Yuuki e Kazuto #79


Kazuto havia saído do estúdio, os rapazes disseram a si que ele já havia saído e não entendia, se não estava ali, estava em casa e havia saído de lá há pouco tempo. Caminhou pela rua, observando as ruas escuras, e é claro que preocupava-se, era vampiro, mas carregava consigo os dois filhos pequenos, na verdade, já há pouco tempo de nascerem e o casaco comprido evitava mostrar muito a barriga as pessoas que circulavam pela rua. Aspirou o ar, e de fato estava preocupado, não era daqueles maridos chatos que ficava atrás do outro para saber onde estava, mas tinha medo que algo tivesse acontecido com ele, embora soubesse que ele era bem mais velho que si, e mais experiente. Cessou numa das ruas, aspirando o ar para os pulmões, porém logo cessou ao sentir uma estranha sensação pelo corpo, algo que facilmente podia confundir com vários sentimentos e não sabia ao certo o que era, mas sabia que vinha dele. Uniu as sobrancelhas, não eram sentimentos ruins, muito pelo contrário, e guiou-se pela rua, meio sem rumo, a medida em que sentia o cheiro dele se intensificar e ao cruzar uma esquina, viu ali o outro, parado, e tinha um corpo entre os braços. Os pés se cravaram no chão, não havia visto o que ocorria, apenas silhuetas e aquele sentimento irritante que parecia uma excitação estranha dele. Negativou, os olhos pequenos arregalados a observá-lo e por um momento sentiu as lágrimas nos olhos, notando aqueles olhos dourados e vermelhos como havia visto anos atrás, numa mesma situação, embora nunca mais esperasse vê-lo com outra pessoa daquele modo. Talvez se chegasse a se aproximar, pudesse ver que ele somente se alimentava, nada mais íntimo do que isso, e que as sensações de excitação não vinham dele, e sim de algum dos filhos, que se misturava as sensações do outro. Sentiu as pernas fraquejarem, assim como os olhos que se encheram de lágrimas e deu alguns passos para trás, focado nos olhos brilhantes que eram a única coisa que conseguia ver ali e certamente ele havia ouvido a si, sentido o cheiro e quase ouviu-o dizer novamente o quanto era irritante e devia deixá-lo em paz. Sentiu as pequenas gotas deslizarem pela face e virou-se, seguindo rapidamente pela rua, a se afastar daquela imagem do outro.
Yuuki havia tido alguns problemas para reabastecer o estoque de sangue em casa, tinha o fornecimento do médico que conhecera anos atrás e era aquela a primeira vez que não havia feito reposição. Conseguia ficar algum tempo sem sangue, no entanto era diferente com os próprios filhos, mas bem, eram grandes o suficiente para irem atrás de seu alimento. O porém é que o fato de ter deixado a bebida escassa, não havia tomado desde metade da tarde anterior, e aquela altura já haviam completado 24hrs ou um pouco mais sem se alimentar, teoricamente não sofria efeitos adversos, não sentia fraqueza ou algo que impedisse a convivência se não fosse por estar sentindo o cheiro aguçado de sangue por onde passasse, vampiros, humanos adultos ou crianças, que por sinal tinham um gosto melhor. E da gravadora saiu sem delongas evitando a lembrança do sabor pelo menos por ali. Tomou rumo costumeiro, na mesma rua de fluxo baixo, pouca luz e becos que mais pareciam cômodos para prática de qualquer crime noturno. Teria acendido um cigarro, se não houvesse optado por algo de sustância, buscou visualmente qualquer vítima que fosse agradável ao tipo sanguíneo que preferia e podia sentir o cheiro. Notou a silhueta de roupas escuras, usava um couro barato, jaqueta surrada, mas tinha boa aparência. A maquiagem era forte e o perfume quase podia esconder o cheiro de seu sangue que parecia limpo, pouco afetado pela industria alimentícia. O salto tilintando pelo asfalto indicava a pressa que tinha para alcançar o fim da rua mesmo no início dela, ou quem sabe fosse a vontade de chegar e encher a cara em seu bar ou boate de destino. Encostou-se à parede do edifício de luzes apagadas e não precisou de mais do que um pouco de vontade para esticar o braço e puxar o corpo magro até o beco, bem conhecido por sinal. Não precisou também prevenir os ouvidos de um possível protesto, e sendo seu braço não o único membro que segurou, tomou seu queixo e puxou o suficiente de mau jeito para ouvir o fino estalo de sua cervical que se desprendia do crânio, dando fim aos planos noturnos da mulher que serviu de alimento em poucos instantes enquanto pressionava os dentes em sua jugular, sentindo o sangue fluir em jatos leves e quente para o interior da boca. Tinha um bom sabor, pensou, e ouviu o barulho pela rua. Teria se afundado um pouco mais beco a dentro se não tivesse certeza de quem era o dono daquele odor. Sentia cheiro de banho, perfume, sangue, medo, tristeza, e certamente não era da vítima desfalecida. Notava à distância seus marejados olhos pequenos que quando choravam, pareciam ter olheiras ainda mais macias que o costumeiro, e no entanto continuou por lá, até se sentir satisfeito, até vê-lo partir, mas não deu importância. Quando finalmente se sentiu farto, arremessou o corpo sem vida no latão de lixo sobre os fofos sacos pretos preenchidos e deixou o cubículo, podendo ver sua silhueta já há alguns metros generosos de distância mas que podia encurtar facilmente. 
- É melhor correr ou vai acabar à meia-noite.
Kazuto sentiu o vento frio percorrer o corpo, fora a velocidade dele a alcançar a si, e sentia o cheiro de sangue nele, o sangue de outra pessoa, uma mulher. Negativou ao ouvi-lo, ainda a sentir as lágrimas no rosto e continuou a caminhar, os passos firmes. Não era somente isso, não somente as sensações, o que havia visto, era também o que andava pensando há alguns dias, sobre como ele chegava tarde em casa, como não ficava mais tanto tempo consigo e lembrava-se dele na época em que o conhecera, tinha um parceiro, mas ficava com outras pessoas, na verdade, ficava com quem quisesse, e aquilo, pensar naquilo, era pior do que a morte para si, pior do que estar num corpo morto. Sabia que vampiros só tinham um parceiro, mas não sabia como isso funcionava, ele não explicava a si, na verdade, mal deixava a si sentir seus sentimentos, e por isso mesmo, achou que pudesse ter algo por trás. Talvez estivesse pouco atraente devido a gravidez... Não sabia.
- O que foi, vai chorar porque me alimento fora de casa? 
Yuuki indagou impassível na verdade. Não tinha realmente uma preocupação de um mau entendimento, diria o que fosse verdade. Kazuto desviou o olhar a ele e uniu as sobrancelhas.
- Você está me traindo...?
Yuuki arqueou uma das finas pestanas diante da pergunta. E aquela era uma situação o qual nunca havia imaginado se colocar, tendo aquele pirralho parecendo um pato a espera de filhotes, enfurnado num casaco que o deixava ainda menor, quando há alguns anos atrás o havia conhecido e quase o matado por lá mesmo. Talvez estivesse sendo frouxo, ou estivesse decaindo a conhecer emoções humanas. 
- Não pratico necrofilia. 
Disse ainda que soasse contraditório, uma vez que próprio garoto era morto. Kazuto desviou o olhar a ele, ainda de sobrancelhas unidas e os olhos cheios de lágrimas.
- Por que estava excitado com ela? Porque você some toda noite e só volta cedo no dia seguinte? Por que está me evitando?
- Está ficando neurótico. Eu não estava excitado, você é novo, não sabe definir o que está sentindo.
- Não estou neurótico... Só quero saber.
- Não chego cedo no dia seguinte, você dorme antes de eu chegar.
- Durmo na hora que sempre dormi.
- E eu chego no horário que deveria.
Kazuto assentiu, desviando o olhar a ele e só então percebeu que estava em frente a casa onde costumava morar antes de conhecê-lo e uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a janela no alto onde ele havia entrado algumas vezes. Yuuki desviou o olhar a direção onde ele mesmo observava. 
- Quer morar aí novamente?
- Não, tenho uma casa.
- Posso te colocar aí pela janela.
- Vai me deixar aqui e ir embora?
- Vou, vem que eu te arremesso.
Kazuto estreitou os olhos.
- Estreitando os olhos eu arremesso mesmo.
O menor riu baixinho e negativou, dando-se por vencido e desviou o olhar a ele, secando as lágrimas no rosto.
- Não estou brincando. 
Yuuki disse e fez menção de segurar sua roupa de modo propício para arremessá-lo. Kazuto uniu as sobrancelhas e encolheu-se, agarrando-se a ele. O maior fitou-o de soslaio e no entanto o soltou, não sem antes tornar a mover rapidamente na menção de outra vez arremessá-lo logo quando soltou-se de si. Kazuto agarrou-se a ele mais forte novamente e encolheu-se, contra seu peito.
- Iie!
O maior voltou soltá-lo e fitou-o com sua expressão de preparo, como quem estava prestes a novamente se agarrar para não ser jogado. Kazuto riu e manteve-se junto a ele, erguendo a face a observá-lo e sorriu de canto, sentindo-se confortável entre os braços dele. Yuuki fitou-o na diferença de altura e deu-lhe um tempo no entanto. 
- Vamos logo.
Kazuto assentiu e logo a mão que segurava o casaco dele, apertou ainda mais e ergueu a face a observá-lo, sentindo as pernas trêmulas devido a pressão sentida no baixo ventre e uniu as sobrancelhas, como de praxe. Já havia sentido aquela dor antes, mas não com tamanha intensidade como sentia agora, talvez devido aos dois bebês que carregava, ao invés de somente um, e era tão pequeno que tinha medo que algo acontecesse a eles e que não pudesse carregá-los. Sentia dores nas costas quase todo o dia, que só melhoravam ao tomar um pouco de sangue, mas que horas depois, voltavam, embora não quisesse dizer a ele, já que ele podia achar uma espécie de frescura e mesmo que não achasse, iria fazer o que? Massagear as próprias costas? Talvez ele contratasse alguém para fazê-lo. Repousou a face sobre o ombro do outro, onde alcançava e fechou os olhos, permanecendo em silêncio por alguns instantes, desconfortável.
- Vamos pra casa...  
Yuuki fitou de olhos baixos, por cima, o garoto um pouco mais ousado nos toques que o habitual. Imaginava que talvez fosse o choque do que pensava pouco antes ou quem sabe estivesse realmente perdendo o juízo, no entanto, podia sentir uma confusa sensação vinda do menor. Dor, desconforto, podia deduzir que se tratava da cria em sua barriga, no entanto entanto não podia sentir se aquela era a proximidade da chegada dos novos vampiros.
- Quer ir deitado no meu ombro? 
Disse e claro que não perdia a ironia nas palavras, embora a maior parte das vezes aquele tom fosse ignorado pelo mais novo, fosse propositalmente desentendido ou realmente lerdo. 
Kazuto riu baixo ao ouvi-lo e negativou.
- Acho que vai pressionar minha barriga fazer isso... 
Murmurou e logo agarrou-se a ele novamente, numa nova pontada que sentiu.
- Você quer ir pra casa ou consultório médico? 
Yuuki indagou, notando seu novo sobressalto e sua nova sensação de dor. Kazuto desviou o olhar a ele, visto que já sabia o que estava passando e sorriu meio de canto, sem querer parecer alarmado.
- Eu... Não me importo de ir pra casa, acho que logo vai passar, tive algumas contrações semana passada, e não eram o parto.
- Está certo disso? Não vou sair correndo depois.
Kazuto agarrou-se ao casaco dele, apertando-o e até ouviu os dedos estalarem.
- ... Podemos chamar o médico?
- Vamos logo. 
Yuuki disse e se ajeitou, segurou o garoto com um dos braços em sua cintura, dando algum suporte para sustentar seu peso ou mesmo sua dor. Levou-o consigo no curto caminho até em casa, onde teria assistência médica chamada. Subiu pelo edifício alcançado até o andar não muito alto, ocupado somente pelo próprio apartamento e que até então sem o barulho dos filhos, bem, eram costumeiramente silenciosos. Deixou aquele pirralho rechonchudinho no sofá e fez o chamado ao médico. Kazuto agarrou-se a ele conforme fora para casa, meio lento, já que dolorido e sorriu meio de canto a ele no elevador, claro que sentia dor, mas estava acostumado a ela. Sentou-se no sofá, silencioso como sempre fora e agarrou-se a uma das almofadas, repousando a cabeça atrás de si no encosto.
- Deite-se. 
Yuuki disse, notando a postura com que se encolhia, fazendo parecer mais uma simples dor de estômago. Kazuto assentiu e logo deitou-se no sofá, repousando a cabeça sobre uma das almofadas, e aquela altura, já sabia que teria que controlar a respiração, então respirou calmamente, concentrado para se distrair da dor. Yuuki fitou-o de soslaio e bem, a única coisa a fazer naquele momento era esperar. Serviu-se do pouco de vinho, bebeu da taça um trago e deu ao menor posteriormente, quem sabe não aliviaria os sintomas, e que aproveitasse, não era costumeiro dar-lhe algo como aquilo, talvez como um mimo. Kazuto desviou o olhar a ele ao ver a taça e aceitou-a, sorrindo meio de canto a beber alguns goles da bebida, logo devolvendo a ele com um pequeno sorrisinho nos lábios, satisfeito. Sentia dor, e por isso segurou a mão dele lado a si e apertou-a, claro que não faria nem cócegas a ele, mas era um jeito de aliviar a dor sem gritar ou gemer. Yuuki deixou a taça pela metade acima do móvel próximo ao assento onde ele estava. Mas arqueou a sobrancelha, uma delas, diante da mão apertada. 
- O que, quer me fazer sentir dor porque está sentindo?
O menor desviou o olhar a ele e negativou, unindo as sobrancelhas.
- Assim alivia um pouco...
- Como pode um aperto aliviar dor?
- Eu não sei... Mas ajuda.
Yuuki deu de ombros, não entendia. Talvez fosse coisa de humanos, pensava e não se demorou a desvencilhar o toque, seguindo caminho a porta cujo a autorização do médico à entrada e deu-lhe vazão para atendimento do pequenino. Ao notar o rapaz o que se dirigiu prontamente até o paciente na sala. Kazuto desviou o olhar ao rapaz na porta e uniu as sobrancelhas, era o mesmo rapaz que não gostava de si, e aquilo além da dor trouxe o arrepio na espinha. Desviou o olhar, unindo as sobrancelhas.
- Tem algum lugar para realizar o parto? Acho que aqui seria desconfortável.
- O quarto, presumo. 
Yuuki disse e não precisou de muito para tomar o garoto no colo e levá-lo precisamente ao quarto, colocando na cama que até então arrumada e certamente seria desfeita em alguns minutos. Kazuto assentiu a observar o marido, agarrando-se a ele a ser levado para o quarto e por um momento até pôde ver o doutor revirar os olhos, não gostava dele, e era recíproco. Segurou a mão do outro, desconfortável e uniu as sobrancelhas num pedido mudo que ficasse consigo e viu o rapaz a preparar os instrumentos para a cirurgia.
- Eu vou ficar por aqui, apenas faça como sempre fez. Se esforce. Vai ser rápido. 
Yuuki disse e era o máximo que imaginava um dia dizer, incentivar alguém. Kazuto assentiu a ele, observando-o e mordeu o lábio inferior ao sentir a pontada no baixo ventre.
- Pronto, está pronto? Se quiser, Yuuki, você pode sair.
- Iie!
O maior fitou o menor de soslaio, um pouco desgostoso quanto a altura com que dissera porém fitou o médico posteriormente. 
- Vou assistir por hoje.
Disse e seguiu onde pudesse se acomodar e encarar o garoto. Kazuto uniu as sobrancelhas ao notar o olhar dele e suavizou o aperto de sua mão aos poucos, desviando o olhar ao médico que negativou.
- Humanos...
- Eu não sou mais humano, ora. Pare de ser tão rabugento. 
O menor falou ao médico e era evidente que só havia dito porque se irritava de verdade com o modo como ele tratava a si e viu-o arquear a sobrancelha, assentindo. Talvez devesse ter ficado em silêncio. Viu-o se levantar e estender o lençol sobre o próprio corpo, pegando o pequeno instrumento de corte e fora quando uniu as sobrancelhas.
- Hey, hey! A anestesia...
- Humanos...
Ele voltou a dizer e Kazuto assentiu dessa vez, em silêncio. Sabia que se o outro não estivesse ali, provavelmente teria problemas. Sentiu a picada dolorida da agulha, mas não tanto quanto o corte que viria caso ela não estivesse ali e fechou os olhos, agarrando-se ao lençol da cama enquanto sentia o início da cirurgia, e ainda sentia o objeto cortando a si, embora não quisesse dizer. Yuuki fitou o garoto durante o procedimento, mais precisamente a seu rosto. Não conseguiria ser tão entregue a alguém, não doaria um ano da própria vida em pró de gerar um filho, a ideia soava repulsiva, diferentemente é claro, de ter filhos dados a si por seu corpo e não o próprio. Mas ele apesar de tudo parecia gostar. Era de fato um garoto altruísta, algo que jamais seria. 
Kazuto desviou o olhar a ele, e o viu encarar a si, e não parecia ter pudor quanto a isso, só queria entender se ele analisava devido ao modo como agia com o médico, ou se tinha algo em sua cabeça. Era sempre sério, não saberia dizer e sempre fora daquele modo, até no nascimento dos filhos, não parecia esboçar sentimento ou ter alguma emoção, apesar de saber que ele certamente sentia, mas nunca saberia qual, visto que incapaz de ler sua mente. Distraiu-se um bom tempo nos pensamentos, quando por fim, sentiu o puxão no abdômen, que fez a si unir as sobrancelhas, fora o filho retirado pelo médico, precisamente, a filha, menina que havia nascido antes e o choro baixinho e estridente logo se fez presente no quarto. Abriu um pequeno sorriso, e era feliz vendo ali a pequena, como era feliz ao ver todos os outros filhos nascerem, e mesmo dolorido e cansado, podia dizer exausto se não fosse um vampiro, ainda tinha força para sentir as lágrimas invadindo os olhos, vendo aquele rostinho e corpinho tão pequeno retirado de si.
- Yuuki, pode me ajudar? Preciso que segure sua filha enquanto eu faço o parto do seu filho.
Yuuki levantou-se por fim, após muito notar as sensações confusas que emanavam do garoto, por dentro, ou mesmo fora, em suas expressões que eram sempre evidentes. Sem delongas seguiu ao bebê, notando seu sexo feminino, outra moça e enquanto tomava nos braços o pequeno corpo, com aparência de frágil estrutura, ainda que não realmente o fosse, aceitou uma pequena fralda de pano macio e tentou aos poucos tirar o sangue em excesso de sua pele pálida. Kazuto desviou o olhar ao loiro, e era tudo que conseguia ver, ele e a filha nos braços, o sorriso estava no canto dos lábios e logo ouviu o outro choro fraquinho, era o menino, que havia ficado pouco mais e viu seu corpinho sendo limpo pelo médico, enquanto ficava estendido na cama, sem muito o que fazer, já que o corpo ainda aberto. Por sorte, não sentia dor.
- Y-Yuuki... Deixa eu ver ela.
Após limpar a pele da pequenina, deixando algum rastro corado ainda assim, Yuuki levou-a ao menor e deu entregue em seus braços a tempo de aceitar seu gêmeo masculino, que assim como ela, passou a limpar e tirar o sangue da pele. Kazuto sorriu a ele e agradeceu com um movimento da cabeça e observou a pequena, de olhinhos ainda fechados enquanto sentia a agulha afiada percorrer o corpo, e já estava se tornando incômodo, quando desviou o olhar ao médico e uniu as sobrancelhas.
- Itai...
- Já estou acabando.
Kazuto assentiu, deslizando um dos dedos pelo rostinho da filha e unia as sobrancelhas a cada vez que sentia aquele instrumento insuportável perfurando a pele, tentando não passar a ela a sensação ruim que sentia, mas ela compartilhava o próprio sangue, e logo começou a chorar.
- Deixe disso, tome algum sangue. 
Yuuki resmungou notando o ato desnecessário e no entanto vira o médico finalizar. O assentir da cabeça era o agradecimento e o dele a retribuição que viera do mesmo jeito. Com a olhada que deu ao garoto podia presumir que não havia necessidade de lhe dizer os cuidados após dar a luz ou mesmo às crianças já que não eram as primeiras. Kazuto assentiu e logo observou o outro, e claro, queria pedir sangue, mas não queria ser incomodo.
- Yuuki... Pode trazer sangue pra mim? 
Murmurou e tentou acalmar a filha com alguns tapinhas nas costas, observando-a, e era tão linda que não conseguia soltá-la.
- Quer que eu segure o bebê?
Yuuki fitou o garoto num instante e entregou-lhe o bebê, deixando o casal em seu colo enquanto seguia a caminho junto ao médico, levando-o ao hall. Formalizou o pagamento necessário assim como o aceite do pedido de reposição de sangue, colocados numa caixa térmica e que agora na mesa central da sala, despediu-se tão logo e buscou uma das bolsas de sangue dentro do isopor, entornou a bebida num copo qualquer e levou ao recém operado, deixando-o beber e se recuperar. 
- Yuuko é um bom nome. - Mencionou sobre a menina.
Kazuto segurou o outro filho no outro braço, meio desajeitado a segurar os dois, ainda não tinha costume e logo esperou-o pegar a filha, e pegou o copo, bebendo alguns goles, e goles bem generosos até secar a bebida, já sentindo o próprio corpo lutando para se regenerar. Observou a menina, tão bonita quanto ele e sorriu.
- É um nome lindo. E Yuuto pra ele?
Yuuki assentiu com a cabeça diante da sugestão, era outro bom nome, embora tão parecidos, bem, eram gêmeos, ainda que aquilo fosse um pouco clichê. Kazuto sorriu meio de canto.
- É o meu nome e o seu, sabe... Yuuki e... Kazuto.
- Hum. 
Yuuki murmurou e fitou-o meio de soslaio, claro, um pouco zombeteiro, provocativo, mas não realmente achava uma má ideia. Kazuto uniu as sobrancelhas e mordeu o lábio inferior, e nunca nem em sonhos havia pensado um dia ter um filho que compartilhasse ambos os nomes, era uma ideia fofa.
- Ela é quietinha... Parece com você.
- Acabou de chorar, como seria quieta?
- Bom, ela até se mexe menos do que o Yuuto. - Riu baixinho.
- Acho que na verdade ela pode ser preguiçosa.
- Hum. 
Kazuto sorriu, sem pensar nessa possibilidade e observava o pequeno nos braços, que mexia os bracinhos como se estivesse incomodado com algo.
- Sh... 
Falou a ele e beijou-o no rostinho, limpando-o ainda com a pequena fralda branca.
- Você, durma.
- Eh? 
Kazuto uniu as sobrancelhas e desviou o olhar a ele.
- Isso deve ser cansativo, durma, vou deixa-los no berço.
O menor uniu as sobrancelhas, e de fato estava cansado, mas não queria deixar os filhos, e também, não queria deixá-lo sozinho, mas por trás dos olhos, podia sentir a dor como se a qualquer momento pudesse desmaiar. Assentiu, sem ter como contestar, sentindo a cabeça meio pesada e entregou a ele o filho, não sem antes beijá-lo no topo da cabeça. Yuuki pegou ambos os recém chegados, não tivera dificuldade diante da pequenez dos filhos. Fitou o garoto exausto e deixou-o adormecer a então levar consigo as crianças até o berço noutro quarto. Kazuto aconchegou-se na cama, confortável e coberto com o cobertor, visto que livre dos lençóis manchados de sangue e fechou os olhos, mantendo-se naquela mesma posição, ainda com o abdômen meio dolorido, e sorriu, ao pensar que agora os filhos estavam a salvo no berço e que já os havia visto.
- Obrigado, Yuuki... 
Murmurou, beirando o sono e nem havia percebido quando adormecera.


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