Nowaki e Tadashi #2


Era óbvio que Tadashi usaria drogas de novo, uma vez viciado, se não estivesse em tratamento, não se livraria tão fácil do vício e com seu corpo já fraco e dependente, não seria difícil ter outra reação como aquela, tão drástica, e embora chegasse perto da morte, não era como se ele se importasse de morrer com todos os problemas que tinha na vida, na verdade, não via uma outra opção e quando estava alto, não se lembrava da própria vida, nem do médico bonito, de nada.
Bem, Nowaki não havia se impressionado. Já era acostumado a receber pacientes com muitos retornos até finalmente serem colocados na clínica ou talvez, morrerem numa overdose. Tentava convencê-los do quão ruim era o vício, mas era um vício, se fosse fácil não seria taxado assim. Já havia se acostumado com o fato de que metade ou todos eles, não queriam realmente uma ajuda. E ele era somente mais um deles. Parou ao lado da cama, notando novamente sua aparência suja e que as enfermeiras tentavam amenizar, embora não estivesse ruim como na primeira vez e se sentou numa poltrona esperando até que finalmente pudesse colocá-lo no soro, como antes, tirando toda porcaria que insistia em usar, mas dessa vez, não fez sua desintoxicação.
Tadashi suspirou em meio ao sono que tinha, embora não estivesse tranquilo, ainda passava mal pelas drogas e vez ou outra virava de um lado pro outro, sentindo as gotas de suor que escorriam pelo rosto, colando os cabelos repicados na face, tenso demais pela dor que sentia no corpo e parecia que estava se desfazendo, a única parte positiva era estar deitado numa cama confortável, mas isso nem fazia diferença naquela situação. Havia usado mais drogas do que podia e como na última vez, nem havia percebido. Despertou, dessa vez por causa da dor excruciante e não do sonho e desviou o olhar pela sala, buscando algo no pesadelo branco novamente.
- Nowaki... - Murmurou com os olhos entreabertos. - Me ajude...
O moreno ergueu a direção visual, estava sentado e observava a ficha, mas fitou-o ao ouvi-lo falar.
- Ah, se lembra de mim? - Indagou e por fim se levantou, seguindo até seu leito, verificando a aparelhagem, seus níveis e seu soro. - Que ajuda você quer, Tadashi?
O loirinho assentiu à sua primeira pergunta e encolheu-se, estendendo uma das mãos a segurar o pulso do outro e apertou-o mesmo sem força, já que fraco demais para fazê-lo.
- Itai...
- O que dói? - Retrucou ao senti-lo segurar o pulso, mas deixou por hora sua ficha, levando a mão sobre a dele, desvencilhando o toque a descansar sua mão sobre a cama. - Fique relaxado.
- Meu estômago...
Tadashi falou meio embargado, embora sentisse as mãos trêmulas e tentou relaxar o corpo, ainda a sentir o suor pela face, estava quente, e o estômago doía, como se revirasse, Nowaki buscou um analgésico o qual inseriu através de uma seringa em sua bolsa de soro. O suspiro deixou os lábios do loirinho, que mordeu o lábio inferior, o qual tentou machucar para não sentir tanta dor em outro lugar e até chegou a arrancar sangue, porém desviou o olhar ao maior logo após e uniu as sobrancelhas.
- Tudo bem, o medicamento fará efeito logo. Pare com isso.
Disse e passou o gaze sobre o lábio ferido do menor, onde logo aplicou uma pomada para suavizar o ressecamento da região e sem poder fazer nada, Tadashi soltou o lábio e apertou o lençol da cama onde estava, mesmo que o braço estivesse ocupado pela agulha.

- Você voltou a usar a mesma coisa, mesmo tendo feito mal a você.  
- Eu disse que eu precisava. 
- Você precisa de algo que faz tão mal a você? 
- Preciso, se não eu fico pior. Me da dor de cabeça, ânsia, eu quase morri quando tentei parar. 
- Porque ainda estava intoxicado. Eu desintoxiquei você da última vez que nos vimos, e você continuou.
Tadashi franziu o cenho novamente.

- Eu não consigo. 
- Você precisa fazer reabilitação.
- Não! Não quero, obrigado. 
- Então vai voltar aqui e tomar soro, até morrer. 
- Eu não vou morrer. - Falou a ele e estreitou os olhos. - Eu estou bem.
- Está porque eu mediquei você.
- Hai... Faz parar de doer Nowaki, está doendo ainda!

- Vai parar de doer em alguns minutos.
Disse Nowaki e aumentou o ritmo dos gotejos de soro em sua veia. Verificou sua pressão, seu ritmo cardíaco e visto que certo, exceto pela ansiedade, sentou-se na poltrona, observando o garoto. Tadashi suspirou novamente e fechou os olhos, ambas as mãos estavam sobre o abdômen e franziu o cenho, embora aos poucos sentisse a dor diminuir.
- Respire fundo, Tadashi.
Dizia sempre com firmeza, mesmo embora tivesse no fundo um tom acolhedor e o garoto fez o indicado, repousando a face confortavelmente no travesseiro.
- Quer dormir? Posso lhe dar um sonífero.
- Não...
- Tudo bem. Então relaxe e verifico você em alguns minutos. Se a dor não passar, me diga.
- Não... Fique aqui.

- Eu volto em minutos, preciso verificar outros pacientes. Existem outros idiotas. 
- ... Não me chame de idiota, idiota. 
- Bem, você é um. - Sorriu. - Volto logo, comporte-se. 
- Hai... 
Nowaki o deixou por um momento, verificando os demais pacientes. Já não se admirava com o estado físico e mesmo mental dos jovens que passavam por ali. Maior parte deles detinha uma dupla personalidade, insanos ou agressivos, tinham medo da prisão no fim de tudo, outra parte não conseguia sequer responder algo além de sofrer o dano das drogas para desintoxicação, de abstinência.
Tadashi fechou os olhos por alguns instantes, o branco da sala incomodava um pouco, e observar os cabelos pretos dele davam alguma calma a si, mas era óbvio que nunca diria a ele e o orgulho que perderia? Encolheu-se e virou, cobrindo-se com o cobertor, sentia frio, obviamente tinha febre e aguardou seu retorno pacientemente. Não demorou muito tempo para que ele retornasse, observando a si, já melhor com a dor.
- Parece que a medicação fez efeito.
- Se tiver febre o analgésico deve melhorar. - Disse após compor sua medicação novamente e verificar outra vez seu estado, seja cardíaco e níveis do sangue. - Sente fome?
- Hai, mas tenho um embrulho no estômago.
- Vou pedir algo pra você. Vou liberá-lo amanhã, mas espero não vê-lo mais aqui.
Tadashi sorriu, era óbvio que voltaria ali de um jeito ou de outro, gostava de importuná-lo.
- Continua no abrigo?
- Não posso viver com a minha mãe.
- E pode viver num lugar se matando?
- É quase a mesma coisa.
- Não é. Você pode estudar, ser alguém melhor que a sua mãe.
- Nowaki, não insista nisso.
- Insisto. Se não há quem insista por você eu insisto. Você pode ter um bom futuro, rapaz. É tão novo. E aos poucos parece mais velho do que 18. Pensei que já tivesse pelo menos 2 anos a mais do que tem. 

- Ora, está me chamando de velho? 
- Sim. Dois anos mais velho do que devia parecer.  
- Ora, você que é velho! 
- Claro que sim. - Disse e por fim riu. - Quero que você melhore.
Tadashi estreitou os olhos.
- Então me leve pra casa, doutor.
Embora provocado, Nowaki sorriu a fitá-lo e cruzou a perna, onde apoiou o cotovelo. E sobre a palma da mão o queixo.
- Sabe, minha casa teria se tornado uma pensão se eu fosse levar todos os pacientes que dizem isso. 

Ah, é? Hm, está requisitado hein doutor. 
- Na verdade, isso é porque todos pensam que a vida dos outros é melhor do que a deles. 
- Ah é? Tenho certeza que sua mansão é melhor que minha casinha. 
- Pelo menos tem uma casinha, certo? Tem um lugar pra voltar a hora que quiser.
- Bom, claro.

- Bom, e se você quer uma boa casa, deveria estudar, como eu fiz. 
- Certo, se te faz feliz, eu vou estudar, agora pare de me encher.
- Pare de se drogar. 
- Certo. Vá sonhando.
- Bem, tanto faz. Se você não se importa consigo, quem sou eu pra fazer isso por você. 

- Hum, basicamente isso. 
- Certo. - Disse Nowaki e indicou a enfermeira que deixasse seu pequeno lanche. Seguiu até ele, verificando ainda o que mesmo de sempre. Aumentou o ritmo do soro e por fim voltou-se para saída da sala. - Qualquer coisa, estou na outra ala. - Disse à enfermeira, como instrução. 
Tadashi desviou o olhar para a bandeja com a comida e estreitou os olhos mais uma vez, irritado.
- Ora... Idiota, só liga pros meus estudos, se não fosse bonito ia ouvir umas verdades. 

- Você é quem deve ouvir umas verdades, não eu. 
- Ah, é? Então venha dizer. 
- Não vou, você é meu paciente. Vou me restringir a te dar medicação toda vez que vier mais acabado pra cá. Até o dia que morrer aí.
E mais uma vez a ideia da palavra "morte" fez o corpo estremecer, e já irritado, o garoto jogou a bandeja de lado e viu-a ir para o chão.

- Saia!
- Não sou seus amigos, Tadashi. Veja como fala comigo. 
- Saia logo!
O moreno ergueu a direção visual à enfermeira, com um simples gesto do dígito pediu que esperasse um minuto lá fora e seguiu para a cama, como se fosse voar no pescoço do rapaz, porém somente se abaixou apoiando as mãos no colchão e encarou o garoto, de perto, mas não tanto, a respiração fresca tocando seu rosto o que fez o rapaz de encolher.
- Escute, não me faça não gostar de você, porque eu posso ser um médico muito bom mas impossível de conviver também. Estou sendo bom demais pra um pirralho como você, que não quer nada da vida, só apodrecer na... - Suspirou, buscando evitar os palavrões. - Num abrigo, enquanto usa seringas usadas de um bando de drogados imundos. Você tem sorte de não ter AIDS ou qualquer tipo de doença transmitida pela po... Agulha. Então se comporte, porque eu posso te fazer ficar preso, seja numa jaula da prisão, ou junto a um monte de estúpidos que como você, queriam fugir da vida e dormir drogado o dia todo. Então fala direito comigo, moleque, porque não estou sendo pago pra cuidar de você, então com certeza não vou te aturar. - Dito, levantou-se e arrumou a roupa, alinhando-a e pegando o pote jogado ao chão deixou sobre a cama dele - Tome seu iogurte.
Tadashi ouviu tudo em silêncio, porém ao fim, antes que ele pudesse se levantar abriu um pequeno sorrisinho maldoso visto que não havia apanhado e apenas ouvido suas palavras gospidas contra a face.
- Hum... Olá doutor. - Falou e mordeu o lábio inferior, malicioso. - Vou tomar, pode deixar.

- Ótimo.
O loiro viu-o deixar o quarto e conversar algo com a enfermeira do lado de fora, abriu o pote de iogurte e lambeu a colher que o acompanhava, com o pequeno sorriso ainda nos lábios.

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