Kyo e Shinya #58


Shinya observou-o ainda no camarim, já fazia quase um mês que estavam fora de casa e também que os filhos ficavam com os próprios pais, fora a primeira vez que deixavam as crianças para fazer uma turnê tão longa, e como no outro dia, o notava inquieto, até meio irritadiço e negativou consigo mesmo, estava do mesmo modo, mas doía pensar que ele estava assim, sempre achou que ele não se importava nem um pouco, agora via que não. Seguiu em direção ao palco, onde haveria uma entrevista em um talkshow e toda a banda já estava por lá pronta para entrar. Segurou-o antes de seguir ao palco, puxando-o para longe dos outros integrantes e evitando as piadinhas e beijou-o no rosto, logo nos lábios, dando-lhe um pequeno sorriso, sutil e logo adentrou o palco junto dele, sentando-se me um dos sofás.

- Bom dia, estamos aqui com uma das minhas bandas favoritas e queremos dar boas vindas ao palco com o retorno do Dir en Grey!
Shinya sorriu, meio tímido e assentiu ao ouvir o apresentador, mas por dentro obviamente estava pensando "bandas favoritas, pff". Kyo não entendeu muito bem o beijo, que mais soava como uma tentativa de conforto. No entanto, não estava como se via, como ele imaginava. Não estava inquieto, talvez lhe passasse essa impressão por ser demasiado ausente, diferente dos demais integrantes do grupo, que sempre brincavam entre si, mas não tinha um humor tão grandioso. Deu-lhe no entanto um sorriso meio de canto e seguiu tão logo ao palco, onde esperava não ter muito o que falar.
Shinya desviou o olhar ao chão, meio chateado por ter que estar ali ainda, e havia dormido tão mal que deveria ser um pecado. Ao menos podia se sentar ao lado dele, o problema é que via a mão dele ali bem pertinho sobre sua coxa, e não podia segurá-la. Tinha que fingir que era só amigo dele, só um conhecido. Suspirou, cerrando o punho sobre o próprio colo e desviou o olhar ao apresentador, que ignorava a própria presença ali, e entendia, não era tão importante assim na banda, e também, muito tímido, as perguntas eram feitas mais ao próprio namorado e ao guitarrista.
- É muito bom ter vocês aqui hoje, vocês devem estar cansados, não devem, Kyo? Parece tão sonolento. - Ele riu.
Kyo encaminhou-se até onde indicado, e sentou-se onde preferiu, tão logo acompanhando pelo companheiro, que parecia feliz em conseguir o lugar ao lado de si. E como na ponta, não deixava espaço para outro além dele estar. 
- Sempre estou. - Disse ao apresentador, com um meio sorriso canteiro. 
Shinya ouviu as risadas do apresentador, da platéia e se seguiu daquele modo por longos vinte minutos, perguntas meio sugestivas e algumas que não gostou de terem sido direcionadas ao vocalista, por fim, finalmente estava acabando a entrevista, quando o apresentador dispensou as pequenas folhas sobre o balcão.
- Sabemos que vocês estão há muito tempo longe de casa, e isso acaba sendo meio estressante pra vocês, afinal, fizeram vinte paradas, estão há o que? Um mês viajando?
- Um mês, fez um mês ontem.
Shinya suspirou, observando-os e assentiu com um sorrisinho.
- Sabemos que vocês estão com saudade de casa, mas talvez um de vocês em especial, e gostaríamos de fazer uma surpresa a um de vocês.
Shinya arqueou uma das sobrancelhas, ah, obviamente devia ser o guitarrista, sua mulher ou algo do tipo e já era bem manjado. Sorriu meio de canto, até achava fofo, quando viu o apresentador sorrir meio de canto e o olhar sugestivo ao namorado já indicava tudo. Era talvez algum de seus pais? Nunca havia conhecido nenhum deles, e bem, a mídia não tinha um conhecimento nada bom sobre os parentes de ninguém da banda, então como haviam conseguido? Fora então que viu a porta atrás dele se abrir e os pézinhos pequenos correram pelo palco com seu vestidinho vermelho e florido, era tão pequena naquele palco enorme que quase havia tropeçado cerca de três vezes, a moreninha e atrás dela, não vira ninguém, não vira a própria mãe, pai, nem nada, então como eles podiam saber que era filha do Kyo? Talvez, pensassem que era somente um parente, devia ser assim que a própria mãe havia apresentado a pequenininha, numa tentativa de deixar que o pai a visse, talvez, não sabia, o problema é que também era pai dela, e sentiu o nó na garganta, enorme ao ver aquela coisinha tão fofa no palco e olhava o vocalista com os bracinhos esticados, embora desviasse o olhar para si também, e pode ver o olhar de espanto de todos da banda, sem entender o que acontecia.
- Papai!
E com essa palavra, via o olhar de espanto da platéia, do apresentador e dos demais, inclusive do namorado. Kyo já havia se preparo para mais uma típica bajulação, algum vídeo constrangedor de Daisuke ou de Toshimasa, o que não veio. E tão logo a longa grande cortina se abria a dar vazão aos pequenos pés calçados em sandálias, um vestidinho tão pequeno, sobre um corpo com a mesma pequenez. Claro que abriu os olhos bem arregalados, surpreso. Não tinha anunciado aquele tipo de assunto pessoal, não divulgavam relacionamentos aos fans problemáticos demais para lidar com isso, não entendia portanto como aquilo havia acontecido, mas não sabia como agir, se primeiro explodia pela informação vazada e não autorizada, visto que o programa ao vivo, ou se explodia com a fofura ambulante que corria de braços esticados e que nunca recusaria ou se negaria a receber. Tão logo se levantou e seguiu para ela, abaixando-se a pegar a pequenina e jogá-la um pouquinho pro alto antes de aconchegar aos braços e receber seu forte abracinho em torno do pescoço. 
- O que... Quem trouxe você? - Indagou baixo à filha.
- Foi a vovó. 
Murmurou a pequena, somente ao pai com um beijinho em seu rosto, e era óbvio que os dois se entendiam, porque havia sussurrado de volta a ele como ele havia sussurrado para ela e seus bracinhos ao redor do pescoço do pai chamavam a atenção da platéia que antes estupefata, agora estava com a enorme expressão de agrado, como se achassem tudo uma fofura, sem aguentar ao vê-lo com a pequenininha, e nunca imaginavam, nunca imaginariam pela expressão de algumas japonesas, fãs da banda que até abaixaram os cartazes. Shinya negativou, sabia que ele deveria estar com raiva e automaticamente recebeu o olhar de todos da banda, mas não tivera nada a ver com aquilo. As lágrimas invadiram os olhos a observar a pequena nos braços dele, Deus, sentia tanto a falta dela, tanto que o choro veio quase imediatamente, e até soluçou, grudado ao sofá de couro até onde aguentava e mesmo que tenha recebido a suave carícia nas costas do baixista ao lado de si, não suportou e levantou-se, antes que despencasse no local, obviamente já era bem visível a todos ali que estava afetado e seguiu junto dele a beijar a pequena na testa, acariciando seus fios loiros, macios e queria abraçá-la e encher de beijos, não soltar nunca mais. Ainda chorava, evidentemente bastante afetado pela vinda da pequena ao palco e abraçou-a junto do outro, sem se importar com as câmeras.
- Ah, mas e seu irmãozinho? 
Kyo disse igualmente baixo e recebeu de volta sua resposta. Estava curioso sobre o que acontecera com a informação, estava irritado pela vazão, e ao mesmo tempo feliz pela presença da pequenina. Apertou-a no abraço, e notou o companheiro, nunca o havia realmente chorando àquele ponto. A ponto de soluçar e não poder aguentar. 
- Vai com a mamãe.
Falou, igualmente baixo, só para ela, enquanto ouvia o apresentador falar como um locutor de jogo de futebol e então despedir-se do público para finalizar a entrevista, o que agradecia antes que surgissem mais perguntas e nos bastidores, a história seria diferente.- Está bem, dorme o dia tooodinho. 
Não havia chego a tempo de ouvir a pequena responder a ele e observou-o de perto, quase pedindo perdão mudamente e chorava por todos esses motivos quando pegou a pequena nos braços, abraçando-a tão forte que podia matar a filha se não se controlasse e acariciou os cabelos dela, beijando-a várias vezes em seu rostinho, tentando se controlar e parar de chorar, embora fosse difícil, e antes de sair ouviu o apresentador se desculpar, dizendo não saber o que estava acontecendo e que iria causar tanta comoção
- Não chora não mamãe, 'ta me molhando.
Shinya riu ao ouvi-la, e obviamente ela não sabia o que estava acontecendo, não queria assustá-la, deslizou o polegar pelo rostinho da filha e sorriu, beijando-a novamente na testa.
- Minha menininha, você está tão linda... Me perdoe por deixar você sozinha, eu te amo tanto.
- Shinya, controle-se.  
Kyo disse, entre dentes, notando a reação incomum do baterista, de modo que suas lágrimas tão aparentes, soavam um pouco desconfortáveis, era uma estranha sensação. Não que não pudesse confortá-lo, mas surpreendia o público, como a si mesmo. E mesmo assustava a filha, talvez não muito acostumada igualmente àquela sensação. Tocou seu ombro, como a única forma de poder confortar o músico, até que finalmente estivessem por trás do palco de apresentação, não mais sob as vistas da plateia. 
- Como vocês trazem minha filha ao palco? Como vocês divulgam algo que eu não autorizei que acontecesse? Não foi previamente autorizado, isso não devia vir a tona, a gravadora não permite informações, quem foi o maldito filho da puta?!
Shinya assentiu ao outro, de fato não era a própria culpa, o fez sem intenção, não pôde mesmo se controlar e já dentro do estúdio, tampou os ouvidos da pequena com uma das mãos, impedindo que ela ouvisse os gritos do menor. Guiou-a consigo até o camarim, onde o baixista já seguia, assustado com a situação e entregou a pequena nos braços dele.
- Espere aqui, vou acalmar o Kyo. 
- Shin, acho melhor você não ir lá, ele está furioso.
- Na alegria e na tristeza, não é? - Shinya sorriu, meio de canto.
- Vocês nem são casados, mas tá, vai logo.
Shinya assentiu e beijou a filha antes de deixá-la novamente, seguindo ao palco a limpar as lágrimas e encontrou o vocalista ali e o acessor intimidado, tentando explicar a ele que era somente uma surpresa e que não sabiam que era filha dele, como havia pensado, a mãe devia ter mentido para que ela pudesse vê-lo e sabia que ela devia estar por perto, mas no meio da confusão, não sabia onde, e queria tanto ver o outro filho também. Aproximou-se do outro, meio devagar, sem querer atrapalhá-lo, mas na tentativa de acalmá-lo ainda e numa brecha do assunto, entrou.
- Vocês não podem fazer isso, vocês não podem simplesmente colocar um parente sem saber de nada, ainda mais daquele tamanho, ela entrou sozinha no palco, e se caísse e se machucasse? Vocês não pensam nisso?
- Com licença, vamos resolver com o Kyo, por favor, pedimos aos demais integrantes da banda que fiquem no camarim.
- Ué, isso também diz respeito a mim, já que vocês também me constrangeram, a menina também é minha parente.
- Não tem licença. Vão atormentar a minha casa. É a minha família que vai estar nessas malditas revistas. Espero mesmo que vocês resolvam essa merda, porque não vou resolver nada e se não resolver, aí sim as coisas vão ficar ferradas pra esse programa e o responsável pela programação dela e se acontecesse alguma coisa com a minha filha durante a viagem até aqui? Quem seria o maldito responsável, ah? Não me consultaram, não consultaram o Shinya, não consultaram a banda e nem minha agência, que por sinal não permite divulgações pessoais. Sei menos ainda como tiveram acesso a isso, mas quero saber quem foi o responsável.
Shinya uniu as sobrancelhas, cruzando os braços e não disse nada a observar o rapaz, que quase se inclinava para trás, encolhendo-se de medo do outro, que falava alto contra seu rosto e logo o viu chamar o diretor do programa que chegou meio cabisbaixo, já sabendo que iria ouvir.
- Senhor, acalme-se por favor, nós só queríamos fazer uma surpresa. Contatamos a família do Shinya para trazê-la aqui, mas não sabíamos que era sua filha. Aliás... Ela é filha do Shinya também? Pedimos desculpas...
- Ah, como não sabiam que era minha filha se a surpresa era pra mim e ainda contataram a família do Shinya?
- Não achamos nenhum contato da sua família, então...
- Eu não vou falar sobre isso, minha agência certamente vai entrar em contato.
- Desculpe novamente, senhor... Só queríamos fazer surpresa.
Shinya deslizou a mão pelo ombro do outro, sutilmente, e não pediu que parasse ou nada, somente ficou a seu lado.
- Deveria ter contatado a agência primeiro.
- Sim senhor, não vai se repetir, diremos que era somente uma pegadinha, não se preocupe.
- Tudo bem, sei que você não dirige isso sozinho. 
Kyo disse, dando o braço a torcer, impossibilitado de retrucar contra a aparência pequenina daquele senhor. Shinya uniu as sobrancelhas a observá-lo, sem entender porém apenas retribuiu a reverência do senhor a se retirar.
- Maldição. Tinha que ser um velho... 
Disse Kyo ao companheiro, soando baixo. Shinya riu baixinho, deslizando a mão pelos cabelos curtos dele.
- Tudo bem, você se mostrou bem solícito.
Kyo negativou e massageou a ponte nasal enquanto seguia junto ao restante da banda. 
- Quero só saber quem foi o filho da puta que deixou isso escapar.
- Tudo bem, eles vão esquecer logo.
- Ah, claro que vão. Vão é ir atrás de descobrir mais.
- ... Sinto muito.
- Não é sua culpa, não tem porque se desculpar.
- É que foi a minha mãe, eu não expliquei tudo certinho pra ela.
- Sua mãe não sabe de nada também. Só pergunte se alguém foi atrás dela arrancando informação.
- Vou perguntar. Acho que... Ela deve estar no camarim com eles, e trouxe o Hitomi.
- Veja como estão as coisas por lá.
- Você não vem?
- Não falar com a sua mãe, vou ajeitar as coisas pra irmos embora. Acho que ela vai com a gente, não?
- Vai sim... Tudo bem ela ficar por lá uns dias?
- É claro que sim.
Shinya sorriu e assentiu, limpando as lágrimas do rosto ainda e estava um pouco envergonhado por ele ter visto a si chorando daquele jeito.
- Rapidinho, vamos. 
Kyo disse e deu-lhe um tapinha nas costas, indicando que fosse logo a direção de sua mãe enquanto arrumariam o que precisavam para partir dali. Shinya assentiu e caminhou rapidamente ao camarim, vendo a mãe a segurar o pequeno corpinho nos braços e sorriu, quase instantaneamente, claro que voltou a chorar e pegou o filho no colo, beijando-o no rostinho e cumprimentou a mãe.
- Eles fizeram algumas perguntas, eu não sabia, achei que você quem estava querendo vê-la e então eu a trouxe, eu aborreci o Kyo?
Shinya sorriu a ela e negativou, era uma senhorinha tão simpática, que não tinha como ficar irritado com ela. Junto aos demais integrantes, tal como agentes, organizaram o que deviam e Kyo seguiu até o camarim onde deu pequenas batidas suficientes a chamar a atenção do companheiro e de sua mãe. Tão logo seguiam até a van, que levaria ao hotel e tão logo para casa. Shinya segurou o pequenininho no colo enquanto saíam e viu a filha seguir na frente com passinhos rápidos, estendendo a mãozinha pro pai junto dos agentes, e sabia que ele era o favorito dela, mas achava fofo, por isso só sorria e não dizia nada. Kyo sentiu a roçadinha na mão, e abriu-a a receber a pequenina contra a própria, levando-a. Tão logo pegou-a no colo, e cobriu-a com uma manta preta, normalmente usada nos shows, mas limpa é claro e seguiu rapidamente, assim como os demais, ao interior da van, antes que fossem pegos pelo caminho. Shinya riu baixinho ao ver a pequenininha coberta, e por um momento imaginou ela com a maquiagem dele, ficaria tão fofa.
- Cabaninha, papai?
Shinya mordeu o lábio inferior e riu, adentrando o carro rapidamente com o pequeno no colo e ajeitou-se.
- Cabaninha. - Kyo disse a ela, afirmando o que pensava ser, somente a descobriu quando entrou junto dele e acomodou-se no sofá. - Acabou a cabana.
- Ah... Não, quero de novo!
Shinya riu baixinho, mesmo o clima tenso, fora quebrado devido aquele pedacinho de gente no colo dele, brincando e todos no carro ficavam em silêncio para ouvi-la.
- Ta bem, ta bem. 
Kyo disse e voltou a abaixar sua cabeça contra o ombro, escondendo-a embaixo da manta. Shinya viu a pequenininha rir, escondendo-se no ombro do pai e fechando os olhinhos, permaneceu até adormecer. Aproximou-se dele, sutilmente a se sentar mais perto e retirou a fralda branquinha de algodão do rosto do filho pequeno, mostrando seu rostinho ao outro, e dormia igualmente. Kyo ouviu aos poucos a tímida risada se converter num silêncio que indicava seu sono, certamente cansada, provavelmente havia brincado durante a viagem. Tão logo pôde ver o pequenino, já nos braços do companheiro, e sua mãe ao lado. Shinya sorriu e deslizou um dos dedos pelo pequeno rostinho dele em carícia e era sempre tão quietinho, que mesmo se acordasse, não iria chorar. Kyo sorriu do mesmo modo e tocou a bochecha fofa do caçula, sentindo a temperatura morninha, talvez pelo sono. Shinya desviou o olhar a ele e repousou a face em seu outro ombro, o que não tinha apoio da filha. Kyo deixou-o se acomodar e tão logo tinha-os adormecidos, o que exigia de si uma posição bastante desconfortável mas não se moveu. Ao erguer o olhar, notou os demais em descanso, o baixista que encarava a si e deu até uma risadinha, tão logo descansou junto aos outros. 

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