Kazuma e Asahi #77


A marcha dos calçados ressoou pelo piso de madeira, denunciando a chegada de Kazuma. Os cabelos estavam um tanto molhados embora houvesse acabado de chegar, havia se banhado no quartel após algum treinamento pessoal. 
- Asahi. 
Chamou, procurando pelo rapaz que não havia tido quaisquer serviços naquele dia.
Ao ouvir os passos já conhecidos, Asahi seguiu para fora do banheiro, havia tomado um banho também recente e usava somente o roupão sobre o corpo, recepcionaria ele daquela forma mesmo.
- Kazuma!
- Interrompi seu banho? 
Kazuma indagou e o recepcionou igualmente, mas lhe deu um beijo na testa e logo na ponta do nariz. Asahi negativou e sorriu a ele, deslizando ambas as mãos ao redor de seu corpo, abraçando-o a repousar a face em seu peito. 
- Estava esperando você.
- Vamos ao quarto. - Kazuma disse e ergueu uma embalagem, uma sacola de papel. - Trouxe algumas coisas para que você experimente.
O menor assentiu e soltou-o, afastando-se a observar a sacola. 
- Ah, o que é?
- Algumas frutas e flores, não sei se já provou delas.
- Ah... Flores... Pra... Provar?
- Sim, são preparadas para comer. Vamos. - Kazuma disse e então seguiu a leva-lo para o quarto, guiando pelo ombro. - Fez algo hoje?
Asahi assentiu e seguiu com ele para o quarto e conforme entrou, se sentou na cama, esperando por ele. 
- Eu fui ver os cavalos. - Sorriu.
Kazuma se acomodou e deu a ele a embalagem, chamou pelo jovem serviçal do qual pediu por uma faca e uma superfície para cortar as frutas. Em algumas bandejas se disponham, assim como as flores. Tinha mangas, maçãs e dekopon. Florais tinham rosas e cerejeiras cristalizadas e açucaradas. Asahi observou a bandeja, não tinha ideia do que eram aquelas frutas, então silenciou-se. 
- Talvez eu devesse... Trocar de roupa.
- Hum, talvez uma de minhas camisas.
Asahi sorriu ao ouvi-lo e assentiu, era um pedido engraçado e de alguma forma excitante, não sabia explicar. Seguiu ao armário, pegando uma das camisas dele, escolheu a que mais gostava e retirou o roupão, deixando-o deslizar pelos ombros e atingir o chão, não se importou que ele visse o próprio corpo, de costas, é claro. Colocou a roupa íntima que havia separado e só então, sua camisa, abotoando-a, menos os dois botões iniciais e voltou para a cama com ele, sentando-se a seu lado.
Kazuma sabia que mesmo um pedido tão simples como aquele agradaria o menor, ele gostava das camisas, observava as pequenas coisas que ele gostava no dia a dia. Após se sentar, observou o menor e como ele parecia refrescante com as roupas. Ao ganhar a faca, entregou uma das bandejas de fruta ao serviçal e agradeceu. Após sua saída pegou a faca e fatiou uma das maçãs. 
- Prove. É uma maçã sekaiichi. Ela é mais doce que as maçãs comuns, são cultivadas com cuidados especiais.
O loiro desviou o olhar a única fruta dali que conhecia e assentiu, pegando a fatia da fruta, levando-a aos lábios e mordeu, por um momento teve que fechar os olhos, era realmente doce e saborosa. 
- Hum...
- Saborosa, hum? - Kazuma indagou e sorriu, gostava da experiência de prover coisas novas a ele. - São lavadas com mel durante o processo.
Asahi desviou o olhar a ele e assentiu. 
- Hum, oishi!
- Quer mais? 
O moreno sorriu e pegou uma fatia da maçã para si, levou-a até a boca com o apoio da faca. Asahi sorriu e assentiu. 
- Hum, obrigado por trazer as frutas pra mim.
Kazuma deu a ele mais uma fatia, porém deixou o restante da maçã e pegou a fruta laranja. 
- Quer provar essa agora ou a manga?
Asahi mordeu novamente a maçã e desviou o olhar as duas frutas.
- ... Manga?
- Certo, manga. - Kazuma pegou a faca e correu pela casca da fruta, tirou suficiente para cortar uma fatia dela e dispôs para que ele pegasse. - Aqui.
Asahi observou a fruta, curioso e uniu as sobrancelhas, guiou-a aos lábios e mordeu um pedaço pequeno. 
- Hum... Nossa, que delícia.
- Gostou, hum? Embora sejam difíceis de vender aqui, quem consome costuma gostar muito.
- É uma delícia, ah... Onde tem?
- Em algumas lojas. Se você gostar, posso trazer mais vezes.
- Eu quero, por favor... - Asahi sorriu.
- Trarei. Mais um pouco?
O loiro assentiu, esperando pelo novo pedaço da fruta.
- Ela... É cara?
- Hum, nada que não possamos comprar. - Kazuma disse e entregou mais um pedaço da fruta para ele. - Você pode apalpar ela e sugar, como um suco.
Asahi assentiu e aceitou o pedaço, mordendo-o, e sentiu algumas gotas do suco escorrerem pelo dedo, riu baixinho e lambeu, porém se corou ao ouvi-lo, não queria admitir que havia visto malícia naquela simples frase.
- O que? - Kazuma indagou, ingênuo sob seu corar, mas cortou mais da fruta e descascou a outra. - Essa é a dekopon.
Asahi negativou e sorriu, desviando a atenção para a outra fruta. 
- Hum hum, essa tem um cheirinho de... Laranja, não sei.
- Essa é a cruza de uma laranja e uma tangerina. É forte e doce, mesmo cítrica, eu adoro essa.
Asahi sorriu e esperou pelo pedacinho da fruta, ou gomo. Kazuma cortou ao meio e deu a ele. 
- Está higienizada, pode tragar.
O loiro assentiu ao pegar a fruta e observou-a curioso. Levou aos lábios e sugou a fruta, ou tentou, rindo baixinho em seguida. 
- Oishi!
- Forte, ah? 
O moreno disse e a outra metade ao invés de sugar, mordeu. Asahi assentiu num risinho e observou a fruta, desviando o olhar a ele em seguida. 
- Você está com um cheiro gostoso de banho.
- Tomei banho no quartel.
Kazuma disse enquanto continuava com a fruta e de dentro da sacola tirou outra manga para ele, mostrando que ainda tinha. Asahi sorriu e assentiu, sugando a fruta novamente, por fim agarrou a manga, abraçando-a contra o peito, claro, brincando. O moreno riu, baixinho e certamente compraria mais daquela fruta. 
- As flores?
- Hai, quero experimentar. Disse deixando a fruta azeda separadinha.
Kazuma abriu a embalagem e pegou as pétalas firmes, primeiramente as rosas açucaradas. Asahi observou as pétalas, bonitas e sorriu a ele. 
- E a gente pode comer isso?
- Sim, são feitas para que possam comer. Vamos, prove.
O menor assentiu num pequeno sorriso e pegou a pétala, guiando-a aos lábios, era um sabor diferente, nunca havia provado algo como aquilo. 
- Hum... É... Estranho, mas gostoso. - Riu.
- Parece um chá, talvez? - Kazuma sorriu. - As cerejeiras são mais suaves.
- É, tipo um docinho de chá. Ah... Posso experimentar?
- Sim, as trouxe pra você. Prove.
Asahi assentiu e pegou uma das pétalas, levando aos lábios e mordeu um pedacinho como havia feito com a rosa. 
- Hum, essa é mais gostosa. - Riu.
- Hum, é mais suave, menos planta. - Kazuma riu entre os dentes.
Asahi assentiu num risinho e pegou outra pétala, levando aos lábios. 
- Pode me dar mais um pedacinho da manga?
Kazuma assentiu num sorriso canteiro, como pedia enquanto ainda comia de outras cosias, parecia interessado nelas. Fatiou a manga em mais alguns pedaços e deixou as fatias para ele. 
- Aqui.
Asahi sorriu e pegou o pequeno pedaço, levando para a boca.
- Não se esqueça do jantar.
- Não vou. - Sorriu.
- Se comer muita fruta não vai jantar.
- Ta bem... 
Asahi disse a unir as sobrancelhas e devolveu a manga.
- Iie, coma.
Kazuma assentiu e pegou mais um pedaço da manga. 
- O que vamos jantar? Estou com fome...
- Hum, talvez você possa sugerir. 
O moreno disse, feliz com o comentário incomum mesmo depois das frutas. Asahi sorriu.
- Hum... Que tal onigiri?
- Certo, onigiri e o que mais?
- Hum, peixe?
- Qual peixe você quer?
- Atum?
- Certo, atum e onigiri
Kazuma sorriu e se levantou, achou graça pelas escolhas, parecia falar com uma criança. Asahi sorriu conforme o viu se levantar e pegou mais um pedacinho da manga, como se pegasse escondido. O maior fitou como se o repreendesse, mas seguiu logo embora, daria as ordens do jantar. Asahi riu baixinho e deixou de lado a bandeja com as frutas. Observou o quarto que agora era grande, não mais minúsculo como era antes, gostava, e até deitou na cama, fechando os olhos por alguns segundos enquanto ele estava fora. Ao voltar para o quarto, Kazuma o observou na cama, em descanso, não fez barulho e ele continuava segurando sua fruta. Buscou algumas roupas e substituiu a farda. Asahi abriu os olhos ao ouvir o barulho pelo quarto e sorriu a ele, notando suas roupas casuais.
-  Ah... Desculpe, cochilei.
- Pode continuar. Acorde no horário do jantar.
- Iie, deita comigo...
Kazuma seguiu até ele e se sentou à beira da cama. Asahi sorriu e deslizou uma das mãos pelo rosto dele, acariciando-o e logo seus cabelos.
- ... Fico feliz de poder olhar pra você.
- Hum, o que, tão de repente? - O maior tocou sua mão.
- As vezes eu agradeço em minhas orações por ter minha visão e poder ver seu rosto tão bonito. 
Disse num pequeno sorriso e virou a mão para tocar uma mecha de seu cabelo, porém cessou ao ver a manga da camisa vermelha, não entendeu por um momento e só então havia notado que era sangue. Uniu as sobrancelhas e puxou a mão para si, abaixando a manga da camisa a fitar o pulso machucado, havia um corte, não muito generoso, mas também não muito pequeno, não o havia sentido, mas por um momento se lembrou de ter se apoiado na cerca dos cavalos, e lá havia arame farpado. 
- ... Ah, foi um acidente, eu juro.
- Ora, como se manifestou apenas agora? Tem tomado cuidado? 
Kazuma indagou e embora desconfiado, não desacreditada de veracidade do outro. Ao tomar sua mão trouxe o pulso para fitar, tocou com um lenço antes guardado na gaveta, limpo, como todos os outros dentro dela.
- Me desculpe, eu não havia visto no banho... Eu estava distraído... - Asahi murmurou e observou o pulso conforme ele segurou, gemeu conforme o teve apertado, só então doeu. - Eu... Me inclinei pra ver os cavalos, e apoiei o braço na cerca.
- Tenha cuidado, chamarei o médico. O que estava fazendo no banho, hum? Distraído, é?
- Não precisa chamar o médico, não quero dar mais despesas, vai melhorar. - O loiro disse a unir as sobrancelhas. - ... Eu estava olhando a janela, pra saber quando você iria chegar.
- Não seja tolo, existem duas coisas das quais não podemos economizar o dinheiro. Sabe quais são, não sabe?
- Saúde e... Comida? - Asahi riu baixinho. - Depois daquele inverno na guerra, eu... Fico em dúvida entre a comida e um casaco bem quentinho.
- A comida pode aquecer você, dependendo da comida. - Kazuma sorriu.
Asahi sorriu e deslizou a mão pelo pulso dele, a mão que não estava machucada. 
- Você pode me aquecer.
- Certamente que vou. 
Kazuma disse e pressionou sua ferida ao alcança-lo, para que não continuasse a sangrar. Asahi gemeu novamente, unindo as sobrancelhas e encolheu-se. 
- É assim que dói quando cortamos...?
- É, é assim. 
Kazuma disse e ao soltar, embora houvesse uma linha vermelha, não mais gotejou. Asahi desviou o olhar a ele, a dor cessava aos poucos, conforme o toque dele havia sido afastado. 
- ... Seu toque dolorido ainda me excita. - Murmurou e ao perceber o que havia falado, desviou o olhar. - ... Desculpe.
- Talvez quando não for em um machucado real.
- ... Podemos só... Fazer um curativo?
- E se eu costurar você?
- ... Cos... Turar? Você sabe dar pontos?
- Não sou um médico mas sou um militar e tenho métodos de sobrevivência.
Asahi observou o próprio pulso, fitando-o em seguida e podia sentir a respiração sutilmente descompassada, estava com medo? Se lembrava de agulhas, mas somente com as visitas dos médicos, nas injeções e alguns tratamentos que recebeu, nunca havia sentido nada, mas talvez... 
- ... Tudo bem.
- Eu não falei exatamente sério. - Kazuma disse e tocou o topo de sua cabeça. - Não vai morrer por uma arranhada de arame.
- Ah... Não? - Asahi disse e uniu as sobrancelhas, talvez estivesse um pouco decepcionado. - ... Tudo bem então.
O riso de Kazuma soou entre os dentes. 
- Depois eu te dou uma injeção.
Asahi assentiu e sentiu a face se corar de modo sutil, se sentia um idiota. 
- ... Injeção?
- Na bunda.
Asahi desviou o olhar a ele ao ouvi-lo e riu baixinho.
- ... Na bunda? 
Disse, como ele e escondeu os lábios por um momento conforme percebia a palavra.
- É, e vai ser melhor do que alguns pontos.
- Hum... Eu... Acho que entendi que injeção você quer me dar. - O menor riu.
Kazuma sorriu a ele, em silêncio.
- Eu vou gostar. - Asahi sorriu.
- Por hora descanse. Espere um pouco. 
Kazuma disse e voltou junto a uma pequena caixa de madeira, tirou o que usou para limpar o machucado e colocou o curativo. Asahi assentiu, esperando por ele e estendeu o braço, esperando pelo curativo, e o remédio fez a si gemer novamente. 
- ... Itai.
- Já estará bem em breve.
- Hai... Eu... Queria sentir, poderia ter cuidado antes.
- Tome cuidado com as cercas, arames e derivados.
O menor assentiu a observá-lo, silencioso. 
- Kazuma... Como foi seu dia hoje?
- Foi um dia que eu saí para trabalhar sem ter com o que trabalhar de fato. 
O maior sorriu e Asahi riu baixinho. 
- Sentiu minha falta?
- Hum, o que você acha?
- Eu não sei. - Asahi sorriu. - Quero saber se ficou na sua mesa pensando em mim, pensando... Em como eu estaria quando você chegasse em casa.
- Você é um rapaz romântico, ah? Na verdade pensei em trazer as frutas.
Asahi riu. 
- Me desculpe, eu nunca tive um namorado, você é o primeiro. 
Disse, e só então se deu conta da palavra que havia usado, era estranho, nunca havia pensado nele como um namorado, quer dizer... Nem havia um pedido formal de nada, só viviam juntos. 
- ... Quer dizer, eu nunca... Tinha amado realmente uma pessoa.
- Hum, namorado, ah? Parece até que sou muito jovem. 
Kazuma afagou seus cabelos e guardou a caixa de primeiros socorros.
O menor riu. 
- Bem, pra mim você é.
- Sou, ah? Eu poderia ser um pai jovem e ser o seu pai.
- Hum, você é um papai muito bonito. - Asahi riu.
- Obrigado, filho. 
Kazuma brincou ainda que parecesse sério. Asahi mordeu o lábio inferior. 
- Posso te fazer uma pergunta estranha?
- Hum? - Kazuma murmurou, esperando.
- O que pensa quando me vê vestido assim? O que você... Sente?
- Assim com a minha roupa ou seu corpo?
- ... Meu corpo.
- Asahi, não ache que porque eu não estou o tempo inteiro tentando transar, que eu não admiro ou sinto atração pelo seu corpo.
- ... Eu não disse isso.
Kazuma o observou, imaginava que no fundo era sim essa, a razão da pergunta, mas não disse nada mais, exceto a resposta. 
- O acho bonito, gosto de olhar você. As vezes acho que é um pecado desperdiçar sua juventude aqui.
Asahi uniu as sobrancelhas e negativou. 
- Eu não acharia isso, Kazuma. Eu só perguntei. - Disse e assentiu ao ouvi-lo. - Acha que desperdiço mais aqui do que na igreja? Estaria lá se não fosse por você.
- Hum. - O maior murmurou afirmativo. - Eu sei. Eu não disse que me arrependo de desperdiçar o seu tempo.
Asahi sorriu meio de canto. 
- Amanhã o visitarei. Tenho que trabalhar com as enfermeiras. Você viu meu novo uniforme?
- Já vi os uniformes novos, mas não o vi em você. Amanhã farei isso, hum?
Asahi assentiu e sorriu. 
- Hum, espero que eu fique bem de branco.
- Branco combina com você. - Sorriu. - Cores claras combinam.
- Bom saber. Ah, por fim, você descobriu porque o kimono ficou pequeno pra mim?
- Eu não perguntei, apenas pedi que ajustassem.
- Hum... - Asahi uniu as sobrancelhas. - ... Acho que estou engordando mesmo.
- Bem, continua bonito.
Asahi desviou o olhar a ele e abriu um pequeno sorriso. 
- Agora bonitinho, coloque um roupão ou uma calça para o jantar.
O menor assentiu e levantou-se a procurar uma calça para vestir.

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