Ritsu e Etsuo #31


Um suspiro deixou os lábios de Shiori que adentrava o quarto pela quinta vez no dia, já faziam sete dias que o menor estava desacordado, não podia esperar mais.
 - Kaname... Precisamos fazer alguma coisa, o Ritsu não come, não levanta, vamos perder dois filhos... - Disse o menor ao seguir atrás de Kaname. - Não tem alguém que pode chamar pra ajudar?
Kaname fitou o menor, percebia que quanto mais dias desacordado, mais carecia de esperança, assim como acrescentava certo rancor do moreno e mesmo a forma como estava agindo, não tinha sentimentalismo suficiente para ter pena por muito tempo. Ao entrar no quarto observou o moreno, desta vez não olhou com tanta compreensão. 
- Saia, vá se alimentar. 
Dito se sentou na beira da cama e tocou o filho desacordado como já vinha fazendo desde então, percebia então uma tênue coloração roxo acinzentado em seu braço, era leve, mas sabia o que era aquilo. Por um momento não percebeu que havia tornado a luminária do filho um alvo, e terminado com sua forma em pedaços irregulares após desferir contra a parede. Embora tivesse se manifestado porém, não disse nada, não precisava, tinha que expor a raiva no rosto, pensou no entanto, na pessoa mais forte que conhecera de algum modo. 
- Eu vou resolver isso. Tire esse infeliz desse Etsuo daí.
Etsuo desviou o olhar ao pai, vendo-o entrar no quarto e afastou-se do menor, levantando-se, havia concordado em pelo menos se alimentar, embora de certa forma, fosse contra a própria vontade, tudo que fazia era tomar banho, dar banho no irmão e beber alguns goles de sangue, nada mais. Estremeceu conforme ouviu o barulho da luminária e levantou-se rapidamente, seguindo em direção a porta para deixar os dois sozinhos. 
- Kaname... O que houve?
- O braço do Ritsu, está começando a secar. Eu vou ao hospital, há alguns anos eu deixo que um amigo tenha algum sangue. Fiz o parto do Taa. Vou ver se ele pode fazer alguma coisa.
Shiori sentiu as lágrimas nos olhos. 
- ... Secar? O que quer dizer com secar? Ele está morrendo? ... Ele.
- É... Ele está começando a ir embora de vez. Eu... Vou ao hospital. Antes que ele perca o braço. 
Kaname disse ao menor, podia ouvir sua voz trêmula, seus olhos brilhantes, mas não tinha tempo para consola-lo. Tocou seu cabelo e então deixou o quarto, iria até a clínica de onde pouco havia voltado. Shiori assentiu, e estava visivelmente aflito, tanto que se sentou ao lado do filho mais novo, segurando seu braço, tentando ver o que ele havia dito, e realmente estavam ali as marcas de que ele podia não voltar.
- Mãe... O que aconteceu? 
Etsuo disse ao entrar no quarto, observando-o ali e notava seu rosto coberto de lágrimas. 
- O seu pai... Disse que ele está morrendo. 
- Morrendo? 
- É, o braço dele está ficando roxo.
Etsuo arregalou os olhos e correu para observar o irmão, negativando. 
- É mentira! Ele não está morrendo! Eu estou cuidando dele! 
- Etsuo... Etsuo calma.
Kaname entrou no consultório, observando o rapaz já vestindo seu jaleco. Pouco havia saído de lá e já estava novamente, antes de tudo levou a mão aos cabelos e jogou-os para trás, era quase como tomar fôlego que não precisava, mas talvez naquela situação fosse diferente. 
- Taa.
Taa voltou-se em direção a ele, havia acabado de chegar de mesmo modo, saiu apenas para almoçar com o noivo e voltava para o serviço, ajudava-o já que ele havia dito que estava com problemas pessoais. 
- Oi, Kaname, tudo bem?
- Na verdade preciso de um favor. Preciso falar com o Ikuma. - Kaname disse, sem saber exatamente por onde começar. - Rápido.
- Ah... Claro. Só um minuto. - Dito, Taa pegou o telefone no bolso e digitou o número do outro, levando ao ouvido. - ... Vai Ikuma, atende.
Kaname encostou-se junto a mesa, de braços cruzados fitou o rapaz, esperando que falasse junto ao outro na ligação. 
- Ikuma, ah... O Kaname, disse que precisa falar com você, ele nunca me pede nenhum favor, então... Eu achei melhor ligar. Quer falar com ele pelo telefone, Kaname, ou precisa que ele venha aqui?
- Eu vou falar ao telefone. - Kaname sabia que não precisava de fato ser tão apressado, mas também não tinha porque perder tempo. - Ikuma, tudo bem? 
- Vou ganhar umas bolsinhas comemorativas de halloween, é isso? 
Dizia Ikuma, em seu típico bom humor, o riso soou como um sopro, quase como se fosse um riso por cortesia. 
- Eu vou pedir isso ao Shiori, ele vai gostar de decorar. Ikuma, vou explicar um pouco rápido. Tenho um filho humano, na verdade, um filho adotivo que costumava ser humano. Por alguma razão, meu outro filho acabou se apaixonando por ele e caiu na besteira de tentar fazê-lo vampiro, mas ele não sabia fazer isso, não estávamos em casa e isso faz sete dias. Ritsu hoje começou a escurecer o braço. - Kaname suspirou, se sentindo tolo pela história. - Então imaginei que talvez alguém pudesse ter força suficiente pra transformar meu filho. Ele estava fazendo dezenove anos na sexta-feira. - Pigarreou, tentando não parecer fraco por não resolver aquilo.
Taa observou o maior, ouvindo sua história, em silêncio e uniu as sobrancelhas, apreensivo, pensava na própria filha, que também fora adotada, e de alguma forma queria poder ajudar, mas sabia que o outro faria isso. 
- Ikuma, ajude. 
Disse, e sabia que ele ouviria do outro lado, tinha boa audição.
- Se você mandar as bolsinhas de halloween... 
Disse Ikuma e na linha Kaname podia ouvir sua voz com o timbre tipicamente brincalhão, mas parecia soar um tanto mais sério agora. Por um instante se desviou ao outro médico na sala, deu-lhe um sorriso canteiro. 
- Vou mandar... 
Tendo tido, passou o endereço de casa, estaria lá em breve. Entregou o telefone a seu companheiro, como assim pedido na linha. 
- Obrigado. 
Disse a ele antes de passar o telefone, disse também para o amigo de trabalho que incentivava antes. Já se sentia aliviado, embora não completamente, ter um sangue de quase meio milênio nas veias do filho, aquilo sim poderia ajudá-lo.
- Que que cê tá falando aí, lagartinha? 
Ikuma disse ao telefone, referindo-se ao pedido dele, brincando é claro. Taa pegou o telefone, levando ao ouvido conforme o dito e sorriu, meio de canto.
- Ajude ele, pense na Sayu. Seria horrível se acontecesse algo assim, eu vou com ele, te encontro lá.
- Não precisa implorar, moranguinho. Eu vou ajudar.
- Taa, se você quer ir, vou esperar você lá fora. 
Disse Kaname diante de seu tempo na ligação, ajustando-se para sair talvez. Saiu do hospital, voltando para o carro. Depois de algum tempo sem fumar, optou por ter um cigarro. Taa assentiu ao moreno e levou o telefone consigo enquanto caminhava rápido. 
- Te vejo lá então... Amo você.
Kaname encontrou o rapaz já do lado de fora, o cigarro há pouco aceso logo apagou ao pisoteá-lo. Fitou o colega de trabalho e indicou o carro para onde seguiu com ele. Tão logo estava dirigindo com ele, indo para casa, rápido como podia. 
- Vocês também tem uma filha humana.
Taa seguiu com ele para o carro, num suspiro colocou o cinto e desviou o olhar a ele, assentindo.
- Adotada também. Os pais eram negligentes. - Murmurou num pequeno sorriso.
- Ritsu foi encontrado atrás de um arbusto, abandonado numa caixa. Meu filho mais velho o encontrou.
Taa uniu as sobrancelhas a observa-lo. 
- ... Não entendo como alguém consegue fazer uma coisa dessas. A mãe dessa criança deveria queimar no inferno.
- Eu não me importo com isso, pelo menos ganhei meu filho. 
Kaname disse num sorriso canteiro e alguns minutos mais tarde, alcançou o destino, parou na vaga e seguiu para a própria casa, seguindo a indicar o caminho ao outro.
- ... - Taa sorriu. - Kaname, Ikuma vai conseguir salva-lo. 
Disse a ele conforme saiu do carro e com ele seguiu para dentro, já farejando Shiori, seu filho mais velho e o humano, que tinha mais cheiro de vampiro do que humano, certamente o sangue dele havia sido sugado. 
- Olá. 
- Você é o Ikuma? - Disse Etsuo.
- Não, é meu marido. - Respondeu Taa.
Kaname sorriu ao ouvir sua tentativa de consolo. Ao abrir a porta logo encontrou o filho, que se pronunciava curioso. Logo após a resposta do colega de trabalho, veio a de um vampiro menor, bem menor, mas que a presença era muito maior sentida do que as demais. 
- Seu maridinho. 
- Ikuma, obrigado por vir. 
Kaname disse ao cumprimenta-lo com o aperto de mão. Taa desviou o olhar ao menor e sorriu, negativando, nunca se referia a ele como marido, ainda não haviam se casado, mas de certa forma, tinha orgulho de falar dele daquele modo. Etsuo ergueu a face para observar o outro, sentia a energia dele, mesmo assim manteve-se abraçado ao irmão mais novo, apertando-o em meio aos braços. 
- ... Ikuma... Meu irmão está morrendo.
Após o cumprimento, Kaname cedeu a passagem a Ikuma, que se voltou ao próprio companheiro logo após cumprimentar o seu. Após o cumprimento, Ikuma deu uma sutil apalpada na nádega do companheiro, achando fofo todo aquele orgulho estampado ao falar a respeito de si. Entrou no quarto, observando o menino moreno parecendo um penduricalho sobre o corpo desfalecido de seu irmão. Era quase uma cópia de seus pais, misturando um pouco dos dois. 
- Mas você parece uma xerox dos seus pais misturados. Shiori, vocês me devem bolsas de sangue com decoração de halloween.
Shiori desviou o olhar ao loiro, e de alguma forma sempre parecia que ele iluminava o local com suas piadas, apesar de não ser uma boa hora para aquilo.
- Ikuma... Eu farei. - Sorriu meio de canto. 
Um suspiro deixou os lábios de Taa conforme observou o outro e deslizou uma das mãos pelo ombro dele, acariciando-o a lhe dar um pequeno aperto. 
- Precisam do sangue do Ikuma, não?
Ikuma assentiu ao comentário do maior, seguiu logo para se sentar numa poltrona e esticou o braço. 
- Tome cuidado, sou sensível. 
Tornou a brincar. Sabia da situação, mas melancolia não resolvia nada, sabia que não seria difícil ajudá-lo, tinha muito tempo para ter dificuldades em fazer um vampiro, embora o estado do garoto fosse diferente do habitual. 
- Vai dar certo. Mas vou ser o padrinho.
Shiori se aproximou do outro, observando-o e pegou a agulha para furar sua veia, mas preferiu entregar a seu parceiro que também era médico, achou que assim seria melhor. Taa sorriu ao menor e pegou a agulha, aproximando-se do outro e deslizou uma das mãos em seu braço, posicionando a agulha e furou sua veia, deixando que o sangue fluísse para a bolsa. 
- Hum... Gostoso?
Ikuma fitou o outro, deu uma olhada e uma piscadela. 
- Muito gentil, meu anjo.
Taa sorriu e mordeu o lábio inferior. 
- Palhacinho. - Virou-se, fazendo a ligação ao menor. - Pronto, Em alguns momentos, ele vai ter o sangue do Ikuma. - Ao dizer, desviou o olhar ao garoto deitado junto dele. - ... Está tudo bem?
Etsuo desviou o olhar ao rapaz alto que falava consigo e assentiu. 
- Está. 
- ... Ele vai acordar logo. 
Etsuo assentiu, silencioso ainda a abraçar o irmão.
- Calma, garoto. Seu dono já vai acordar. 
Ikuma disse, na verdade pela forma como o moreno parecia com um animal de estimação esperando seu dono para um passeio. Etsuo desviou o olhar ao rapaz que falava consigo e assentiu, não achou ruim, era de fato o cachorrinho dele. Ikuma deu uma piscadela ao garoto.
- ... Kaname, ele sugou o sangue todo?
- Parece que sim. Logo no dia nós fizemos transfusão. Praticamente substituímos todo sangue humano dele. Shiori, busque o sangue para o Ikuma.
Shiori assentiu numa pequena reverência, respeitoso ao vampiro mais velho e também ao parceiro e seguiu até a cozinha pegando duas bolsas de sangue e um canudo, pegou também uma pequena fita laranja que amarrou na bolsa, voltando ao quarto e entregou a ele. 
- ... Ah... Ha... Halloween.
- Hum... Parece que o braço dele está melhorando um pouco. Eu não sei, eu... Espero que ele acorde. - Disse Taa.
Após a volta do garoto, Ikuma agradeceu ao tomar as bolsas de sangue, observou as fitas improvisadas, sorriu-lhe com os dentes numa risadinha. Tomou do sangue como o suco de uma criança. 
- Vai acordar sim.
Kaname voltou-se ao filho, ainda desacordado, mas seu braço parecia tomar sua palidez sem as manchas escurecidas, embora em alguns lugares elas continuassem. Apertou levemente a mão do companheiro. Sentia o cheiro de sangue, era forte, um cheiro forte demais. Shiori segurou igualmente a mão do outro, sorrindo a ele e novamente sentia as lágrimas nos olhos, estava tão feliz que voltou a fazer uma referência ao vampiro mais velho. 
- ... Como podemos agradecer?
- Na verdade temos uma filha humana, podemos imaginar a situação. Ela também quer ser um vampiro no futuro, principalmente porque gosta de uma vampirinha.
Shiori sorriu e desviou o olhar ao filho mais velho que agora segurava a mão do menor, entrelaçando os dedos aos dele.
- Etsuo... Ritsu está melhorando. 
- ... Ele ainda não acordou. 
- Não vai ser imediatamente, eu levei uns dias pra acordar, mesmo sendo transformado pelo Ikuma. Tem que ter paciência. 
- ... Não aguento mais esperar...
- Taa levou coisa de uns dois dias, eu acho.
- Agora aprende a não fazer merda. - Disse Kaname.
Etsuo desviou o olhar ao pai, não disse nada. Taa suspirou. 
- Beba seu sangue, neném. - Disse ao namorado.
- Quem vê pensa que é um amorzinho em casa. 
Ikuma brincou e acomodou a cabeça na altura de seu abdômen.
- Ah não sou um amorzinho é? 
Taa estreitou os olhos e deslizou a mão pelos cabelos dele, roçando as unhas firmemente em seu couro cabeludo, enchendo o saco, mas claro, sem machucar.
- Ó... 
Ikuma resmungou mas fechou os olhos para sentir a carícia. Pegou do sangue e bebeu, embora não precisasse aquela altura, não era esfomeado com facilidade.
- Me pergunto se ele voltará em dois dias, supondo que o Taa ainda tinha o sangue, o Ritsu já estava praticamente vazio.
Taa desviou o olhar ao colega e sorriu meio de canto.
- Talvez ele demore um pouco mais, parece que o rapazinho esvaziou ele mesmo.
- É, mas já fazem sete dias. Ele passou o aniversário assim.
Taa suspirou. 
- Desculpe a curiosidade, mas... Como isso aconteceu afinal? 
Perguntou ao colega, Kaname, unindo as sobrancelhas. Kaname observou o rapaz, não tinha certeza se queria falar daquilo na frente dos filhos. 
- Ele já havia feito quando chegamos em casa. Estava segurando ele já desacordado. Suponho que uma atitude impensada, eu espero, que seja dos dois.
Shiori abaixou a cabeça ao ouvi-lo, justamente porque sabia que não havia sido, e imaginava a agonia do filho mais novo, e também o remorso do mais velho. 
- Hum... Parece meio romântico e estúpido ao mesmo tempo. - Taa disse com um risinho. - Ah, vamos lá, Kaname, você já foi adolescente. Ele vai ficar bem.
- Como você morreu...? - Perguntou Shiori a Taa.
- Ikuma me matou, me mordeu enquanto eu me debatia e tentava dar umas porradas nele. Mas eu havia pedido isso, eu queria morrer na época. Era um adolescente idiota.
- Romântico pra mim é dar um golpe de piedade. É como dizem, filhos são como feridas que não cicatrizam. Se mexer vai doer. Imagino que se fosse alguém de outra família talvez não fosse tão problemático, mas sendo dentro de casa, se Ritsu não acordar, pode imaginar o que vai ser aqui dentro, hum? - Disse Kaname.
- Hum, entendi, não está afim de brincadeira. Ikuma, podemos ir?
- Não quis ser grosseiro, Taa. Só estou precisando dar umas cintadas no Etsuo. - Kaname disse e sorriu porém.
- Claro, docinho. Estou só terminando meu suquinho.
- Fiquem e bebam algo conosco, hum?
- Sei que não e também sei que é difícil pra vocês. Se fosse com a Sayu, eu iria arrancar o couro da garota que está com ela, que é minha sobrinha também. - Taa negativou. - ... Bem, ela é sobrinha do Ikuma. - Disse a acariciar os cabelos dele. - Hum... Aceito se o Ikuma aceitar, vocês tem o melhor sangue que eu já tomei, exceto pelos vivos, claro. 
Shiori sorriu e assentiu ao maior. 
- Fiquem. Etsuo, sente com a gente na sala... 
- ... Sabe que não sairei daqui, mamãe. Não enquanto ele não acordar.

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