Yasuhiro e Yoruichi #36


- Meninos, não vão brincar longe de casa!
Disse Yoruichi conforme os viu correr para a floresta, eles já estavam maiores agora, mais espertos, mas ainda fáceis de se confundir com alguma coisa, dez anos não é de fato uma idade tão avançada. Conforme recolhia os kimonos e dobrava, sentiu um cheiro incomum e foi quando cessou o que fazia, não eram os primos, não eram humanos, era cheiro de enxofre, era a primeira vez que sentia um cheiro como aquele. Seguiu para a floresta, rápido entre as folhas, aspirando o ar, não conseguia sentir o cheiro deles corretamente.
- Yuuki?! Ikuma!
Gritou, tentando encontra-los visualmente e viu os cabelos loiros de um deles conforme se moveram numa árvore. Correu, segurando Ikuma pelo pulso e puxou-os consigo.
- Hey, vamos pra casa. 
- Mas mamãe, é só uma cobra. 
- ... Não é só uma cobra, saia de perto dela.
Disse e caminhou com eles para longe, em passos rápidos, firmes e olhou para trás somente uma vez, viu os cabelos negros que voavam com o vento, sabia o que ele era, e não sabia se era forte o suficiente para lutar contra ele, talvez não fosse.
- O que aconteceu lá?
- Eu mordi ela. Ia levar pra você.
Yoruichi arregalou os olhos e sentiu os pés doloridos, estava difícil caminhar, teve que cessar os passos e apertou as mãos dos filhos, podia ver a casa a pouca distância. Corram pra dentro de casa, a mamãe esqueceu uma coisa,
- Hum? Vamos ver quem chega primeiro.
Disse num risinho e os viu correr até chegar em casa, entrando para a cozinha. Com os pés presos ao chão, fechou os olhos e ao abrir, viu os dentes pontiagudos e sorridentes do que quer que fosse aquilo.
- ... Boa noite. Eu não quero confusão com você, ou vocês. Eles são só crianças, e eu peço desculpas.
Os olhos dourados se voltaram à direção, em que, embora não pudesse ver, sabia estar o filho. O cheiro era de desconhecidos, mas de uma espécie que conhecia e estavam aos arredores, do mesmo lugar aonde sentia a presença do filho e sua sensação de dor. Maldita fosse a criatura que ousasse tocar a própria cria. Ele se projetou logo à presença do filho, que se enrolava em sua forma animal, e tinha pequenos ferimentos em seu corpo miúdo. Abaixou-se esticando o braço o qual o pequeno subiu em espiral, enrolando-se nele. Os olhos em fúria se voltaram a direção dos corredores ali, não sairia tão facilmente, o peso caiu sobre suas pernas, petrificando seu caminhar. Diferente dele, não correu em direção, mas caminhou até ele e o saudou com um sorriso, vendo sua postura desprevenida da forma como foi obrigado a parar.
- Vampiros. Feriram o meu filho.
Yoruichi uniu as sobrancelhas, estava com medo, e ele saberia, na verdade não sabia exatamente que criatura era aquela, então tinha os pensamentos livres para analisá-lo, buscando algo nele que lembrasse deu filho, mas não encontrou, ele não parecia ser uma cobra.
- Sim, são vampiros, eles queriam levar a cobra pra casa, eles caçam, também deve ter ensinado seu filho a fazer isso, não?
- Não sou uma cobra.
O homem retrucou, deixando claro que sabia o que se passava em sua cabeça, podia lê-lo, podia ler qualquer um, mesmo aquelas criaturas, que como a si, eram abandonadas na terra.
- Você está com fome, filho?
Indagou ao pequeno, enrolado ao próprio braço, ao falar com ele por um minuto deixou aquele rapaz em segundo plano, embora a pergunta lhe fosse uma provocação.
Yoruichi arregalou os olhos, ele podia ler o que pensava? Então era realmente bem mais perigoso do que pensava que ele era, o cheiro era dele, era forte perto dele, não era uma criatura comum como um lobo que pode se transformar em homem, ou uma cobra, era um demônio. Nunca havia visto um, se quer oportunidade de cruzar com um na vida, e aquele fora um azar tremendo que os filhos tiveram. Sentiu as pernas estremecerem com a pergunta dele, não por si, era orgulhoso e nunca imploraria nada, se fosse morrer, morreria de cabeça erguida, mas atrás dele podia ver os filhos na varanda e negativou a eles, indicando que entrassem novamente. Já a pequena cobra, no braço dele, roçou a cabecinha e a língua em sua pele, talvez na tentativa de lhe dizer alguma coisa que não entendia exatamente, ele poderia ler a mente dele, mas a si, não conseguia.
- Hum... Você quer brincar com aquelas crianças?
O homem indagou e tocou sua cabeça miúda, afagando sua pele fria, como a de seu pai. Amava aquela coisa como nunca na vida chegaria a sentir amor por qualquer outro ser, então pensar em qualquer pessoa ou ser se atrevendo a feri-lo, era como um convite à morte. Sorriu ao moreno quando então voltou o olhar para ele. 
- As crianças não... Você pode me matar se quiser, mas não machuque os meus filhos.
Yoruichi disse, parado como estava, os pés estavam presos, mas o restante do corpo era livre, ainda assim não se moveu, sabia que era idiotice tentar levantar uma mão para ele. O pequeno filhote de cobra deslizou pelo braço dele e antes de cair no chão se transformou num pequeno corpinho, era ainda menor do que Yuuki e Ikuma, mas não parecia tão criança, era tão adorável que teve que sorrir, ainda que estivesse em frente a ele. Os cabelinhos curtos e negros pegavam quase em seu pescoço e usava uma roupinha desajeitada como um kimono que era muito comprido pra ele em sua manga, passando de seus braços. Ele segurou a mão do pai e pôde ver que sua perninha pequena tinha dois furos que expeliam sangue, onde havia sido mordido, o instinto maternal que tinha quis cuidar dele. 
- Papai, não machuca eles. Eu vim brincar com eles só.
Yoruichi uniu as sobrancelhas, esperava realmente uma criança mais velha do que ele era de fato. Abaixou-se, cauteloso, esperando que ele não achasse que poderia machucar seu filho, ele podia ler a própria mente, saberia que não o faria.
- Oi pequeno. Você é a coisinha mais adorável que eu já vi. Qual é o seu nome?
- Shisô.
- Shisô? Como a erva?
Ele assentiu com a cabaça e sorriu sem mostrar os dentes.
- Meus filhos fizeram dodói em você? Posso ver? Não vou te machucar, prometo. Yoruichi disse e desviou o olhar a seu pai, esperando que desse permissão para si.
Do filho os olhos do homem se voltaram logo ao movimento do vampiro, mas não tinha medo do que podia vir a acometer ao filho, o pararia antes que pensasse em qualquer coisa, mesmo Shisô poderia conte-lo. Podia ler seus pensamentos, também o do pequeno, que dizia mentalmente que gostava do rapaz.
- Gosta, ah? - Retrucou e tocou seus cabelos desalinhados e medianos. 
Yoruichi sorriu, imaginando o que o pequeno dizia e estendeu uma das mãos a ele, não costumava cuidar de muitos machucados, os filhos batiam algo e logo cicatrizava, então queria mesmo ajuda-lo. O pequeno segurou a própria mão e se aproximou, puxando o kimono grande demais para seu corpo e mostrou a perninha ferida. Deslizou os dedos frios pela pele dele, ele era quente, parecia brasa, se assustou suavemente com o toque.
- Vocês... Gostariam de provar os bolinhos de shisô que o meu marido faz? Ele é muito bom, modéstia parte e vocês podem trazer a sua mamãe, se você... Tiver uma.
- Meu parceiro gosta de Shisô.
O homem disse, podia ver o a tentativa dele de lidar com a situação e sorriu, achava graça, adorava o cheiro do medo, mas sabia também que ele realmente tinha encanto pelo filho, mas bem, dificilmente alguém não o teria. Yoruichi s
orriu e se levantou, devagar, ainda que tivesse medo, não agia de forma que o demonstrasse.
- Então venham.
Disse e sentiu o pequeno segurar a própria mão como os filhos faziam, só então sentiu os pés se desprenderem do chão e pôde caminhar novamente em direção a casa, levando o pequeno pela mãozinha. O homem o
 encarou e o provocou por algum tempo, mantendo-o preso ao chão, mas o filho tinha interesse em ir e aquela altura ele sentia muita vontade de conhecer mais crianças, então permitiria.
- Se seus filhos tentarem morde-lo novamente, sabe que vou arrancar as presas deles?
Yoruichi desviou o olhar a ele atrás de si conforme cessou o passo e abriu um pequeno sorriso.
- Vai ser divertido ver você tentar.
O homem o prendeu novamente em seu lugar, desta vez cada mínimo movimento que conteve.
- Não é como se estivesse me ameaçando, é meu filho. Abra a boca.
Ordenou, era o movimento que podia fazer junto a seus gestos interrompidos. Yoruichi s
entiu os movimentos interrompidos e estreitou os olhos, se quer podia falar, mas podia pensar. "Não foi uma ameaça, eu defendo meus filhos da forma como você defende os seus. Eles são ensinados a não morder outras pessoas sem as nossas ordens, mas animais não havíamos ensinado, não sabíamos que haviam criaturas por aqui." Disse, mas involuntariamente a boca estava aberta e as presas a mostra e os olhos o fitavam, estreitos. O homem sorriu a ele, esperto, já estava mentalizando o que precisava dizer, acatou porém.
- Para papai, eu gosto dela...
- Gosta dela é? - Dito, o homem se encaminhou a sua frente. - Dentes bonitos.
O deixou desse modo voltar a se mover. Mentalmente chamou pelo parceiro, convidando a se juntar. 
Yoruichi moveu o maxilar, dolorido por ser aberto contra a própria vontade e desviou o olhar ao pequeno, sorrindo a ele, era realmente adorável, não quis corrigi-lo dizendo ser homem. O silêncio foi interrompido pelo farfalhar das folhas, a floresta parecia falar naquele momento e arqueou uma das sobrancelhas, nunca havia visto algo semelhante, esperou que ele fizesse algo ruim consigo, achou que fosse morrer, mas da floresta saiu uma cobra, bem maior do que o pequeno Shisô, era inteira negra com um brilho esverdeado, era grande, percebeu naquele momento que era uma cobra adulta, deveria ser o parceiro dele. Quase cravou os pés no chão quando ele se aproximou, parecia irritado e num segundo, como o filho dele havia feito, ele havia se transformado em um humano. A pele de seu rosto cintilava nas pequenas escamas que tinha nas laterais e queixo, a língua longa de cobra havia lambido os lábios e o sorriso dele revelou seus longos dentes pontiagudos, imaginava o tanto de veneno que ele tinha naquela forma, poderia matar um humano em segundos, mas provavelmente para si, causaria apenas uma dor excruciante por algum tempo. 
- Foi você que machucou o meu filho?
- Não. Foram os meus filhos. - Yoruichi disse num pequeno sorriso, desprovido de alguma graça. - Foi um acidente.
- Já resolvi, minha cobrinha. Shisô gosta dele e quer brincar com seus filhos.
O rapaz disse ao tocar os cabelos amarrotados dele, talvez estivesse dormindo em alguma árvore. - Seu parceiro deve estar um pouco perdido. - Disse ao moreno ao lhe dar liberdade de movimento novamente. - Há algum tempo está tentando sair de casa, mas o deixei num looping com seus filhos. - Riu, travesso. 
- Hum... Então acho melhor eu entrar primeiro.
Yoruichi disse, imaginando que Yasuhiro deveria estar puto, mas ele deveria confiar em si e saber que não faria besteiras apesar do gênio forte, não iria confrontar um demônio como ele. Não deixou de prestar atenção no modo como ele falava, parecia o loiro consigo, "minha cobrinha", era fofo, como Yasuhiro era. Quis beija-lo, toca-lo, naquele medo repentino de saber que havia uma criatura mais forte do que a si no mundo.
- Eu posso saber os nomes de vocês? 
- Orochimaru. - Disse a cobra.
- Hum... Você é uma criatura mitológica? 
- Não. - Ele sorriu, mostrando os dentes novamente. - É apenas uma coincidência.
- Akuma.
Disse o outro e sorriu ao comentário do parceiro, era por seu nome que lhe havia escolhido a forma, combinava perfeitamente com sua essência. Ao deixa-lo se mover, via o filho seguir o caminho com o vampiro, quase guiava o moreno para a direção de sua casa, ele estava empolgado, interessado nas crianças. Yoruichi a
ssentiu, agora saberia como chama-los. Seguiu para dentro com o pequeno e ao entrar, viu o marido parado na sala, parecia confuso e intrigado ao mesmo tempo.
- Yasu... Esse é Shisô, os meninos morderam ele por engano na floresta. Esse é Akuma e Orochimaru.
Akuma seguiu logo atrás do rapaz, achava a situação estranha, mas continuou de todo modo. Ao entrar, observou o homem de fios dourados, podia ver sua feição indagativa, aquilo era mesmo divertido, teve de rir. Yasuhiro havia sentido as sensações do parceiro, as quais oscilavam, não tinha certeza se havia medo, porque hora sentia e hora deixava de sentir. Tentou ir até ele mas por todas as vezes que cruzou a porta saiu dentro de casa, estava em looping e sabia que algo havia sido provocado lá fora, fossem os filhos, fosse Yoruichi, mas pela situação sabia que não era apenas um outro vampiro, era alguma coisa além disso. Sentiu o peito aliviar quando o viu entrar, mas tinha evidentemente uma expressão indagativa no rosto a medida em que fitou os demais na casa.
- Você está bem? - Indagou, sentindo o cheiro, não eram humanos.
- Estou sim.
Yoruichi disse conforme seguiu até ele e o abraçou, firme, beijando seu pescoço e em seguida seus lábios num selo breve, sentiu falta dele naquele pequeno tempo. Sentiu o coração apertado por pensar que poderia não vê-lo mais. 
Orochimaru fitava os dois a distância, vampiros eram uma raça que não tinha apreço nenhum, já havia cruzado com alguns bem idiotas, mas ao vê-lo abraçar o outro, sentiu um aperto no peito por pensar que Akuma poderia machuca-lo, segurou a mão do parceiro ao lado e uniu as sobrancelhas a fita-lo, não disse nada, mas pensou. "Relaxe, não os machuque. Eles são boas pessoas."
Ao se afastar, Yoruichi abaixou-se e chamou os filhos com uma das mãos, vendo Ikuma vir primeiro e Yuuki, um pouco envergonhado vir depois.
- Meninos, esse é o Shisô. Ele era a cobrinha…
- Não vou machuca-los.
Akuma disse ao moreno que era facilmente afetado pela demonstração de carinho, sempre foi assim no fim das contas, era uma parte dele que achava atraente, sua bondade essencial. Yasuhiro s
entiu o abraço, os beijos, retribuiu suas carícias, percebeu que havia sim sentido medo. Olhou seus olhos dourados que estavam um pouco apagados, não havia se alimentado ainda.
- Está tudo bem. - Sussurrou para ele. Fitou os demais na casa. - São demônios? - Indagou sem recato.
- Eu sou, ele é um amaldiçoado. - Akuma respondeu, igualmente sem recatos. - Meu filho quer brincar com os seus. 
- Mas sem machucar... - Disse Shisô. 
Akuma sorriu ao filho, ah, aquele era o ponto fraco. Yasuhiro olhou a criança, aquele pequeno pedaço de ser, parecia sábio, mas era miúdo demais, suas roupas ficavam desajeitadas nos braços, quis ter mais filhos.
- Olha só o tamanho disso...
Yoruichi sorriu meio de canto conforme o ouviu e assentiu.
- Ele é tão lindinho, não é?
Disse e se lembrou de que ele ainda estava machucado. Foi para a cozinha onde buscou uma pequena mistura de ervas que usava nas queimaduras eventuais dos filhos e abaixou-se ao lado dele, esperando sua pequena perna onde passou a pastinha, pararia de doer logo.
- Yasu, eu prometi seus bolinhos de shisô, parece que eles gostam muito. Por favor, podem se sentar. - Yoruichi disse e indicou a mesa de centro da sala. - Perdoe a minha postura, não recebemos muitas visitas desde que... Bem, não recebemos. - Disse e sorriu meio de canto, mas o demônio saberia que falava do incêndio. - Vocês gostam de chá?
Ao ouvi-lo, Orochimaru caminhou para a mesa onde se sentou, dali podia ver os pequenos que brincavam com alguns itens de madeira na outra sala, pareciam se divertir juntos, e nenhum deles tentou morde-lo novamente.
- Sim, eu adoraria provar o chá, obrigado por nos convidar.
- Farei os bolinhos. Mas isso foi insuportável e legal. Me diga como faz isso, talvez eu possa fazer quando Yoruichi tentar sair do quarto no meio de uma discussão. 
Akuma riu ao ouvir, parecia um homem empolgado e curioso com a situação.
- Não é algo que eu possa ensinar, mesmo Orochimaru não pode fazer, mas eu uso pelas mesmas razões - Akuma falou risonho.
Yoruichi estreitou os olhos ao marido, mas riu em seguida, negativando e na cozinha passou a separar as ervas para o chá e também para o preparo dos bolinhos.
- Desculpe, vocês bebem sangue? Porque ele usa como ingrediente, se não, podemos tirar. 
- Pois é, ele usa, e sim, é insuportável. - Orochimaru riu.
- Sim, não é como se precisasse de sangue mas também tomamos. 
- Ah, estou muito grato, moça.
Disse Shisô, que já havia partido para a brincadeira, mas voltou com sua gratidão, algo herdado do outro, é claro. Yoruichi sorriu para o pequeno conforme o viu voltar e ao ouvir seu pai, tocou o pequeno vidrinho de sangue e em seguida, tocou os lábios do pequeno, lhe dando um pouquinho do sangue para provar e ao se abaixar em frente a ele o viu lamber a boquinha pequena com sua língua bifurcada.
- Eu sou um rapaz, meu amor.
- Ah, rapaz? Você é menino?! Mentira, tem cheiro de menina...
Yasuhiro riu.
- Eu digo, nem eu acredito que é um menino as vezes. - Disse ao se abaixar para aquela criança. - Quero outro filho... 
- Esse é meu. - Disse Akuma.
Yoruichi riu baixinho e acariciou os cabelinhos dele, sentiu vontade de aperta-lo tão forte num abraço até o quebrar, claro, não o faria, era só porque ele era muito fofo.
- Sou um menino sim, acho que nasci errado. - Dito, ergueu-se novamente e sorriu ao marido meio de canto. - Você não desiste, não é?
Orochimaru riu baixinho conforme observou a interação dos dois com o próprio filho, eles pareciam ser ótimos país, sabia que tinha amor entre eles, e era muito bom para si ver criaturas agindo daquela forma, tudo o que diziam sobre si, sobre ele, sobre eles, era mentira naqueles momentos.
- Seus filhos também são adoráveis.
- Até você quer um filho depois dele. - Yasuhiro disse, resmungando. 
- Mas esse é meu.
Akuma tornou dizer, brincando é claro. Podia ler os pensamentos do parceiro, parecia uma pedra de gelo tocando a própria pele, derretia com facilidade. Yoruichi r
iu baixinho e assentiu ao convidado.
- É claro que não vamos roubar seu filho. Até porque, não teríamos como nos esconder sem você nos encontrar. Brincadeira. - Riu novamente e acariciou os cabelos do pequeno. - Vai brincar, vai, logo a comida vai estar pronta e o chá também.
Viu Shisô se curvar, com a mesma postura de Orochimaru, sorriu ao vê-lo e podia deduzir que o parceiro fazia o mesmo. Após sua ida, podia ouvir sua voz junto das crianças, falavam sobre curiosidades, sobre o que ele era, falavam sobre sua língua adorável. Ao se levantar, Akuma curiosamente observou o preparo do loiro e sua receita com Shisô, aquela era uma atividade humana demais, pensava, mas havia aprendido sobre coisas humanas a medida em que ganhou um companheiro e ganhou dele uma família. 
- Vocês cozinham?
Yoruichi disse conforme o viu curioso olhar a receita de Yasuhiro e recebeu um sorriso de seu parceiro.
- Eu era humano antes de ser amaldiçoado, o ensinei a gostar de comida humana.
- Não é um hábito, geralmente comemos em lugares fora de casa, mas Orochimaru gosta de fazer algumas coisas. 
- E como terminou amaldiçoado?
- Uh... - Akuma murmurou, risonho. - Cativou um demônio.
Yoruichi sorriu meio de canto, ele não era mais um humano, então não tinha porque se sentir amedrontado por ele estar ali na própria casa.
- Você o amaldiçoou?
- Sim, ou ele morreria. E assim ganhei essa cicatriz.
Yoruichi riu.
- E você teve coragem de cortar um demônio no rosto? Espera, você não pode curar essa cicatriz?
- Hum, mexeu com o humano errado. - Disse Orochimaru.
- Eu posso esconder, mas eu gosto dela. - Akuma sorriu mostrando os dentes. 
Yoruichi riu ao ouvir Orochimaru.
- Nunca conheci um humano tão corajoso. É fácil você queimar a casa de um vampiro desprevenido, mas cortar um demônio no rosto quando ele claramente pode arrebentar você com um estalar de dedos é novidade.
- Eu sou justo, coloquei uma marca nele então o deixo colocar a dele em mim. - Akuma sorriu canteiro novamente.
- Inusitado é imaginar que um demônio é justo ou que se apaixona. - Disse Yasuhiro.
- É o que se pensa dos vampiros também... - Respondeu Akuma.
Yoruichi sorriu meio de canto.
- Conheço muito pouco sobre demônios pra poder dizer alguma coisa, quando criança minha mãe cantava uma canção pra mim onde dizia que eram as únicas criaturas que eram mais fortes do que um vampiro de mil anos. Acho que já deve ter ouvido essa canção, sobre o demônio da caverna que controlava o tempo. Talvez ela fosse até sobre você. - Riu. - Não existem muitos demônios até onde eu sei. Muitas criaturas, mas demônios não. 
- Eu pensava a mesma coisa sobre ele quando o conheci, pensei que ele só quisesse a minha alma. - Disse Orochimaru.
- Na terra é difícil de encontrar algum. Sei qual é a canção a que se refere, é uma boa canção. Sobre sua alma, era o que eu pretendia no início, você sabe. 
- No fim foi ele quem pegou a sua. - Disse Yoruichi.
- É quase isso. - Respondeu Orochimaru.
Yoruichi desviou o olhar ao marido e sorriu meio de canto.
- Hum, isso é até meio romântico. 
Orochimaru sorriu meio de canto, não gostava muito de assuntos como aquele, sempre fora uma pessoa avulsa dos sentimentos dos outros, já que havia perdido a mãe muito cedo, e fora a única pessoa que amou a si de fato, claro, além dele.
- Sou bem romântico sim, não sou, pequeno Orochi?
Akuma sorriu mas riu entre os dentes. Roubou uma das folhas de shisô e levou até ele. Orochimaru a
ceitou a folha e sorriu a ele, mordendo um pedaço.
- É estranho uma cobra gostar de shisô. Você não é carnívoro?
- Bem, ele costumava ser 
- Hum, foi só curiosidade.
Orochimaru riu baixo.
- Minha comida favorita são ovos de pássaros.
Akuma riu, achando graça da resposta dele, mais por saber que soaria estranho para os outros ali.
- E a minha são as vidas, sabe como é. Embora eu prefira lidar com as emoções, na verdade fico em dúvida.
Yoruichi arregalou os olhos ao ouvir o outro, mas entendeu logo que ele dizia isso porque era uma cobra.
- Ah... Minha comida favorita é moti de matcha.
Disse dando de ombros e riu consigo mesmo ao pensar que Yasuhiro poderia responder que a comida favorita dele era a si.
- Hum, eu nunca parei pra pensar sobre isso. - Disse Yasuhiro.
Akuma se voltou ao moreno e sorriu para ele, mostrando os dentes, a resposta não era a esperada por ele. Yoruichi desviou o olhar ao demônio da sala, arqueou uma das sobrancelhas conforme o viu sorrir e deu um sorrisinho de canto. Akuma aceitou o bolinho, provando-o sem problemas com a temperatura fervorosa pós fritura, na verdade gostava mais de todo aquele calor, havia até passado a colecionar condimentos ardidos, em especial as pimentas.
- Hum, é realmente bom, vai precisar ensinar meu pequeno Orochi, certamente.
Dito, levou o bolinho em frente a boca do parceiro, que já farejava o cheiro.
Orochimaru aceitou o bolinho dado a si e sorriu, lambendo os lábios com a pequena língua estreita.
- Isso é tão gostoso! Você pode me ensinar a receita?
- Hum... Vai me dar o que em troca? - Disse Yasuhiro.
- Eu preciso te dar algo em troca da receita?
- Sim, foi assim que consegui. Mas dei sangue, não meu corpo, claro.
- Acho bom. Estou ouvindo aqui do lado. - Disse Yoruichi.
Orochimaru sorriu meio de canto.
- O que você quer?
- Que tal você dar a receita e eu não te deixar em looping? - Disse Akuma.
- Assim não tem graça.
Orochimaru riu e negativou.
- Hum, eu troco a receita por um cervo, o que acha?
- O que você quer, amorzinho? Cervo ou Javali?
Yasuhiro disse, tinha que aceitar um animal afinal, não estava lidando com um vampiro ou um humano, não queria ficar em looping, resmungou, para si mesmo.
- Cervo. - Yoruichi disse num pequeno sorriso. - A carne é mais macia. 
- Hum, um cervo então. Tratei dois, para as crianças.
- Então darei a receita, pro seu parceiro, pra ele fazer pra você.
- Pro Akuma? Mas ele não cozinha.
- Ele é um demônio, certamente pode fazer isso. 
- Se pedir com jeitinho eu faço uns bolinhos pra você, cobrinha.
- Hum, certo. Vou querer ver isso.
Yoruichi sorriu meio de canto, o marido parecia incomodado, então também estava. Seguiu para a sala onde viu os pequenos brincando e colocou o bowl com os bolinhos no chão.
- Meninos. Esta quente, cuidado. Yuuki, espere um pouquinho mais, tá bem?
Disse, sabendo que ele tinha problemas com fogo, então assoprou o bolinho dele até esfriar, entregando em sua mão, colocou uma mecha de seus cabelos compridos atrás de sua orelha, gostava de ver os olhos amarelos dele, embora ele fosse muito tímido para usar o cabelo preso.
- Vou trazer o chá.
- Obrigado, mamãe.
Disse Ikuma que seguiu o agradecimento por Yuuki, silencioso com um suave maneio da cabeça. O novo amigo dos dois apenas se curvou, cortês como bem aprendia com a mãe. Akuma p
rovou mais dos bolinhos, acompanhado do chá, trocavam poucas palavras, curiosidades vindas do homem loiro, era bem disposto. Yoruichi sorriu a Ikuma e também ao pequeno, voltou para a cozinha com a bandeja com o chá e serviu os três. Nas xícaras tinha uma pequena folha de shisô.
- Esta gostoso o bolinho?
- Ele é uma boa mãe, não é? - Orochimaru disse conforme observava o outro com as crianças, desejou ser como ele por alguns segundos. - Parece ser uma pessoa incrível de se ter como mãe.
- Ele é, de forma inesperada talvez, não sei se ele pensava sobre ser mãe antes disso. - Disse Yasuhiro.
- Hum, você também é uma boa mãe, cobrinha. - Disse Akuma.
Orochimaru sorriu meio de canto ao ouvir o parceiro e tocou a mão dele, acariciando-a.
- Vocês terão mais filhotes? Digo, filhos.
- Eu faria um filho por ano se pudesse. Mas como não sou eu quem fico gestante...
Orochimaru riu ao ouvi-lo e negativou.
- Vocês estão falando de filhos de novo, não é? Yasu, já disse que temos que esperar os meninos crescerem.
- Eu posso sonhar. - Yasuhiro resmungou. - E vocês, querem ter mais filhos?
Akuma sorriu meio de canto.
- Não é como se eu previsse que o Shisô viria. Um dia quando eu acordei tinha um ovo na minha cama. - 
Orochimaru disse, como se fosse normal.
- ... Eh...?
- Ovo? - Yoruichi disse, abismado e nada sutil.
- É. Eu sou uma cobra, eu boto ovos. - Orochimaru disse num pequeno sorriso.
- ... E como você botou esse ovo? Não, espera... Não me responda.
- Cara... Isso deve ser horrível e bom ao mesmo tempo, fica menos tempo responsável pela barriga, mas em compensação...
- Eu não senti ele, então... Akuma deve ter feito isso de propósito. - Orochimaru disse conforme desviou o olhar a ele e estreitou os olhos.
- Eu gosto de esperar os meninos. Gosto de saber que eles estão dentro de mim. - Yoruichi disse num pequeno sorriso. - Mas o parto é uma verdadeira merda.
- O que? Fazer um filhote? Não previ também, acho que seu corpo estava querendo isso.
Akuma disse e deu de ombros, mas claro que havia facilitado aquilo.
- Hum, talvez o Akuma possa te ajudar no parto da próxima vez, amorzinho. - Yasuhiro riu.
- Hum, Akuma, quanto você cobra a hora? - Yoruichi riu. - Só pra me derrubar. - Negativou em seguida. - Pense em alguém cortando sua barriga sem anestesia. Só o álcool não adianta. 
Orochimaru encolheu-se sutilmente.
- Isso parece horrível.
- Não cobro.
Akuma disse e sorriu, transmitindo uma breve onda de leveza ao rapaz, o que se iniciava por um calor interno e relaxava cada parte de seu corpo. Yoruichi s
entiu o arrepio percorrer o corpo, era tão gostoso e relaxante que teve que suspirar, quase caiu no chão.
- Ah... Isso é bom...
- O que? Isso o que? Faz em mim também.
Yasuhiro disse ao olhar o moreno, o demônio a frente. Akuma r
iu, entre os dentes. Yoruichi riu e desviou o olhar a Akuma.
- Deixa ele sentir também, se bem que aí ele vai querer isso toda hora e eu não posso dar.
Akuma desviou a sensação do moreno ao loiro, dando a ele aquele calor intenso por dentro, passando por cada entranha até a cabeça aonde a tontura suave se dava diante do relaxamento intenso do corpo, era como doses intensas de álcool.
- ... Opa. Eu gosto disso e não gosto disso.
Yoruichi riu e acariciou os cabelos do loiro, tocando-o na nuca.
- Hum, me dá uns pensamentos estranhos a seu respeito sentir isso. - Disse e desviou o olhar a Akuma. - ... Desculpe, eu esqueço que você lê minha mente.
- Pode pensar, eu gosto de assistir. - Akuma provocou, risonho, mas parou ao notar o olhar do parceiro. - Parei, amorzinho.
Orochimaru desviou o olhar a ele, arqueando uma das sobrancelhas.
- Só aceito isso se eu puder assistir também. Yoruichi r
iu e negativou.
- Bem, no fim somos sempre pervertidos mesmo.
- Hum, deixo vocês terem uma boa noite hoje. - Disse Akuma.
- Como assim? Vai mandar umas sensações dessas pra gente? Eu vou cobrar.
Yoruichi riu e negativou.
- Agora quando eu estiver transando vou ficar achando que o Akuma está observando a gente.
- Nunca se sabe.
Akuma provocou, dando o benefício da dúvida, embora não tivesse essa intenção. Yoruichi u
niu as sobrancelhas.
- Agora não vou conseguir fazer isso em paz. 
Orochimaru riu.
- Não se preocupe, eu não deixaria.
- Claro, ele provavelmente vai se ocupar me fazendo cuidar dele ao invés de vocês. 
- Não tenho nada contra se for um bom cuidado. Pode mandar essa brisa.
Yoruichi negativou e riu, acariciando os cabelos loiros do marido.
- Pode trazer o Shisô mais vezes, acho que eles gostaram de brincar juntos.
Disse num pequeno sorriso e viu Orochimaru sorrir, numa pequena reverência.
- Hum, Shisô tem sentido curiosidades sobre as outras crianças, querendo companhia, será bom deixá-lo brincar.
- Sim, meus meninos não vão machuca-lo, como eu disse, eles são ensinados a não machucar outras pessoas, ou criaturas. Sinto muito pelo ocorrido.
- Tudo bem. Shisô também sabe se defender, talvez tenha ficado surpreso.
Yoruichi assentiu e desviou o olhar aos pequenos que tomavam o chá juntos, eram adoráveis.

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