Masami e Setsuna #01


- Ah, tudo bem.
Setsuna sorriu ao cliente que saiu da porta de casa, acenando para ele. Podia ver ao longe o rapaz de cabelos negros e compridos, já o conhecia, era Masashi, havia sido aluno do próprio pai há anos atrás, sorriu para ele, porém, percebeu que não estava sozinho, e não era seu namorado o seu acompanhante, e sim, um garotinho, tinha cabelos compridos e negros como os dele e era tão bonito com seus traços afiados que causou um sorriso em si, mesmo despercebido, ele lembrava a si de alguém, só não sabia quem.
- Masashi, em que posso te ajudar hoje?
- Vem, camelinha.
Masashi chamou o filho, que as vezes ficava para trás, entretido com algo qualquer na rua dos comércios. Esticou-se para pegar sua mão, levando-o consigo até a casa do luteiro, que parecia sempre polido embora cheio de fagulhas de seus instrumentos, estava com a camisa sempre acinzentada em alguma parte, mas gostava da forma como aquilo fazia ele parecer apaixonado por sua profissão. O conhecera de vista há anos atrás, quando desenvolvia habilidades de música com seu pai, que diferente dele, apenas dava aulas de música e não criava suas próprias peças musicais, Setsuna havia ido mais além, talvez no intuito de alegrar seu pai.
- Setsuna. - Cumprimentou. - Vim lhe apresentar minha cria. - Brincou, embora não fosse completamente uma brincadeira. - Ele quer ter aulas de música, já dei alguma base para ele, mas nada melhor que um professor. Masami, se apresente a ele. - Disse e fitou o filho, que pareceu realmente curioso sobre a feição do rapaz em frente. 
- Ah, ele é seu filho?
Setsuna disse num sorriso e abaixou-se, observando-o, e era bonito, realmente tinha traços de Masashi e Katsuragi, mas... Não era somente isso, seus olhos amarelos, mesmo tão amarelos lembravam algo.
- Boa tarde, você gostaria de aprender a tocar? Eu posso te ajudar a aprender. Como você se chama?
Masami olhava com curiosidade para o rapaz e podia ver, achava graça, achava adorável como ele parecia brilhar analisando seu novo professor.
- O que houve, Masami? Se apresente, você não costuma ser tímido. - Masashi disse ao filho que negativou para si embora olhasse o rapaz. - Gostou dele, não é? - Com a pergunta, somente então o filho olhou para si e balançou a cabeça, assentindo.
Setsuna desviou o olhar ao amigo conforme o ouviu falar com o menor, o nome... Masami... Uniu as sobrancelhas e analisou o rosto do pequeno, ele se parecia muito com o amigo que tinha quando era criança, e não havia notado... Na verdade havia se esquecido que ele era irmão de Masami.
- Masami...?
Disse a observar o outro, e se lembrava de recebê-lo em casa junto de seu irmão para aprender a tocar, ele era pequeno, mas tão esperto, e era mais próximo de si do que de outras pessoas, costumava estar sempre perto dele. Fitou o rosto do pequeno e embora atípico, deslizou os dedos por seu rosto a admirar seus traços, não tinha nenhuma malícia, é claro.
- ... Pois... Eu também acho você muito adorável... Rapazinho.
Disse num sorriso de canto e não queria falar a Masashi sobre aquilo.
- Nani?
Masashi indagou, percebendo a forma de olhar, sabia que Setsuna havia associado o pequenino ao irmão, era algo inegável, ainda que Masami tivesse dos traços de Katsuragi também em sua aparência, dando seu ar arisco, de criança sapeca.
- Eu sei que ele se parece.
Setsuna desviou o olhar a ele e tinha um nó na garganta.
- Me desculpe, eu... Tentei evitar. - Murmurou e sorriu meio de canto. - É que a semelhança é... Fantástica.
- É, eu sei.
O sorriso de Masashi foi tênue, mas não estava triste. Desde o nascimento do filho, falar sobre Masami não era tão difícil, sentia que o tinha novamente e que lhe daria a chance de um lar muito melhor, embora não tivesse a certeza, ainda se sentia assim.
- Fale com ele, Masami.
- Sou Masami, quero aprender a tocar todos os instrumentos que puder ensinar, por favor.
Setsuna ouviu-o falar consigo e sorriu meio de canto novamente, até as vozes eram semelhantes, quer dizer, havia suas diferenças para o antigo garoto, mas ele era com certeza parecido.
- ... Terei prazer em ensinar você, Masami.
- Hum.
Masami murmurou ele afirmativo enquanto estendia a mão para deliberadamente segurar a de Setsuna, sem recato, típico de uma criança, principalmente, Masami. Setsuna d
esviou o olhar ao pequeno e levou um tempo para entender, mas segurou sua mão e apertou-o em meio a própria, sorrindo.
- Ele não é muito tímido, gosta de tocar as pessoas, puxou a mãe.
Setsuna riu.
- Ah... Gosta é? Bem, você vai acompanhar a aula, Masashi?
- Por hoje eu quero ver como vai se sair, quero ver se esse rapazinho vai se comportar.
Masashi disse e sorriu ao pequenino que sorriu comprimindo os lábios, era sapeca, embora seu comportamento não fosse. 
- Claro, será um prazer receber você.
Setsuna sorriu e conforme segurava a mãozinha do pequeno, levou-o consigo até o próprio ateliê, onde haviam os instrumentos. Era um grande cômodo na sala, e havia um sofá espaçoso e macio.
- Masashi, pode ficar a vontade.
- Obrigado, Setsuna.
Masashi disse e seguiu para se acomodar, após olhar para o filho, não disse nada, exceto por...
- Se divirta.
Sentou-se num canto reservado para isso, longe das cordas, da madeira e dos instrumentos em preparo, mas perto dos que estavam amostra, prontos para compra.
- Estão todos muito bonitos, Setsuna.
Setsuna desviou o olhar ao amigo e sorriu meio de canto. Obrigado. Vou pedir que a serviçal traga o chá pra você.
- Ainda... Come biscoitos de chocolate?
Disse num pequeno sorriso, sabia sobre a condição dele.
- Hum... Eu gosto dos de matcha, Katsuragi tentou assa-los por dias, então eu servi de cobaia, acabaram no meu gosto, mais que os de cacau. - Masashi disse, sorriu diante da pergunta que era quase curiosa da parte dele. - Eu gosto de gengibre.
- Hum, posso ver se ainda tem algum biscoito de gengibre do Kazuya. Matcha eu não tenho, mas tenho chá, pode ser, Masashi?
- Eu gostaria, por favor. Ah, verdade, talvez o Masami possa conhecer Kazuya.
- Kazuya não está hoje, infelizmente... Saiu com a mãe.
Setsuna disse já a chamar a serviçal e indicou que trouxesse os docinhos para o pequeno e seu pai.
- Mas ficarei feliz de apresentá-los outra hora!
- Ah, é uma pena. Mas se Masami se der bem com as aulas, poderá encontrar Kazuya na próxima. 
- Vou dar bem sim, papai.
Setsuna riu baixinho e acariciou os cabelos do pequeno.
- Venha, vamos para a salinha. Você quer escolher um instrumento?
Masashi sorriu, percebia o agrado do filho para com seu novo professor. 
- O que o sensei gostar.
Setsuna sorriu e acariciou os cabelos dele sutilmente, eram macios.
- Que tal piano?
- Hum.
Masashi murmurou afirmativo, e podia ver os olhinhos dele encarando seu novo professor. Achava graça.
- Certo. Ah, aqui dentro.
Setsuna disse num pequeno sorriso e indicou a sala ao lado, aberta para a que seu pai se sentava e havia um piano lá, era grande, pesado e indicou a ele que se sentasse no banco, até o ajudou segurando sua mão.
- Gosta dele?
- Gosto. - Masami disse ao segurar a mão dele e se sentar onde indicado, observando o instrumento e por vezes o rapaz. - Você é bonito como meu papai.
Setsuna desviou o olhar a ele, notando seu olhar carinhoso em direção ao próprio rosto e riu baixinho.
- Ah... Obrigado, pequeno. Você também é muito bonito.
Masami sorriu, pressionando os lábios, tinha aquele hábito, pois via um dos pais falando para seus diversos amigos que deveriam sorrir com a boca fechada. Setsuna sorriu contagiado.
- Vamos, essas são as teclas que você terá que tocar para fazer música. Toque algumas.
Masami esticou o dedinho e pressionou sem precisar de força para que a tecla pesada do piano tocasse a nota. Setsuna sorriu a ele conforme ele havia tocado a nota e indicou todas as notas do piano, uma a uma pedindo que ele tocasse para saber seu som. Colocou algumas folhas para ele sobre o piano e demonstrou as partituras, indicando como fazer a leitura delas.
- Consegue entender assim?
- Hum.
Masami murmurou afirmativo embora fosse evidente e afeição do filho para a aparência de seu novo professor.
- Masami, não encare tanto seu professor.
Setsuna desviou o olhar ao pequeno e em seguida ao amigo, sorrindo.
- Ah, não se preocupe.
Sorriu a voltar a atenção ao pequeno e notou a serviçal a adentrar o local com a bandeja de chá e biscoitos para o amigo, trazendo também alguns biscoitos ao pequenino.
- Esses são de gengibre.
O menor assentiu e de forma cortês aceitou um dos biscoito. Tragou o cheiro do condimento no assado, e ao morder, sentado onde estava, deliberadamente se encostou junto ao braço do professor. Gostava do cheiro dele, gostava de como se parecia e de alguma forma, sabia que ele provavelmente era para si, como papai e mamãe eram um para o outro. Setsuna desviou o olhar ao pequeno, confuso sobre como ele havia se juntado a si e sorriu meio tímido, não estava entendendo, mas acariciou suavemente os cabelos dele, como se fosse o próprio filho.
- Esta gostoso?
Masami assentiu enquanto comia devagar seu biscoito. Por um instante, curioso pegou a mão do rapaz, não disse nada, tinha a boca cheia de biscoito, mas segurou e fitou com curiosidade a ponta de seus dedos, sentindo a aspereza. Setsuna uniu as sobrancelhas conforme o sentiu segurar a própria mão, mas nada disse, o fitou curioso, era engraçado como ele parecia uma criança curiosa consigo.
- Quer saber como um humano se parece?
Masami negativou mas se pronunciou apenas quando desocupou a boca da mastigação.
- Seus dedos são ásperos.
O maior sorriu meio de canto.
- É porque eu toco muitas cordas, então tenho alguns calos nos dedos.
- É gostoso. - Masami sorriu e pegou outro biscoito.
- O biscoito? - Setsuna sorriu.
- Os dedos.
- ... Ah... - Setsuna sorriu meio de canto. - Ninguém costuma gostar disso.
- Deve ser gostoso pra coçar as costas. Que nem o papai faz, mas a mão do papai não é tão áspera, só que a da mamãe é menos ainda.
Setsuna riu baixinho.
- Pra... Coçar as costas é?
- É.
Masami sorriu e voltou a apertar mais uma tecla do piano. Aos poucos, foi admirando o professor enquanto fazia a aula, até terminar, pelo menos uma hora e meia mais tarde. Setsuna s
orriu e negativou, ele era adorável mesmo, não tinha como fingir que não, e por um momento silencioso enquanto o deixava aprender as notas, lembrou-se do amigo quando era mais novo, era pouco mais velho que ele, poucos anos, como Masashi, gostava do sorriso dele, das mãos macias, e... Negativou, já havia crescido e ele não estava mais ali.
- Bem, terminamos. - Sorriu. - Masashi?
- Estou aqui, Setsuna. Já tomei todo o bule de chá. - Masashi disse a ele e se levantou quando via-os caminhando de volta a sala de exposições. - Gostou da aula, Masami?
- Gostei muito, papai. Quero vir amanhã novamente.
Setsuna sorriu e acariciou os cabelos do pequeno.
- Sempre que quiser, Masami.
- Verdade? 
Masashi riu.
- Não dê ousadia, Setsuna, ele virá mesmo.
- Claro. - Setsuna riu. - Não me importo em recebe-lo, é uma criança fantástica.
- Quero aprender todos os instrumentos.
- Eu vou te ensinar. - Setsuna sorriu.
- Então tá bom. Vamos embora e deixar seu novo professor trabalhar. Qual horário será bom pra você, Setsuna?
- Hum, podem vir nesse mesmo horário, sei que a noite é o único horário que pode.
- Obrigado. Será perfeito. Vamos, Masami? 
- Hum. Até amanhã, sensei.
- Até amanhã, pequeno. Ah, espere.
Setsuna disse e voltou para a sala anterior, pegou as partituras para entregar a ele e junto entregou o saquinho com os biscoitos.
- Pronto. Até amanhã.
Masashi viu o filho sorrir ao aceitar os regalos, tocou a mão de seu novo professor e sentiu a ponta de seus dedos antes de se afastar. Setsuna sorriu conforme sentiu o toque e acenou para ele, era como o próprio filho mesmo, uma graça.
- Papai, gostei muito do sensei. Ele cheira gostoso.
- Gostou, é? - Masashi riu. - Mas não pode morder ele, ele é um colega de infância do papai.
- Eu não acho o cheiro gostoso pra morder. Ou é?
Disse o pequeno e parecia refletir consigo mesmo, Masashi lembrava-se que o irmão costumava gostar muito do amigo também. Sorriu, ao pensar sobre isso, embora no fundo se achasse um tolo.
Ao se voltar para dentro, Setsuna negativou consigo mesmo. Seguiu em direção ao próprio quarto e na gaveta vasculhou atrás de alguns documentos, dentro de uma pequena caixinha de madeira, haviam algumas fotos da infância, que teve que procurar, e os olhos percorreram cada uma delas até achar o que procurava. Ele estava ali, Masami, e era realmente parecido com o garoto. Negativou, não achava que aquilo fosse possível, mas deslizou os dedos pela foto, e sorriu consigo mesmo.

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