Kazuma e Asahi #75


O serviçal havia entrado no quarto, e encontrara Asahi arrumando as próprias roupas na gaveta, já havia arrumado a penteadeira e até mesmo a cama, ele porém, talvez não achasse certo fazer aquilo.
- Asahi-san, é pra isso que eu sirvo... 
- Ah, eu sei, mas... Eu não tenho muito pra fazer, preciso ocupar minha cabeça e não é nada demais, só estou arrumando as minhas coisas. 
- Hum... Suas roupas chegaram, eu vim trazer. Kazuma disse pra você se vestir porque haverá um jantar com os militares e ele quer que você vá. 
Asahi uniu as sobrancelhas. 
- Mas... Kazuma... Ele quer que eu vá? Os militares não podem saber que ele é gay... 
- Não sei se ele vai dizer isso aos militares... Acho que quer levá-lo como um parente ou amigo. 
- Hum... Tudo bem. - Disse conforme pegou os kimonos e um deles levou sobre o corpo, fechando com o obi de modo meio desajeitado. - ... Não está fechando direito... 
- Eh? Mas foi feito sob medida.
- ... Será que eu engordei? Eu... Eu só como o que geralmente comia. 
- Ainda está muito bonito, senhor. 
- ... Deus, é melhor eu fazer jejum por um um tempo, começarei amanhã. 
- Kazuma não vai gostar. 
- Não... Não diga nada a ele. Acha que esse kimono é bonito para o jantar? 
- Ah, senhor... Ninguém quase usa kimonos hoje em dia. 
- Achei que era elegante...
- E é, mas... Talvez um terno seja mais apropriado. 
- Vou me sentir um peixe fora d'água.
O garoto riu. 
- Tome seu banho, vou trazer sua roupa. 
- Espere, eu tenho um terno? 
- Kazuma comprou pro senhor. 
- Ah... -Asahi sorriu. - Tudo bem. 
Após a conversa com o garoto, Asahi seguiu ao banho, a água morna tocava o corpo gentilmente e embora ainda tivesse o costume de esfregar o corpo com o tecido, sabia que ele tinha esponjas e sabonetes líquidos que não eram nem do Japão. Não conseguia se ver como alguém luxuoso que usava coisas importadas, por isso, sempre usava pouca coisa. Lavou também os cabelos, usando os cosméticos que ele havia comprado para si, embora aqueles sim, fosse de ervas, o que gostava de usar. Aonde secar, em cima da cama encontrou o terno, e sorriu para si mesmo, bem, se ele queria ver a si usando aquilo, usaria.
Ao chegar, Kazuma ouvia leves ruídos de água, indicando seu banho noutro cômodo. Um sorriso canteiro e sutil demais era para si mesmo, deixou o quarto e partiu para se banhar no outro, deixaria-o se vestir e o encontraria pronto. Havia escolhido calça e camisa sociais, como costumava vestir em ocasiões onde sua batina estava a lavar na igreja. Para si as vestes ainda tinham alguma parte do uniforme, embora fosse um diferente, apenas para reuniões. Após se banhar e vestir, ainda tinha o cabelo molhado, mas estava ajeitado à própria maneira penteado pelos dedos unicamente. Seguiu novamente ao quarto, abriu a porta embora tivesse cuidado para não surpreende-lo enquanto se vestia. 
- Asahi.
Um suspiro deixou os lábios do loiro, observava-se no espelho, e achou que talvez, aqueles cabelos crescidos não fossem muito apropriados, estava um pouco desleixado ultimamente, sentia falta de como era quando ele encontrou a si, e achou que talvez... Ele gostaria de ver a si daquela forma novamente, embora, já com os vinte e oito anos, não fosse mais o menino que ele conheceu. Antes de se vestir, cortou os cabelos, sempre o havia feito consigo mesmo, então tinha um pouco de prática, havia ajeitado os fios exatamente como era quando ele havia conhecido a si. E no banheiro ainda, usou um perfume que havia ganhado, tinha cheiro de flor fresca de cerejeira. Ao voltar ao quarto, colocou as roupas que ele havia dado a si, a calça, o cinto, a camisa, a gravata que o pequeno havia trazido caso precisasse, achou bonita, mas não sabia se combinava consigo, então deixou que ele decidisse e segurou o blazer na mão quando ele entrou no quarto. 
- Kazuma. Oi. 
Sorriu conforme o viu, estava como sempre, elegante, bonito, e o observava como sempre, deslumbrado.
Kazuma sorriu ao recebê-lo novamente no quarto, observou sem reservas suas vestes e como lhe caiam. 
- Hum, resolveu renovar? 
Disse ao perceber que havia cortado os cabelos. O tocou com cuidado para não despenteá-los. Estava bonito e se lembrou de como o viu pela primeira vez com roupas além da batina. 
- Não precisa da gravata, assim está bem.
Asahi desviou o olhar a ele conforme sentiu o toque nos cabelos e sorriu, empurrando suavemente o rosto contra sua mão, como um gato pedindo carinho. 
- Ah... Então tudo bem. Claro que não vou ficar elegante como você...
- Não seja tolo, sem gravata fica muito mais bonito. Fica com a gola um tanto mais aberta, eu gosto. 
Kazuma disse após afagar sua bochecha e se dirigiu à gola da camisa, ajeitando-a. Asahi assentiu, abaixando a cabeça para observar a própria camisa. 
- Obrigado.
- Você está ótimo. - Sorriu a ele. - Podemos ir?
Asahi sorriu igualmente a deslizar as mãos pelo corpo dele, num abraço frouxo. 
- Podemos sim. Você está muito bonito, general...
- Obrigado, soldado. 
Kazuma brincou e seguiu com ele em seguida, deixando o quarto, tão logo a casa e seguiriam de carro até o local. O loiro riu baixinho e assentiu, infelizmente não podia segurar sua mão, então seguiu atrás dele, silencioso até adentrar o carro, onde se sentou ao lado dele. 
- ... Eu provei os kimonos... O obi ficou um pouco apertado.
- Ora, como poderia? Talvez algo esteja errado nas medidas, falarei com os costureiros. - O maior dizia a se acomodar no veículo.
Asahi assentiu e abaixou a cabeça. 
- Acha que eu estou... Acima do peso?
- Alaro que não. Você come coisas leves. Deve ter ocorrido algum erro.
- Tudo bem... - O menor uniu as sobrancelhas.
- Iremos até lá amanhã para conferir isso. 
Kazuma disse e tocou brevemente sua coxa, num breve consolo.
- Não precisa, tudo bem... Não quero descobrir que fiquei gordo.
O maior suspirou, não disse nada, embora achasse a questão desagradável. Asahi desviou o olhar a ele e abaixou a cabeça. 
- Como... Como serão os militares? Estarão com as esposas?
- Alguns. Alguns terão apenas acompanhantes. Outros estarão desacompanhados. Será apenas uma confraternização.
- Ah sim... Eu acho que serei seu... Irmão ou um primo, não?
- Não, muitos sabem que você não é um parente. Você será um amigo da guerra. O que não é exatamente mentira.
Asahi assentiu e riu baixinho.
- Um amigo bem próximo.
- Será tranquilo. Serão apenas alguns militares mais velhos, não encontrará muitos daqueles que conheceu.
Asahi assentiu e suspirou. 
- Tudo bem. Eu... Obrigado por me convidar.
- Hum? - Kazuma indagou, um pouco curioso pelo agradecimento. - Queria passear, hum?
- Queria. - Asahi sorriu. - Estava meio entediado e... Sei que eles chamaram seus companheiros. Mesmo que não saibam, eu... Fico feliz por ter me chamado.
Kazuma sorriu a ele, canteiro. Sabia que em sua cabeça idealizava a relação como gostaria, sabia também que qualquer demonstração de afeto lhe renda surpresa. Era ingênuo e um pouco complexado. Asahi sorriu igualmente e abaixou a cabeça, desacostumado porém pelos cabelos não caírem mais sobre a face, estavam curtos agora. Na parada do automóvel, o maior voltou-se para o rapaz, observou como parecia de fato um homem e não um menino como costumava ver. O riso soou na manifestação de um sopro nasal, sem voz. 
- Vamos? 
Disse a logo desembarcar do veículo e espera-lo de fora para então fechar a porta. A entrada era iluminada demasiadamente, embora maior parte da luz ficasse lá dentro, ainda se podia aproveitar o que tinha de noite ali. Asahi seguiu com ele para fora, fechando a porta do carro e seguiu com ele para a porta, passando pelos militares com armas em punho, era um pouco amedrontado por eles, quase se encolhia ao passar.
- Não, não.
Kazuma disse, indicando que não se encolhesse como fizera. Tocou seu pescoço, pela parte de trás, a nuca, e o guiou na entrada até o salão. Asahi sentiu sua mão sobre o pescoço e ergueu-se, unindo as sobrancelhas, mas passou pela porta de cabeça erguida e o salão adentrou, vendo os rapazes de farda, a maioria mais velhos, e suas mulheres, bonitas, algumas novas, e outras até mesmo de quimono, não deixou de sorrir ao notar as cores bonitas de seus quimonos, e a quantidade de tecido deles. 
- Kazuma! Que bom que veio! E quem é o rapazinho? - Disse o senhor a cumprimentar a si com uma reverência. - Ah, não se deixe enganar por elas, rapaz, são gueixas, especialistas em roubar o coração dos homens. 
Asahi sorriu ao rapaz, que parecia ser legal, e retribuiu a reverência.
- Não senhor, eu... Achei o kimono bonito. - Asahi sorriu.
Kazuma transitou com ele pelo salão. Sob os pés o solo tinha uma pisada leve pelo carpete aveludado e extenso. O cheiro por lá era completo por perfume feminino ou pelas flores nas extremidades do salão. Ao ser parado por um amigo de trabalho, cumprimentou-o com a cabeça. Chegou a sorrir canteiro em sua breve aula para o amigo, convencido de que sua admiração era pelas mulheres e até preferia que pensasse daquele modo. 
- Okumura, esse é Asahi. É um amigo de guerra. Ajudou a mim e meus soldados durante o caos.
- Ora! O rapazinho é um herói então? 
- Herói? Ah... Não, Kazuma é um herói. - Asahi sorriu. - Eu só dei abrigo aos que... Precisavam. 
- Hum, parece um herói, rapaz. O que querem beber? Vou pedir ao garçom que traga. Vinho com gengibre pra você Kazuma, ou saquê? Asahi? 
- O mesmo que ele, por favor. - O menor sorriu.
- Não desmereça seus méritos, Asahi. - Kazuma disse a ele, mas se voltou logo à sugestão do outro. - Vinho, por favor.
Asahi assentiu e sorriu novamente, um pouco envergonhado. 
- Então está bem, por favor, sentem-se, a mesa do meio é sua, Kazuma.
Kazuma assentiu a ele e indicou a mesa ao outro, seguindo com ele apenas para que deixasse por lá seu casaco. 
- Deixe-o aqui, Asahi. Posso levá-lo para conhecer o lugar.
O loiro assentiu e deixou o casaco na mesa, erguendo-se para seguir com ele e sentiu a brisa se perfume passar lado a si, conforme a moça de cabelos bem pretos passou junto de um um outro militar, de braços dados, era bonitas percebeu que nem poderia se comparar a ela. 
- ... Hai.
- Prefere ficar por hora? - Kazuma indagou, notando seu timbre leve, julgou sem falta de ânimo. Aceitou porém as taças com vinho trazidas pelo garçom. - General, deseja algo mais? - Cumprimentou o rapaz com a cabeça. - Sente fome, Asahi?
Asahi desviou o olhar ao moreno e ao garçom, lembrou-se porém que as roupas não serviam em si e negativou. 
- Estou bem, obrigado. Queria conhecer o lugar... E sair de perto delas, são bonitas, eu... Não quero que você olhe pra elas.
Kazuma agradeceu ao serviçal após sua recusa e desse modo após partir se voltou ao menor e ouviu o que dizia, negativou porém. 
- Se eu quisesse olha-las eu não teria convidado você. Estou aqui com você. Venha conhecer o local e em seguida você vai comer. 
Disse e então tragou o vinho que levou consigo. O loiro assentiu, bebendo igualmente alguns goles do vinho, mas fora pouco e seguiu com ele. Kazuma seguiu pelo local, saindo do salão principal, levou-o aos demais cômodos, ostentando a riqueza e títulos com referências aos militares. Algumas fotos, nada demasiado interessante porém o local era naturalmente bonito. Asahi seguiu junto ao outro, e de fato, gostava dali, era tudo muito bonito, até observar um dos vidros com o nome dele é viu as medalhas, não deixou de sorrir. 
- Ah! Olha só! Quantas medalhas... Você também é um herói general?
- Claro que sou. - Kazuma sorriu canteiro, brincando com ele.
Asahi riu baixinho. 
- São muitos títulos... Você... É bem importante.
- Não são tantos. Sou um homem velho, rapaz.
Asahi sorriu. 
- Não é tão velho. Quer dizer, poderia ser meu pai. - Riu. - O que é um pouco... Estranho e excitante. Não você ser meu pai, mas... Ser mais velho.
- Se eu fosse um pai jovem. É um padre fetichioso. 
Kazuma disse e o fitou de soslaio e um sorriso ligeiro. Asahi riu baixinho, gostava do sorriso dele. 
- Bem, eu fiquei muito tempo sem fetiche nenhum, então acho que agora eu peguei alguns pra mim.
- Passou na fila dos fetiches antes de sair da igreja.
O menor riu e negativou. 
- ... Você aprendeu tudo aqui? Quer dizer, serviu aqui?
- Aqui é onde fazemos reuniões com jantares. É um salão alguns quilômetros da academia. A escola fica numa extremidade do pátio, aqui é bem grande.
- Ah... Entendi. Desculpe, eu nunca saí da igreja, não sei como é um exército. Mas... Gostaria de conhecer o lugar onde treinou.
- Hum, depois eu o levo para o campus. É aqui dentro, porém, renderia uma boa caminhada.
- Ah, tudo bem então. - Asahi sorriu e bebeu mais um pouco do vinho. - Aquele rapaz que nos recepcionou, ele parece legal.
- É um bom homem. Gosta dessas reuniões.
Asahi sorriu, desviando o olhar a ele de soslaio, na verdade, fitava sua boa aparência, era sempre impecável, como quando havia se apaixonado por ele, quase suspirou. 
- Ah... Devemos voltar para a mesa? - Disse a pigarrear.
Kazuma fitou-o igualmente, percebendo seu olhar canteiro, o olhou do mesmo modo, e embora estivesse sério, até lhe deu uma piscadela. 
- Vamos, o jantar será servido as oito. Está quase na hora.
O loiro assentiu e sorriu meio de canto, segurando a mão dele, mas foi sutil, e logo soltou. Por um instante, Kazuma lhe deu um afago nos dedos antes de então seguir ao salão. Cumprimentou alguns dos militares na passagem e até apresentou o garoto.
Ao seguir com ele, mesmo um pouco tímido, Asahi cumprimentou os demais militares, alguns olharam a si com curiosidade, outros, cumprimentaram formalmente e continuaram a ter a atenção desviada ao general. Um suspiro deixou os lábios e observou o local, bebendo mais um gole do vinho, porém, o cheiro era forte, constatou quando se aproximou demais da taça e tocou o ombro do outro enquanto ainda conversava, indicando que iria sair por alguns momentos, e visualmente, procurou pelo banheiro. Numa conversa, Kazuma foi obrigado a deixa-lo ir sem perguntar a razão. Assentiu enquanto falava, após ser liberado o seguiria no entanto.
Asahi seguiu rapidamente ao banheiro e fechou um dos box para si, estava enjoado, mesmo, embora fosse só com o aroma do vinho e negativou para si, talvez todo o gengibre não tivesse feito bem para o estômago. Saiu do banheiro logo após e na pia lavou o rosto e a boca, unindo as sobrancelhas conforme se olhou no espelho. Odiava passar mal fora de casa, não se sentia confortável, porém precisava manter a calma, pelo menos não se sentia mais enjoado.
- Com licença. 
Kazuma disse, após alguns minutos em conversa, finalizado assunto com cortesia seguiu os passos quais ele havia feito até onde possível e deduziu que seguira em busca da saída ou do banheiro e lá o encontrou. 
- Algum problema, rapaz? 
Indagou ao entrar e vê-lo, tal como a si mesmo, pelo reflexo do espelho. Asahi desviou o olhar a ele e sorriu, virando-se em sua direção. 
- Estou bem sim, só... Precisava pegar um ar.
- Então devia ter ido lá fora, não aqui, aqui será fechado. Quer ir embora?
- Não. - Asahi sorriu. - Não, é que eu fiquei um pouco enjoado. Mas não queria te dizer isso.
- Hum... talvez o vinho. Tem fome ou está enjoado para comer?
- Não... Eu acho que estou melhor.
- Quer o jantar então?
Asahi assentiu num pequeno sorriso e iria toca-lo, mas lembrou-se que não podia.
- ... Vamos.
- Então vamos. 
Kazuma disse e indicou a saída, bloqueou rapidamente a porta, suficiente para acariciar sua nuca, agora aparente pelo corte dos cabelos. Só então saiu, seguindo pelo salão até a mesa já reservada. 
- Se se sentir mal apenas diga.
Asahi estremeceu sutilmente conforme sentiu sua carícia e sorriu mais uma vez, observando-o conforme se sentou em frente a ele. 
- Eu estou bem, não quero estragar sua festa, me desculpe.
- Não está estragando, é apenas uma reunião, não é importante. Podemos ir quando quiser.
Asahi assentiu e sorriu a ele, tocando sua perna por baixo da mesa, na coxa e fora sutil. Logo ao abaixar as luzes do salão, suficiente para suavizar a claridade apenas, iniciou o passeio dos garçons, dispondo o jantar. 
- Você quer?
- Hai. A carne parece gostosa. 
Asahi murmurou e sorriu, bebendo um pouco de água dessa vez ao invés do vinho. Na sugestão do garçom, Kazuma aceitou a carne que mencionava o outro. O jantar consistia em entrada, prato principal e sobremesa final. Enquanto isso, podia ouvir piadas descontraídas dos amigos de trabalho, falando sobre as diferenças do alimento quando eram meros soldados em treino. Na mesa, tinham alguns outros militares divertidos, por sorte, eram já homens mais velhos que riam e se divertiam como adolescentes, ria com eles é claro, estava se divertindo. Kazuma fitou o menor e sorriu canteiro conforme ele mesmo estava a rir. Agradeceu ao garçom conforme servidos e provou inicialmente da salada de brotos de feijão. O menor iniciou a refeição junto dele e num pequeno riso desviou o olhar ao senhor que sentou lado a si. 
- Onde você nasceu, Asahi-san
- Ah? Eu... Não sei na verdade, eu... Fui adotado. - Sorriu.
- Não serviu o exército, rapaz?
- Não senhor, eu... Trabalhei na igreja um tempo.
- Ele era do sacerdócio. Teve a igreja onde cresceu afetada pela guerra. 
Kazuma se pronunciou, tentando conferir mais conforto ao garoto, que parecia ingracioso ao responder. Asahi desviou o olhar a ele, notando que não tinha vergonha de fato em dizer que antes fora padre, na verdade, não sabia porque tinha. 
- Ah, então você era como um padre? 
- Sim senhor, eu... Eu era padre. 
- Ora!
- Da igreja onde deixou algumas vítimas ficarem.
Asahi sorriu a desviar o olhar ao moreno lado a si. 
- Ora e como você veio parar aqui? Soube que está morando na casa de Kazuma, não? 
- Sim, Kazuma me trouxe, lá era muito distante e eu não servia mais para continuar o meu trabalho na igreja.
- A igreja foi afetada. Nada mais justo, hum? - Kazuma disse, não tendo certeza se devia intervir o assunto. - Prove o jantar, Padre.
Asahi sorriu e assentiu, desviando o olhar a própria comida.
- Hum, você tem um bom coração, Kazuma. 
- Não é nada além do senso comum, meu amigo. Asahi me ajudou, o ajudarei o quanto ele precisar.
Asahi desviou o olhar a ele e deu um pequeno sorriso. 
- Obrigado... General.
O maior se voltou para ele e sabia que embora não estivesse falando uma mentira, era um pouco omisso. O senhor deu um breve sorriso igualmente. 
- E você Kazuma, não pensa em arrumar uma pretendente agora?
Asahi ouviu-o em silêncio, tentou não sobressaltar-se e continuou a comer a carne.
- Sabe que nunca tive interesse em gueixas, Okumura, se é o que quer dizer.
Asahi sorriu meio de canto e ouviu o senhor rir. 
- Não sabe o que está perdendo, não é Asahi? 
Deu um risinho e desviou o olhar a ele.
- Desculpe senhor, sou um padre. 
- Ah, tem razão, me desculpe, filho.
O riso soou desta vez de Kazuma, achando graça no desconforto do outro, por trás de uma taça de vinho. Asahi riu baixinho e negativou. 
- Os kimonos são bonitos. 
- Hum, tem razão. Está gostosa a carne? 
- Sim senhor. 
- Comeram só sopa por longos anos, então imagino que esteja bom. 
Assentiu num pequeno sorriso. 
- Kazuma, gostei do rapaz, traga-o mais vezes
- Vou pensar no seu caso. - Kazuma disse ao homem e lhe deu um sorriso provocador. Após sua saída, voltou-se então ao mais novo. - Ele fala como se aqui fosse a casa dele. - Brincou.
Asahi riu ao observa-lo e negativou. 
- Ele é simpático, parece um avô, não sei. - Murmurou num outro riso e bebeu pouco mais da água. - Podemos ir?
- Quer ir embora, hum? Quase não comeu.
Asahi desviou o olhar a ele num pequeno sorriso. 
- Eu aguardo você terminar de comer.
- Eu não tenho fome, na verdade. Achei que você quisesse, mencionou a carne.
- Ah eu... Comi a carne, na verdade só ela. - O menor riu.
- Eu comi brotos. - Kazuma disse muito sério, sorriu em seguida porém. - Vamos.
Asahi riu baixinho. 
- Brotos é? Estavam gostosos? - Disse num novo riso e sorriu a ele. - Quando chegarmos em casa, faço o sanduíche que você gosta.
- Estavam, mas você quem gosta de brotos de feijão e não os comeu.
Asahi assentiu e deu um sorriso meio frouxo, desviando o olhar ao prato. 
- Ah... Eu... Como. - Disse e experimentou a salada.
- Não é necessário. Parece que hoje seu estômago não está feliz. Vou apenas trocar algumas palavras com um colega de trabalho e volto. Prefere ir para o carro agora?
Asahi negativou e sorriu a ele. 
- Pode ir, o espero aqui.
- Serei breve. 
Dito, Kazuma havia se levantado e partido para trocar algumas palavras com os demais colegas de trabalho, afinal, aquele jantar tinha algum propósito, mesmo que breve. Enquanto isso, o menor ficara em sua mesa, se perguntava se não lhe era desconfortável estar a sós onde desconhecido. Porém o garçom lhe fazia companhia, servindo-lhe uma sobremesa bem decorada. Asahi sorriu a mordiscar mais um pouco da salada, estava com um pouco de fome, mas não gostava muito de comer onde não conhecia e ainda pensava no maldito obi, embora balançasse a cabeça algumas vezes, tentando se livrar da ideia. Desviou o olhar ao garçom que colocou sobre a mesa um pequeno bolinho, era lindo, tinha chantilly e frutas como um que havia ganhado dele no próprio aniversário, exceto que aquele não era bem um bolo. Ao pegar o garfo, experimentou do doce e sorriu conforme sentiu seu sabor agradável, queria que ele pudesse experimentar aquilo. 
- Gostoso rapaz? Você parece tão magrinho, tem que comer doce mesmo. 
Desviou o olhar ao senhor ao lado de si e sorriu, assentindo a ele, apreciou o elogio. 
- O senhor... Em que posição o senhor está? 
- Eu? Ora eu sou um general, assim como Kazuma, porém, aposentado. Fiz muito pelo exército, rapaz. Conheci muitas pessoas maravilhosas, inclusive, se me permite, um garoto igual a você. 
Uniu as sobrancelhas a observa-lo e sorriu por fim. 
- Ele ajudou o senhor? 
- Quando eu era jovem. O nome dele era Kohei. Tinha cabelos negros, contrários aos seus tão clarinhos. Mas o sorriso dele me encantava. 
Asahi o observou, de uma forma que não conseguia compreender, ele falava do garoto como algo mais do que um simples colega. 
- O que aconteceu com ele, senhor? Se me permite perguntar. 
- ... Ele morreu com uma bala perdida enquanto eu servia. O estava protegendo, eu não pude evitar, nem segura-lo pela última vez, ou perderia meu cargo. 
Uniu as sobrancelhas mais uma vez.
- ... Eu sinto muito senhor... 
Ele desviou o olhar a si com seu sorrisinho divertido, e tinha lágrimas nos olhos, ou parecia ter. 
- Garoto, segure o Kazuma enquanto puder, ouviu? 
- Ah... Eu não... 
- Não se preocupe, minha filha trabalha na loja de kimonos, ela me contou sobre vocês dois. 
- ... Senhor, por favor, não diga a ninguém, Kazuma seria exonerado... 
- Nunca, rapaz. Veja bem, eu tenho quase oitenta anos. Gostar de um garoto nunca me fez segurar menos firme minha arma. Pelo contrário, me fazia cumprir ainda mais o meu dever por saber que ele estava a salvo... Enquanto esteve. 
Sorriu e uma das mãos guiou sobre o ombro do senhor, um gesto sutil, lhe dando algum apoio. Ele sorriu para si e negativou. 
- Tenho que ir, rapaz. Boa noite. De meus cumprimentos a seu general. 
- Sim senhor, boa noite... Obrigado.
Kazuma voltou um pouco depois, tempo suficiente apenas para cumprimentar o mais velho que passava após dar fim à alguma conversa. O desejo de boa noite vinha com um abraço de lado, com batidas sutis de um ombro ao outro, haviam ganhado alguma convite para visitá-lo, embora já o visse com certa frequência, sabia que havia adquirido certo apreço pelo companheiro. Quando chegou à mesa, encontrou o menor com a bochecha preenchida e uma gotinha de doce no canto do lábio, aquela era uma das ocasiões onde seus 28 anos não lhes fazia jus. Sorriu, num riso soprado. 
- Parece bom.
Asahi desviou o olhar ao outro e sorriu, sem mostrar os dentes, já que tinha a boca cheia de doce, mastigou primeiro para depois o responder. 
- Parece meu primeiro bolo de aniversário.
- E isso é bom? - Kazuma disse ao se abaixar, sem se sentar porém. - Talvez esse ano você ganhe um doce melhor.
- É uma delícia. Ah, não se preocupe, eu... Gostei. - O loiro sorriu a ele e desviou o olhar ao bolo. - O general... Seu amigo. Ele é gay.
Kazuma tocou gentilmente sua boca, limpando-a do creme doce. 
- Ele disse isso a você?
- Bem, basicamente. 
Asahi sorriu e sentiu o tom corado na face conforme sentiu-o limpar a própria boca.
- Então devia manter o segredo. - Kazuma disse a ele e sorriu, limpou o dedo com sutileza ao lamber o resquício doce. - Ele é bem cauteloso sobre isso, mas parece que gostou de você.
- Bem, não tenho segredos com você. Você já sabia?
- Ele não fala com todas as palavras, mas eu pude imaginar. Tive algumas aulas com ele na juventude.
Asahi sorriu ao ouvi-lo e assentiu, comendo mais um pedaço de bolo.
- Disse que... Ele gostava de um rapaz, mas... Ele acabou morrendo.
Kazuma suspirou, lamentável, pensava, embora já não fosse necessário. Imaginava como seria perder alguém como ele, não disse nada no entanto. Optou por se sentar apenas enquanto comia seu doce. Asahi sorriu meio de canto. 
- ... Quer doce?
O maior negou com a cabeça e tragou o restante do próprio vinho. 
- Obrigado. Vou preferir o lanche em casa.
Asahi assentiu num pequeno sorriso mais uma vez e mais uma colherada, finalizou o doce. 
- Podemos ir?
O maior assentiu e se levantou, pegou seu casaco e levou no braço caminho a fora. Despediu-se dos amigos os quais passou, alguns convites para esperar até mais tarde com mais alguns drinques, o que dispensou com cortesia. Logo entrou no carro, onde seguiam o caminho que recentemente haviam feito, voltando para casa. Asahi seguiu com ele para fora, havia visto que ele levava o próprio casaco e perguntou-se se ninguém a acharia estranho, mas por fim não disse nada e seguindo com ele, adentrou o carro. 
- Ah... Kazuma pode, me devolver o casaco? - Sorriu meio tímido. - Está frio.
- Sim, devia tê-lo pedido se estava com frio. 
O maior disse e o entregou a ele, colocando no entanto sobre seus braços, de frente, sem vestir de fato. Asahi assentiu e ajeitou-se embaixo do casaco, agora que estava com ele no carro, podia se aproximar a repousar a face em seu ombro. Kazuma deu espaço para ele no abraço, na verdade, imaginava o controle que tinha o rapaz para não formular nenhum toque, sorriu, mas para si mesmo. 
- Foi muito divertido. 
O loiro disse num pequeno sorriso e repousou a mão sobre a coxa dele, estava cansado, por isso fechou os olhos por alguns instantes.
- Divertido, hum? Não ficamos nem por uma hora.
- Eu me diverti. - Asahi sorriu.

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