Masashi e Katsuragi #36


Após sair de casa, já era início de noite, talvez fim de tarde, era suficiente para Masashi ser capaz de sair. No vilarejo, podia ver que a feira estava sendo montada, algumas outras bancas já estavam feitas. A iluminação era tão agradável, pensava ao ver os balões iluminando as quitandas. O cheiro era de flores e comida frita. Adorava aquela localização, porque pareciam sempre festejar, pareciam sempre em comemoração, uma vez que era um ponto turístico.
- Yo, Masashi-chan!
Sua pronuncia era dócil e rouca, fazia jus a sua aparência, era como uma avó muito vaidosa, imaginava que se Katsuragi fosse capaz de envelhecer, provavelmente daquele modo seria. Trocou com ela algumas moedas, já se conheciam das diversas vezes em que passava para comprar as flores. Falavam sempre elas ou dos quimonos que usavam no dia. Sabia que tinha 65 anos, que tinha uma companheira de "chá" ao chegar em casa, e que já tomavam juntas há pelo menos 30 anos. Já ela, aguardava ansiosamente para descobrir que tipo seria o próprio filho. Após retomar viagem, cada vez mais a vila se tornava distante e se perdia entre as árvores até que chegasse lá. Aquele lugar tinha cheiro de água fresca e grama molhada, se localizava ao lado de um lago delicado, onde sempre haveriam folhas descansando. Ao lado da árvore generosa, as flores do dia anterior ainda estavam vivas sob sua sombra. Formava-se uma grande roda de flores plantadas, já estavam maiores e bonitas, circulando a árvore, onde se encaminhou e parou antes que pisasse entre as flores.- Cheguei mais cedo hoje, hm? - Disse e somente após uma tênue curva, um breve cumprimento e então, gentilmente passou pelas flores e alcançou a árvore, onde no final de seu tronco, lascado escrevia seu nome, indicando além das flores, que alguém, eternamente descansaria sob a sombra e o cheiro da água florida. Ao se sentar com cortesia, embora o quimono sedoso de cor preta se espalhasse com certa graça pelas flores que davam a ele a beleza para descansar, parecia poética a vista que alguém que o visse, poderia ter, o destaque de cada pétala sobre o tecido sóbrio espalhado, se unindo aos cabelos que percorriam as costas arqueadas, pareceria, se não fosse a amargura do peito. Aquele dia, não importando a beleza local, a beleza de qualquer coisa que passasse por ali, era um dia triste. Debruçou a testa junto ao tronco, encostou-se a seu nome marcado, e sabia que aquela altura da vida, tinha dinheiro para lhe dar uma lápide decente, mas no fundo não faria diferença, ele não saberia, ele não iria ver, preferia acreditar que aquela altura, Masami havia crescido como aquela árvore gloriosa. E os dedos tocavam com leveza cada áspero pedaço de madeira, acariciando-a.
- Feliz aniversário.
Falou, como num sussurro entre ambos. Tentou lhe dar um sorriso, mas a única coisa que tinha na cabeça era uma breve lembrança.
- Oni... Eu.. não quero ir embora. Eu queria ficar aqui com você. Mas... eu acho que cada vez mais, eu estou menos aqui. Nii... Você vai ficar bem sozinho? Não vai se esquecer de mim, nee? Honto ni? Zutto... Yakusoku.
- Yakusoku...
Masashi lembrava-se com clareza de seu timbre, da forma como parecia dolorida cada palavra, mas não apenas por sua dor física, mas por sua dor emocional, ousando achar que em algum momento ele não estaria presente nas próprias lembranças, como se sua pequena e tão significativa existência, fosse ser esquecida. Descobriu naquele momento que um vampiro poderia sentir o estômago doer. Lembrou-se do fato de que já havia morrido é diferente dele, não estava ali, sentia-se como um traidor. Uma das mãos levou ao peito, sentia-o dolorido, talvez fosse a garganta, não sabia exatamente. Ao tocar o rosto, os dedos tingiam-se de vermelho, reflexo do que agora eram as lágrimas no corpo mórbido que tinha.
- Masami, você vai ser titio.
Murmurou enquanto deslizava o dorso da mão no rosto, tentando não terminar todo manchado.
- Nós decidimos que o nome dele será Masami. Talvez, você possa voltar a vida desse modo. Eu sei que nunca trouxe aquela pessoa especial aqui, mas, eu prometo que o trarei em breve.
Com gentileza, novamente acariciou o tronco, delineando seu nome cravado. Levou um tempo em silêncio e somente então deixou mais uma porção de flores, comprara lírios naquele dia. Tocou-lhe uma música e então adormeceu com ele, recostado no tronco do bordô-japonês.
Katsuragi suspirou, e os passos levaram a si até a porta de casa, havia acordado há pouco tempo, a noite estava fresca, afinal, era primavera, deveria realmente estar fresco. Lá fora, podia ver a lua cheia, que brilhava no algo do céu. Não sentia o cheiro dele, estranhamente, naquela noite ele não estava em casa, talvez estivesse no bordel, mas não tinha essa certeza, desceria até lá em breve para procurá-lo, por hora, faria para si um chá, para si e para o filho, que agora chutava na barriga, tornando dolorido ficar em pé.
- ... Ah Masami, sossegue.
Disse, e falava com ele, como sempre fazia, o que geralmente fazia com que ele se acalmasse, mas não naquele dia, achou que talvez, ele pudesse sentir algo errado, quanto a si, tentava, mas não conseguia sentir nada, apenas um sutil incômodo, distante, que não sabia exatamente o que seria, mas era ele, era uma certa tristeza, um aperto no peito, e compartilhava aquilo com ele agora, sabia o que ele sentia, e também sentiria.
- ... Masashi...
Disse a observar a lua, como se pudesse adivinhar onde ele estava só de olhar pra ela, sabia que ele sofria, mas não fazia ideia do porquê. Desviou o olhar para dentro da casa, fitando o garoto na cozinha, o gatinho sorridente, que agora estava pouco mais velho, esquentava a água para o próprio chá mesmo antes que dissesse a ele.
- Kaito... 
- Sim senhor, o que foi?
- Sabe onde está Masashi?
- Ah, não senhor... Ele me disse que iria sair, mas não disse onde iria
Katsuragi uniu as sobrancelhas e novamente desviou o olhar para fora.
- Veja se ele está no bordel, por favor.
- Senhor, sabe que não pode ficar sozinho...
- Eu sei, mas preciso que faça isso pra mim, estou sentindo algo ruim nele, preciso vê-lo.
- Eh?! Tem alguém machucando ele?
- Não alguém... Ele parece estar se sentindo triste.
Conforme disse, 
Katsuragi novamente havia sentido um chute do bebê, o que causou um suspiro em si.
- Eu sei, Masami... Eu sei...
Disse ao pequeno, tocando a barriga sobre o quimono leve de seda, e conforme caminhou para fora para ver as luzes da cidade, sentiu a fisgada dolorida no ventre, o que fez a si unir as sobrancelhas e cerrar os punhos.
- ...
- Eu vou descer para procurá-lo então. Senhor...?
Katsuragi uniu as sobrancelhas e cerrou os dentes, mesmo que fosse forte e que já houvesse sentido dores bem piores do que aquela, parecia estranha, havia em si um sentimento ruim, e pelo visto, também incomodava o filho.
- ... K-Kaito...
- Senhor, está tudo bem?
- ... Chame o médico...
- Mas, e o Masashi?
- Ele virá...
Quando acordou um tempo mais tarde, Masashi havia repousado junto ao tronco da árvore, com o instrumento de corda no colo. Mas o que acordava a si, não era a carícia leve da brisa fria, era a junção de um sentimento ruim junto ao própria já menos intenso, dormir era sempre um analgésico em casos mais fortes. Levantou-se rapidamente, atento ao portador do desconforto. Acariciou o tronco da árvore com a gentileza de um irmão a colocar o outro para dormir.
- Oyasumi, Masami.
Sussurrou-lhe como um segredo e se apressou, tanto que esqueceu de levar o instrumento que portava antes, partiu, retomando pequena viagem, agora menos desapressado, em busca do companheiro. 
Um suspiro deixou os lábios, Katsuragi agora estava sozinho, e já havia se acomodado na cama, junto a si haviam toalhas e até mesmo as roupas do filho, nunca havia tido um filho antes, mas sabia que ele estava vindo, sabia pela dor, pelo sentimento incômodo, e droga, como doía, doía tanto que fora obrigado a cravar as presas na mão, tentando concentrar a dor em outro lugar.
- Masashi!
Chamou, para si mesmo já que ele não estava ali e negativou, sentindo a pele aquecer e inclinou o pescoço para trás, o médico tinha que chegar logo, ele... Tinha que chegar.
- ... Calma Masami, por favor...
No meio do caminho porém, Masashi encontrou o pequeno serviçal do companheiro, parecia aflito e muito atento.
- Masashi-kun! 
Disse ele, mas somente o olhou e passou como se não percebesse exatamente. Ao chegar na casa, a porta estalou ao correr no batente. Por seu cheiro, seguiu até o quarto e ao ver as roupas e toalhas, sabia que ele estava se preparando. 
- Koibito... - Disse, quase afável, embora alerta.
Katsuragi desviou o olhar em direção a porta e agradeceu por ele estar ali, o coração estava apertado, não batia, mas naquele momento ele bateu numa martelada no peito.
- Masashi... Graças a Deus...
Murmurou e gemeu, dolorido, os fios de cabelo estavam sobre o rosto, desajeitados e o quimono pouco aberto a expor os ombros, sentia tanta dor que não conseguia se ajeitar na cama. Masashi j
ogou-se para seu futon, se sentou na beirada e ajeitou seus cabelos após tocar seu rosto.
- Ele quer vir hoje, hm? Vai ser prematuro...
Katsuragi desviou o olhar a ele e suspirou mais uma vez, dolorido, só então segurou a mão dele sobre o próprio rosto, firme.
- Por que... Por que você estava triste?
- Eh? Eu não estou triste, só estava passeando. - Masashi disse, não queria falar sobre aquilo enquanto ele sentia dor. - Eu vou fazer seu parto!
Katsuragi mordeu o lábio inferior e inclinou o pescoço para trás, dolorido e apertou a mão dele, firme, era uma contração, e doía ainda mais por saber que não adiantavam, não conseguiria ter um parto natural como uma mulher.
- ... Não... O doutor... O doutor já vai chegar...
Disse a apertar novamente a mão dele, porém, viu o garoto correr para dentro do quarto. 
- Senhor, eu já fui a toda parte! Não encontro o médico! 
- ... - Katsuragi uniu as sobrancelhas, desviando o olhar ao outro e podia sentir as lágrimas nos olhos. - Vai... Vai doer muito?
- Por que quer outra pessoa?
Masashi indagou e franziu levemente o cenho, incomodado por ser sua última escolha. 
- ... Quero que segure minha mão... Ou eu vou morrer de medo.
Katsuragi disse e talvez para ele, ver a si daquela forma fosse um tanto estranho, mas a verdade é que, já havia sonhado com aquele dia, e nem em sonhos a dor fora tão intensa quanto realmente era, e tinha tanto medo que as mãos tremiam, embora nunca houvesse dito nada a ele.
- Eu vou estar tocando você. Sabe que nada vai acontecer a vocês dois. Será rápido, te darei o sangue depois que ele vir. - Dito, Masashi debruçou-se para beijar sua testa. - Kaito, traga um pedaço fresco de carne crua, consiga algum animal recém abatido e com bastante fluxo sanguíneo.
- Sim senhor!
Disse o pequeno a correr para baixo, quanto a 
Katsuragi, o observava e assentiu a suas explicações, ainda assim, sentia arrepios só de pensar na sensação.
-... Tudo bem...
- Será muito rápido, ele já quer vir.
Masashi disse e sorriu a ele, embora esboçasse evidente preocupação, não por ter receio de fazer, mas por saber a sensação de aflição que vinha dele. Ao se esticar, pegou uma pequena manta, seria do filho, entregou a ele.
- Aqui, segure, ele estará aqui essa noite.
Disse, tentando fazê-lo se voltar mais a ideia de tê-lo do que por seu medo. Só então se levantou, buscou alguns paramentos que usava nos estudos. Estava ansioso mas no fim, só pensava no presente que estava ganhando. 
Katsuragi assentiu conforme o ouviu, podia sentir as lágrimas nos olhos, mas não queria chorar, queria ser forte, como ele estava sendo para si naquela hora. Era estranho pensar que ele estava acalmando a si, deveria ser o contrário, mas se comportava como um adolescente tendo o primeiro filho, amedrontado, como se não tivesse passado coisas bem piores na vida, até dores piores do que aquela, talvez. Naquele momento, se agarrou a manta, observando-a e só assim fora capaz de se acalmar um pouco, podendo vê-la, pensando que estaria com o filho, menina ou menino não importava, seria dele.
-... Masashi. - Murmurou, não tão amedrontado quanto antes estava. - Ele se incomodou com você... Por isso... Por isso ele quis vir.
Ao voltar para ele, Masashi gentilmente tocou seu quimono, expôs seu corpo bonito e sua barriga volumosa, podia ver com sutileza os movimentos do filho junto a sua barriga.
- Porque eu estava longe de vocês. - Masashi sorriu, não lhe diria sobre algo triste naquele momento, queria que ele estivesse calmo, e agora parecia mais estável. - Isso, fique calmo, nosso bebê dormirá conosco hoje. - Sorriu, agora sim, era um sorriso feliz. Após preparar tudo o que precisava, entre suas pernas e seu corpo nu, acariciou seu ventre. - Calma, não judie da mamãe... Você está pronto?
Ao vê-lo desatar o quimono, por um momento, Katsuragi se sentiu envergonhado, e fora a primeira vez na vida que havia se sentido daquela forma, com vontade de esconder o corpo dos olhos dele, realmente como se fosse um adolescente, sentia com eles sensações que nunca havia sentido antes, e aquilo era estranho e agradável ao mesmo tempo, ainda que a idade humana e vampírica fosse avançada, ele fazia com que se sentisse como um menino. O observou e sorriu, sentindo as lágrimas nos olhos novamente e dessa vez não era o medo, talvez uma emoção diferente, felicidade. Observou os movimentos do filho assim como ele e assentiu, mordendo o lábio inferior. 
- ... Tudo bem...
- Segure firme. 
Masashi disse e lhe deu apenas uma dose de chá para dor, embora soubesse que o efeito não lhe fosse tão intenso, ao menos um placebo poderia ajudar sua mente a descansar. Feito isso, tão logo iniciou o procedimento, tocou sua pele e pressionou a pele, na região do ventre, causou uma fenda e tentou ser rápido. Era engraçado como numa situação onde ele dependia de si, olhava para sua ferida como uma questão a resolver, não olhava como um corte, como camadas mais profundas de pele cortadas, era apenas um procedimento. 
- Calma, estou aqui.
Katsuragi aceitou o chá, e de alguma forma, sabia que não iria adiantar daquela forma, só um chá não seria suficiente, mas bebeu tudo quase numa golada só. Era estranho porque, a dor não havia sumido ou algo parecido mas estava tonto, ainda tonto, podia sentir o bisturi cortar a si, profundamente e a dor que já era forte antes agora se tornara ainda mais intensa. O grito deixou a garganta, dolorido enquanto agarrava-se ao lençol e fechou os olhos, firme a inclinar o pescoço para trás, e agora sim as lágrimas escorriam pelo rosto, assim como o sangue escorria das feridas feitas por ele, e não sabia mais se estava tonto pelo remédio ou pela dor que sentia.
- Não... Masashi... Para... Para por favor...
Disse e havia ouvido o que ele dizia, mas ainda assim, diria que parasse, doía muito.
- Se concentre no bebê, ele está vindo. Fale com ele.
Masashi disse, e se sentia ansioso, novamente, não pelo procedimento mas por suas sensações. O corte foi rápido e espaçoso o suficiente, após todas as camadas suficiente para encontrar o bebê, as contrações eram suficientes para que o pequeno viesse a tona, o ajudou, esperou por ele, assim, no movimento uterino em espasmos, tão logo o tomou nas mais e sem que houvesse qualquer gemido de voz, ele porém, abriu a boquinha, como se bocejasse, e tão logo o riso saiu como um sopro de alívio.
- Estou aqui, mamãe... - Grunhiu como se fosse ele e acariciou seu rostinho mesmo sujo de sangue. - Kaito!
Disse, pedindo pelo sangue e pela carne que ordenara antes. Entregou a ele o bebê, ainda que quisesse vê-lo, ainda que estivesse um pouco trêmulo no gesto, o ajudou a estancar o sangue, suficiente no tempo para tomar o sangue das mãos do garoto e deu a ele, como se alimentasse uma criança aprendendo a usar um copo. Katsuragi n
egativou, e a inclinar o pescoço para trás, se sentia dolorido demais para pensar em alguma coisa se não na dor que sentia. Podia até mesmo sentir as gotas de suor pelo rosto, algo que era totalmente improvável num vampiro, somente em atividades que envolvessem a si de uma forma tão intensa. Sentia tudo, podia senti-lo puxando algo para fora de si, sentia seus movimentos, seus cortes e houve uma hora em que mesmo a dor intensa se anestesiou, quase fechava os olhos quando o ouviu falar consigo, o que fez com que piscasse algumas vezes, buscando estar acordado e ouviu os passos rápidos do garoto que adentrou o quarto. Recebeu o filho nos braços, ao mesmo tempo em que sentiu o gosto de sangue invadir a boca, ele estava dando o sangue para si e teve que fechar os olhos contra a própria vontade quando tragou a bebida, longos goles que trouxeram a clareza as vistas e também a cor aos olhos. Aos poucos, sentia a dor diminuir como um poderoso remédio, e a pele, tudo que havia sido cortado, voltava ao lugar conforme bebia. Aquele copo não havia sido o suficiente, ainda assim, fora para ver o filho, podia vê-lo, seu rosto, seu pequeno corpo e novamente chorava num sorriso frouxo, era um menino.
Masashi observou sua consciência vir aos poucos, seus olhos pálidos logo brilhavam outra vez, embora agora estivessem turvos pelas lágrimas. Ganhou do garoto, novamente mais sangue, e a carne que instruiu a pegar, levou em frente a sua boca.
- Morda.
Era aquilo o mais próximo que lhe daria do sangue fresco, sem que trouxesse um humano. Queria apreciar cada momento do nascimento do filho, mas naquele momento precisava cuidar dele. Katsuragi a
ceitou o sangue, novamente empurrado para a própria boca e queria ver o filho, mas entendeu o que ele fazia, precisava estar bem acordado para poder vê-lo, e bebeu sem reclamar, inclusive a carne, também mordeu sem reclamar e por fim, afastou-a quando se sentiu apto a levantar a mão, agradecendo a ele, somente com o olhar e logo voltou-se ao pequeno corpo entre os braços que se mexia suavemente, até emitir um choro fraco, que se tornou mais forte aos poucos.
- ... Sh... Mamãe está aqui... Mamãe está aqui, Masami.
Quando enfim tudo o que precisava fazer já havia terminado, Masashi acomodou-se a seu lado e bem de perto, junto dele, assistiu ao pequenino. Aquela altura, conseguia sentir o coração palpitar como quando era vivo. Na porta, podia ver Kaito sorrir feito um bobo e lacrimejar como se ele fosse da familia. Katsuragi sorriu, voltando-se ao outro lado a si e mostrou a ele o bebê, e podia ver o rostinho dele, mesmo que seus olhinhos fechados estivessem pressionados enquanto chorava e devagar, entregou ele nos braços do outro, notando que só então o choro havia amenizado. Novamente sorria e desviou o olhar ao garotinho na porta. 
- Venha...
Masashi pegou o pequenino nos braços, estava tão recolhido, era tão pequeno, havia nascido com sete meses e meio e mesmo que o acariciasse, acariciava também o moreno, em seu leito, como podia.
- Tinha pressa, meu amor?
Katsuragi desviou o olhar a ele e viu o garotinho caminhar em direção a cama, olhava a ambos e o bebê ainda da beirada da cama, silencioso, e desviou o olhar ao outro, vendo-o observar o rostinho do filho, e ele era lindo, mesmo tão pequeno.
- ... Ele corre algum risco?
- Não... Ele é um vampiro. - Masashi disse, quase soprado e mostrou ao garoto o próprio filho. - Vem, pode ver.
Katsuragi viu o pequeno se erguer na beirinha da cama para fitar a criança e deu um sorrisinho para ambos, com os olhinhos grandes e castanhos.
- Eu vou contar pra todo mundo na casa! - Disse e correu para fora, havia entendido que ele iria ao bordel e quase chegou a rir. - ... Temos que dar um banho nele.
- Eu posso limpar ele, se você estiver indisposto ou se quiser fazer isso...
Katsuragi desviou o olhar a ele e sorriu.
- Quero ajudar... Estou cansado, mas... Quero ver você com ele...
- Você precisa se alimentar.
Masashi disse e embora estivessem conversado, o pequenino tinha a pele de sangue, agora seco, assim como as próprias mãos. Ele já estava cicatrizado, mas o restante ainda tinha sangue. 
Katsuragi assentiu.
- Eu sei... Eu vou me limpar e beber alguma coisa. - Sorriu. - Bem, então... Pode dar banho nele.
- Não, vamos juntos..
Katsuragi sorriu e assentiu, deslizando uma das mãos pela face dele e embora não sentisse mais aquela dor intensa, se sentia exausto, precisaria de bastante sangue ainda para se recuperar daquilo, e também, psicologicamente precisaria de descanso.
- Você... Traria a banheira aqui?
- Hum. Vou levar você até ela.
Masashi disse e após se levantar, abaixou-se para pegá-lo, tanto ele quanto o filho nos seus braços. Estava ainda parcialmente nu pela forma como as roupas haviam sido ajeitadas para seu parto. O levou consigo até a sala privativa de banho, no ofuro. Sabia que era um pouco fundo para um bebê, mas sabia também que ele não soltaria a criança, mesmo durante o banho. 
Katsuragi segurou-se nele, com cuidado já que segurava o bebê entre os braços e por fim sorriu conforme se sentou na beira da banheira.
- Vai dar banho em nós dois, papai?
Na banheira suavemente aquecida, Masashi deixou a água para banha-los e ia mesmo fazer isso. Buscou o sabão que higienizou o moreno, ajeitado a seu lado na banheira, limpando do sangue, quanto ao filho, apenas o assistia tirando o sangue sem qualquer produto em sua pele tão sedosa, talvez seus cuidados ainda seriam como o de uma criança humana, por mais que não precisasse.
Katsuragi observou o pequeno corpinho em meio aos braços, era tão miudinho, realmente havia nascido cedo demais e se fosse uma criança humana, não sabia se sobreviveria. Deslizou a mão pelo rosto dele, limpando os resquícios de sangue e logo desviou o olhar ao outro.
- Ele é lindo...
- É... - Masashi sorriu e beijou o outro, no tipo de sua cabeça. - Por sinal, parabéns, você foi muito corajoso, mamãe.
Katsuragi assentiu e sorriu a ele.
- ... Foi horrível. Foi a pior dor que eu já senti na vida e eu já sofri bastante...
- Mas valeu a pena, hum?
Masashi disse e pegou o sabonete, levou seus cabelos também. 
Katsuragi assentiu, deixando-o lavar os próprios cabelos e observava o pequeno entre os braços, sempre quis ter um filho, e vê-lo, saber que havia feito junto dele, era maravilhoso.
- ...Por que você estava triste?
- Eu não estava triste.
Katsuragi disse, massageando seu couro cabeludo enquanto olhava por cima de seu ombro, assistindo o pequenino.
- Não minta pra mim, Masashi, eu posso sentir você... E ele também.
- O dia só estava triste hoje, até ele vir. Talvez tenha vindo por isso. - Masashi disse e beijou a cabeça do moreno, passando a mão por cima de seu ombro, tocou o pequenino.
- Não demore a abrir os olhinhos, quero vê-los.
Katsuragi ouviu dizer, mas não respondeu, sabia que estava mentindo. Não se sentiria tão triste apenas por ser um dia ruim sem motivos, mas preferiu não discutir e deslizou uma das mãos pelo rosto do filho igualmente. Masashi o observou de soslaio, entrava no dilema entre respondê-lo ou não, não queria que se chateasse por tal, ao mesmo tempo em que não queria que ele ficasse triste também.
- Ele vai demorar a abrir os olhinhos, hum? É preguiçoso.
- Bem, parece bem tranquilo, enquanto não estiver com fome. Ao menos não vai nos acordar muito a noite.
- Masami, você veio porque o papai te incomodou, é? Aposto que a barriga da mamãe era muito mais legal.
Katsuragi viu os pequenos movimentos do bracinho dele e segurou uma de suas mãozinhas, deixando o dedo em meio a ela, era tão pequeno, que quase cabia nas duas mãos que o segurava, inteiro.
- ... Ele parece frágil demais... Como se fosse quebrar.
- Não é, deve ser forte como você.
- Mas por que nasceu tão cedo...?
- Era apressado. - Masashi sorriu - Hoje era aniversário do Masami. Será o dele agora.
Katsuragi desviou o olhar ao outro.
- ... Foi por isso então?
- Hum.
Masashi disse, assentindo à pergunta, embora não tivesse certeza sobre o que ele perguntava. 
Katsuragi uniu as sobrancelhas.
- ... Sinto muito.
- Mas eu acho que Masami quis fazer esse dia melhor para nós.
Katsuragi assentiu e sorriu a ele, segurando firmemente o filho em meio aos braços.
- Ele se parece com ele? Digo quando era bebê...
- Hum, é tão adorável quanto Masami. Mas bebês são sempre muito difíceis de diferenciar, só existem os feios e os bonitos. - Riu, baixinho.
Katsuragi riu igualmente e assentiu.
- Ele é lindo.
- É, com um pai como você, difícil que não seja.
Katsuragi sorriu.
- Hum, acho que ele puxou você também, mocinho.
- Pronto. Estão limpinhos agora.
Katsuragi assentiu num pequeno sorriso e beijou a pequena cabeça do filho, tão pequeno que tinha medo de machuca-lo.
- Está tão feliz quanto eu?
- É claro que estou. - Masashi sorriu. - Hum, você queria tanto um bebê.  - Afagou sua nuca. - Vamos. Precisa de ajuda para sair?
Katsuragi assentiu e podia sentir as lágrimas nos olhos.
- ... Ele é um presente muito importante pra mim... - Murmurou. - Não... Posso sair sozinho.
- Para nós dois.
Masashi afagou sua orelha antes de então se levantar e ajuda-lo, mesmo que não o tomasse no colo. 
Katsuragi sorriu a ele e levantou-se, devagar e apoiou-se nele.
- Droga... Dói um pouco ainda...
- Direi que façam algo nutritivo pra você.
Masashi disse e após tomar a toalha, pegou-o no colo. 
Katsuragi assustou-se ao senti-lo pegar a si e riu baixinho.
- Hum, me sinto como uma esposa recém casada.
- E não é isso? - Masashi indagou e sorriu enquanto o levava pelo caminho - Mas agora temos um bebê na lua de mel.
Katsuragi riu ao ouvi-lo e assentiu, inclinando o pescoço para trás e sentiu os cabelos longos e negros pendendo a cair nas próprias costas e ainda segurava o pequeno nos braços.
- Vou colocar ele na caminha do lado da cama.
- Hum. Vai ser difícil dormir e deixar de olhar pra ele, ah?
Masashi assentiu a sentir algumas lágrimas nos olhos.
- ... Eu nem acredito que ele está aqui...
- Eu nem acredito que sou pai.
Katsuragi riu.
- Nunca pensou que seria?
- Eu nunca pensei que num bordel eu poderia encontrar meu companheiro e ter meu filho.
O menor sorriu.
- ... Bem, a vida é estranha.
- É, mas está sendo bom agora.
- Fico feliz que você... Tenha aparecido pra mim. - Katsuragi sorriu.
- Hum, quando vi você, foi como um gato que adota um humano na rua. - Masashi riu e o acomodou no futon. Sentou-se de frente para ele. - Quis entrar na sua casa e dormir ao lado da sua cama.
- Ou na minha cama.
Katsuragi riu e ajeitou o filho no futon pequeno ao lado da cama, confortável, macio e com vários cobertores quentinhos para ele. Logo, voltou-se para o outro e acariciou os cabelos dele.
- Eu te amo.
- Também te amo.
Masashi disse e descansou a cabeça junto a palma de sua mão, brincando diante do que lhe dizia sobre ser um gato atrás dele. 
Katsuragi riu e negativou.
- Deite comigo, vem... Um dia, quero lhe contar toda a minha história.
- É, talvez eu retribua com a minha. Eu ainda preciso tomar banho. - Masashi sorriu a ele. - Você não tem que alimentar ele?
- Preciso, pode me trazer um pouco de sangue?
- Claro. Pra você e pra ele? Ele talvez uma seringa?
- Ah... Acho que sim. - Katsuragi sorriu.
- Hum.
Masashi assentiu e antes que pudesse sair em busca do alimento, observou o filho, esperando mesmo que ele logo abrisse os olhos. Só então saiu. 
Katsuragi sorriu ao outro, sabia que ele estava aflito por sair e deslizou a mão pela face do filho.
- Você... É um presente maravilhoso, pequeno.

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