Nowaki e Tadashi #1

Aviso
Essa história foi descontinuada, ou seja, não temos previsão de novos capítulos, mas esse fato não prejudica nem deixa a história com mistérios não resolvidos, prometemos que ainda será uma boa leitura.


Tadashi suspirou, deixando o cigarro sobre o cinzeiro e abriu um pequeno sorriso meio desajeitado ao rapaz ao lado de si, que compartilhava da bebida colocada num dos copos. O lugar não era nada bonito de fato, nem por fora, nem por dentro, uma música alta, confusa e fumaça por todos os lados, fosse de algum tipo de droga ou gelo seco, o sofá era igualmente desconfortável, como se já estivesse lá há muito tempo e não tivesse mais o seu conforto inicial, estava rasgado e mal cuidado, não muito diferente das pessoas ali dentro.
- Chega pra mim, está muito tarde, quero dormir.
- Ah, você não vai dormir porra nenhuma, você vai é procurar alguma porcaria.

- Ah, me deixa em paz, Kenji, eu quero ir embora, se quiser venha comigo, ora.
- Eu não vou pro buraco onde você está!
Riu e pegou o cigarro sobre o cinzeiro, guiando-o para a boca novamente, tragando a fumaça a preencher os pulmões já contaminados.
- Bom, pelo menos eu tenho uma cama pra dormir.
E sorriu ao amigo, maldoso, logo se levantando e seguindo em direção à saída. Tadashi tinha cabelos brancos, meio bagunçados e até sujos devido a vida que levava, 
seus olhos castanhos meio vidrados devido às substâncias que usava, era a completa demonstração de que não voltava pra casa há dias, não queria que a própria mãe falasse alguma idiotice para si de novo, fazia por opção tudo aquilo, isso era o que pensava, já que não conseguia passar uma noite sem algum tipo de droga no corpo. Suspirou e jogou o cigarro na rua, não podia fumar onde entraria, uma das portas de esquina, onde estava morando atualmente, um abrigo, junto de alguns colegas que tinham o mesmo problema que a si, embora não encarasse daquela forma. Fechou a porta e observou um dos garotos jogados em sua cama, amigo já há um tempo, claro que não o tipo de amizade que uma mãe iria querer para seu filho.
- Ah, que susto, Tadashi! Eu trouxe uma coisa interessante, hum. Comprei agora pouco.
- Hum, o que é?
- Você não vai gostar muito...
- Divide logo e para de ser imbecil. Ah... Não tem agulhas, não é?
- Mostra logo o braço e cala a boca.
- Ah, que merda...
Falou e estendeu o braço, sentindo-o apertá-lo com aquela coisa feita de silicone que nunca soube o nome e fechou os olhos ao sentir a agulha furar a si, sempre teve medo de agulha, desde pequeno, justamente por ter vivenciado histórias meio conturbadas a respeito do objeto.
- Não comprou nenhuma porcaria de novo, não é? Ah...
O gemido veio baixo e dolorido rasgando a garganta, franziu o cenho logo após, desviando o olhar ao local perfurado e fechou os olhos, já sentindo a vista meio atrapalhada pelo efeito rápido da droga aplicada direto na veia e optou por deitar-se na cama ao lado do rapaz, enquanto ele fazia o mesmo consigo. O problema fora que a reação não era a mesma para ambos, ele poderia até ter gostado, mas como já havia ingerido outras drogas antes daquela, sabia que algo não estava certo, não era como nas outras vezes, mas estava alto demais para gritar por ajuda, e apenas sentiu o corpo congelar aos poucos, flutuando na própria mente até perder a consciência.
O que ocorrera depois e que ele certamente não se lembrava era que a ambulância fora chamada e não sobreviveria se a senhora dona do local onde estava dormindo não houvesse visto a própria reação e agora estava a caminho do hospital, ou clinica, e como não tinha nenhum documento, ninguém saberia de algum parente para contatar, a própria mãe nem ficaria sabendo.


Nowaki transitou pela sala do paciente e pegou a prancheta com anotações recentes de seu estado físico. Mental, ainda não havia tido a chance da avaliar, visto que ali há quase 24 horas e nesse período, desacordado. Verificou os aparelhos em torno de sua cama, seus níveis, sua medicação e mesmo sua aparência. Já havia sido limpo, e usava roupa hospitalar. Era jovem, devia ter em torno dos vinte anos, e sua pele já parecia um pouco melhor e mais corada do que o modo como havia chegado ali. Em sua ficha, infelizmente não tinha nome, documentação e nem filiação, seus únicos dados eram o local onde encontrado, causa, tipo sanguíneo, mas o nome suspeito, dado por um dos dependentes químicos, então era difícil ter certeza, tinha ali como uma pequena anotação no canto da folha e após verificá-lo, seguiu até a poltrona onde se sentou, preenchendo seus dados atuais e atualizados. Era médico da clínica já há um tempo razoável, tinha cabelos longos e negros e olhos cinzas, o tipo que deixava qualquer paciente sem fôlego só de observá-lo de longe. O garoto sentia-se leve, flutuando em um espaço em branco, e repentinamente sentiu-se mais pesado, como se caísse em cima das nuvens em direção ao solo e finalmente atingiu o chão, fora quando acordou, num sobressalto e observou o local ao redor. Sentia a agulha presa na veia e isso era incômodo, a agonia não tinha fim com o objeto, mesmo com o braço todo perfurado, embora quem furasse fosse sempre um amigo. Num movimento rápido e impensado, guiou a mão livre ao local, tentando retirar a agulha, embora sentisse algo preso ao próprio dedo indicador, onde indicava os batimentos cardíacos e ficou ainda mais agitado devido a quantidade de fios que sentiu presos em si.
Mesmo distraído, o outro ouviu o ruído pela cama, e cada suave batimento simulado pelo aparelho se tornar cada vez mais rápido. O que antes eram estranhados logo se tornaram movimentos agitados e deixou de lado a prancheta, levantando-se a se aproximar do paciente e segurou sua mão, evitando que arrancasse a agulha. 
- Não, não, você está sendo medicado.
Tadashi uniu as sobrancelhas ao vê-lo e puxou o braço rapidamente a livrar-se de seu toque, assustando-se, afinal não era acostumado e achou que estava sozinho no quarto, o que tornaria mais fácil para ele na teoria, fugir do hospital, se é que aquilo era um hospital e observando o outro, encolheu-se na cama, agitado como estava.
- ...Quem é você? Eu não quero ser medicado!
- Sou médico. E você teve uma experiência bem próxima de uma overdose, portanto estou te dando soro junto a medicação pra tirar essa droga de sua corrente sanguínea, tudo bem? Fique tranquilo. Me diga seu nome, é Tadashi?
O garoto o ouviu em silêncio e com atenção em suas pausas, o que aos poucos acalmou a si e diminuiu os batimentos.
- S-Sim...
- Tadashi é seu primeiro nome?
Nowaki indagou e conferiu novamente os aparelhos, notando novamente seus níveis e ritmo cardíaco. O outro assentiu com a cabeça e deu um longo suspiro, agora mais tranquilo.
- T-Tadashi Hamada.
- Hum, como no desenho... Certo, Hamada. Você tem que idade? 
Indagou quando buscou novamente a ficha, esperando preenchê-la com os dados.
- Eu sei... Tadashi é meu primeiro nome. - Falou e arqueou uma das sobrancelhas. - Onde eu estou? Quero ir embora. 
- Está numa clínica, como eu falei, você quase morreu noite passada. Me diga sua idade, Tadashi, se você prefere assim. 
- Por que quer saber minha idade? Não, não quero que chamem minha mãe aqui, quero ir embora. 
Respondeu impassível e novamente guiou a mão sobre a agulha no braço.
- Se você é maior, não vou chamar sua mãe. Só preciso saber quem é você, pra acompanhar melhor sua recuperação. 
Ele desviou o olhar, ponderando sobre a frase.
- T-Tenho dezoito, não quero me recuperar, estou bem, obrigado. 
- Claro que quer. Você é jovem, bonito, devia estudar. - E novamente segurou sua mão, tirando-a da agulha. - E chegou tão sujo, que parecia ser um mendigo. 
Tadashi estreitou os olhos, irritado com a constatação.
- Eu sei que eu devia estudar, me deixe em paz! - Falou a ele, unindo as sobrancelhas e sentiu as lágrimas presas aos olhos. - Eu quero ir embora... Preciso de um cigarro, você tem um? 
- Você tem traços fortes, não parece do tipo que chora facilmente. - Respondeu Nowaki, notando um leve sinal úmido em sua marca d'água. - Você não vai embora agora. Estou desintoxicando você, vai sentir náusea e tonturas se levantar. 
- E por que está fazendo isso?! Sabe que eu vou me drogar amanhã de novo!
- Por que você quer se drogar? 
Indagou e puxou a cadeira próxima a ele, sentando-se. 
- Porque sim, a vida é uma merda, eu odeio tudo isso aqui, e a sensação é boa. 
- Onde você costumava morar, Tadashi? 
O menor desviou o olhar a ele, ainda com as lágrimas nos olhos e abriu um pequeno sorriso malicioso, mostrando os primeiros traços de seu comportamento bipolar.
- Sou sua lição de casa, doutor? 
- Não sou estagiário pra ter lição de casa. Você é meu paciente.  
- Kyoto 
- Morava com seus pais? 
- Sim.
- E por que foi pro abrigo se tinha onde morar? 
- Minha mãe é alcoólatra.
- E isso é incômodo pra você? 
- Obviamente. 
- Bom, e você acha que não é incômodo se drogar e ficar sem sanidade, assim como uma pessoa que bebe? 
- Não sou incômodo pra ninguém, por isso moro sozinho. 
- Você não gosta da forma como ela age, mas tenta ser igual. E seu pai, ele é bom com você? 
- Meu pai morreu. Não preciso da sua opinião. Agora se me da licença, estou indo embora. 
- Você não vai embora, sou responsável por você durante a medicação. Você pode ir pela manhã. Mas, como eu disse, é jovem, tente não fazer isso. Se sua mãe te incomoda, tente um emprego, outro lugar pra morar. Não usando drogas, sabe que isso vai acabar com você, e você tem uma ótima aparência, por agora. Mas não se continuar a usar heroína.
Tadashi arqueou uma das sobrancelhas a observá-lo e negativou.
- Está falando demais sobre a minha aparência doutor, quer me dar um beijinho? 
Falou a ele, e obviamente usava o humor para encobrir alguma outra reação de si. Nowaki fitou-o, certamente muito sério. Mas levou algum tempo até sorrir. 
- Certamente minha última opção seria beijar um dependente químico, encontrado num abrigo, num estágio próximo a overdose, com cheiro de falta de banho, roupas sujas e cabelo que mais parecia um dread do que os fios lisos que tem agora. Você é um jovem rapaz, que pode ter uma vida muito melhor, estou tentando te ajudar.  
- Ah, mas me acha bonitão agora, olha aí. Diz isso toda hora. 
-  Sim, você é um rapaz bonito, e não gostaria de vê-lo perder isso com a dependência química. 
 Disse a se levantar e ajustar o ritmo com que o soro corria para suas veias. 
- Sei... Qual é seu nome? 
- Kuzama, Nowaki. Eu vou deixar você descansar, está com fome? 
- ... Quantos anos você tem? 
- Tenho 27. Você quer comer alguma coisa? 
- E você mora com os seus pais? 
O maior riu por fim, entre os dentes. 
- Não tenho mais idade pra isso. 
- Ah, e por que não? Sua mãe te incomodava? 
- Felizmente minha mãe não era uma alcoólatra. 
Tadashi sorriu.
- Me traga um hambúrguer, batatas fritas e refrigerante. 
- Não, você vai comer coisas leves, do contrário vai vomitar. 
- ... Leves? Tipo o que? Salada? 
- É uma boa opção. Saladas, sopa, talvez carne branca, um mousse. 
- Um mousse? Mousse é coisa de viado. 
- Não sabia que a alimentação era voltada a determinado público.  
- Vai ter sementinhas de maracujá? 
- Vamos garoto, não enrole, do contrário vou pedir que tragam gelatina e caldo de frango. 
- Tá, pode ser.
- Passe o restante da noite aqui e libero sua saída amanhã pela manhã. 
Disse e então finalizou o necessário em sua ficha, logo pedindo sua alimentação. 
- Nowaki! - Gritou o garoto, antes que ele deixasse o quaro. - Obrigado. 
Nowaki voltou-se ao rapaz ao ser chamado e somente assentiu, tão logo deixou a sala, não faria plantão portanto o deixaria nas mãos de outro médico num turno próximo. Tadashi ajeitou-se na cama e fechou os olhos, preferia descansar enquanto não recebia sua comida e se certo modo a imagem daquele médico tão bonito não deixava sua cabeça. Por que ele se preocupava tanto consigo? Era um ninguém. Talvez ele fosse assim com todos os pacientes, mas esperava poder vê-lo de novo e testar seus limites de paciência, ah era um jogo muito agradável para si...

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