Yuuki e Kazuto #76


Kazuto observou a sala branca, enquanto se sentava numa cadeira do lado de fora e o esperava, movendo os pés a observá-los, e quase não tocava mo chão, era horrível ser tão pequeno. Desviou o olhar à enfermeira que estendeu a mão a si e uniu as sobrancelhas, parecia um garoto, aliás, era um garoto e tão pequeno quanto a si. Segurou a mão dele e levantou-se, abrindo um pequeno sorriso por perceber que ele tinha quase a mesma altura que a si.

- Você é o próximo, vem.
- Ah, mas... O Yuuki não chegou ainda... Como eu mudei de médico, não sei se ele vai achar o hospital...
- É que o seu horário é o último, se não fizermos logo, vai amanhecer e você vai ter problemas pra voltar.
Kazuto assentiu e desviou o olhar ao corredor.
- ... Posso esperar só mais um pouquinho?
Yuuki observou o relógio, notando no horizonte o tom cinzento do céu, meio azulado, indicando a manhã que viria em poucas horas. Não estava tão claro, mas não tão escuro. Suspirou quando desceu do carro e postou os pés do estacionamento do hospital. Não entendia porque da mudança do médico, neura de mulher, o que ele não era, mas quase. Talvez tivesse medo do médico anterior, era o que fazia a consulta divertida, ainda que não fosse tão gracioso. Observou o interior polido e branco do edifício, corzinha odiosa pelo excesso, quase fazia com que os olhos doessem. E tão logo pôde ver em distância a figura do menor, já de mãos dadas a enfermeira. 
- Estou aqui. - Disse ao ouvi-lo pedir pela espera.
Kazuto desviou o olhar ao outro atrás de si e sorriu, assentindo ao outro.
- Podemos ir agora.
- Certo, vem, preciso que você troque as roupas e coloque o avental. O doutor vai chegar logo.
Kazuto assentiu novamente e adentrou o local junto do outro, retirando as roupas, peça por peça, devagarzinho a substituir pelo avental, e observava-o de canto enquanto o fazia, sabia que ele não ficava reparando no próprio corpo em ocasião nenhuma, mesmo assim, o tom vermelho estava nas bochechas. Yuuki seguiu juntamente ao garoto e encarou o enfermeiro, igualmente miúdo porém mais alto que o companheiro, nada descomunal. Acomodou-se num canto enquanto via-o se despir e substituir sua roupas pelas roupas, ou pedaços de pano, do hospital. Estava como sempre, mas agora com uma pequena saliência no abdômen. Kazuto deitou-se sobre a maca e observou-o sentado ali a distancia como sempre costumava fazer, estava feliz por tê-lo ali, era bom saber que ele podia perder um minuto do seu tempo consigo. Havia guardado dentro da calça o pequeno bilhetinho de papel com as palavras escritas por ele no outro dia, o que fez sentir a tensão de ter deixado a roupa ao lado dele na poltrona. Desviou o olhar ao médico que havia adentrado o local e uniu as sobrancelhas, ele dava dois de si, facilmente.
- Oi...
- Boa noite, Kazuto, não é?
- Hai
- Está de três meses?
- Quase quatro. 
- Certo. Shiori, preparou as coisas?
- Hai. - Shiori falou e entregou o gel a ele.
Kazuto manteve-se em silêncio a observar o garotinho próximo ao maior, e sabia quase automaticamente que estavam juntos, principalmente pelo fato de que ele havia repousado a mão sobre o ombro do médico. Sorriu para si mesmo e desviou a atenção à barriga que agora era morna pelo gel passado no local.
- Você é o pai? - Shiori virou-se em direção ao outro. - Trouxe o DVD pra gravar o ultrassom? Vocês querem as fotos, certo?
- Ah... - Kazuto falou ao doutor e puxou a manga de seu jaleco, indicando que deveria olhar para si, não Yuuki. - Eu trouxe... Quero sim.
Yuuki encarou o médico, notando seus olhos que eram vermelhos e julgando pelo odor de seu sangue, era um vampiro jovem, não tinha mais que vinte anos como vampiro. Assentiu em sua pergunta, mas não respondeu ao que veio em posterior, visto que notou os toques sutis do companheiro, indicando positivamente ao que perguntava. Não entendia em que momento ele veria aqueles dvds, talvez as fotos, mas não lhe disse nada.
- Certo, vou fazer o seu ultrassom e analisar como está o seu bebê, é o primeiro ultrassom?
- É sim. 
Kazuto desviou o olhar ao outro, pouco distante de si e estendeu uma das mãos, sutilmente, mas não esperava que ele segurasse e logo sentiu o aparelho deslizar pela barriga, mostrando na tela o que o médico ainda analisava, tentando encontrar um bom angulo. Yuuki encarou o menor, notando seu gesto sutil, imaginava que queria o toque, mas se o negasse, queria que não fosse notável. Se aproximou, embora pouco e roçou a ponta dos dedos sobre a palma de sua mão, enquanto via a tela do ultrassom, que no fim nem sabia porque fazia, já que o bebê era vampiro, estaria morto e mesmo assim saudável. 
- Essa é a única vez que precisa vir, imagino que seja para saber o sexo, certo?
- Isso. - Kazuto murmurou e desviou o olhar a Yuuki.
- Pronto, você consegue ver o ultrassom? Aqui. - Indicou o doutor no monitor. - Esse é o lugar do coração, que deveria bater, se ele fosse humano, pode perceber que mesmo sendo vampiro ele tem pequenos batimentos. Isso ocorre geralmente quando ele escuta sua voz ou a do pai, vai ficar mais evidente quando ele for maior.
Kazuto sorriu a observar o monitor, desviando o olhar a ele em seguida, e obviamente estava animado.
- Aliás... Eles.
- Eh? 
Kazuto uniu as sobrancelhas, observando o monitor, distraído. 
- São gêmeos.
Yuuki ouviu as delongas médicas, esperando ainda pelo sexo do bebê e até tinha curiosidade para descobri-lo. Notou o rosto e feição animados do menor, e que se reverteu em um susto ao ouvir sobre a chegada de bebês ao invés de um bebê. Arqueou a sobrancelha, numa elevação breve da pestana e encarou o médico, aguardando ainda pelo sexo do bebê.
- Então são meninos?
Kazuto arregalou os olhos ao ouvir o médico e desviou sutilmente o olhar ao outro, esperando uma reação, diferente da que veio, apesar que não achava que ele fosse gritar consigo depois de já terem dois filhos. Uniu as sobrancelhas a observar o médico, antes humano como a si.
- São...?
- Não. É uma menina e um menino.
Kazuto sorriu, ainda sutil e imaginou que fosse agradar a ambos desse modo.
- São como você... - Falou, referindo-se ao gêmeo que o outro possuía e logo viu o doutor desligar os aparelhos. - Obrigado.
- Não há de que, foi um prazer conhecê-lo. Vocês vão querer que eu faça o parto, certo?
Yuuki observou o menor diante do comentário, mas não disse nada. Tal como a pergunta, que deixou por ele a decisão, assim como trocou de médico sem perguntar se podia fazer aquilo, somente perguntou depois.
- Yuuki? - Kazuto desviou o olhar a ele, aguardando uma resposta.
- Faça com ele se você quiser.
- Eu... Entro em contato essa semana. - O menor falou a ele.
- Sem problemas, vou dar o meu número.
- Obrigado, doutor. 
- Por nada, espero que nos vejamos logo.
Kazuto acenou ao pequeno enfermeiro e logo levantou-se, limpando a barriga e colocou as próprias roupas novamente.
- Está bravo comigo?
Yuuki levantou-se, e com um igual aceno despediu-se dos outros na sala, deixando o consultório, achando que enfim se livraria de todo aquele ambiente branco, mas lembrou-se após sair que não era bem assim. 
- Não.
- Está... Feliz por serem gêmeos? Achei que ia ficar bravo... 
Kazuto murmurou, seguindo-o para fora.
- Não há diferença se há um a mais. 
Yuuki seguiu com o outro até o estacionamento, e deu passagem a ele a entrar no carro, fez o mesmo em seguida. Kazuto adentrou o carro e assentiu, colocando o cinto.
- Mas... É mais um quarto, mais uma mamadeira, mais um bebê chorando.
- Tenho certeza que vai saber cuidar disso.
- Hai... 
Yuuki fitou o garoto e logo deu início ao caminho a voltar para casa junto dele. Kazuto suspirou e desviou o olhar pela janela, segurando em uma das mãos as fotos dos filhos e abraçou as imagens, deixando-as sobre o colo.
- Gostou da ideia dos gêmeos?
- Hai...
- Pensou em nomes?
Kazuto sorriu a observar a janela.
- Estava pensando em chamar de Yuuko se fosse menina.
- É um nome bonito.
O menor riu baixinho.
- É o seu nome no feminino. É lindo sim... Então... Seria bom se o do menino combinasse, certo? Talvez se juntarmos o seu nome e o meu... Yuuto?
- Yuuka seria o feminino, Yuuko é um pouco unisex. Yuuto é bom.
Kazuto sorriu e assentiu a ele.
- Yuuko e Yuuto.
- São bons nomes.
Kazuto esticou a mão e ligou o rádio, sutilmente, hesitante ainda, porém ouvira a música dele e suspirou, apreciando. Yuuki fitou-o de soslaio, e dirigiu no silêncio da própria música até chegar em casa. O menor sorriu ao estacionar em frente a casa e devagar saiu do carro.
- Vou contar pra Arisu!
- Ela vai ficar com ciúme.
- Eh? - Kazuto cessou os passos e virou-se a observá-lo.
- Ela vai ficar com ciúme.
Kazuto assentiu e abaixou a cabeça, olhando as fotografias.
- Mostre a ela.
- Iie... Vou pro quarto. 
Kazuto murmurou e virou-se, adentrando a casa e seguiu pelo corredor, passando em frente ao quarto da filha, mas já estava dormindo. Observou as fotos novamente e seguiu ao quarto, colocando-as em meio ao pequeno livro que tinha ao lado da cama, que se parecia com um livro, mas era o próprio diário, as vezes se sentia tão sozinho, as vezes Yuuki dava esperanças para si e as vezes não, era como um sádico dando um doce a uma criança e tirando, mas não estava ao todo triste, sabia que teria mais filhos dele e as crianças ajudavam a si a não se sentir tão só. Ainda assim, sabia que ele estava se esforçando, certo? Ele tinha que estar.

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