Kyo e Shinya #59


- Toshiya, não vamos fazer festa surpresa pro Kyo. Porque não, porque ele não gosta. Não. Não, a gente pode sair pra beber depois, se ele quiser. Não Toshi, eu não estou te excluindo. Não. Eu não convidei ninguém. Toshiya! 
Shinya falou a ele, no telefone, tentando explicar ao amigo que não iria chamar ninguém nem sair, porém ao falar mais alto, ouviu o barulho vindo da sala.
- Toshiya... Toshiya só um minuto. 
Falou a ele e logo fora seguido pelo choro da filha, deixou o telefone sobre a mesa e correu em direção à sala, observando a pequena ali estirada no chão.
- Kasumi! Por Deus, o que você fez?! 
Falou para a pequena e pegou-a no colo, acariciando o cabelo dela a erguer seu rostinho a ver o machucado feito no queixo, onde parecia ter sido ralado pelo tapete. Negativou e beijou o rostinho da filha, seguindo com ela para a cozinha e pegou o telefone novamente, após deixar a filha sobre a mesa.
- Toshiya, depois te ligo. - Desligou, mesmo sem ouvir o amigo e pegou a caixinha de primeiros socorros guardada ali. - Calma, meu amor, vou colocar um curativo da hello kitty, o que acha?
- Iie!
Shinya uniu as sobrancelhas ao ouvi-la chorar ainda mais e uniu as sobrancelhas.
- Ah hai... Hai... E... E se eu colocasse um das princesas?
- Não quero!
Encolheu-se com o grito na pequena e não tinha muito o que fazer, começou a se desesperar de mesmo modo.
- ... E se eu colocar um preto? Olha, olha, tem um preto aqui, sem desenhos, preto e cinza, daquele que o papai usa. 
Ouviu o choro da filha diminuir a medida que via o acessório e esticou os bracinhos, pegando-o na mão a observá-lo. Shinya assentiu por fim, meio confuso pelos gostos da filha e por fim limpou o machucado dela, colocando o curativo preto a cobrir o machucado.
Kyo deu uma paradinha no jardim de casa e sentou-se na cadeira de madeira, estofada e de balanço, onde se aconchegou por um minuto e acendeu um dos longos cigarros e que não fumava há algum tempo, ou melhor, até dava uns tragos, mas nada de mais. Tragou e tomar a fumaça ao pulmão e soprou um tempo depois. No entanto a tranquilidade sorrateira foi quebrada num instante e levantou-se num minuto, apagou o cigarro no cinzeiro ao lado e seguiu para dentro de casa, observou de longe o companheiro junto a pequenina, limpando sua ferida, cobrindo-a com um band-aid depois de muita insistência por parte do baterista. 
- Não gosta de coisas coloridas, Kasumi? - Indagou a pequenina após entrar em casa. 
- Papai! 
Shinya desviou o olhar ao outro com um pequeno sorriso nos lábios ao ver a pequenininha descer da mesa, meio desajeitada e com a própria ajuda e seguir ao pai, dando pequenos pulinhos para seu colo.
- Você não gosta...
- Não posso pegar você agora, estou com cheiro de cigarro. - Kyo disse e afagou os cabelos da pequenina com a mão não utilizada para o cigarro. - Mas não é porque eu não gosto que você não pode gostar.
Shinya riu baixinho e cruzou os braços a observar a pequenininha.
- Mas eu também não gosto então.
- Mamãe gosta e aí?
- Acho que ela gosta mais de você. - Shinya sorriu meio de canto.
Kasumi desviou o olhar a mãe e negativou, estendendo uma das mãos ao mais alto loiro, que segurou com um sorriso.
- Amo a mamãe também.
- Claro que ama. A menos que ela goste de coisas feias.
Shinya riu e negativou, acariciando os cabelos da filha.
- Meu amor, por que não pega seus lápis de cor pra desenhar algo bem bonito pro papai?
- Hai! Eu vou desenhar os fantasminhas!
Shinya sorriu e logo desviou o olhar a ele, aproximando-se a lhe selar os lábios, sentindo o gosto do cigarro, mas não reclamou.
- Eu fiz café.
- Faça um warumono
Kyo disse, incentivando a pequenina que partiu em busca de seus acessórios de pintar. Logo observou o baterista e sorriu meio de canto, notando o agrado. 
- Na hora certa.
Shinya assentiu e sorriu sem mostrar os dentes, comprimindo os lábios como tinha costume.
- Toshiya queria fazer uma festa surpresa pra você... Mas eu achei melhor não.
- Boa escolha. 
Kyo disse enquanto seguia junto dele de volta para a cozinha onde estava ainda a pouco junto a filha. Shinya assentiu e voltou com ele ao local, indicando a garrafa térmica sobre o móvel.
- Você quer sair ou fazer alguma coisa no dia?
- Se você quiser ir em algum lugar. 
Kyo disse em retruque e serviu-se do café num copo qualquer. 
- Podíamos jantar... - Sorriu. - Ou... Se não quiser ir, tudo bem.
- Podemos ir.
- Hai... Vou deixar as crianças com a minha mãe.
Kyo balançou a cabeça a assentir enquanto tragava um gole de café. Shinya sorriu novamente e assentiu.
- Quer bolo do que?
- Não vamos sair pra jantar?
- Ora, mas tem sobremesa.
- Hum, não precisa de bolo, Shin.
- Ah... Hai...
- A menos que você queira bolo.
- Eu queria fazer...
- Então pode fazer.
- Hai. - Shinya sorriu.
- Gosta de cozinhar, hum?
- Gosto... Mais doces do que salgados.
- Sim, eu percebo. Não vai tomar café?
- Ah iie, isso eu deixo pra você.
Shinya desviou o olhar à mesa, quando já se fazia em silêncio com ele e estreitou os olhos, era o telefone, novamente tocando. Seguiu ao local, pegando-o com uma das mãos e levou ao ouvido.
- Eh? Toshiya... Vai arrumar o que fazer. Não vou passar pro Kyo.
Kyo arqueou a sobrancelha, ouvindo alguns poucos metros a terceira vez que conversavam pelo telefone. O baterista tentava diminuir a voz, tornando a conversa suspeita, embora não tivesse neuras, esperava somente que não fosse a tentativa de fazer uma festa surpresa, a menos que trouxessem sushi ao invés de uma mesa de doces.
- Toshiya, não. - Shinya falou e suspirou, logo afastando o telefone do ouvido e seguiu em direção ao outro. - Kyo, diz pra ele que você não quer uma festa surpresa.
- Eu não quero uma festa surpresa ou sem surpresa.  
Kyo disse ao observar o aparelho, não o pegou no entanto, disse de onde estava mesmo.
- Ouviu? - Shinya falou ao outro no telefone e negativou. - Não estraguei nada, Toshiya. - Falou e desligou o telefone, irritado com o amigo. - Insuportável.
- Vocês se preocupam mais com essas coisas do que eu.
- Virgula, ele se preocupa.
- Ele é uma criança.
- Sempre foi. - Shinya riu. - Gosta de festa. 
- O titio Toshi vem?
Shinya riu baixinho e negativou.
- Não meu amor, ele estava falando da festa do papai.
- Ahh....
- Ah? Por que, gosta de fazer bagunça com ele?
- Eu gosto...
Shinya riu e abaixou-se, pegando a pequena no colo e mordeu-a na bochecha.
- Sua mãe vai ficar com ciúme.
- Ahhh! - Ela riu e negativou.
- Pedacinho de nada!
Kyo sorriu com sutileza, de lábios fechados ao observá-los na brincadeira.
- Cadê o desenho do papai? - Disse Shinya.
- Ta aqui. 
Kasumi falou a erguer o papel e mostrar ao pai o bichinho preto. Kyo esticou o braço e aceitou o papel meio amarrotado, mas desenhado e deu um risinho que soou nasal. 
- Vai ser desenhista quando crescer, Kasumi?
- Vou! Você gostou?!
Shinya sorriu, observando o desenho meio mal pintado da filha.
- Claro, papai adorou.
O baterista acariciou os cabelos do outro.
- Por que não coloca o desenho aqui na geladeira?
- Coloque na geladeira, hum. - Kyo disse a pequenina e entregou o desenho, indicando o eletrodoméstico a ela. - Vai lá.
Kasumi assentiu e correu em direção ao local, pegando o imã a colocar o desenho na porta.
- Assim?
- Claro, assim. 
Kyo disse, notando o desenho na metade da geladeira, visto que mesmo em seus pés erguidos, era onde alcançava. Shinya sorriu meio de canto e acariciou os cabelinhos da filha que passou por si.
- Vou fazer um pra você, mamãe!
- Vem cá, Kasumi. 
Kyo disse ao se acomodar novamente na poltrona e bateu sobre a coxa, chamando a pequenina. Shinya observou o outro a se sentar e chamar a filha e até deu um pequeno suspiro, abaixando a cabeça a se sentar em frente.
- Fala pro papai que bicho a sua mãe se parece.
- Um cinnamonroll.
- Eh?
- Hum, é. Então vai desenhar ele de par com o warumono.
- Ta bom!
Shinya riu e negativou ao vê-la descer e correr até a mesinha de desenho colocada ali.
- Até a Kasumi te vê fofo.
O maior riu baixinho.
- Ah... Não é tanto.
- Ah, não. Só o suficiente pra uma criança perceber.
Shinya negativou e levantou-se, seguindo até ele.
- Eu não ganho colo, papai?
- Você não é bebê. 
Kyo disse e no entanto o fitou por perto, dando um espaço para ele, como dera a filha. Shinya riu novamente e sentou-se sobre o colo dele, ajeitando-se ali de frente para ele, observando-o.
- O que foi, cachorrinho?
Shinya mostrou a lingua a ele e aproximou-se, roçando o rosto ao do outro, como um cachorrinho faria mesmo e lambeu seus lábios. Kyo sentiu seu breve afago, mesmo o toque úmido nos lábios, com seu jeito tipicamente tímido, ainda que sutilmente descontraído. E voltou a fitá-lo quando finalmente distante outra vez. 
- Hum?
- Q-Quero fazer amor. 
Shinya murmurou, meio desajeitado e deslizou uma das mãos pelo corpo dele.
- A essa hora, ah? Precisa ocupar a Kasumi mais que um desenho.
- Hum... - Shinya desviou o olhar para a filha. - Geralmente ela tira uma soneca essa hora...
- Leve ela pra cama.
- Hai. 
Shinya sorriu a ele, feliz por ser aceitado e levantou-se, seguindo em direção a filha que pegou pelos bracinhos e fez cócegas, ouvindo o riso da pequena.
- Vamos tirar uma soneca, hum?
- Iie!

- Sim senhora, mamãe tem que tratar de uns assuntos com o papai, vamos descer. 
Falou a ela e beijou-a no rostinho, guiando-a para o andar de baixo, ao quarto dela.
- Não! Quero terminar o desenho da mamãe!
Shinya sorriu meio de canto.
- Hum... Não faz essa carinha, sabe que a mamãe não resiste a você.
- Deixa eu terminar...
- Ta bem, vai.
- Você é muito mole, Shin. 

Disse Kyo e o maior riu.

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