Yuuki e Kazuto #71


Para Kazuto, era confortável estar em casa. Enquanto se sentava na cama, observava os porta-retratos sobre o móvel. Tudo havia acontecido tão rápido, os anos haviam passado tão rápido, para os vampiros, eram como dias, e ele havia aprendido isso da forma mais estranha possível. No começo, se via como um menino chato, importunando Yuuki, e agora, era mãe, ou papai como as crianças as vezes chamavam. Crianças porque já havia dado a luz ao segundo filho, uma menina adorável na verdade, que por fim, acabara dando mesmo o nome de Arisu, embora tivesse sido engraçado convencer o namorado. Namorado, ou noivo talvez, porque o pedido de noivado até então, não havia saído somente desse pedido. Yuuki não havia feito nenhuma menção de um casamento real para ambos, e sabia que com ele era meio difícil de alguma coisa assim acontecer, até o noivado havia sido estranho, achou que ele na verdade só teria pedido porque queria provar que gostava de si, de alguma forma. Voltando a filha, agora podia vê-la, no porta-retrato de família, seus cabelos longos e castanho-escuros, do lado do irmão mais novo, que mesmo tendo passado tanto tempo, não havia perdido o ar dócil, e ao lado dele, estava Yukio, o filho de Misaki, que por fim, havia acabado sendo seu namorado, que ele sempre mencionava ser seu akai ito. Arisu havia nascido com características muito parecidas com as de Kazuto, e isso a deixava um pouco aborrecida, até então, o menor não entendia como ela podia ter nascido daquela forma, a genética do vampiro era muito mais forte do que a de um mero mortal, por isso, achava incrivelmente improvável que ela houvesse nascido daquela forma, e justo ela, que queria ser como o pai, ela até agia como ele com seu jeito carrancudo, tentava se acostumar que ela estivesse se tornando uma moça. 

Arisu adentrou a casa, deixando a mochila sobre o sofá e com passos rápidos seguiu ao próprio quarto, porém antes que chegasse na porta viu o pai parado no corredor e uniu as sobrancelhas.
- Papai?

- Arisu. - Yuuki respondeu à indagação. - O que houve hoje? - Indagou objetivo.
- Eh? Ah... Na escola...
O maior afirmou com maneio.
- Estava muito feliz, não?
- Estava... Com... Uma garota.
Yuuki arqueou a sobrancelha com sutileza, quase não perceptivo.
- Não foi nada demais, papai.
- Eu não sabia que estava namorando.
- Não estamos...
- Ah? E então?
- Só nos encontramos na escola.;.
- Ah, e estava tão feliz... Feliz, vendo alguém na escola?
- Nós... Nós transamos...
- ...
- Não me olhe assim...
- Como não? Você acabou de dizer, que com dezesseis anos transou na escola com uma pessoa que nem tem algo com você.
- Mas ela gosta de mim... Me deixou tomar o sangue dela.
- E por isso você fez sexo?
- Ué... Eu também gosto dela.
- E ela gosta de você?
- Ela disse que sim.
- Mas você continua tendo dezesseis anos, e tendo feito sexo na escola. Está pior que o seu irmão.
Arisu uniu as sobrancelhas.
- Não faça essa cara. Acha que foi certo?
- Eu não planejava isso...
- Se deixou levar pelo sangue dela.
- Como sabia?
- A primeira coisa que sentiu foi sede. Assim como a sua primeira desculpa foi dizer que ela te deu sangue. Não faça esse tipo de coisa na escola.
- Ta bem, papai... Mas... Pelo menos não é um menino.
- É. é. Porque senão esse estava pior que o Yukio. E você, é melhor que se cuide se gosta dessa menina. Porque acabou de falar que nem sequer têm nada uma com a outra, se essa menina de repente aparece com alguém. E é bom que me fale, porque sei bem de onde vem.
Yuuki disse, num raciocínio que só ele iria entender, conhecia o cheiro, sabia exatamente de quem a outra garota era filha.

- Eh?
- Esqueça. É aquela menina loira que veio, não?
- Sim, eu só vim pegar umas roupas, vou conhecer os pais dela.
- Hum... E você então está gostando mesmo dela?
- Sim...
- Hum, só não fique fazendo coisas na escola.
- Ta bem, papai. Mas você diz na frente da turma que nem fizemos hoje ou longe deles? Brincadeira.
- Uh. - Yuuki ergueu um meio risinho de canto. - Tenho certeza que eu já estaria sabendo mesmo antes de chegar.
- Nossa papai... Você sorri. - Ela riu.
- Não, na verdade eu estou com tique nervoso.
- Imaginei.
O maior deu-lhe uma piscadela.
- Devia sorrir mais, fica bonito. - Ela sorriu.
- Não seja boba.
- Mas fica. Mamãe ia gostar.
- Não é como se ele nunca tivesse visto.
- Do jeito que você é... Mas vou pegar as minhas coisas. Até logo, papai.
- Até. Vai dormir lá?
- Hai, mas volto assim que anoitecer.
- Ok. Fale com a sua mãe antes de ir.
- Ah, ta bem, eu já vou pro quarto, vou só pegar as minhas coisas.
Yuuki assentiu e deixou-a seguir ao quarto. Kazuto vestiu a parte de cima das roupas e voltou logo do banho para a cama, afinal, queria ficar com o outro e aproveitar o máximo que podia com ele no dia de folga, porém ao voltar não o encontrou. Uniu as sobrancelhas e seguiu até a porta do quarto.
- Yuuki?
Yuuki voltou-se ao outro e seguiu em sua direção a entrar no quarto.
- Estava falando com a Arisu.
- Ah, ela chegou? - Kazuto sorriu a ele.
- Foi ao quarto, vai dormir fora hoje.
- Eh? Mas... Ela disse o que houve na escola?
- Só resolveu transar.
- O que? Na escola?!
- É. Mas já conversei com ela.
Kazuto suspirou.
- Com dezesseis anos.
- Não é muito diferente do Suzuya... Essas crianças.
- Pior, ainda que seja uma outra garota. O Suzuya fez em casa e o Yukio é namorado dele.
Kazuto assentiu.
- Já disse que não mais fizesse.
- Tudo bem. Quer ficar um pouco comigo?
- Nós já vamos pra cama.
- Hum... - O menor assentiu.
- Então vamos. 
Yuuki levou as mãos em seus ombros, virando-o categoricamente de costas e deslizou os braços sob seus ombros, formando um enlace a volta de seu pescoço.
- A Arisu ainda virá se despedir de você. 
Caminhou, o obrigando a fazer o mesmo. Kazuto uniu as sobrancelhas ao sentir o abraço e assentiu a ele, seguindo ao quarto. O maior soltou-o conforme o deixou aos pés da cama, e pôs-se a deitar-se, tal como o menor. Kazuto sorriu a ele, deitando-se junto dele na cama e lhe selou os lábios.
- Acho que... Podemos marcar um exame.
- Hum... Farei a ligação mais tarde, ah?
O menor assentiu a ajeitar-se próximo a ele, abraçando-o.
Yuuki ajeitou-se passando por si o braço, que bem o acoplava no meio.
- Mamãe. 
Arisu falou a adentrar o quarto e aproximar-se da cama, abaixando-se a beijar o rosto da mãe.
- Já estou indo. Amo vocês.
- Ele ainda não a conhece, deveria trazê-la para isso.
- Hai, eu vou. Mas não hoje, já vai amanhecer.
- Tudo bem, meu amor. - Disse Kazuto.
- Ela mora por perto?
- É um pouco longe.
- Vai conseguir chegar a tempo?
- Vou sim, mas tenho que ir agora. - Ela sorriu.
- Quer que eu leve você?
- Mas aí quem não vai conseguir voltar a tempo é você, papai.
- Claro que volto, de carro.
- Mas... A mamãe não vai ficar chateada?
- Não, se seu pai quiser ir. - Disse o menor.
- Ora, não disse que ele ficaria sozinho aqui.
- Eh?
- Não disse pra você esperar, pode vir junto.
Kazuto sorriu a ele e assentiu.
- Ta bem.
- Então vamos.
O menor se levantou.
- Só vou me vestir.



- Hum, gosto da nova namorada da Arisu.
- Como gosta se nunca a viu?
Kazuto deu um sorrisinho, negativando, estava na cama e fitava o outro na sacada.
- Gosto que ela faça a Arisu feliz.

Yuuki o observou de esguelha e voltou ao lado de fora outra vez, sentado na cadeira onde costumava fumar alguns cigarros antigamente.
- Eu tinha costume de fazer isso, mas acho que abandonei o hábito há alguns anos. Ficar aqui na janela.
- E por quê?
- Por que o que?
- Porque parou?
- Nem eu sei.
- Hum...
- Talvez, porque de repente eu tive minha vida cheia de coisas pra fazer.
- Ah...
- É diferente estar aqui. Mas é tranquilo.
- Entendi. 
Kazuto levantou-se, descobrindo-se do espesso edredom e caminhou até ele, abaixando-se a lhe selar os lábios e sentou-se em frente a ele. Yuuki observou-o cruzar seu caminho, mesmo antes de tê-lo chamado como pretendeu fazê-lo. O toque breve de seus lábios, e deliberado se fez em frente, sentando-se. Talvez do mesmo modo como imaginou. Novamente deixou o oxigênio ir embora pelo nariz, e ajeitou-se no lugar, junto a ele desta vez. O menor sorriu a ele e logo sentiu a brisa gostosa tocar a pele, bagunçando os próprios cabelos.
- É bom ficar aqui.
- Hum. 
Yuuki murmurou a desviar dos fios de cabelo, e até mesmo tirar um deles dentre os lábios. Kazuto riu baixinho a observá-lo.
- O vento não gosta do seu cabelo.
O maior ajeitou o impasse, e voltou-se ao menor, posteriormente à noite do lado de fora. Kazuto uniu as sobrancelhas e suspirou.
- Gosta do céu?
- Gosto da noite com temperatura fresca.
- Eu gosto de chuva.
- Eu também gosto.
- Ora... Temos algo em comum. - Sorriu.
- Existem outras coisas.
- O que?
- Filhos, espécie, rotina, sentimentos.
Kazuto manteve-se em silêncio e por fim sorriu a ele.
- Hum, olha só, você aprendeu a hora de não perguntar.
- É porque entendi o que quer dizer.
- Geralmente você entende e tenta me fazer prosseguir.
- Não precisa. - O menor sorriu.
- Eu não explicaria mesmo.
- Exatamente por isso.
- Bom garoto.
- Só não... Fale como se eu fosse um cachorro.
- Eu não disse.
Kazuto fez bico.
- Você é um ovo, não um cachorro.
O menor riu.
- É.
- Devia dar você de presente de páscoa para as crianças.
- Não devia não. - O menor uniu as sobrancelhas.
- Comer tudinho.
- Vou passar chocolate em mim e te dar na páscoa.
- Vai ficar todo sujo, é?
- Claro.
- Não gosto muito de doces.
- Bem... Então eu jogo... Molho de carne.
- Uh... Não precisa jogar nada.
- Mas aí não vai me querer...
- Ora, como se já não ficássemos juntos mesmo quando não se suja de nada.
- É, mas... Estou perdendo a graça...
- Pra quem?
- Pra você.
- Quem disse?
- Ninguém...
- Então.
Kazuto assentiu. 
- Você pensa demais.
- Eu sei...
- Então pense menos.
- Mas aí eu fico burro.
- Não disse para não pensar. Eu disse menos.
O menor assentiu e aproximou-se do outro, ajeitando-se sentado entre as pernas dele. Yuuki ajeitou-se no espaço estreito do limiar, cedendo a ele o conforto entre as pernas, e deixou-o se prover da mesma vista. O menor abriu um pequeno sorriso, repousando a face sobre o ombro dele.
- E se eu te jogasse daqui? 
Yuuki indagou e levou os braços em torno de sua cintura, na menção de empurrá-lo na posição em que estava. Kazuto segurou-se a ele com o susto e por fim afrouxou o aperto. 
- Você não me jogaria daqui.
- Não duvide muito.
- Não duvido. Sei que não me jogaria, mas se jogasse você iria me buscar, e me traria nos braços resmungando, mesmo que eu estivesse chorando de dor.
- Que imaginação...
- Você iria.
- Nem te jogaria.
Kazuto riu baixinho.
- Estava sonhando?
- Eh?
- Se estava sonhando quando entrei no quarto. Parecia estar confortável dormindo.
- Ah... Estava.
- O que sonhou?
- Com você.
- E o que sonhou comigo?
- Achei que não gostasse de saber sobre isso... - Kazuto sorriu. - Eu... Sonhei que estávamos naquela casa de praia.
- Sempre depende. Sei, faz tempo que não vamos.
- É, eu gosto de lá... De poder caminhar pela praia a noite com você... E de parar no acostamento pra fazer amor.
- Hum... - Yuuki murmurou na lembrança distante. - Podemos falar com os meninos. Arisu nunca foi lá realmente.
- Sim, seria bom.
- Além de que, agora ela está namorando. Podemos levar a Shizuka.
- Uh. Mas você viu como ela anda mais tranquila agora?
- É, parecendo um ukezinho.
- Eu acho que ela deixou a ideia de "Quero ser como o papai."
- É, ela esta mais fofa, e até sorrindo.
- Não é? - Yuuki indagou sem exigir resposta, concordando.
- Mas fico feliz que ela esteja feliz.
- Uh, quem diria. Ainda mais com uma... Prima.
- Pois é... Mas... E o Ikuma... Você não falou sobre isso depois do jantar.
- Falar o que?
- Sobre ele.
- O que quer saber dele?
- Nada, ele é seu irmão... Mas pelo que vi não tem um relacionamento muito bom.
Yuuki deu de ombros.
- Nada afetuoso.
- Mas... São irmãos há séculos. O que houve de errado?
- Nada, só não temos contato.
- Ah, entendi.
- Ele é do tipo engraçadinho. Adorava me encher o saco.
- É, eu notei... Yuuki... Podemos nos deitar? O céu já esta ficando claro...
- Vamos.
Kazuto assentiu e levantou-se, ajudando-o a fechar a janela e as cortinas em seguida.
- Eu... Gostei de ficar aqui com você.
- Volte ali quando precisar pensar. Só não pense demais. 
Yuuki completou e caminhou até a cama, já prontificado para dormir. O menor assentiu e deitou-se abaixo do edredom quente novamente, aproximando-se dele. O maior ajeitou-se na cama, acomodando-se com o outro que pôs-se próximo, e deixou o silêncio perdurar até que se fizesse em sono.

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