Kazuma e Asahi #54


Kazuma havia partido e muito além do alcance dos veículos, havia voltado de onde veio, e ainda que naquele dia houvesse planejado notificar o garoto, o qual não sabia exatamente o que fariam a seguir, não tinha certeza de nada, mas era algo que poderiam pensar, sem que alguns milhares de quilômetros houvessem impedido. Ainda que naqueles anos instáveis houvessem vivido sem planos, sem decisões senão guerrear, não havia perdido o senso de obrigação e era por isso que havia partido sob as ordens, ainda era um general, ainda era responsável por uma divisão e depois de todo aquele tempo como militar, não era por um novo sentimento que perderia tudo aquilo, mas por todo aquele tempo, desejava tê-lo avisado. Um suspiro deixou a boca e os olhos como sempre de aspecto impassível não revelavam o fato de que, com alguma preocupação e alguma ternura, observava o pequeno adereço em duas voltas no pulso, era o que havia feito de seu terço.

- General, precisamos de você. 
Disse o homem tirando a atenção do adorno religioso ou de qualquer atividade que fingisse fazer.
- Estou indo, soldado.
O retrucou e novamente caia na realidade, tinha compromissos a honrar, no entanto a cada passo cuja pisada firme era como uma marcha, sentia como o tempo tornava mais difícil a ideia de acha-lo em algum lugar.



Asahi havia passado um longo tempo naquele campo. Observando a base que havia sido abandonada. Não acreditava no quão idiota havia sido, por achar que ele gostava de si, por achar que ele sentia algo por si. Havia se sentado abaixo de uma árvore, e não evitava as lágrimas que escorriam dos próprios olhos, chegou a achar que nunca havia chorado daquele modo na vida. Havia ficado ali, por horas, sem saber o que fazer, sem saber o que fazer, não tinha nada, nem ninguém agora.
Ao anoitecer, ainda podia ouvir os fogos que eram estourados no céu, não tinha pra onde ir, nem a mínima vontade de se juntar a eles na comemoração, então apenas havia ficado ali, sozinho, como sempre fora até que adormeceu, encostado ao tronco e por um momento, ouviu um barulho estranho em meio as árvores, achou estar sonhando, mas não estava, não era um animal ou algo pior, era uma mulher, tinha cerca de trinta anos, e carregava um bebê em suas costas. 

- Padre? O que o senhor está fazendo aí?
Desviou o olhar a ela, unindo as sobrancelhas conforme a ouviu. 
- Perdão?
- Sou eu, Akane Yamamoto. Sei que não se lembra de mim, mas eu frequentava a igreja todo fim de semana.
- Akane... 
- Por que está aqui sozinho, padre? 
- Desculpe Akane, eu não sou mais um padre. Renunciei aos meus votos.
Ela fez um momento de silêncio. 
- Você está sozinho? Não tem pra onde ir? 
- Não... Tive que sair da igreja.
- ... Ora, não devia ficar aqui sozinho, podem haver soldados chineses ainda aos arredores. Por que não vem comigo? Trabalho numa estalagem, você pode se hospedar lá.
- Não tenho dinheiro, Akane, mas obrigado pela oferta.
- Bem, você pode me ajudar com a casa, eu não cobraria hospedagem de você. 
Permaneceu um longo minuto a observando, ponderando sobre o que ouvira e por fim se levantou, não tinha outra escolha e não queria morrer ali sozinho. Alguém havia ensinado a si a dar valor a própria vida um dia. 
- Obrigado...
- Sei que não é mais um padre, mas... Pode me dar a sua benção?
Assentiu ao ouvi-la, fazendo o sinal da cruz e deslizou uma das mãos pelo rostinho pequeno da criança, sorrindo a ela. Nunca iria ter um filho.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário