Midnight Lovers #19


Na própria mesa de trabalho, Tsukasa mexia nos últimos papéis antes de sair, afrouxou a gravata num suspiro, retirando-a e seguiu para fora, iria vê-lo, mas antes, passou para comprar comida pra ele, naquele dia queria fazer uma surpresa boa, diferente do saque tradicional que levava sempre. Ao chegar na loja, pediu que fosse feita a comida e esperou, sentando-se perto do balcão, só não viu quando um rapaz sentou lado a si, fitando a si com um sorrisinho. 
- Posso ajudar? 
- Ah, na verdade sim. Você está sozinho?
- Está vendo alguém comigo?
Ele riu. 
- Não, mas é cortesia perguntar. Gostaria de jantar comigo? 
Tsukasa desviou o olhar a ele, fitando-o, e tinha o semblante irritado. 
- Eu tenho cara de quem janta com homem? 
- Bom, eu já te vi fazendo coisas piores com um homem.
- O que você disse?!
- Calma rapaz, não chame atenção. Você frequenta o bordel do Katsuragi, não? Te vejo sempre com aquele menino de cabelo preto.
- Vá para o inferno antes que eu arrebente você. 
Ele sorriu e negativou.
- Está aí uma coisa que eu ia adorar ver, você me arrebentar. Qual é o seu problema? Por que não se assume logo como gay, cara?
- Eu não sou gay, seu palhaço de merda. 
- Não? Então porque dorme com o garoto? É só pra fazer massagem nas costas, é?
Tsukasa levantou-se a se aproximar dele, e de fato era bem mais alto que ele, mas ele fitou a si da mesma forma, porém com um sorrisinho. 
- Não me provoque. 
- Vai fazer o que?
Num segundo, Tsukasa acertou o rosto dele com um soco, e as demais pessoas do restaurante já haviam se levantado, assustadas. O que não sabia é que ele não era um humano comum. 
- Vamos lá pra fora bonitão, não quero fazer alarde aqui dentro.
- Kuro! Kuro! Acorda! Rápido! - Disse o garoto que abriu a porta do quarto dele. - O Tsukasa, aquele rapaz que sai com você! - Ele disse, dando pausa para respirar. - Está no hospital. Ele brigou feio com um vampiro!
Kuro virou-se, evidentemente puto por estar sendo acordado aos gritos, encarou o menino, mas se levantou rapidamente ao ouvir dizer, ganhando dele o quimono já que dormia nu.
- O que...? Como ele foi se meter com um vampiro?
Indagou, embora não esperasse que ele fosse saber da resposta. Tinha os olhos um pouco inchados pelo sono interrompido, mas apenas saiu do bordel quando já estava apresentável e higiênico, no meio do caminho até passou por um rapaz nada muito bonito, de cabelos longos e loiros como uma taça de champanhe. Seguiu com o pequeno aprendiz até o hospital, devia ter se lembrado de não usar um quimono como aquele, era longo e vermelho, era luxuoso demais para um dia comum o que certamente deixava claro que não era apenas um visitante. Entrou no 
pequeno consultório médico onde estava o moreno, era um lugar caro e portanto, não haviam muitos pacientes por ali.
- Obrigado por me trazer, Mitsuru, você pode ir até a feira, se alimente e fique longe dos velhos. - Disse ao garoto e lhe deu moedas para distrair durante a visita. - Te encontro logo.
Chamou pelo médico da casa.
- Por favor, o senhor Tsukasa pode receber visitas?
Pensou naquele momento que não sabia seu sobrenome, então pareceria íntimo ao falar seu nome. 
O médico o fitou, por um instante notando seu kimono luxuoso demais, estranhou o garoto, sabia da onde ele vinha.
- Qual é o seu grau de parentesco com ele?
- Nenhum. - Sorriu, era um sorriso nada dócil, provocante e sugestivo. - Eu trabalho com ele.
- Hum. - O médico deu um sorrisinho de canto. - A esposa dele está aí, não acho que ela vai gostar de receber um cortesão no quarto do marido acidentado.
Kuro queria responder sem recatos, mas se lembrou  de como Tsukasa era exigente sobre sua posição social,  teve de conter a resposta.
- Não trabalho assim com ele, Tsukasa-san é um homem aversivo aos homens, eu sou responsável pelo bar no bordel, ele nos fornece algumas bebidas, por consequência somos bons amigos.
Respondeu, era bem convincente na verdade, mas sabia que o médico também iria ao bordel em algum momento, porém desde que não fossem palavras saídas da própria boca, tudo ficaria bem.
- Deixa-me ir vê-lo e se cuidar muito bem dele, ganhará um bom atendimento lá, eu prometo.
Ele deu um novo sorriso.
- Certo, pode entrar. Se alguém perguntar, eu não deixei, ah? Diga ao Mitsuru que irei vê-lo essa noite.
- Mitsuru, ah? Ele estava comigo, se eu soubesse, teria deixado ele por aqui. Seja bom com ele, hum? Ele ainda não teve um agrado. - Kuro disse, referindo-se a outra coisa e ele sabia.
- Pode deixar, eu vou comprar a primeira vez do garoto, e serei bom com ele sim. - Ele disse num sorriso. 
Agradeceu ao homem e então, seguiu para o consultório, entrando para vê-lo em seu pequeno quarto particular. Sabia o que devia esperar por ver, mas naquele momento ignorou o detalhe, sabia que apanhar de um vampiro, por mais forte que ele fosse, não seria nada fácil. 
Já no quarto, pouco afastada da cama, estava a esposa, fitava Tsukasa na cama, desacordado, e estava silenciosa, haviam alguns aparelhos ligados a si, sangue, soro, tinha vários curativos pelo corpo e uma faixa nas costelas que estava a mostra, já que sem camisa. Conforme ela viu alguém entrar, desviou o olhar em direção a porta e fitando o garoto, sabia exatamente do que se tratava. 
- Olá?
Kuro fitou-a se dando conta de que ela estava mesmo ali. Olhou para ele, franziu levemente a expressão, numa leve tensão, imaginou que teria gostado de ajudá-lo. Mas olhou para ela logo em seguida, sem nada dizer curvou apenas a cabeça, com respeito mas não inferioridade.
- Vim visitar seu companheiro.
Ela fitou o garoto novamente, tinha uma expressão séria, não demonstrou qualquer emoção pelo garoto, sabia que ele era bonito. Ela se levantou e seguiu em direção a ele, usava um vestido justo a seu corpo, que era bem delineado, era uma mulher bonita, mas não era o suficiente para que sentisse algum tipo de atração por ela agora.
- Então você é o garoto.
- Não sou bem um garoto, mas suponho que eu seja o amigo do seu marido.
- Hum. Entendo. Eu vou sair e comer alguma coisa. - Ela disse, ajeitando a bolsa sobre os ombros. - ... Pode ficar com ele.
Kuro assentiu com a cabeça e por um momento sentiu pena dela, ser trocado por um homem, sabia que não era fácil para as mulheres. Após agradecê-la, seguiu ao leito onde se sentou, bem na beira. 
Os olhos de Tsukasa estavam fechados, até então, não havia acordado, a briga havia sido feia de fato, e por um motivo tão fútil. Tinha vergonha de si mesmo, era difícil aceitar que gostava de um homem, que era homossexual. Sabia que não bateria em nenhuma outra pessoa que fosse, mas para si, tinha um problema interno consigo mesmo. O rosto estava bastante machucado, embora nada estivesse de fato extremamente inchado, tinha manchas arroxeadas na lateral de um dos olhos, tinha pequenos cortes no rosto e no corpo, que haviam sido resultado de um vidro que havia quebrado em frente ao rosto, tinha marcas roxas pelo corpo também e uma costela fraturada, por sorte, nada muito sério havia sido quebrado de fato, e aquelas marcas foram resultados de dois ou três socos somente, o garoto teve que ir embora já que havia uma roda de pessoas no local, ele não queria chamar atenção. A transfusão de sangue por outro lado, era somente por um motivo, estava pálido, bem pálido e tinha um curativo no ombro que cobria uma mordida profunda e dolorosa, ele havia arrancado um pedaço da pele do local. Nenhuma briga com um vampiro, para um humano, tinha um final muito feliz. Sabia que só brigaria até a morte com ele se a situação fosse outra, se a ofensa não fosse para si, e sim para Kuro.
Kuro observou sem certeza de todos os problemas acarretados, via a superfície ferida, deduziu a costela machucada pela faixa, o ombro estava coberto, então não tinha diagnóstico certos sobre o que havia acontecido, mas pelo rosto, imaginava que havia sido dolorido e também piedoso, provavelmente um vampiro poderia ter feito muito pior, mas havia sido um covarde, por brigar com alguém não a altura da briga, piedoso ou apenas indiferente. Tinha o hábito de demorar para filtrar as situações, será que precisaria ter sempre as pessoas importantes à mercê dos vampiros? Era um tanto impotente para eles, não importando quão forte fosse pela flor da idade. Por um momento pensou em Masami. Não sabia como tocar o moreno, se devia, ou se simplesmente devia ficar em silêncio ali. Tsukasa moveu a cabeça, devagar, de alguma forma estranha, sentia um cheiro conhecido, sabia que era o cheiro dele, e incomodava o sono, queria vê-lo.
- Kuro...
Kuro quase teve um pequeno sobressalto, por sorte havia sido baixo porque estava desprevenido. Alcançou a mão dele, estava um pouco ferida, provavelmente havia se esforçado na luta, sorriu ao ao pensar sobre isso.
- Tsukasa. - Respondeu.
Tsukasa uniu as sobrancelhas e piscou algumas vezes, desviando o olhar a ele.
- ... O que aconteceu?
- Ah, está acordado... Achei que só estivesse sonhando comigo. - Kuro sorriu, vendo seus olhos poucos abertos. - Você é um rapazinho encrenqueiro, devia apanhar na bunda.
Tsukasa sorriu meio de canto.
- Hum, depois que ele me acertou eu não vi mais nada...
- Filho da puta, vou mandar mata-lo.
Kuro disse e sorriu para ele, era estranho ver aquele monte de músculos deitados numa cama de uma forma tão frágil, ferido. Esticou a mão e tocou seu rosto com a leveza de uma pluma.
- Sua esposa estava aqui.
- Não precisa se preocupar. - Tsukasa desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas. - Ela te tratou mal?
- Quase não olhou pra mim. Mas ela estava aqui, fazendo companhia a você. Por que brigou com um vampiro? - Kuro disse e tocava seu rosto, ainda com gentileza. 
- Hum, eu achei que ela iria agir diferente. - Tsukasa disse num suspiro dolorido. - Eu estava comprando comida pra você, iria até o bordel, e ele se sentou do meu lado e começou a dar em cima de mim.
- Ela foi indiferente ao meu respeito, disse que ia comer alguma coisa, mas provavelmente está esperando do lado de fora. - Kuro sorriu e então o ouviu em sua breve história. - Ia levar comida pra mim, ah? - Disse, achou graça do detalhe, mas o fim deixou um ponto de interrogação na feição, embora não soubesse se ele podia ver. - E como isso terminou em briga?
- Bom, eu não gosto de pessoas dando em cima de mim, você me conhece.
- Por quê? Você é um homem bonito, se ele gostou de você estava elogiando como você é bonito.
- Você sabe que eu não gosto de homens dando em cima de mim. E ele tinha me visto indo ao bordel, aparentemente.
- Se fosse mulher você não ia achar ruim?
- Não, não quero ninguém dando em cima de mim.
- Hum... E então, não poderei vê-lo em meu futon por algum tempo, hum?
Tsukasa uniu as sobrancelhas a observá-lo e esticou a mão machucada, segurando a mão dele, e entrelaçou os dedos aos do outro.
- ... Eu queria levar missô pra você. Estava frio. Sinto muito.
Kuro sorriu, observando seus dedos provavelmente doloridos. O beijou no dorso, era estranho pensar como ele conseguia ser tão contraditório.
- Você pode ir se acomodar no meu quarto, eu cuido de você.
- Não... Você tem outras coisas pra fazer, não posso pedir que cuide de mim lá no bordel.
- Não teria problemas com isso. Posso acomodar você num quarto de vampiros, costuma ser subterrâneo e bem silencioso.
Tsukasa negativou, unindo as sobrancelhas e desviou o olhar em direção a porta, vendo a esposa ali parada.
- ... Aya. 
- Você pode ficar em nossa casa se quiser. 
Tsukasa arqueou uma das sobrancelhas.
- Eu? 
- O garoto. Acomodo você no quarto de hóspedes e ficarei uns dias na casa da minha mãe. Você cuidará dele?
Kuro não disse nada, na verdade não gostou de ter a conversa espreitada.
- Aya, o que dirá para a sua mãe? 
- Vou dizer que você está a trabalho, não se preocupe.
- ... Kuro?
- Eu... Preciso falar com Katsuragi.
- Hum. - Assentiu. - Obrigado, Aya.
Disse e não sabia porque ela estava fazendo aquele tipo de coisa, mas ela fez uma pequena reverência. 
- Certo, vou pegar as minhas coisas.
Kuro a viu sair, de alguma forma, se sentiu incomodado, mas não disse nada a ele, sabia que ela provavelmente estava esperando um momento para ir embora, e certamente não sabia se a veria mais.
- ... Não precisa ir.
- Na verdade sinto que ela está magoada e isso me deixa incomodado. Acho que ela quer estar com você.
Tsukasa fitou a parede por um momento e deu a ele um pequeno sorriso de canto.
- Na verdade, não acho que eu volte a vê-la novamente.
- Por que não? Ela gosta de você. É preciso muito para abrir mão de quem nós gostamos, não acha?
- É, mas ela já está no limite dela. E eu pretendo deixar ela ir se quiser, não posso ficar com ela só por ficar, gostando de outra pessoa.
- Ela precisa de um marido que a ame.
- Não acho que uma relação deve terminar assim. - Kuro sorriu. - Mas se okaa-san permitir, estarei para cuidar de você.
Tsukasa assentiu, estava triste pela situação, mas não disse nada.
- ... Venha me ver depois. Eu pago pelo tempo que estiver comigo, diga a Katsuragi.
- É, no fim, quando estiver quase bem, vou te dar uns tapas na bunda, gostosa por sinal, pra aprender a não brigar.
Tsukasa sorriu, sutil.
- Não sabia que ele era vampiro.
- Deveria olhar os olhos. Você os viu?
- Não, não prestei atenção na verdade.
- Hum, quero saber quem fez isso com seu corpinho lindo.
Kuro disse e se perguntou se sua tatuagem estava bem diante do curativo. 
Tsukasa sorriu meio de canto.
- Hum, não se importe, não quero você se envolvendo em brigas, prefiro morrer do que ver você machucado.
- Não fale assim. Não quero vê-lo ferido assim como você não quer me ver desse modo.
Kuro sorriu e tocou novamente seu rosto machucado. Se abaixou e deu um beijo sobre um dos cortes. 
Tsukasa assentiu e sorriu ao sentir o toque, era dolorido, mas suportaria um pouquinho de dor por ele.
- Vá perguntar a Katsuragi, eu tenho que trocar o curativo do ombro e não quero que você veja, está doendo bastante.
- Você não terá alta hoje, terá? Não devia.
- Eu acho que não, eu... Só acordei agora. Mas acho que não vão me deixar sair, não consigo me mexer bem por causa da costela.
- É, falarei com Katsuragi e volto pra te fazer companhia, hum?
Tsukasa assentiu, apertando a mão dele, mesmo que doesse.
- Não fique triste, tenho certeza que ele vai deixar e sua esposa não vai embora, lembra que me disse, ela gosta da vida que dá a ela.
Tsukasa sorriu meio de canto.
- Eu não ligo mais se ela voltar ou não na verdade.
- Você não pode ficar triste agora, porque eu não posso te abraçar.
Tsukasa riu e assentiu a ele, apertando sua mão novamente entre os dedos, ouviu os próprios estalarem.
- Não aperte.
Kuro disse e ergueu sua mão, beijou novamente seja dedos machucados, deu até umas lambidas neles. 
Tsukasa sorriu e deslizou a mão pelo rosto dele, acariciando.
- Acho incrível que você tenha vindo me ver.
- Eu acordei com meu subordinado berrando, no início eu quis mata-lo, mas de repente estava saindo com um quimono luxuoso demais na rua, sem perceber, já que ganhei o primeiro que achei.
Tsukasa riu, ainda o tocava no rosto.
- Obrigado.
- Por sinal, você ainda não elogiou meu quimono.
- Ah não? Pois é lindo. Combina com os seus olhos bonitos.
- Com os meus olhos? - Kuro arqueou a sobrancelha, mas sorriu. - Eu vou e já volto. Descanse.
- Eu acho que combina. - Tsukasa riu. - Tá bem, vou te esperar.
Kuro se levantou mas se curvou, selou seus lábios, quase no ar, não pesou em seus machucados.
- Eu já venho.
Disse e após a despedida, teve de soltar sua mão ainda na própria e riu conforme desvencilhou. No fim seguiu para a saída, mas olhou para trás, sabia que ele estava tenso, provavelmente preocupado sobre sua esposa.
-  Tsukasa, vou estar sempre pra você quando precisar. - Disse embora já estivesse na saída e só então saiu.
O maior soltou a mão dele, meio desajeitado e sorriu meio de canto, assentindo, o observava sair, e de alguma forma, se sentia feliz por ele estar ali, estava apaixonado por ele de uma forma que não sabia explicar, era uma sensação muito boa, e embora estivesse um pouco chateado, estava feliz, porque isso era um passe para que tivesse somente ele e mais ninguém. Ao ouvi-lo, sorriu, era um sorriso suave, assentiu a ele, o esperaria.

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