Kyo e Shinya #61


Kyo encostou-se na bancada da cozinha, enquanto cruzava os braços parcialmente, levando o outro com a mão direção à boca, onde o café tragou. Observava dali o baterista, de olhos pequenos e inchados de sono enquanto preparava no bulinho seu chá matinal. Usava um roupão branco, mesmo que já estivesse vestido. O cabelo ainda estava bagunçado, mas não estava diferente dele. Era um pouco mais que cinco da manhã, sabia que dia era aquele, mas também não lhe disse nada. 
- Vamos dar uma volta?
Shinya adicionou o chá no pequeno bule que costumava tomar, vendo a água quente tomar a coloração esverdeada e logo desviou o olhar a ele ao ouvi-lo, meio confuso, afinal, não achava que ele fosse querer sair de casa, não aquela hora, e sabia que era o próprio aniversário, mas ele tinha o costume de não se lembrar das datas, então já não se importava mais.
- Eh? Ah... Hai.
Kyo fitou-o conforme assentia mesmo em sua mania de perguntar outra vez quando na verdade já havia entendido na primeira. Com ele afirmou num balanço da cabeça e esperou até terminar o café no mesmo lugar onde estava, e ele a seu chá. 
- Peça pra sua mãe ou o Toshiya dar uma olhada nas crianças.
Shinya assentiu ao ouvi-lo, no último gole do chá e logo levantou-se, pegando o telefone e discou o número do outro, pedindo para que aparecesse para olhar os filhos por algumas horas e prometeu recompensá-lo com doces depois.
- Pronto.
Kyo observou-o após sair, podia ouvi-lo falar com o baixista e nunca entenderia porque ele escolhia o moreno para cuidar das crianças, quando ele próprio morria de ciúme do colega de grupo. Deu de ombros no entanto e finalizou o café. Seguiu de volta ao quarto deixado a pouco e tomou banho rápido antes que tivesse a companhia do baterista, saiu do chuveiro após sua chegada, deixando-o formular sua limpeza. Vestiu-se com um jeans cinza, camisa e casaco pretos. O tempo lá fora estava até meio nublado com o frio, gostava do clima cinzento daquele dia, talvez a ele fosse o contrário. Sentou-se beira a cama e esperou-o por lá até que tomasse banho ou se arrumasse. Shinya sorriu consigo mesmo, animado ao adentrar o banho, já que imaginava que ele estivesse levando a si para um sorvete ou algo simples, mas que seria divertido mesmo assim, era difícil que ele tivesse vontade de sair consigo. Vestiu-se rapidamente, uma regata branca coberto de um casquinho preto e solto e a calça de mesma cor. Sorriu a ele, subindo as escadas e ao contrário do que ele pensava, também gostava daquele clima, era agradável.
- Vamos lá. 
Kyo disse ao rapaz ao reencontrá-lo enquanto tateava o bolso do casaco recém colocado de onde tirou um cigarro e levou a boca. Sabia que ele sempre reparava no tamanho dele, sabia que adoraria fazer alguma gracinha mas não tinha realmente coragem. Até deu-lhe uma estreitada nos olhos a seguir para a saída de casa enquanto acendia o fumo. Colocou no bolso a carteira, pegou a chave do veículo e adentrou o automóvel junto ao companheiro. Shinya observou-o a colocar o cigarro nos lábios e ele já sabia, não precisava dizer ,até riu baixinho a adentrar o carro em conjunto, e não gostava que ele fumasse, mas pelo menos não o fazia na frente das crianças.
- Onde vamos?
- Só dar uma volta mesmo. 
O menor disse com o cigarro entre os lábios, ainda segurando mesmo enquanto falava e soava um pouco embaçado com a "estadia" dele por ali. E não estava omitindo os planos, realmente dariam um passeio de carro, pegaria algum caminho reto e bom de se dirigir. 
- Ah, hai
Shinya falou e sorriu meio de canto, desviando o olhar para a janela e recostou-se no banco. Kyo deixou a própria casa e traçou rota pelas ruas até pegar um pouco mais da estrada. Deixou os vidros do carro abertos, pelo menos os frontais, e bem, tentava aproveitar a paisagem tanto quanto um passageiro poderia fazer. Tinha um clima fresco e nublado, mas não tinha cara de chuva, parecia mais uma manhã, como na verdade era, embora quase sete horas àquela altura. O maior suspirou e abriu o vidro do carro, sentindo o vento gostoso nos próprios cabelos, desarrumando-os e sorriu, apreciando o clima gostoso.
- O que deu de querer vir passear?
- Faz algum tempo que não viajo num carro ou por vontade que não seja a trabalho, está frio, não parece que o meio dia vai tirar a graça do dia então parece um dia bom. Não?
Shinya riu baixinho e assentiu.
- É, eu gosto do céu desse jeito.
- Gosta, é? Imaginei que não ia gostar do céu desse jeito bem no dia do seu aniversário.
Shinya desviou o olhar a ele por um instante e sorriu, meio de canto.
- Não me importo.
Kyo não voltou a respondê-lo e continuou o caminho, descansando a nuca no encosto do banco. Ligou o aparelho de som, colocando alguma música qualquer que pudesse dar distração as horas que dirigia. Shinya sorriu, meio de canto e ouviu a voz dele no rádio, gostava de ouvir, e tentava ignorar a bateria de fundo, ou iria iniciar um leve batuque na perna, ou ver algum defeito. Aumentou um pouco o volume, cantarolando em baixo tom. Kyo arqueou a sobrancelha e bem, não queria ouvir as próprias músicas, tinha costume de julgar alguns erros se o fizesse e preferia não por ali. Trocou logo, optando por alguma outra coisa.
- Ah, pro que? 
Shinya murmurou, mas não queria realmente uma resposta e logo desviou o olhar ao vidro novamente.
- Sabe que não é legal buscar problemas no que fazemos. Aposto que você mesmo procura problemas na música.
- É, eu... Faço bastante isso.
- Então, prefiro deixar pra ver isso quando estiver compondo.
Shinya assentiu e sorriu meio de canto.
- Hai.
Kyo seguiu alguns quilômetros a mais pela viagem e aos poucos se aproximava de uma cidade pequena porém cheia de riquezas naturais em cada detalhe, assim como o restante de Kyoto. O clima nublado tornava a aparência do lugar de algum modo ainda mais bonito. As árvores mesmo que se parecessem secas, continuavam bonitas. O lago brando não fazia movimento, exceto pelas suave curvas com a brisa que vez outra o tocava. E próximo ao templo budista estacionou o veículo, dando ao baterista vazão a grande arquitetura tradicional japonesa, tons de vermelho, tabaco, preto e dourado. E em sua zona frontal passarelas criadas em pontes transpassavam pelo grande lago que cercava o templo, sendo ainda enriquecidos pelas folhas avermelhadas dos inúmeros bordos japoneses, senão pelas cerejeiras e árvores de galhos solitários e secos. Shinya arregalou os olhos, estava entediado, porém aquela visão fez a si acordar. Observou o lago, as árvores, uma mais bonita do que a outra e até aquelas pequenas pétalas sobre a água, flutuando. E não sabia onde ele queria chegar com aquilo, estavam ali, como um passeio? Mas viajar tão longe só para encontrar um templo? Ouviu o barulho do motor cessar e desviou o olhar a ele, ainda sem entender, embora quisesse sair e conhecer o local, esperou por ele, uma explicação, algo que indicasse o que faziam ali.
- Eu costumava morar por aqui, digo, bem próximo. 
Kyo disse a ele, notando sua feição curiosa e ainda vislumbrada, afinal, aquele lugar era mesmo de se admirar, gostava dali e mesmo tudo em torno daquela região e sentia falta também. Deixou o veículo com ele e fechou a porta do automóvel, seguiu visualmente passeando pelo lugar, sentindo a atmosfera típica da região e cruzou o caminho até as passarelas que davam espaço à entrada do grande salão budista, adornado por estátuas folheadas e típicas da religião. Shinya sorriu, meio de canto e estava feliz por ele trazer a si ali, um lugar que ele gostava. Era o pouco que sabia sobre ele e sobre sua história, já que ele tinha a mania de mentir para todo mundo, até para si. Observou o local ao redor, naquela manhã bonita, tudo se tornava extremamente agradável e sorriu novamente.
- Obrigado por me trazer aqui. - Murmurou enquanto caminhava.
- Não é nada de mais. 
Kyo disse e alcançou o altar do templo, indicou igualmente ao baterista e deu palma dupla antes de unir as mãos num cumprimento, onde fechou os olhos e descansou a testa contra a ponta dos dedos unidos, por algum pouco tempo. E voltou a observar o redor, rodeando a sala visualmente. Shinya observou-o, meio constrangido, já que não tinha muito costume de ter alguma religião, o seguia aos templos, mas não era realmente acostumado e o imitou como sempre fazia, esperando que ele guiasse a si no que fazer.
Ao abrir os olhos de volta, Kyo notou o maior a fazer o mesmo que fazia antes. Até deu um meio sorriso, achando graça da imitação que fora seguida. Não era um homem romântico e também não era clichê. Era na verdade preciso, direto. Não via necessidade de criar toda uma forjada ocasião somente para fazer o que queria. Preferia criar algo simples ou que tivesse algum significado, e era por isso que estava lá, no lugar onde gostava de estar, num lugar onde não somente a beleza existia, como para si também detinha um significado maior e quem sabe passasse a ter para ele também. Sabia o quanto ele esperava por aquilo, e no fundo pensava que não precisava dize-lo ou faze-lo, tinha-o como companheiro de toda a vida, mas se era algo necessário para fazê-lo feliz então faria. Ergueu a mão junto a pequena caixa vermelha aveludada com adorno de uma fita preta e pequena. 
- Você sabe que não vou ser o homem que vai ajoelhar pra isso, mas o trouxe num lugar especial e imagino que se tornará especial pra você também. O trouxe para conhecer uma parte do meu passado e também uma parte do futuro. Feliz aniversário.
Shinya desviou o olhar a ele, ainda meio perdido no que acontecia, e realmente acreditava que só estavam ali para passar próprio aniversário, não esperava nada mais. Ele era difícil, como ele mesmo havia mencionado e de todas as coisas que podia esperar dele na vida, a última era ver aquela caixa em sua mão. Sentiu o nó na garganta ao vê-la, e esperou não desmaiar, porque sabia que seria capaz. Nem percebeu quando os olhos se encheram de água e uniu as sobrancelhas, guiando ambas as mãos sobre a face, especificamente sobre os lábios e esticou uma delas, trêmulo a receber a caixinha em mãos, que desfez a fita e abriu.
Kyo teve de manter o pequeno presente ainda numa das mãos enquanto ele o desvendava com uma das suas, revelando ao baterista um anel de ornamento fino em ouro negro e um pequeno ponto brilhante e solitário. Imaginava se não era um pouco feminino demais, mesmo que tivesse cores escuras e frias, mas era um anel de noivado então imaginava que deveria ser assim. Shinya observou o anel, tão bonito e logo desviou o olhar a ele, depois ao anel novamente e ainda não havia tirado a mão do rosto e fora quando havia começado a chorar, mesmo em silêncio e não acreditava no que estava vendo, achava que ia acordar em alguns minutos, tinha que acordar.
- ... Você está... Você realmente está me pedindo em...? 
Murmurou e cobriu o rosto com ambas as mãos, e realmente, não sabia lidar com aquilo e levou um longo minuto até morder o lábio inferior, contendo o choro e estender uma das mãos a ele.
- Não chore, vou revogar o pedido. 
Kyo disse o ameaçando forjadamente é claro. E ao baixar a mão, tirou da caixa o anel e tomou posse de uma de suas mãos, antes no rosto vermelho e escondido, colocando sua nova aliança de noivado em seu anelar. Shinya observou-o enquanto colocava a aliança em si, e por dentro estava explodindo, mas tentou não demonstrar isso por fora, apesar de mostrar isso nas lágrimas que escorriam pela face como se fosse chorar para sempre, quase chegava a soluçar e logo deu um passo em direção a ele, somente um fora suficiente e abraçou-o com força contra o corpo.
- Pare de chorar, Shinya. - Kyo retrucou ainda sentindo o abraço apertado, e ele até que tinha alguma força. Ergueu as mãos e acariciou suas costas. - Vamos.
O maior assentiu pouco tempo depois, escondendo a face em seu ombro e logo se afastou a observá-lo, limpando as lágrimas do rosto com a ajuda da manga do casaco e uniu as sobrancelhas, observando o anel novamente.
- Ele é tão lindo...
O menor levou a mão em seus louros fios e os afagou de leve, deixando-o descansar ou processar o pedido. Já imaginava que a ele seria surpresa, porém não imaginava que o fosse fazer chorar feito uma queda d'água. Deu-lhe algum tempo até assim se afastar. Fitou seu rosto já seco com o dorso da mão e seu casaco. Sorriu do próprio modo, sutil e embora estivesse calmo, estava certamente feliz por ele, por ambos. 
- Imaginei se não seria muito feminino.
- Não, é perfeito. - Shinya murmurou e sorriu, meio envergonhado, por si mesmo, pela reação que tivera e desviou o olhar a ele, e obviamente, estava muito feliz, muito. - Eu te amo... Tanto...
- Eu também te amo. - Kyo disse, ainda observando o rapaz em frente. - Aqui é um bom lugar, hum.
Shinya sorriu novamente e desviou o olhar ao redor, e realmente, era lindo.
- Vamos nos casar aqui. De quimono, como você queria.
- Como imaginei. 
Kyo retrucou a como ele mesmo fazia, observou todo o lugar. Shinya sorriu novamente e assentiu.
- Eu... Acho que eu vou desmaiar. - Riu e negativou.
- Não faça isso, não quero ter que arrastar você.
O maior riu e negativou, limpando os rastros de lágrimas ainda pelo rosto.
- Você morava aqui perto?
Kyo assentiu à pergunta, esperando não ter que continuar a falar sobre o assunto, não por algum motivo específico, apenas não o queria. Deu o par de palmas no templo, agradecendo assim como a chegada. 
- Vem, quer conhecer um pouco mais dele?
Shinya assentiu ao vê-lo meio desconfortável e desviou o olhar, fazendo uma pequena referência antes de se retirar.
- Vamos.
- Quer conhecer o templo ou ir atrás de algo o que comer?
- Quero conhecer. - O maior sorriu. - Sabe que não como muito.
- Não significa que não come. 
Kyo disse e levou-o consigo pelas pontes, onde podia ver a beleza já conhecida daquele lugar a medida em que o apresentava para ele. Shinya seguiu o outro e observava o lugar, mas observava mais o rosto dele, notando suas explicações por onde passava, e não entendia quase nada, mas gostava de ouvir o som da voz dele enquanto explicava, como ele parecia se divertir com aquilo, ah, e o amava realmente, nem sabia medir em quantidade. Sentiu um arrepio suave percorrer o corpo ao concentrar-se naquela voz até lembrar-se de ouvi-lo cantar para si, e piscou algumas vezes em seguida, sentindo a face se corar pelos pensamentos maldosos que vieram à própria cabeça, e estava num templo, não devia. Kyo voltou o olhar ao louro, notando um leve corar em seu rosto, interrompeu por um momento o que dizia. 
- Algum problema? 
Indagou sem sequer ter hipótese de imaginar o que passava na cabeça do baterista.
- Eh? Não, não... Desculpe, estou prestando atenção.
- E por que está vermelho?
- Ah, me distraí por um minuto...
- Hum. 
Kyo disse em compreensão embora soubesse que estava sendo enrolado. Levou algum tempo mais até alcançar um grande pátio nos fundos do templo, com pequenas passarelas que dava vazão ao jardim bem cuidado.
- Ah, que lindo! 
Shinya falou, mais para si, mas acabou soando alto demais e cessou os passos, deslizando uma das mãos pelas flores no solo. O menor deu um breve sorriso, quase involuntário, sabia que aquela parte seria agradável a ele, e constou ao vê-lo um pouco mais eufórico. O maior sorriu igualmente e queria pegar uma flor para si, mas preferiu não tocar nas mesmas, afinal, pertenciam ao templo e sabia que aquele lugar era especial a ele.
- Imaginei que fosse gostar daqui em específico.
- É lindo. - Shinya sorriu. - Eu gostei mesmo.
- Há mais o que conhecer, mas podemos ver isso quando começar a planejar a cerimônia.
O maior mordeu o lábio inferior e assentiu, estava animado, realmente animado e mal podia esperar para escolher o próprio quimono.
- Você... Gostaria que eu casasse de branco?
- É uma cor que fica bem em você. Mas use o que achar melhor.
- Hum. - Shinya sorriu, largo, animado mesmo com a situação. - Eu te amo, já disse isso?
- Ah, talvez pelo menos uma vez ao dia durante todos esses anos.
- Ah, não faz mal dizer mais uma vez. Eu me sinto uma adolescente. - Riu.
Kyo sorriu  e não disse, mas ele parecia mesmo como uma.
- Ah vamos, faz a minha vontade só hoje e me da um sorriso mesmo.
- Estou dando um sorriso.
- Hum, sabe o que estou falando.
- Sei, e estou sorrindo. Estou animado, mas quero que escolha por si mesmo.
Shinya fez um pequeno bico e riu baixinho, assentindo a ele.
- Vou escolher um bem bonito.
- Quer que eu vá com você ou tem crenças?
- Hum... O noivo não pode ver a noiva antes do casamento, mas... Acho isso meio estupido.
- Hum... 
Kyo murmurou um pouco surpreso. Shinya desviou o olhar a ele.
- Eu disse algo errado?
- Não, achei que você fosse fazer a questão de não me deixar ver.
- Iie, quero ir com você. Você é o meu melhor amigo. - Sorriu.
- Tudo bem, vou encontrar alguém para o serviço.
Shinya assentiu e segurou a mão dele, entrelaçando os dedos aos do outro.
- Vamos dar uma volta pela cidade, tomar um café.
- Hai, tenho direito a bolo?
- É provavelmente pra isso.
- Então ta bom. - Shinya riu.

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