Sagara e Azaiichi #16


O relógio marcava pouco mais de oito horas, Azaiichi havia recebido uma mensagem dele com o endereço de uma festa que ele queria que fosse, e claro, não iria recusar de jeito nenhum estar perto dele por pelo menos algumas horas. Desde que haviam retornado da casa dele, não tiveram muitos encontros, trocavam mais mensagens, agora ele respondia a si, então era fácil falar com ele, mandava sempre um bom dia, boa noite, e fotos com roupas indecentes, é claro. Ao chegar no lugar naquela noite, usava uma roupa curta, como de praxe, o short fazia sempre parte das roupas, a blusa comprida também, que cobria até mesmo o short, as meias pretas até as coxas, mas dessa vez usava um casaco com a gola peluda, estava animado para encontrá-lo, mas ao entrar, a música tão alta dificultou um pouco de encontrá-lo mais facilmente. No celular, procurava alguma informação dele de onde ele pudesse estar, tentou ligar, mas caiu repetidas vezes na caixa postal.  
- ... Izaya! Izaya! 
Disse conforme viu o outro rapaz da banda passar agarrado ao braço de uma garota.
- Aza-chan! Nossa, quanto tempo! Saga te chamou né?
- Sim... Onde ele está? Já procurei ele por tudo e não achei. 
- Está no andar de cima, na área VIP, vem, eu te levo lá.
Azaiichi assentiu, um pouco receoso já que havia sido atacado por pessoas da banda pouco antes na casa de Saga. Ao seguir com ele porém, de fato encontrou o vocalista, mas bem diferente do que imaginava. Haviam garotas com ele na área, vestidos curtos, colados no corpo e se sentavam quase no colo dos rapazes, ele não era diferente, embora estivesse mais avulso, estava com uma expressão que nunca havia visto antes, parecia completamente aéreo. 
- Saga? Oi... Saga, você está bem? - Falou com ele, vendo-o encarar a si com uma expressão estranha, sabia que estava ou bêbado ou drogado. - Dá licença, por favor? Pediu à garota que não parecia querer sair dali. Saga?
- Oi... Asai_ichi. 
Saga falou, audível o suficiente e um pouco pausado, mas fora proposital. Sorriu para ele embora estivesse disperso, esticou a mão e cedeu o colo antes parcialmente utilizado. Azaiichi suspirou conforme o viu dar espaço para si e negativou, não queria se sentar no colo dele. 
- Iie, não vou me sentar... O que você usou? Saga... Você está péssimo.
- Senta aqui, garoto. 
Saga retrucou e então puxou seu pulso, não suficiente para machuca-lo. Ao se sentar sobre o colo dele, Azaiichi arqueou uma das sobrancelhas, não estava nem um pouco confortável. Tinha fumaça por todo o lugar dos cigarros que os garotos fumavam, quase não dava pra respirar. Tossiu e levantou-se novamente. 
- Saga!
- O que? Por que veio se não quer ficar aqui? 
Saga indagou, um pouco irritado, embora certamente não fosse habitual do comportamento com o garoto, estava de fato alterado e não era pouco. O menor estreitou os olhos e saiu, ele não poderia falar direito consigo então buscou o amigo dele novamente.
- Izaya! Izaya, que merda ele usou?! 
- Eh? Sei lá, eu não estava com ele.
- O caralho que não, você é quem vende essa merda pra ele, o que ele usou?!
- Garoto, já chega de estragar a festa dos outros, vai pra casa, talvez seja melhor assim.
Azaiichi estreitou os olhos, estava puto evidentemente e ao voltar para ele, o viu com a cabeça encostada no sofá, sem se mover. 
- Saga? Saga! 
Rápido tocou o pescoço dele, conferindo seus batimentos, sua respiração e tirou o celular do bolso, chamando uma ambulância. 
- Alguém me ajuda! O Saga desmaiou! 
- Garoto, para de gritar, ele não desmaiou, eu vou tirar você daqui, chega.
Uniu as sobrancelhas conforme fora puxado para fora, queria chegar perto dele, mas eles não deixaram, e os olhos estavam marejados, chorava. 
- Saga! 
Do lado de fora, esperou a ambulância e quando chegaram os médicos, subiu com eles até o local onde o músico estava, só assim conseguiu tirar ele, que fora levado numa maca.
- Você é parente dele?
- Sim, sim, posso ir?
- Pode.
Subiu na ambulância e sentou-se ao lado dele na maca, e ninguém, nenhum amigo dele havia parado a festa para saber o que acontecia.



Quando Saga acordou os olhos doíam, a luz não era forte mas era suficiente para sentir desconforto ao olhar. A pele se arrepiava, tinha alguns calafrios, mas estava passado o suficiente para se importar com isso. Silencioso se voltou ao lado, estava no hospital e sentado, alguns metros, um garoto que pouco conhecia. Azaiichi e
stava sentado na poltrona, havia dormido ali naquela noite então as roupas eram as mesmas. Havia acordado há pouco e o fitou, em sua cama, parecia mais calmo agora, mas estava mal, as drogas quase o haviam matado. Conforme o viu abrir os olhos, levantou-se rápido. 
- Saga? Está acordado?
- Hum... 
O maior murmurou, constando que estava embora a altura de sua voz tenha causado uma careta. O menor uniu as sobrancelhas e suspirou, sentando-se ao lado dele na poltrona mais próxima e segurou a mão dele, firme. 
- Ai que bom... Eu quase tive um ataque cardíaco. Por que você fez isso?
Saga suspirou e negativou, não queria estar num hospital, sabia que aquela altura o próprio agente já havia passado por ali e estava do lado de fora tentando conter qualquer notícia. Azaiichi uniu as sobrancelhas. 
- ... Você não pode fazer isso com você, Saga.
- Eu devia estar em casa, foi você que me fez parar aqui, hum?
- Eu?! Você estava naquela festa de merda, usando quinze quilos de droga, onde achou que fosse parar? Seu idiota.
- Era pra eu ir pra casa, não parar no hospital. Eu quero ir embora. Não fale alto.
- Você não vai embora, está tomando soro, você quase morreu. Teve uma overdose.
- Eu posso tomar isso em casa. Quero ir embora. Chame o médico. Chame meu agente.
- Saga... Chega.
- Chega de que, garoto?
- Você precisa descansar, não vai pra casa.
- Eu descanso na minha casa.
- Saga, por favor. 
Azaiichi disse e tinha lágrimas nos olhos.
- O que você acha que vou fazer? Eu só quero ir pra casa, eu não gosto de hospitais.
- Eu sei que não, mas tem que ficar, eu estou com você.
- Ah claro, deixa de ser um hospital por isso. 
Saga disse, irritadiço, claro que ele não poderia impedir nada. Azaiichi uniu as sobrancelhas e abaixou a cabeça. O maior suspirou. 
- Escuta garoto, eu sei que você se preocupa, mas eu posso cuidar disso em casa, eu vou ficar bem, sempre fiquei.
- Não ficou. Você é um viciado em drogas, isso não é bom. Você vai se desentoxicar.
- Não vai fazer diferença. Eu quero fazer isso em casa, diga ao meu agente, por favor, Azaiichi. Eu posso ter auxílio médico residencial.
- Mas em casa você vai usar de novo.
- E você acha que vou ficar aqui pra sempre?
- Não, mas o suficiente
- Garoto, você não entende.
- O que eu não entendo?
- Você não me entende.
- Então fala, talvez assim eu entenda.
Saga esticou-se, tocando o pequeno botão ao lado do leito, chamando ali algum responsável, fosse o médico ou a enfermeira.
- Depois falamos sobre isso.
- Por que você fica me tratando como se eu fosse uma criança, Saga?
- Você é uma criança, Aza.
- Não sou.
- É sim, tem só dezesseis anos.
- E daí? Eu me preocupo com você. Eu vim te ajudar. Teriam deixado você morrer lá.
- E eu não ligo pra isso.
- ... - Azaiichi uniu as sobrancelhas. - Você queria morrer...?
Saga sorriu, canteiro. O menor permaneceu por um momento a fitar o rosto dele, estava surpreso, mas as lágrimas voltaram para os olhos. Silencioso estendeu uma das mãos e segurou a dele, entrelaçando os dedos aos dele.
- Hey garoto, não chore. 
Saga disse e sentiu o toque de sua mão, de fato não queria falar sobre isso com uma criança. O menor negativou, não achou de fato nem por um momento que ele pensasse algo parecido, por isso era doloroso para si. 
- ... Vou chamar o médico pra você voltar pra casa.
- Eu acionei o botão, já era pra alguém estar aqui. Mas pare, não chore.
- Eu não estou chorando... 
Azaiichi disse, de alguma forma tentando ser forte e uma enfermeira adentrou o quarto, parando logo atrás de si.
- Senhor, posso ajudar?
- Eu quero minha alta, pode pedir para o meu agente assinar os documentos pra isso. Posso ter o atendimento residencial.
- Certo... Mas o senhor ainda precisa se hidratar um pouco mais, teremos que pedir que façam isso em casa, tudo bem?
- Tudo bem. - Saga disse, era o que havia dito afinal.
Azaiichi a viu sair, para pegar os papéis e agarrou-se na bolsa que havia trazido consigo, silencioso ainda. 
- Eu posso ir com você?
- Você não tem aula?
- Hoje é sábado.
- Tudo bem, se sua mãe te deixa ir.
- Minha mãe não precisa me deixar fazer nada.
Saga sorriu de canto, não ia rebater, não havia sido um bom exemplo de adolescente afinal. Azaiichi observou os dedos dele que estavam entrelaçados aos próprios, viu suas tatuagens em cada um deles. Sempre fora apaixonado por ele de uma forma platônica, mas agora era realmente apaixonado, ouvir que ele queria morrer, daquela forma, causava um oco dentro de si, não saberia se o que mais doía era saber que ele se sentia daquela forma e não podia ajudar, ou se sabia não ser suficiente para deixa-lo feliz. Bem... Não era o namorado dele, era uma criança que ele comia de vez em quando. Saga olhou para o mesmo lugar, uma vez tendo notado a direção de seu olhar, percebeu os dedos enroscados aos dele, mas ele parecia divagar. Apertou sua mão, como se buscasse chamar sua atenção, não devia ter dito? Talvez não devesse dizer isso a uma pessoa tão jovem. Azaiichi desviou o olhar ao rosto dele conforme sentiu o aperto e sorriu meio de canto, pela primeira vez na vida talvez, não sabia o que dizer, e não sabia se a própria presença era suficiente, talvez não fosse. 
- ... Consegue se sentar?
- Consigo. 
Saga disse, não era a primeira vez que terminava daquela forma. No fim soltou sua mão e então se sentou, descobriu-se, vendo a roupa ridícula que usava. 
- Estou ótimo com essa roupa, talvez devesse usar num show.
O menor sorriu ao ouvi-lo, sabia que ele estava tentando descontrair. 
- Eu gosto dela atrás, da pra ver sua bunda sexy.
- Minha bunda é sexy? 
Saga sorriu, canteiro e deu uma torcida no tronco, tentando olhar o próprio traseiro. Por fim buscou as próprias roupas, trocou-se ali mesmo, não tinha problemas com nudez. 
- Claro que é. 
Azaiichi riu e pegou as roupas dele, dobradas ali, ajudando-o a se vestir. Após se vestir, Saga assinou alguns papéis entregues pelo médico responsável, termo de alta. Feito isso, reencontrou o agente, ele já não falava nada sobre a situação, mas podia ver seu lamento expresso. Seguiram ao carro após um óculos e um chapéu de aba longa
- Garoto, devia ir para casa, vou cuidar dele não precisa se preocupar.
- Não esquente a cabeça, ele vai comigo.
Ao sair, Azaiichi o acompanhou em silêncio, colocou os óculos que carregava na mochila igualmente, era melhor assim, não chamariam tanta atenção. Ao entrar no carro, ficou em silêncio, já que havia sido defendido por ele e segurou a mão dele, a pele dele estava pálida demais, não era normal. Saga olhou brevemente o toque na mão, ele tinha aquele hábito, já havia constado antes. A viagem foi silenciosa e longa. No meio da viagem, o menor acabou dormindo junto dele, encostado em seu ombro, havia passado a noite na clínica, fora difícil para si, a poltrona não era nada confortável, não conseguiu entender o critério do ombro dele ser mais confortável do que a poltrona, mas era assim que se sentia naquele momento, e quando acordou, com o agente dele indicando que deveriam sair do carro, percebeu que ele também havia dormido junto a si. 
- Hum? Ah... Hai...
- Hum...
Saga resmungou sonolento após acordar, era assim mesmo, podia facilmente dormir durante o dia, a noite era diferente. Desembarcou do veículo, sendo seguido consigo o garoto e também o agente, levou com ele algumas compras, deixou sobre a bancada da cozinha enquanto trocavam algumas palavras. Ao entrar com ele em casa, Azaiichi o guiou até sua cama no andar de cima, ele precisava descansar e ao indicar que se deitasse, o cobriu com o espesso cobertor, a enfermeira subiria para ajudar com o soro, ele ainda precisaria ficar em observação, então ela estaria por ali naqueles dias. Sentou-se ao lado dele, silencioso e esperou que ela saísse. 
- ... Você gosta de sopa?
Após a troca de palavras, palavras essas provavelmente diferentes do que ele realmente queria dizer, Saga subiu até o próprio aposento, não precisava de tanta atenção como ganhava de Azaiichi, sempre foi capaz de se virar mesmo após extrapolar, mas o deixou fazer, sabia que ele estava triste. Se deitou e se acomodou como colocado por ele e pelos ajustes feitos pela enfermeira, bem, seriam horas difíceis. 
- É, acho que sim. Mas não vou conseguir comer. - Sorriu, canteiro. - Você não sabe como é uma desintoxicação.
Azaiichi uniu as sobrancelhas, não sabia mesmo, mas não se importava, estaria ali. Eu sei que não. Disse, mas não sabia de fato. Mas uma hora você vai ter que comer, então eu vou fazer pra você. Disse e sorriu, meio de canto. Levantou-se e no banheiro retirou a maquiagem pesada que usava na noite anterior, trocou por uma mais suave, não gostava que ele visse a si sem ela. Quando voltou, estava com uma roupa mais sutil, havia levado na bolsa, a calça do pijama era soltinha, mas não parecia de fato uma calça de pijama, assim como o moletom que usava em cima, todos pareciam olhar pra ele com desgosto, mesmo a enfermeira, era o único que não conseguia de maneira alguma olhar pra ele daquela forma, ainda que fosse a vigésima vez que o visse assim. Sentou-se na poltrona ao lado de sua cama, como fora no hospital. 
- Se você sentir enjoo... Ou alguma coisa, me diga.
- Você pode se deitar se quiser. Tem outro quarto também. 
Dito, Saga olhou para a enfermeira que voltava, terminando o que precisava fazer. 
- Sagara-san, vou começar a aplicação, qualquer coisa que precisar estarei aqui. O pequeno rapaz pode me chamar. Tentarei ser o mais breve possível.
- Tudo bem.
Azaiichi negativou conforme o ouviu, estava sonolento por ter dormido no carro, mas ficaria ali, não sabia o que iria enfrentar, mas não ia deixar ele sozinho. 
- Rapaz, você pode ficar tranquilo, por hora estamos apenas hidratando ele, tentando acelerar a limpeza do organismo, mas nada vai acontecer tão rápido. Descanse também. 
- É, descansa, Azaiichi.
- Eu estou bem. - O menor disse num pequeno sorriso.
- Tudo bem então. Fiquem à vontade. Bom descanso.
Azaiichi assentiu e tocou os cabelos dele quando finalmente sozinho com ele.
- Não se preocupe tanto, rapaz. Eu vou ficar legal...
- Eu não estou preocupado, estou bem. - O menor disse e sorriu. - Só quero ficar com você.
- Te conheço pouco, mas o suficiente.
Azaiichi sorriu novamente, dessa vez de canto. 
- Estou um pouco preocupado sim. Não queria te ver desse jeito, mas... Acho que assim eu te conheço um pouco melhor. 
Disse, e era a primeira vez talvez que estavam falando sério, sem aquele jeitinho infantil que tinha, se sentava de forma polida na poltrona, alerta, em uma frase dele, uma confirmação, havia envelhecido vinte anos.
- Uh, agora parece diferente das entrevistas, hum? - Saga sorriu canteiro.
- É. - Azaiichi riu, sutil. - Parece diferente sim.
- Não pareço tão incrível agora, hum?
Azaiichi sorriu de canto novamente, desviando o olhar a ele. 
- Na verdade, ainda parece.
O riso soou entre os dentes de Saga. Azaiichi sorriu a ele e levantou-se, sentando-se na beira da cama dele e o tocou nos cabelos novamente, acariciando-os. 
- Eu não vou embora. Só se me mandar ir.
- Se eu mandar você vai? - Saga riu. - Você não ia mesmo quando eu dizia que devia ir.
- É porque eu não devo ir.
O riso soou nasal, Saga erguera a mão e tocou seu cabelo. 
- Tá bom.
O menor riu baixinho e acariciou os cabelos dele novamente. 
- Vai ficar tudo bem, eu estou aqui...
- Vai sim. 
Saga sorriu de canto, mas sabia, ia ficar bem por hora, mas era figura repetida.
- ... Se quiser alguma coisa, se precisar, me avise... Eu... Vou estar aqui, tudo bem? Você... Quer conversar comigo?
- Eu sei, pirralho. - Saga afagou seus cabelos. - Deita aqui.
Azaiichi assentiu e seguiu até ele, deitou-se ao lado dele na cama e ajeitou-se de uma forma que ficasse mais alto que ele, o abraçou, deixando seu rosto junto ao próprio peito. O maior sorriu, para si mesmo na verdade, era uma criança tentando dar aconchego para si, mas o deixou fazer, não conseguia de fato ser maldoso com aquele garoto. O menor acariciou os cabelos dele, estava silencioso, mas ele poderia ouvir os próprios batimentos, estavam um pouco acelerados só por estar perto dele daquela forma. O beijou no topo de sua cabeça. Saga fechou os olhos, sentindo um estranho conforto em seu cheiro e seus batimentos cardíacos.

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