça.
Orochimaru riu e negativou.
- Hum, eu troco a receita por um cervo, o que acha?
- O que você quer, amorzinho? Cervo ou Javali?
Yasuhiro disse, tinha que aceitar um animal afinal, não estava lidando com um vampiro ou um humano, não queria ficar em looping, resmungou, para si mesmo.
- Cervo. - Yoruichi disse num pequeno sorriso. - A carne é mais macia.
- Hum, um cervo então. Tratei dois, para as crianças.
- Então darei a receita, pro seu parceiro, pra ele fazer pra você.
- Pro Akuma? Mas ele não cozinha.
- Ele é um demônio, certamente pode fazer isso.
- Se pedir com jeitinho eu faço uns bolinhos pra você, cobrinha.
- Hum, certo. Vou querer ver isso.
Yoruichi sorriu meio de canto, o marido parecia incomodado, então também estava. Seguiu para a sala onde viu os pequenos brincando e colocou o bowl com os bolinhos no chão.
- Meninos. Esta quente, cuidado. Yuuki, espere um pouquinho mais, tá bem?
Disse, sabendo que ele tinha problemas com fogo, então assoprou o bolinho dele até esfriar, entregando em sua mão, colocou uma mecha de seus cabelos compridos atrás de sua orelha, gostava de ver os olhos amarelos dele, embora ele fosse muito tímido para usar o cabelo preso.
- Vou trazer o chá.
- Obrigado, mamãe.
Disse Ikuma que seguiu o agradecimento por Yuuki, silencioso com um suave maneio da cabeça. O novo amigo dos dois apenas se curvou, cortês como bem aprendia com a mãe. Akuma provou mais dos bolinhos, acompanhado do chá, trocavam poucas palavras, curiosidades vindas do homem loiro, era bem disposto. Yoruichi sorriu a Ikuma e também ao pequeno, voltou para a cozinha com a bandeja com o chá e serviu os três. Nas xícaras tinha uma pequena folha de shisô.
- Esta gostoso o bolinho?
- Ele é uma boa mãe, não é? - Orochimaru disse conforme observava o outro com as crianças, desejou ser como ele por alguns segundos. - Parece ser uma pessoa incrível de se ter como mãe.
- Ele é, de forma inesperada talvez, não sei se ele pensava sobre ser mãe antes disso. - Disse Yasuhiro.
- Hum, você também é uma boa mãe, cobrinha. - Disse Akuma.
Orochimaru sorriu meio de canto ao ouvir o parceiro e tocou a mão dele, acariciando-a.
- Vocês terão mais filhotes? Digo, filhos.
- Eu faria um filho por ano se pudesse. Mas como não sou eu quem fico gestante...
Orochimaru riu ao ouvi-lo e negativou.
- Vocês estão falando de filhos de novo, não é? Yasu, já disse que temos que esperar os meninos crescerem.
- Eu posso sonhar. - Yasuhiro resmungou. - E vocês, querem ter mais filhos?
Akuma sorriu meio de canto.
- Não é como se eu previsse que o Shisô viria. Um dia quando eu acordei tinha um ovo na minha cama. - Orochimaru disse, como se fosse normal.
- ... Eh...?
- Ovo? - Yoruichi disse, abismado e nada sutil.
- É. Eu sou uma cobra, eu boto ovos. - Orochimaru disse num pequeno sorriso.
- ... E como você botou esse ovo? Não, espera... Não me responda.
- Cara... Isso deve ser horrível e bom ao mesmo tempo, fica menos tempo responsável pela barriga, mas em compensação...
- Eu não senti ele, então... Akuma deve ter feito isso de propósito. - Orochimaru disse conforme desviou o olhar a ele e estreitou os olhos.
- Eu gosto de esperar os meninos. Gosto de saber que eles estão dentro de mim. - Yoruichi disse num pequeno sorriso. - Mas o parto é uma verdadeira merda.
- O que? Fazer um filhote? Não previ também, acho que seu corpo estava querendo isso.
Akuma disse e deu de ombros, mas claro que havia facilitado aquilo.
- Hum, talvez o Akuma possa te ajudar no parto da próxima vez, amorzinho. - Yasuhiro riu.
- Hum, Akuma, quanto você cobra a hora? - Yoruichi riu. - Só pra me derrubar. - Negativou em seguida. - Pense em alguém cortando sua barriga sem anestesia. Só o álcool não adianta.
Orochimaru encolheu-se sutilmente.
- Isso parece horrível.
- Não cobro.
Akuma disse e sorriu, transmitindo uma breve onda de leveza ao rapaz, o que se iniciava por um calor interno e relaxava cada parte de seu corpo. Yoruichi sentiu o arrepio percorrer o corpo, era tão gostoso e relaxante que teve que suspirar, quase caiu no chão.
- Ah... Isso é bom...
- O que? Isso o que? Faz em mim também.
Yasuhiro disse ao olhar o moreno, o demônio a frente. Akuma riu, entre os dentes. Yoruichi riu e desviou o olhar a Akuma.
- Deixa ele sentir também, se bem que aí ele vai querer isso toda hora e eu não posso dar.
Akuma desviou a sensação do moreno ao loiro, dando a ele aquele calor intenso por dentro, passando por cada entranha até a cabeça aonde a tontura suave se dava diante do relaxamento intenso do corpo, era como doses intensas de álcool.
- ... Opa. Eu gosto disso e não gosto disso.
Yoruichi riu e acariciou os cabelos do loiro, tocando-o na nuca.
- Hum, me dá uns pensamentos estranhos a seu respeito sentir isso. - Disse e desviou o olhar a Akuma. - ... Desculpe, eu esqueço que você lê minha mente.
- Pode pensar, eu gosto de assistir. - Akuma provocou, risonho, mas parou ao notar o olhar do parceiro. - Parei, amorzinho.
Orochimaru desviou o olhar a ele, arqueando uma das sobrancelhas.
- Só aceito isso se eu puder assistir também. Yoruichi riu e negativou.
- Bem, no fim somos sempre pervertidos mesmo.
- Hum, deixo vocês terem uma boa noite hoje. - Disse Akuma.
- Como assim? Vai mandar umas sensações dessas pra gente? Eu vou cobrar.
Yoruichi riu e negativou.
- Agora quando eu estiver transando vou ficar achando que o Akuma está observando a gente.
- Nunca se sabe.
Akuma provocou, dando o benefício da dúvida, embora não tivesse essa intenção. Yoruichi uniu as sobrancelhas.
- Agora não vou conseguir fazer isso em paz.
Orochimaru riu.
- Não se preocupe, eu não deixaria.
- Claro, ele provavelmente vai se ocupar me fazendo cuidar dele ao invés de vocês.
- Não tenho nada contra se for um bom cuidado. Pode mandar essa brisa.
Yoruichi negativou e riu, acariciando os cabelos loiros do marido.
- Pode trazer o Shisô mais vezes, acho que eles gostaram de brincar juntos.
Disse num pequeno sorriso e viu Orochimaru sorrir, numa pequena reverência.
- Hum, Shisô tem sentido curiosidades sobre as outras crianças, querendo companhia, será bom deixá-lo brincar.
- Sim, meus meninos não vão machuca-lo, como eu disse, eles são ensinados a não machucar outras pessoas, ou criaturas. Sinto muito pelo ocorrido.
- Tudo bem. Shisô também sabe se defender, talvez tenha ficado surpreso.
Yoruichi assentiu e desviou o olhar aos pequenos que tomavam o chá juntos, eram adoráveis.