Kazuma e Asahi #44


Já era um pouco tarde quando Kazuma acordou, algo em torno das duas horas da manhã, talvez. Ao se levantar, vestiu a camisa informalmente e a calça do mesmo modo, assim como ele sua camisola de padre, aquele tecido que parecia uma camisa muito grande.
- Vamos.
Disse ao chama-lo e via em sua expressão uma feição quase arteira, como se fizesse algo perigoso, mas era só a tentativa de ser silencioso pela madeira do piso. Ao chegar no andar de baixo, soltou sua mão por onde guiado e pela cozinha alcançou os mantimentos que haviam trazido. Fitou-o, já sentado na mesinha central onde um pouco de farinha existia na bancada, e olhava de lá, tentando ver o que pegava na sacola. Trouxe consigo a embalagem de plástico, redonda, onde o pequeno confeito do mesmo formato, porém achatado, cor de pêssego embora esbranquiçado por ser polvilhado com algo que parecia neve, caminhou até a mesinha onde ele aguardava e colocou sobre ela, junto a uma pequena faca de pão e uma curta vela de cera branca, sem adornos, sem detalhes. Descobriu a bandeja do doce, afundou no centro do bolo, já acesa.
- Pronto, pode
soprar.
Asahi colocou a roupa, quase jogando-a sobre o corpo, e estava sonolento ainda quando ele havia chamado a si, tinha nos lábios aquele sorrisinho de quem iria invadir um banco com ele, parecia divertido. Ao descer ao andar de baixo, sentou-se sobre a mesa e aguardou, quando o viu voltar, observou o docinho, que não era um bolo, mas era fofo e parecia delicioso. Sorriu novamente, ainda mais ao ver a vela e achou uma graça ele ter feito aquilo para si, era bonitinho, até meio romântico. Mordeu o lábio inferior e fechou os olhos, fazendo um pedido silencioso e logo assoprou a vela, fazendo um pequeno bico. Não contaria a ele se perguntasse o pedido, mas é claro, que havia pedido que de alguma forma aquela guerra acabasse, e pudesse ir com ele para casa, não tinha uma, mas construiria se fosse preciso, para ficar com ele.
- Já pode comer.
Disse o maior a ele e entregou a faca para que cortasse o doce, que era um pouco grande para comer sozinho ou mesmo em dois. Asahi a
ssentiu e sorriu a ele, cortando um pequeno pedaço do doce e entregou a ele seu primeiro pedaço, cortando logo após, um pedacinho para si.
Kazuma aceitou o pequeno pedaço, embora tenha trocado com ele após sua parte, visto que menor. Mordiscou-o logo em seguida. Asahi sorriu a ele e mordiscou o docinho de mesmo modo.
- Hum, oishi!

- Isso é bom.
O maior disse, referente a seu agrado sobre o doce e terminou o pequeno pedaço. O loiro a
ssentiu e por fim terminou o pedaço do docinho, sorrindo a ele.
- Obrigado.

- Talvez algum dia você tenha um bolo, se tivesse me avisado antes eu tentaria conseguir algum.
- Não quero que tenha problemas por isso, sei que não é nada fácil algo assim na guerra, tudo bem.
- Não teria problemas. Mas você gostou do doce de qualquer modo.
- Obrigado... Você é... Realmente lindo, eu não consigo olhar pra você muito tempo.
- Tão repentino. - O maior disse, pego de surpresa no comentário. - Você também é muito bonito, Asahi. Talvez demais para um homem.
O menor sorriu, talvez meio bobo enquanto o observava, e nunca esperava ouvir aquilo dele.
- Obrigado... Kazuma... Quando essa guerra vai acabar?

- Só Deus sabe, Asahi. Não é algo que eu possa fazer.
- Mas você é forte, e está matando todos os inimigos, logo vão todos sair do país, não?
- Eu cuido dessa parte, há muitos lugares fora do alcance.
Asahi uniu as sobrancelhas.
- O que fizeram com os soldados que me sequestraram?

- Estão mortos. Não há o que fazer.
- Ah...
O menor assentiu e percebeu que ele não gostava muito quando falava sobre seu trabalho, então preferiu mudar de assunto. Estendeu uma das mãos a ele, dando espaço entre as próprias pernas. Kazuma f
itou-o ao estender a mão e por fim se levantou onde até então sentado, aproximando-se já que era o pedido.
- Acho melhor voltar para o quarto.

- Ninguém vai vir aqui as duas da manhã.
- Mas o quarto está certamente mais quente.
- Não tem vontade de... Me tocar em outros lugares?
- Não me importo com o lugar.
O maior disse e descansou as mãos sobre suas coxas, no espaço onde se acomodava. Asahi s
orriu e deslizou uma das mãos pelos cabelos dele.
- ... Eu sempre tive curiosidade de saber... Por que escolheu um padre, se poderia ter todas as mulheres que quiser.

- Você quis, eu quis te dar o que queria descobrir e aqui estou, continuo dando o que quer e estou bem com isso. As coisas não precisam ter razão e explicação, do contrário você estaria pensando em porque estar comigo se poderia ter achado outra pessoa para fazer o mesmo.
- É que eu sei que te perguntam a mesma coisa... Você... Ainda sente interesse por mulheres?
- Se você fosse uma mulher, eu ainda te levaria pra cama.

- Naturalmente, eu costumava estar com mulheres. Não ficava com homens.
O menor assentiu, e abaixou a cabeça por alguns instantes.
- Acha que é melhor estar com uma?

- Não acho que o "melhor" dependa do gênero, Asahi.
- Asahi uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a ele.
- Você acha que o homem foi feito para a mulher? Ou vice versa.
- ... Isso é o que a bíblia diz, e o que eu costumava acreditar. Mas... Agora...
- Agora você acredita em que?
- Acredito que nem sempre isso se aplica. Pessoas não escolhem por quem vão se apaixonar.
- Pode ser homem ou mulher?
- Sim.
- Então não tem melhor ou pior, em resposta a sua pergunta.
O loiro assentiu, e não era bem aquilo que queria ouvir, mas não podia esperar outra coisa dele.
- Mas você é quase uma mulher, Asahi. - Disse, soando provocativo.
O menor desviou o olhar a ele.
- Eu não tenho seios, ou...

- Ou? - Kazuma indagou e tentou não sorrir.
- Órgão genital feminino. - Disse o menor, sentindo a face se corar.
O outro riu, baixo, mas divertiu-se com seu constrangimento. Asahi desviou o olhar a ele, e tentava sentir raiva, mas até a risada dele era linda, por isso abraçou-o junto de si, mesmo entre as pernas e repousou a face sobre o ombro dele.
- Mas você pode ser uma mulher na sua alma.
Kazuma retrucou e sentiu o abraço. Repousou mesmo a mão sobre seus cabelos louros e curtos, no topo da cabeça. Asahi d
esviou o olhar a ele, meio de canto.
- Não me sinto uma mulher.

- Você parece uma mulher. - Tornou provoca-lo.
- Não pareço. Sou um homem que gosta de outro homem, somente.
- Parece uma moça, Asahi.
O menor estreitou os olhos.
- Ótimo, então deve ser por isso que quer fazer sexo comigo.- Seu pau quase parece como o órgão de uma mulher.
A mão do menor foi em frente ao tórax dele e empurrou-o.
- Se quer uma mulher, vá procurar uma.

Kazuma sentiu o espalmo, mas não saiu do lugar. Arqueou a sobrancelha, aborrecido sobre a forma como fora levado a sério. O menor uniu as sobrancelhas, sentindo as lágrimas nos olhos, e é claro que estava irritado, havia perguntado se ele preferia uma mulher e ele basicamente havia dito que sim, já que não corrigiu a frase, sem contar que nunca havia dito que gostava de si, e as vezes, se cansava de ser um buraco.
- Ora, o que houve?
Indagou o moreno, notando o brilho mais intenso em seus pequenos olhos. Se havia soado de alguma forma errada a ele, não sabia dizer, pensava que havia sido claro o suficiente, e por isso, não bem entendeu seu lacrimejo.

- Eu sei que eu sou bem pior do que uma mulher, não precisa jogar isso na minha cara. Sei que não tenho o mesmo corpo, que não sou receptivo, que nunca vai gostar de mim, que não posso te dar um filho sem que seja uma vergonha!
O loiro falou e já sentia as lágrimas que deslizavam pela face.

Aos poucos, foi difícil para o moreno não torcer a cara como quem não entendia nada. Claro, não entendia de onde havia tirado tudo aquilo, de como haviam passado àquela conversa, quando o assunto se tornou aquele.
- Em que momento joguei isso na sua cara, Asahi?

- Perguntei se eu era melhor do que uma mulher e você disse que não fazia diferença.
- Asahi, se você fosse uma mulher transaria e estaria com você da mesma forma que estou agora. Não faz diferença se é homem ou mulher, ia te comer do mesmo jeito e estar do mesmo jeito porque não é só isso que faz com que estejamos aqui, do contrário nem aqui estaríamos agora, teria ido embora algumas horas atrás.
Asahi desviou o olhar a ele e assentiu, não tentaria arrancar nenhum vestígio de sentimento dele, era impossível. Limpou as lágrimas da face e desviou o olhar.
- Asahi, não force a barra. Estou aqui e poderia estar com uma mulher, como você mesmo diz, poderia escolher outra pessoa, mas estou aqui e nem estou transando com você agora, estamos só comendo um doce, e eu nem gosto muito de doces, então, será que é difícil refletir um pouco antes de ser irracional e emotivo?
- Então por que você não me diz? Porque você não diz que gosta de mim?
- Eu já disse que gosto de você, garoto.
Asahi desviou o olhar a ele, unindo as sobrancelhas.
- Você não é bom com as palavras.

- É porque eu já disse, mas você se esqueceu e prefere raciocinar de forma incoerente do que tentar ver ao invés de querer ouvir.
O loiro assentiu, abaixando a cabeça novamente, em silêncio.
- Você não quer saber se gosto de você. Você quer ouvir outra coisa, então o resto não te interessa.
Asahi desviou o olhar a ele e negativou.
- É isso Asahi, porque já disse que gosto de vocês, mas isso não te satisfaz.
- É suficiente pra você?
- É suficiente.
- Certo.
- Vamos, eu vou pro quarto me vestir.
Asahi assentiu e suspirou, levantando-se da mesa. Kazuma afastou-se, dando espaço ao garoto e por fim voltou com ele ao quarto, já sem toda a delicadeza anterior em evitar os ruídos pela igreja. O menor voltou junto dele, e agarrava-se a si mesmo, com um pouco de frio, e sabia que ele estava irritado, era óbvio.
Após a entrada no quarto, o maior fechou a porta e vestiria-se para ir embora, no entanto, a boa imagem da cama bagunçada chamava mais por si do que o caminho até a base, que já não era tão distante, porém se deitou. Asahi observou-o por um pequeno tempo, e dirigiu-se a janela, cobrindo-a com a pequena cortina improvisada, logo voltando para a cama com ele e sentou-se na beira.
- Você pode se deitar, Asahi.
O loiro assentiu e retirou o pijama comprido, deitando-se ao lado dele somente com a roupa íntima.
- Por que quer tanto saber de amor?
Kazuma indagou, baixo e suficientemente audível para ele, em frente a si. 

- Porque eu quero passar o resto da minha vida com você.
- E o que nós falamos sobre isso?
- Eu já sei, você não tem interesse.
- Eu disse pra você que não sabemos como a guerra termina, então não tem sentido pensar em algo além do que está vivendo agora. Por que não dá atenção a hoje, agora?
- Mas eu te amo hoje. Sei o que eu sinto, por que não posso falar?
- Não disse que não pode falar, mas você busca ouvir de mim as coisas e se magoar. Você tenta se magoar, porque o que digo você altera e armazena de forma estranha na sua cabeça.
- Certo, desculpe por me iludir.
- Você não se ilude, você se desilude.
Disse o maior e por fim optou por se levantar como antes era o previsto. Buscou as roupas e aos poucos fora as alinhando no corpo, retomando-as no lugar.

- ... Onde vai?!
- Eu vou voltar pra minha base.
- Não!
- Não acho que estamos nos entendendo, Asahi. Estou te fazendo mal e não vou continuar fazendo, pelo menos por hoje.
- ... Não vá embora. - Asahi uniu as sobrancelhas, levantando-se da cama.
- Você quer que eu fique com esse clima desagradável, Asahi?
O menor sentiu o coração apertado ao ouvi-lo, quase numa batida seca no peito, mais forte.
- ... Não sei quando vou vê-lo de novo...

- Então deveria aproveitar comigo ao invés de pensar coisas estúpidas.
O loiro assentiu algumas vezes, estendendo a mão a ele.
- Mas de todo modo eu vou.
Disse o maior mas tocou sua mão e puxou-o por ela, tomando-o contra o peito. Selou seus lábios, como quem se despedia para um dia de trabalho. Asahi u
niu as sobrancelhas ao ouvi-lo e sentiu-o puxar a si, mesmo assim, estremeceu em seus braços e sentiu o toque sobre os lábios, que ansioso, não conseguiu retribuir.
- Não... Não Kazuma... Por favor...

- Você é difícil de lidar, sabe disso?
- Sei... Por favor, não vá embora.
- Vá se deitar. - Disse o moreno enquanto despia-se das roupas superiores.
O menor assentiu e afastou-se dele, seguindo em direção a cama, porém cessou ao ver as pequenas gotas vermelhas que caíram sobre a pele, sabia o que era, por isso manteve-se virado e guiou uma das mãos até a face, isso costumava acontecer quando estava nervoso ou ansioso demais, e foram muitas emoções ao mesmo tempo. Alcançou a caixinha de lenço ao lado da cama e limpou o rosto, ainda virado.
- D-Desculpe, pode... Pode deitar, estou bem.

Após se despir, ou pelo menos parte das vestes, Kazuma já estava com a regata e mesmo o botão desacasalado da calça e zíper abaixado, seguiu até a cama e tocou seu rosto, virando-o defronte, pendeu suavemente sua nuca para trás.
- Fique assim. - Disse e fitava seu rosto erguido.

O loiro notou o toque no rosto e tentou virá-lo, tinha vergonha, porém acabou por inclinar o pescoço como ele mesmo havia indicado, e aos poucos, sentiu o sangue parar de escorrer.
- Obrigado...

- Não precisa ficar ansioso.
Disse o maior quando finalmente apartado o sangramento. E do rosto seguiu a seus cabelos já bagunçados e os desalinhou ainda mais. Asahi a
ssentiu e desviou o olhar a ele, limpando as pequenas gotas de sangue sobre a pele.
- Isso... É constrangedor...

- É normal, não se preocupe.
O menor assentiu, ainda meio tímido e desviou o olhar a ele.
- Por favor, não me deixe sozinho... Gosto de acordar com você do meu lado, gosto de ver seu rosto lindo de manhã, de ouvir seu coração bater. Cada noite que durmo longe de você é muito triste e vazia.

- Uma hora vou precisar ir trabalhar, Asahi. Mas vou dormir com você hoje. Se acalme e descanse.
Asahi assentiu e logo se deitou na cama novamente, esperando por ele, e mal podia esperar por uma cama mais confortável, onde pudesse se deitar com ele. Após se despir da calça, Kazuma deixou o uniforme bem ajeitado ao lado e juntou-se a ele em sua cama onde o espaço era suficiente para os dois, mas pedia pela proximidade com que dormiam.
O menor fechou os olhos conforme o sentiu abraçar a si, e suspirou, sentindo-se confortável daquele modo, e em silêncio, rezou pela segurança dele como fazia todas as noites.
- Boa noite, Padre.
Num pequeno sobressalto, o loiro fora retirado da oração e sorriu ao ouvi-lo.
- Boa noite, senhor Sakurai.

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