Yasuhiro e Yoruichi #29


Silencioso, Yoruichi observava o dia tranquilo, embora o céu estivesse cinza, armando chuva. Sob a cerejeira, acariciava a barriga crescida, já devia ter uns seis meses de gravidez, e estava realmente, maior do que deveria estar, agora, tinha quase certeza de que eram dois. Podia senti-los mexer em si, em pequenos chutes no abdômen, e sorria, toda vez que eles faziam. Haviam trocado os kimonos justos por kimonos mais folgados. 
- Hum, você está agitado hoje, Yuuki. Tem algo incomodando você? 
Disse, deslizando uma das mãos pela barriga, acariciando-a e sentiu a pequena flor de cerejeira cair sobre si, sorriu a observar a pequena flor, mas cessou conforme aspirou o ar, sentia um cheiro estranho, que já havia sentido antes, o que levou a si a se apoiar na árvore e levantar. Fitou o outro, que já caminhava em passos firmes até si. 
- São os Hasegawa? Sinto o cheiro como se estivessem do meu lado, mas acho que são os bebês que fazem isso. - Disse, segurando-o pelo braço. - Não vá.
Yasuhiro ainda usava um avental quando seguiu em marcha até o moreno. Fumava o fino cachimbo preto e dourado, por vezes esquecendo de se desfazer da fumaça que tragava. 
- Não se pode mais cozinhar nessa casa. - Resmungou.
Ao ouvi-lo, Yoruichi desviou o olhar a ele e riu, não pode evitar. 
- Acho que eles não vão causar problemas dessa vez, mas é melhor conversarmos com a família deles, ou isso vai acabar em morte.
- Ô gente chata. - Yasuhiro resmungou, mordendo a cigarrilha no canto da boca. - Vem, vem para dentro.
Yoruichi assentiu ao ouvi-lo, geralmente não iria, gostava de brigar, ainda mais com intrometidos, mas não estava em um momento propício aquilo. 
- Eles tem tantos lugares pra caçar, porque diabos querem vir aqui? 
Disse num suspiro e seguiu com ele em direção a casa.
- Deve ter algum amor reprimido. 
O loiro disse e se eles se aproximassem, acabaria novamente brigando com ele, mas por hora, deixaria o menor dentro de casa, não queria que com sua gravidez estivesse no meio de qualquer confusão.
- Vamos, maridinho está fazendo macarrão.
- Hum... - O moreno sorriu. - De arroz? 
Disse e entrou, sentindo o cheiro gostoso da comida.
- De arroz. 
Yasuhiro disse e visualizava os arredores como se os olhos estreitos pudessem ser vistos pelo primo antes que se aproximasse, brincando é claro, para o parceiro a quem guiava e o deixou cheirar a colher que usava durante os preparos, assim, o tempero do jantar. Yoruichi riu baixinho ao ver os olhos estreitos dele e cheirou sua colher, queria lamber, mas ele nunca deixava, por isso quem estreitou os olhos foi a si. 
- Hum... Ainda sinto o cheiro deles. Sorte deles que não estou caçando.
- Claro, docinho. - O loiro disse e afagou os cabelos do menor. - Você quer carne de porquinho no seu macarrão?
Yoruichi desviou o olhar a ele, desconfiado. 
- Eu dava uma surra neles, ok? Espero que esteja ciente. 
Disse, mas o contrário disso, assentiu, como uma criança emburrada.
- Eu sei disso, amorzinho. Sei muito bem. 
Yasuhiro disse e sorriu, colocou-o sentado junto à mesa e então seguiu até a cozinha, de onde podia vê-lo, colocando a carne de porco no preparo do macarrão. Yoruichi sorriu meio de canto.
- Acho bom. - Dito, sentou-se no balcão e uniu as sobrancelhas ao sentir os movimentos do bebê no abdômen, bem, os dois se mexiam. - Precisamos escolher um segundo nome. Eu tenho certeza que não será só o meu Yuuki. E eles estão agitados hoje, espero que não seja encrenca com os Hasegawa.
- Hum, nós vamos pensar em alguma coisa. - Yasuhiro disse e sorriu canteiro, para ele e seu comentário. Olhou sua barriga, estava mesmo crescida por dois. - Bem, mamãe agitada faz isso.
Yoruichi assentiu ao ouvi-lo e abaixou a cabeça, deu um pequeno sorrisinho. 
- Será que são dois meninos? Ou duas meninas?
- Hum, o que você está querendo? Duas princesas ou dois princesos?
Yoruichi desviou o olhar a ele num riso novamente. 
- Hum, eu quero dois meninos.
- Por quê? Achei que fosse querer meninas.
- Não, quero meninos, eles parecem menos frágeis.
- Somos vampiros.
- Eu sei, é que me apeguei a ideia do Yuuki ser menino.
- É, acho que será menino.
- Dois. 
Yoruichi disse e deslizou uma das mãos pela barriga, estava feliz, estava muito feliz.
- Talvez seja menino e menina.
O moreno aArqueou uma das sobrancelhas. 
- Não tinha pensado nessa possibilidade. Hum... Por que você não vem aqui dar um agrado na sua esposa?
- Qual é o agrado que minha esposa quer?
- Hum, o que você acha?
- Diga amorzinho.
- Hum, da um afago nos seus nenéns.
Yasuhiro sorriu, achando adorável. Na verdade havia pensado que era algo malicioso, mas ser algo tão simples, foi ainda mais surpreendente. Deixou a colher de pau ao lado, deixando marinar a carne e então se sentou, logo atrás dele, repousou o queixo em seu ombro e tocou sua barriga. 
- Olá.
Yoruichi sorriu ao senti-lo encostar o queixo em si e com uma das mãos, acariciou os cabelos dele, meio desajeitado. 
- Olá papai.
O loiro deslizou a mão, sentindo o volume arredondado se sua barriga. 
- Ah... Que lisinha...
- Lisinha, é? - O moreno riu.
- Hum, lisinha. Olha só, vou passar um ólinho.
Yoruichi riu e negativou. 
- Para com isso. - Disse e virou o rosto, beijando-o na bochecha. - Ansioso?
- Sim, mas tentando lidar com o fato de que vou ter que dividir você, priminho. - Yasuhiro brincou. 
O moreno sorriu meio de canto.
- Hum... Sinto muito.
- Eu estou brincando. Claro que papai também será dividido.
- Você será um bom pai. 
Yoruichi disse num novo sorriso e acariciou a própria barriga.
- Claro que vou ser. - Yasuhiro disse e sorriu mostrando-lhe os dentes, ainda ao lado de seu rosto. - Olha só, que lisinha. Mas parece que dói.
O moreno riu. 
- As vezes dói. Um deles tem um chute forte. O outro parece mais preguiçoso.
- Mas estou falando da barriga, quero dizer, a pele.
- Ah sim. Não dói, mas confesso que é estranho mesmo. - Riu.
- Você sente ela repuxando?
- Um pouco...
- Oh.. Então preciso passar óleo. Lubrificar um pouco..
Yoruichi riu. 
- Hum, eu aceito. Tem óleo de amêndoas no quarto, depois aceito uma massagem, assim que tivermos certeza que os priminhos indesejados foram embora.
- Hum, talvez eu leve uma cesta com carnes e frutas, o que restar aí.
Yoruichi riu novamente. 
- O que me deixa intrigado é que eles tem uma área tão grande quanto a nossa, então, qual é a deficiência mental em vir caçar no nosso terreno? Só pode ser pra me irritar.
- Não acho que o Ryotarou queira irritar você, porque não vai querer irritar a mim, provavelmente só quer parecer incrível pro parceiro dele.
- Ele é um idiota, isso que ele parece. Quer parecer o durão invadindo o terreno dos outros? Duvido. Esse moleque é encrenca.
- Acho que ele quer parecer destemido, uma vez que o garoto o viu comendo grama.
- Pff. Um dia ele vai achar alguém mais destemido que ele.
- Eu, mas eu tenho dó.
- Não tem que ter dó, o moleque está caçando no nosso terreno, ele já foi avisado, praticamente ri da nossa cara.
- Não seja tolo. Você agir assim só faz agir como ele, querendo confusão.
- E quem disse que eu não quero confusão? Eu quero ver os olhos dele caírem no chão.
- Você tem duas crianças na barriga, não é mais a criança pra arrumar confusão a toa. Deixe ele vir.
Yoruichi estreitou os olhos. 
- Você está me dando lição de moral?
- Estou. 
Yasuhiro disse, sincero, era normalmente brincalhão, mas por vezes acabava lhe dando alguns puxões de orelha.
- Eu vou te dar uma surra de tamanco.
- Vai, hum? Eu vou te dar uma surra na bunda com a minha mão, quem ganha?
- Meu tamanco é de madeira.
- E minha mão é pior que madeira, meu anjo.
- Ah, é? Mostra.
- Você tem certeza? Você está gravidinha.
- Hum, vai bater na sua esposa grávida? - Disse, claro, só pra provoca-lo.
- Por isso perguntei se tem certeza.
- Quando eu não estiver mais grávido você me mostra.
- Quer apanhar na bunda, hum?
- Quero.
- Hum... Mas é taradinho.
- Sou e você tem sorte de ter casado com um.
- Tenho mesmo.
Yoruichi sorriu. 
- Eu te amo.
- Eu também te amo. 
Yasuhiro disse e tornou afagar sua barriga volumosinha. 
O moreno inclinou o pescoço para trás e encostou a cabeça próximo a ele, porém cessou ao ouvir o som na porta de vidro, eram pequenas batidas.
- Yasuhiro. 
Disse, erguendo a face para fita-lo, o olfato era apurado, sabia que eram os dois. 
- Yasuhiro! Yorucchi.
- Ah... Mas que saco. 
Yasuhiro disse e ganhou algum espaço atrás dele, se levantou então e seguiu até a porta.
- Oi priminho, vim trazer algumas frutas pra vocês.
- Pegou no nosso próprio terreno, Ryoutaro? - Yoruichi falou mais alto.
- O que você quer, Ryou? - Yasuhiro indagou, deveras interessado.
- Eu quero tomar um chá com vocês, na verdade, nós dois. Temos uma proposta. 
- Não estou interessado, Ryoutaro.
- Cara, vocês acabaram de casar, deviam estar transando até não ficarem em pé.
- Ah, mas... Yoru-chan, só queremos conversar... - Disse Mikasa.
- Não queremos conversar agora. Na verdade, vocês apanharam da outra vez, achei que tinham entendido.
- Somos primos, não queremos brigar com vocês.
Yoruichi desviou o olhar ao marido e negativou, indicando que não abrisse a porta.
- Fala logo. Que enrolação da porra.
- Hum, pelo jeito não vai ter conversa com vocês.
- Ainda não perceberam isso? 
- Ah... Yoru-chan, só queríamos saber se você aceitaria deixar a gente caçar por aqui. 
- Cala a boca, Mikasa, não era pra ter falado.
- E vocês não tem casa não? O terreno de vocês é tão grande quanto o nosso, da outra vez dissemos que não queríamos vocês aqui. - Respondeu Yoruichi.
- Mas... É que não temos tantos cervos lá. Eu nunca mais vi nenhum.
- Cace humanos na vila, não quero vocês aqui. 
- Mas... Podemos dividir a carne com vocês. E-Eu posso trazer enquanto você estiver cuidando dos bebês. - Disse Mikasa.
- ... Como você sabe que eu estou esperando um bebê? Aliás, como sabe que estou esperando mais de um? - Ao dizer, Yoruichi arqueou as sobrancelhas a fitar a porta e o silêncio fora ouvido do lado de fora. - ... Mikasa?…
- Eu não sei qual a intenção de tudo isso. Não estou nem aí se você sabe do bebê, se é um, dois, trezentos. Eu não sei qual a intenção de ficar por perto, leve, leve uns cervos, somos vampiros, gostamos de humanos e não especialmente de animais. No mais, temos dinheiro pra comprar cervos, javalis.
Yoruichi uniu as sobrancelhas, eles não falavam mais, o que mais deixava a si com medo era o fato deles saberem dos bebês. 
- ... Não sinto mais o cheiro deles.
- Não se preocupe, consigo achar Ryotarou mesmo que ele passe esterco pra camuflar o odor, que é muito semelhante. Não precisa ter medo, docinho.
Yoruichi deslizou uma das mãos sobre a barriga, quase a segurava, não queria que nada acontecesse com os filhos. 
- Não quero que saia mais essa semana.
- Ora, meu amor, você saberia lidar com qualquer um deles. - Yasuhiro disse e seguiu até o moreno a qual se abaixou em frente, tocando sua cabeça, o acariciou. - Mas ficarei.
- Não grávido. Fico meio inválido.
- Não fica não, você é muito fortinho, é sim.
Yoruichi riu e negativou. 
- Hum, tenho a força dos meninos pra me ajudar então.
- É, tem dois Yasucchis aí.
O moreno sorriu. 
- Você é maravilhoso, sabia?
- Você acha, é? 
Yasuhiro sorriu e se levantou novamente, seguiu até a carne já marinada e de onde estava ia olhando para ele de soslaio, terminando a refeição. Feito isso, esticou o dedo indicador sobre a panela já terminada, deu uma furadinha insignificante e pingou apenas uma gota do próprio sangue. 
- Pronto, com uma gota de amor.
Yoruichi assentiu ao observá-lo e sorriu, mordendo o lábio inferior. 
- Ah, pena que é só uma gotinha.
- Eu sei que você quer o amor da fonte, meu anjo.
- Quero. Posso tomar um pouco?
- Hum, é um desejo de gravidez?
- Sim. - Yoruichi disse e pigarreou, claramente não era, mas o queria. - Quando bebo seu sangue, eles ficam agitados.
- Então talvez isso não seja bom.
- É sim.
- Não, meus bebês ficam aflitos.
- É nada, eles gostam. - Sorriu.
- Gostam, hum? Vou deixar você jantar e depois te dou meu suquinho.
Yoruichi sorriu e assentiu. 
- Você será responsável por escolher o segundo nome.
- Eu sei, eu vou escolher um nome lindo. Melhor que Yuuki.
Yoruichi estreitou os olhos. 
- Quero só ver.
- Vai ver. Inclusive, já sei de um nome.
- Qual?
- Espere. 
Yasuhiro disse e seguiu até o quarto onde revirou algumas coisas sem desordenar os cuidados típicos do companheiro no cômodo. Voltou pouco depois, com os braços um pouco mais escondidos atrás do corpo. 
- Quando era pequeno havia apenas uma coisa que não deixava de estar nas minhas mãos, era a única coisa que eu gostava tanto quanto meus pais. Yoruchan, conheça o Kuma, diminutivo de Akuma.
Dizia ao mostrar a peça de madeira, o pequeno urso entalhado de mais ou menos dezesseis centímetros, era mogno completamente, exceto pelos olhos de botões pregados, pretos e redondos, adquirindo um olhar dócil e brilhante na peça rígida e sem movimento, mas que não deixava de ser adorável. Em suas orelhas, eram para ser apenas um par redondinho, mas haviam acabado levemente pontudas , o que fazia com que parecessem chifrinhos, por isso seu nome. 
- Eu costumava querer ter animais de estimação, eles eram muito frágeis e eu acaba os machucando quando tocava. Já era a terceira vez que eu tentava ter um deles, mas jovem eu não tinha noção do quão firme meu toque poderia ser para um pequeno animal, assim, deixei que todos eles fossem embora em algum momento, um dia minha mãe trouxe esse pra mim, me contou uma breve história que já não lembro com exatidão, mas dizia que seria forte como eu, que não terminaria ferido e que também seria eterno como nós. Meu pai o entalhou em algum momento. - Sorriu. - Mas o dele pode ser Ikuma, assim soa semelhante ao começo do nome do irmão.
Yoruichi o observou curioso conforme fora até o quarto buscar alguma coisa, não sabia exatamente o que, e quando ele voltou, sorriu, dócil ao ver seu ursinho, e ouviu sua história, silencioso. No fim, abriu um pequeno sorriso, o fitou e estendeu a mão para alcançar a peça, era bonita, e deslizou os dedos pelo pequeno rostinho do urso. 
- Ikuma. Eu gosto. 
Sorriu e se levantou, deslizando uma das mãos pelo rosto dele, colocou uma mecha de seus cabelos atrás da orelha e selou seus lábios. 
- Assim que eu tiver o bebê, tentamos deixar o gato ficar. Assim você vai ter um bichinho, hum?
- Ora, não sou mais uma criança. Terei dois bichinhos de estimação para cuidar.
Yoruichi sorriu.
- Eu amo tanto você. Droga.
Yasuhiro riu diante da descontraída declaração de amor. 
- Eu também te amo.
O moreno sorriu novamente. 
- Então... Yuuki e Ikuma. Tão pequenos perto dos nossos nomes.
- É, são como apelidos.
O moreno riu e assentiu a ele. 
- Hum, nos alimente papai.
- Claro, morceguinhos.

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