Broken Hearts #35


Os passos eram lentos, Hideaki estava passeando naquele dia, indo comprar alguns doces, algumas especiarias, morava sozinho, os pais haviam falecido há alguns anos, e fora obrigado a se cuidar sozinho, mas por ser um vampiro, aquilo não era tão difícil, o problema era a vontade da comida humana, fazia a si ir até feiras como aquela e acabar fazendo algumas besteiras. Ao passar pela rua, viu alguns rostos conhecidos e outros desconhecidos, estava um pouco cheio naquele dia, mas algo chamou a atenção instantaneamente, não havia visto seu rosto ao passar, não havia se quer visto parte qualquer da pessoa, mas o cheiro, um cheiro doce, fez com que virasse o pescoço para trás e cessasse os passos. Ao se virar, buscou visualmente entre as pessoas, viu cabelos loiros, era completamente incomum, mas eram lindos e longos, não sentiu atração física de fato, não a podia ver, estava de costas, mas o cheiro, queria só uma mordida. Seguiu descontraído o caminho de volta e a fitou um pouco de lado, na barraca de flores onde ela estava, ah, era tão bonita, parecia uma flor recém desabrochada. Sorriu consigo mesmo por um momento, e o cheiro do sangue invadiu as narinas.
- Tome cuidado moça, as rosas tem espinhos. 
Num movimento rápido, o moreno segurou a mão dela, ainda que fosse delicado.
- Ah, uma rosa machucou outra rosa, hum? Me deixe cuidar disso.
Disse num pequeno sorriso e levou a mão dela aos lábios, sugando o sangue de seu dedo. Era doce, como uma sobremesa saborosa.
Rosas, a moça precisava levar rosas para o jantar daquela noite, exigência da madame da casa, lembrou-se por sorte do detalhe ou terminaria voltando mais tarde. Na tenda florida observou o punhado de rosas, elas eram caras, não eram rosas comuns, tampouco cerejeiras de todos os lugares, eram rosas volumosas e inglesas, bobagem, pensava, ainda que fossem flores lindas, pareciam bonitas e ainda perigosas, como ele. Olhou para o rapaz ao falar consigo, foi rápido no que fez quase não teve tempo de pensar, o dedo não estava ferido, estava? Sentiu sua boca fria e o arranhar dentro da boca, seu dente? Olhou para ele e seus olhos amarelos, pareciam mais brilhantes que os postes de luz da feirinha. Por um momento ficou observando, aquela situação toda não fazia sentido algum, mas a reação que teve certamente também não.
- O seu espinho me machucou...
Hideaki sorriu a ela conforme a ouviu e ao soltar o dedo dela, já não havia mais sangue nenhum.
- Foi apenas uma alfinetada, está tudo bem. Por que uma moça tão bonita está sozinha aqui?
- Você não deve sugar o dedo das pessoas assim. - Ela disse e recolheu a mão. - Estou apenas comprando para o jantar da família.
Disse e sorriu suavemente, havia aprendido que devia simpatia às pessoas, então era um pouco ingênuo ainda. 
- Eu sei que não, mas você não é qualquer pessoa, não é? Parece um dia ensolarado. Ah, entendi, deve ser de família muito rica.
- O que isso quer dizer? - Ela indagou sobre seu elogio e então pagou pelas flores que acomodou delicadamente na cesta. - Eu sou apenas a serviçal.
- O que? Impossível. Você não pode ser só uma serviçal. - Hideaki disse e olhou as mãos dela, que ainda tentava esconder, seus dedos eram bonitos, mas machucados. - ... Venha trabalhar pra mim
- Isso é um elogio? - Ela indagou, ele usava de expressões indiretas. Notou seu olhar e apertou a alça da cesta que segurava. - Já tenho uma família por qual trabalho.
Hideaki sorriu a ela, meio de canto.
- Não vou fazer mal a você.
- Não estou com medo. Mas não sou como pensa se vai tentar alguma coisa.
Ela disse e tentou seguir o caminho, ia buscar o restante da lista.
- Eu não vou tentar nada. Hey. - Hideaki disse conforme seguiu atrás dela. - Minha casa é grande, mas os serviços são simples, eu pago a você. Você é tão bonita, não deve ficar num lugar onde te machucam.
- Mas como você sabe se me machucam?
Ela indagou, não exatamente olhando para ele, encarou algumas frutas que pegou, pagou e então continuou a andar. Não deu bola, imaginou que era apenas um jovem rapaz querendo impressionar, e devia dizer, era bonito, mas não existia para coisas como ficar com alguém ou ter amigos.
- Eu fui comprada, então não posso decidir isso.
- Eu posso ver as suas mãos. - Hideaki disse e uniu as sobrancelhas conforme ela andava. - Onde você mora?
- Sou da família Touya. Por que está tão interessado? Quer comer meus dedos?
Hideaki sorriu meio de canto e negativou.
- Tudo bem, até logo, senhorita.
- Até logo, senhor.
Ela respondeu ainda com cortesia, não entendeu seu comportamento, mas pela rapidez imaginou que fosse tentar fazer negócios com os patrões. Ainda assim, não via razão para querer tanto trabalhar consigo, uma vez que sequer conhecia a própria competência, então, queria o que a maioria dos homens queria consigo sem saber o que esperar de fato. Suspirou e assim terminou a caminhada assim como terminou de comprar os preparativos para o jantar. No fim terminou divagando sobre como sua boca era fria. 
Ao finalizar a conversa, Hideaki seguiu dali para a casa onde ela trabalhava, sabia que conseguia chegar antes dela e de fato conseguiu, ao parar em frente a porta da casa grande e luxuosa, bateu, esperando ser atendido. Quem o atendeu foi apenas mais um serviçal, a roupa era como a que a garota usava, era algo padrão, embora a dele fosse masculina. Ele caminhou com passos pequenos até atendê-lo.
- Olá, senhor. Do que se trata?
Hideaki sorriu meio de canto e aspirou o ar quando o garoto se aproximou, não tinha o mesmo cheiro que ela.
- Olá. Gostaria de falar com seu patrão.
- O senhor tem horário marcado?
- Diga que quero comprar um dos serviçais dele.
- Oh, meu patrão está se preparando para um jantar de negócios, então preciso verificar se pode atender o senhor.
- Ah, ele pode sim, diga que eu tenho bastante dinheiro. - Hideaki sorriu.
- Tu-tudo bem... Qual seu nome, senhor?
- Hideaki. Hideaki Okamura.
Ele assentiu e seguiu o caminho qual tão breve trouxe seu senhor. Dinheiro era com ele, ainda que tivesse muito mais do que poderia gastar até que morresse.
- Seja breve, rapaz, de todo modo posso adivinhar qual é o seu interesse. Quer Ophelia, certo? Já não é o primeiro.
Sorriu meio de canto. Ophelia é a jovem loira que trabalha pra você?
Ele sorriu parecendo cínico e ainda divertido.
- É o que você acha. Você é jovem demais para poder pagar por Ophelia. Me custou caro e continua pagando a dívida enquanto trabalha, pra compra-la teria que pagar por ela e pela dívida dela. 
- Sem problemas, quanto ela custa e qual é a dívida?
- 980 mil ienes.
- 980 mil? Pela Ophelia? - Hideaki riu. - Eu pago um milhão de ienes. Ela não vale só 980. - Disse num pequeno sorriso. - Apronte ela, venho buscá-la essa noite com o dinheiro.
- Tsc. Não brinque comigo, criança. Quantos anos tem? Dezoito?
- Tenho vinte e dois.
- Vai pedir que seus pais comprem, bem, não me interessa. Se quer Ophelia então traga o dinheiro e então deixo que se arrume.
Hideaki sorriu.
- Como quiser. Em duas horas estarei aqui.
Ele resmungou e saiu sem muita crença, embora achasse o garoto convincente, já havia visto aquilo antes. 
Ao voltar para casa, Hideaki seguiu diretamente para o cofre da família, não tinha com que gastar o dinheiro mesmo, e se quisesse mais era só matar um homem como ele e levar embora. Levou consigo em uma bolsa improvisada e ao chegar, bateu com força no portão, mas claro, nada absurdo. O empregado seguiu até a entrada da casa, recepcionando de volta o jovem rapaz e comprador. Ele havia mesmo voltado, pensou o serviçal enquanto encarava a sacola que parecia pesada em sua mão.
- Senhor, foi muito breve. Devo presumir que precisa do meu patrão. Entre, por favor.
- Com licença.
Hideaki disse conforme entrou na casa, era realmente grande, até assoviou conforme a viu, mas a própria não era muito diferente.
- Peça que ele busque o valor aqui, tenho pressa para levá-la embora.
- Eu o chamarei, senhor.
Disse o serviçal e não mais que alguns minutos ele apareceu com seu quimono vinho e bordado, exagerado para um homem cuja aparência era tão morna, era o típico japonês tradicional.
- Oh, então você está aqui. Entregue ao serviçal, ele vai verificar a quantia. Me diga garoto, tudo isso é excitação?
Hideaki sorriu meio de canto e entregou ao rapaz a sacola com o dinheiro.
- Um milhão por excitação? Certamente não.
- E então? Ophelia não se aproxima de ninguém além dessa casa. Vai me dizer que se apaixonou a primeira vista? 
A essa altura o garoto já havia pegado sua sacola, contou o dinheiro na sala a frente, pouco depois voltou anunciando que o valor era como prometido.
- Senhor, o valor está correto..
- É... É algo assim. - Hideaki disse num pequeno sorriso.
- Sei, sei o que você quer, mas não vai gostar quando descobrir, a menos que você seja... Bem, não é problema meu. Chame Ophelia e mande que se ajeite para ir.
-Claro, senhor.
Hideaki uniu as sobrancelhas, realmente sem entender, bem, não via nenhum problema com ela, e se houvesse algum, poderia facilmente ajudá-la. Esperou, parado de braços cruzados.
- Senhor.
Ophelia disse ao seguir até a entrada da casa, tendo apenas sido avisada para arrumar o que tivesse de pertences necessários e que pertencessem a si de fato, o que não era muito. Com uma pequena bolsa em frente ao corpo, viu logo ele, logo ao lado do homem que costumava chamar de patrão. Confusa, fez o melhor que pode para não deixar expresso no rosto que estava surpresa por sua estada ali. 
Hideaki sorriu a ela conforme a viu, era linda como se lembrava, parecia um pequeno pássaro preso em uma gaiola, e era uma pena, bem, agora não era mais.
- Podemos ir?
- Eh...? Hai.
Ophelia disse e olhou o que agora podia chamar de ex-dono. Ele sorriu, como quem finalmente havia feito um bom negócio. Não o cumprimentou ou se despediu, apenas foi sem nada a dizer, nada de bom. 
Hideaki não a tocou novamente, apenas deu espaço a ela para que passasse pelo portão e silencioso caminhou até se afastar do portão daquele homem, tentando não ficar muito longe dela, não disse nada nesse percurso, somente quando chegou perto da cidade, sorriu a ela.
- Ophelia, certo?
Ela partiu pelo caminho com ele, estava um pouco desconfortável, com vergonha talvez, havia tratado ele um pouco indiferente anteriormente, mas agora estava mesmo ali, se perguntava quem era ele, porque tinha dinheiro sendo tão jovem.
- Sim. - Falou, naturalmente baixo.
- Você está livre agora. - Hideaki disse e só então tocou a mão dela, massageou conforme viu o machucado. - Pode ir pra onde quiser.
Ophelia sentiu o toque e não sobressaltou, já tinha costume, mas olhou para a mão dele em sua carícia. Voltou porém a olha-lo diante do comentário, confusa, havia sido comprada pra que?
- Eu não tenho para onde ir, senhor.
- Não? - Hideaki uniu as sobrancelhas e acariciou a mão dela novamente. - Você aceita vir comigo pra casa então?
- Vivo aqui desde os cinco anos. Se me quiser lá.
- Desde os cinco anos? O que houve com os seus pais? Não me diga que é aquele homem.
- Não senhor, ele me comprou de minha mãe.
- ... Como uma mãe pode fazer isso com uma criança? - Ele disse e estava evidentemente puto. - Venha. - Disse enquanto caminhava para casa e indicava o caminho para ela.
- Minha mãe terminou como uma acompanhante durante a guerra, engravidou de um soldado que partiu sem sequer saber a meu respeito. Acho que por isso nunca gostou de minha presença. Aquele homem se atraiu por mim e me comprou como acompanhante.
Hideaki estreitou os olhos ao ouvi-la.
- Ele se atraiu por uma criança de cinco anos?! Ah, mas eu vou voltar lá amanhã. Pode apostar.
- Hum. Mas terminou não querendo estar comigo, pretendia me devolver, no fim apenas arrancou o dinheiro que pagou à minha mãe mas me deixou como empregada.
- Os dois são uns desgraçados. Mas vou voltar lá amanhã. Você fica comigo.
Hideaki disse e logo estavam em casa, não era muito longe dali. A casa estava escura, quase escondida no meio das árvores. Ao entrar, deu espaço a ela.
- Não se preocupe, o que ficou no passado não se pode mudar, então não faz sentido levar isso adiante.
Ophelia disse enquanto ia seguindo caminho com ele, era um lugar estranho, mas por alguma razão tinha ideia de que ele não era alguém convencional. Quando chegaram, antes de entrar, parou em frente a ele, tocou sua mão e se abaixou suavemente, reverência.
- Obrigado, senhor.
- Faz sim, ou ele vai fazer isso com outras crianças. - Hideaki disse, irritado ainda e ao sentir o toque, desviou o olhar a ela e negativou, acariciando sua mão. - Não precisa fazer reverências pra mim, nem me chamar de senhor, hm? Meu nome é Hideaki. - Disse num pequeno sorriso. - Vou levar você até o seu quarto.
Disse e seguiu pela casa até o final do corredor onde tinham alguns quartos, o próprio ficava no andar de baixo, mas ali ela poderia ter um pouco de luz. Ao entrar, não era um quarto de criado, como o que ela poderia ter o costume de ter, era um quarto de hóspedes, grande, com cama de casal bem arrumada, havia uma penteadeira, armário, tudo muito bem montado.
- Você pode ficar aqui. Há um banheiro no quarto também que será seu. A cozinha é no final do corredor se pre
cisar comer... Eu... Vou sair e comprar algumas coisas, o que você gosta de comer?
Ophelia seguiu logo após ele, indo pela casa memorizando alguns detalhes, terminaria tomando conta querendo ele ou não. Quando chegou no quarto, olhou para ele e todos seus detalhes, era um quarto com tudo e mais um pouco do que poderia precisar, imaginou se não havia mais ninguém ali, ele era sozinho?
- Não temos companhia na casa?
- Não, somos só nós. - Hideaki sorriu meio de canto. - Quer dizer... Era só eu... Antes de você. Meus pais morreram há um ano.
- Oh, meus pêsames, senhor. Obrigado pelo quarto, é lindo.
Ela sorriu, sabia que poderia facilmente morar naquele quarto.
- Não, tudo bem. - Ele disse e sorriu meio de canto. - Como você deve ter percebido... Eu não sou como seus patrões antigos, nem ninguém que você conheça. Eu não sou humano. Mas não vou te machucar, só tenho hábitos diferentes dos seus.
Ela ouviu o que disse, em especial sobre não ser um humano, mas de alguma forma sentia que parecia idiota se perguntasse. Levou a mão até o obi, bem, seria muito direto sobre aquilo, se havia comprado a si para ter alguma diversão, por mais que não soubesse como aquilo seria, ao menos deixaria ele saber rapidamente ou poderia terminar machucada outra vez. Tocou as abas do quimono de serviço, não precisou de muitas camadas, era apenas uma roupa de trabalho e então, desnudou o tronco. Hideaki estava distraído, porém, notou ela abrindo o obi e uniu as sobrancelhas, virou-se rapidamente de costas.
- Não... Coloque a roupa de novo, por favor.
- Você não queria isso?
Ela indagou e voltou a ajeitar a roupa, embora agora ela estivesse um pouco desajeitada. 
Hideaki negativou.
- Posso me virar? - Murmurou e virou-se devagar, olhando pra ela. - Eu não quero transar com você. Eu te comprei porque queria que fosse livre. Ninguém deveria sofrer maus tratos na mão de alguém assim. Não precisa ter medo de mim, não vou toca-la.
- Sim. Eu não tenho medo de você, nem do seu toque. Eu espero que tenha algo para te oferecer em gratidão. Vou cuidar de sua casa e de você.
Hideaki negativou e sorriu a ela, aproximando-se, segurou sua mão e foi delicado.
- Você não me deve nada, Ophelia. - Disse a ela, mas sem a intenção, olhou para seu quimono desajeitado e viu seu peito liso, ficou curioso por um momento e uniu as sobrancelhas. - Você... Não é uma mulher?
Ele tinha aquele hábito e não era difícil notar, ele tocava a mão com frequência e se perguntava porquê. Ophelia encarou no entanto o modo como seus olhos dourados se voltaram para baixo com sutileza e uma certa surpresa junto de sua pergunta.
- E se eu tiver seios pequenos?
- Ah... - Hideaki disse e ainda que fosse um vampiro, as bochechas ficaram vermelhas, tão envergonhado que havia ficado. - Me perdoe.
Ela acabou rindo, pela primeira vez em tempos, notando a timidez que não esperava.
- É brincadeira. Eu sou um.. Quero dizer, eu não sou uma garota.
Hideaki sorriu a ela conforme a ouviu rir e coçou a cabeça, tímido.
- Mas... Por que você se veste como uma garota?
- Hum... Quando fui vendida, aquele homem achou que eu fosse uma menina, minha mãe então pediu que eu dissesse que era, passou a me decorar como uma menina e disse que eu precisaria continuar com isso. Vivi até os oito anos dessa maneira, quando ele decidiu que era hora de começar a me ver e me tocar, descobriu que era um garoto. Me agrediu sem minhas roupas, e tentou encontrar minha mãe para me devolver no entanto não achou. Passei alguns anos assim e me acostumei a isso, achava que desse modo minha mãe poderia voltar. Ele estava cheio de vergonha e embora não tenha me tocado, para que não expusesse sua vergonha, fez com que continuasse assim, como uma serviçal, os homens de trabalho dele gostavam de ir me ver como uma moça.
Hideaki negativou enquanto a ouvia e só sentia cada vez mais raiva daquele homem.
- Que imbecil... Esse desgraçado... Tsc. - Disse, irritado. - Você quer que eu compre roupas de menino pra você?
- Iie, tudo bem. Eu já tenho quase dezessete, então já não sei o que eu sou sem isso.
Hideaki uniu as sobrancelhas.
- Vou fazer assim, eu te darei uma valor semanal e você pode ir até a feira ou até a cidade comprar o que quiser, tudo bem?
- Não precisa ser tão generoso, senhor. Já me tirou daquele lugar. Muito obrigado. Não se importa que eu seja um rapaz?
- Por que me importaria? - Ele sorriu. - Eu comprei pra te dar sua liberdade, não pra transar com você. E também, eu sou gay, mas isso não importa nesse assunto. - Riu.
- Gay? Mas... Então por que veio até mim?
- Seu cheiro. - Hideaki murmurou e sorriu meio de canto. - Eu sou um vampiro, bebo sangue das pessoas, por favor não tenha medo. - Disse ao olhar pra ela. - Você tem cheiro de um doce bem gostoso, nunca tinha sentido um cheiro tão bom. É puro, como uma cereja fresca. Quando vi as marcas no seu corpo, fiquei intrigado que uma flor tão bonita fosse mal tratada. Pra mim não me importa seu sexo. - Disse num pequeno sorriso. - ... Meus pais foram capturados e escravizados por um vampiro mais velho por muito tempo... Viveram poucos anos em liberdade quando conseguiram fugir, não posso imaginar o que passaram, nem o que você passou.
Ophelia ouviu o que ele disse, era uma breve explicação do que deixou de perguntar. Teria duvidado se seus olhos não fossem intrigantes, incomuns, não eram olhos humanos e então podia acreditar nele. Não tinha medo, já estava acostumada com o tratamento dolorido, já estava acostumada a viver com pessoas monstruosas.
- Você vai quer o meu sangue?
Indagou, talvez fosse essa a razão pela compra, embora não fosse dizer, mas não tinha problema, já não pertencia a si mesma desde que nascera. 
Hideaki tocou o rosto dele, a pele era tão macia.
- Não. Quer dizer, somente quando você quiser me dar de bom grado, eu não vou pedir. Eu me alimento na cidade.
Ophelia sentiu novamente como seu toque era frio, não mais que sua boca no entanto.
- Tem pena de mim?
- Não tenho pena de você, tenho raiva de quem fez isso com você.
- Quando me viu na feira você mordeu meu dedo sem se preocupar sobre querer ou não.
Hideaki sorriu meio de canto.
- Quando eu fui, eu estava com fome. Pense em você com fome, com muita fome, e de repente um doce maravilhoso aparece na sua frente. Não vai acontecer de novo.
- Você pode fazer, eu quero agradecê-lo.
- Não se preocupe, eu estou bem, vou me alimentar.
- Não, por favor. Me deixe agradecer. Eu não me importo se doer, apenas não faça ser insuportável.
Hideaki negativou e aproximou-se dele, era adorável, segurou sua mão, seu dedo indicado e o mesmo lugar onde havia mordido mordeu novamente, apenas uma picada como de uma agulha e sugou seu dedo, não foi muito sangue, mas apartou logo e apertou o local da mordida, cessando o sangramento, só então devolveu o dedo a ela.
- Obrigado.
Ophelia deixou guiar a mão até ele, sentiu a picada no dedo, era como um ferrão de abelha, talvez até menos dolorido já que não sentia o ardor. Negativou, era brando demais, aquilo nem devia ser suficiente. Tocou a aba do quimono que afrouxou um pouco, deixando algo da pele amostra.
- Você gosta aqui? Como nas ficções.
Hideaki sorriu meio de canto e negativou.
- Não vou morder seu pescoço, vai ser muito dolorido.
- Aonde você gosta?
Ele cerrou os dentes, era um vampiro, gostaria de comer ele inteiro, mas gostava dele, havia se afeiçoado de alguma forma, então pensar em machuca-lo era um pouco difícil. Pensou em uma parte que pudesse ser menos dolorida.
- Posso... Morder na coxa?
- Sim... - Ophelia disse, achando curioso que ele pedisse aquela região uma vez que se virou para evitar de ver o que fosse lhe mostrar sob as roupas. - Como eu devo ficar?
- Deite na cama. - Hideaki disse num pequeno sorriso. - Eu não vou tocar em mais nada, é só... A parte mais macia pra morder sem machucar.
- Não tenho receio.
Ele disse e seguiu até a cama. Deixou de lado a pequena bolsa que levava e então se acomodou, não deitou, sentou. Ergueu o corpo apenas o suficiente para erguer suavemente a parte inferior do quimono e abrir os lados suficiente para expor a coxa, não sabia aonde ele pretendia fazer isso. Hideaki s
orriu a ele e assentiu, ajoelhou-se em frente a seu corpo, não abriu suas pernas, ficou ao lado e aspirou o cheiro da pele dele, era tão bom que suspirou. Aproximou-se devagar, e sabia que seria melhor se fosse de uma vez e não aos poucos, as presas eram dolorosas, então as cravou na pele dela, penetrando a carne e uniu as sobrancelhas, sabia que seria dolorido. Ophelia olhou para ele conforme se ajeitou e sentiu sua pele fria subindo pela coxa, arrepiou-se. O gemido que escapou foi em reflexo, soou um pouco mais grave que o habitual, mas foi baixo ainda assim. Era dolorido, como se exigisse uma passagem, empurrando. Levou a mão aos cabelos dele num reflexo tal qual a voz que escapou. Hideaki fechou os olhos, e foi a primeira vez que ficou triste e agoniado por fazer aquilo, não costumava sentir isso com outros humanos, então era novidade. Golou o sangue dele, e descia pela garganta como água no deserto depois de muito tempo, mas não quis exagerar e parou logo, lambeu o local, pressionando a ferida e suspirou contra a pele dele.
- Obrigado...
- Hum... Kimochi?
Ophelia murmurou, imaginando se aquilo lhe causava algo bom, ele parecia satisfeito e seus olhos evidenciavam isso com o leve fique do vermelho em sua íris dourada, era como se um véu passasse em seus olhos, preenchendo-os. 
Hideaki sorriu e assentiu a ela, limpou os lábios com a língua.
- Vou fazer um curativo.
- Não precisa. Eu posso cuidar disso...
- Não, fique sentada.
- Qual seu nome? Desculpe, eu não me lembro.
- Hideaki.
Ele disse, novamente e seguiu ao banheiro, pegando na gaveta a caixinha de primeiros socorros, sabia que a mãe guardava uma em casa quarto, embora não soubesse porque. Seguiu até ela e passou um pouco do antisséptico nos pequenos furos, colocando uma gaze e um esparadrapo em seguida.
- Pronto.
- Não precisa. - Ophelia disse sem se surpreender com a temperatura, ele era mais frio que o líquido antisséptico. - Você consegue estancar a ferida com a sua boca... - Disse, mas terminou com o curativo naquela região estranha.
- É... Mas se você se mexer muito, vai sangrar de novo, o corte foi fundo.
- Oh, Hideaki-san, sou mais forte que isso, embora não pareça.
Ophelia disse e tocou novamente o quimono, abriu o obi, desinibido como o era, não tinha nada para mostrar ali. Ao mostrar o tronco pálido e de curvas mais retas do que ele pudesse imaginar, tinha também uma marca na altura da cintura e costela, uma cicatriz que levava já algum tempo, agora parecia mais fina e mais esticada, talvez pelo crescimento desde que a ganhou.
- Quando ganhei essa cicatriz de disciplina, tive que cuidar disso sozinha.
Hideaki uniu as sobrancelhas conforme a viu mostrar a pele e negativou.
- Mas não será mais assim agora, Ophelia. Se você se machucar, eu cuidarei de você.
- Eu quem vou cuidar de você. - Ele sorriu, canteiro.
Hideaki sorriu e assentiu num riso divertido.
- Vamos cuidar um do outro.
- Hai. - Ele assentiu. - Muito obrigado...
Hideaki negativou e beijou a perna dele antes de enfim se levantar. Ophelia se levantou logo após ele e então voltou a ajeitar a roupa, levando-a de volta ao lugar.
- Você come?
Hideaki uniu as sobrancelhas.
- Não... Só morder é suficiente.
- Não... Não me refiro a mim, sobre se alimentar.
- Ah... Entendi... - Hideaki disse e riu, tendo que colocar a mão sobre os lábios, foi realmente divertido e fazia tempo que não ria tanto. - Sim... Sim eu como.
Ophelia olhou para ele e em sua reação sorriu, mas diante do riso, aos poucos terminou contagiando e riu com ele.
- Você pode me dizer o que você gosta, eu sei fazer.
- Só se me deixar cozinhar com você. Eu gostaria de aprender. - Hideaki disse num sorriso. - Vamos até a feira fazer a compra pra casa e você escolhe o que gosta. Que tal?
- Como quiser, senhor. Mas a acredito que seja um pouco tarde hoje...
- Ah... É verdade... Eu esqueço, me desculpe. Amanhã às seis então. Vou deixar você dormir.
- Não é isso, mas imagino que os melhores produtos já foram comprados, podemos ir mais cedo amanhã.
- Claro, sem problema. - Ele sorriu.
- Você dorme de dia?
- Sim, precisamente as seis da manhã.
- Então não dorme nada a noite? O que faz durante esse período?
- Bem... Saio pra caçar... Leio livros, passeio na feira.
- Conhece outros como você?
- Alguns... Eles não costumam aparecer muito.
- Não tem uma companhia?
- Alguns tem, outros não. Vampiros só tem um parceiro a vida toda. Eles só se apaixonam uma vez.
- E você não tem alguém? Deve ser solitário.
- Eu era. Agora tenho você pra me fazer companhia, hum?
- Mas somos diferentes...
- Você não acha chato duas pessoas iguais convivendo juntas? Assim podemos nos conhecer. Eu não faço ideia do que você gosta de fazer, do que gosta de comer, de onde gosta de ir. Isso não é maravilhoso?
- Ser igual também não é ruim. Mas eu falo porque não poderei acompanhá-lo em coisas que goste, mas tentarei. Ainda assim, depois de tanto tempo é interessante ter um novo amigo.
Hideaki sorriu e assentiu a ela.
- Se quiser pode tentar ficar acordada a noite, faremos lindos passeios. Conheço lugares ótimos.
- Eu consigo, eu tenho um pouco de problemas pra dormir.
- Hum... Você tem medo?
- Não, é mais sobre meu cotidiano. Alguma coisa não é muito boa no meu sono, pareço sempre muito rasa.
- E se eu fizer um chá pra você? Gosta de camomila?
Ela sorriu.
- Eu agradeço, não funciona comigo. Gosto dos chás de camélia e Oolong.
- Hum... Vou providenciar. - Hideaki sorriu.
- O senhor é muito gentil.
- Hideaki. Aliás... Qual é o seu nome?
- Ophelia...
- O verdadeiro. - Ele sorriu.
- Hum... - Ophelia murmurou e praticando grunhiu o nome. - Koji...
- Koji-chan. - Hideaki disse, baixinho da mesma forma e sorriu, tocando o rosto dela, aproximou-se e beijou sua testa. - Boa noite, Ophelia.
Ele negativou ao comentário e corou-se evidentemente sob suas pronúncia.
- Eu irei acompanhá-lo.

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1 comentários:

  1. Gente do céu, agora estou intrigada, o que fez a Ophelia se tornar vampira então? Será que não foi ele? Ou foi? Será que ela quem pediu igual o Yori?
    A descoberta dela não ser ela foi um plot Twist incrível! Agora consigo entender melhor como ele teve aquele surto do nada com a ex esposa que disse que não amava e que amava era um rapaz, então era a Ophelia! O.O
    Mas ele a deixou sozinha... Por que será que fez isso? Estou muito curiosa para entender este rolê todo! Obrigada pelo capítulo gente!

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