Kazuma e Asahi #78


A sintonia do rádio parecia algo difícil, rodar aquele botãozinho não parecia tarefa complicada, embora aquela pequena caixa ficasse soando em chiados do que pareciam melodias distantes. Asahi havia sacolejado as mãos várias vezes como se brigasse consigo mesmo, praguejando o rádio. Queria descobrir aquilo, queria saber como aquele funcionava, era maior dos que já havia visto modestamente na igreja. Mas vencido, preferiu colocar a fina agulha sobre o grande disco de vinil, rodou e soou a música muito mais fluente que o rádio não sintonizado. Ao se reerguer puxando as barras longas de seu kimono azul e informal, o que Kazuma dizia ser uma cor bonita para si, ele sorriu e timidamente fez algum movimento, ainda que pensasse estar sozinho, parecia vergonhoso fazer aquilo pela primeira vez. Podia ouvir as palavras estrangeiras, soando a melodia um ritmo digno de alguns drinques e cigarros, uma dança. Asahi estava descobrindo o toca discos e Kazuma sorriu ao pensar sobre isso enquanto pisava sorrateiramente no piso de madeira, mesmo revestido, vendo o rapaz dançar com timidez em poucos passos. Quando o maior o alcançou, o virou por seus ombros e viu seu rosto corado com voracidade, mas claro que sem dar atenção a sua vergonha descabida, que por sinal o deixava ainda mais bonito, pegou sua mão, sua cintura e passou a guia-lo na dança. Ao vê-lo entrar, Asahi não fazia ideia, estava envergonhado por ser pego tão no pulo, era um jeito de se distrair visto que sozinho naquela casa o dia todo, não sabia que horas ele iria voltar, então, dava atenção a algo diferente. Abaixou a cabeça conforme o viu, porém riu baixinho, divertido, tentando seguir os passos dele com os pés um pouco desajeitados, pisoteava lugares errados e quase havia pisado no pé dele.
Ao enlaçar sua cintura magra, Kazuma podia sentir que havia ganhado alguns centímetros, mas mesmo que houvesse engordado um pouco, o rapaz continuava verdadeiramente bonito, só então o tirou levemente o chão, colocou seus pés sobre os próprios e agora a dança dos dois tinha o mesmo ritmo, como faria um adulto a uma criança. Sorriu, ensinando cada passo daquele jazz. Asahi riu baixinho, segurando-se nele conforme subiu em seu pé e observou seu rosto bonito, tinha um sorriso discreto que adorava, teve que sorrir para ele. 
- Oi.
- Olá, Padre. 
Kazuma dizia por sua nomenclatura, embora soubesse que já não era mais um, ele parecia gostar daquilo e deslizou a mão por suas costas ajustando sua postura enquanto o levava nos passos. Asahi sorriu e continuou com ele, dançava por toda a sala, e os braços sobre os ombros dele, tentava acompanhar seus passos, nunca havia feito algo tão divertido. Apenas quando a música terminou e mudou para uma nova, foi que Kazuma o deixou no chão, não sem antes pende-lo para trás, como clássicas cenas românticas, o beijou num selar breve e voltou a coloca-lo em postura. 
- Talvez uns drinques agora, padre?
Asahi riu baixinho conforme fora debruçado e agarrou-se a ele, tinha medo de cair, mas confiava nele. Retribuiu seu selo de lábios e se levantou. 
- Isso... Foi... - Sorriu e suspirou. - Vamos!
O riso soou entre os dentes de Kazuma que ficaram à mostra, era discreto como em hábito. 
- Ah, você quer? 
Pegou sua mão e ergueu seu braço, circulou-o fazendo virar com a música que tocava no disco. Asahi riu e rodou junto dele, ria divertido, talvez ele nunca houvesse visto a si rir daquela forma. 
- Quero sim.
Kazuma sorriu ainda assim, talvez contagiando-se com a animosidade do menor. 
- Então eu vou preparar algum pra você. 
Disse e após mais uma volta, só então soltou sua mão e seguiu para a sala onde buscou entre as garrafas algo para lhe preparar alguns drinques. De lá, ainda podia ouvir o rádio tocar a música. Asahi ainda sorria quando ele saiu, gostaria de estar melhor vestido, e não de kimono, como uma daquelas mulheres elegantes. Kazuma voltou pouco tempo depois, com as bebidas preparadas e até mesmo uma caixa de cigarrilhas que deixou na bandeja. Deu a ele a bebida, pegou a outra, ergueu o copo que tilintou ao dele e só então tragou do álcool, consistia em xarope de gengibre, uvas e saquê. O observou em seguida, e mesmo que o álcool ainda queimasse sua garganta, arrancando um suspiro de ardor em sua feição, ainda assim ele parecia animado. Asahi sorriu ao receber a bebida, e fitou curioso. 
- Parece gostoso. - Disse e bebeu um gole, porém uniu as sobrancelhas, tossindo. - ... Ai.
- Depois fica suave. Coma uma das uvas. - Kazuma disse e então, informalmente o segurou, movendo-o pela dança. - Nunca dançou assim?
Asahi sorriu e com ele novamente dançou, era gostoso. 
- Não, eu... Não podia dançar.
- Nem mesmo em seu quarto? Não seja tímido, rapaz. 
Kazuma disse e tragou mais da bebida, deixou no móvel em mogno logo a frente, só então o segurou corretamente, pegou ambas suas mãos e o puxou, virando em frente ao corpo, ou mesmo o voltando para cima dos pés.
- Nem no quarto. - Asahi disse a ele e segurou-se novamente nele, agora tinha a segurança de seus ombros, não cairia. - Eu... Tenho que me mexer assim? Como você ou ao contrário?
- Você segue meus movimentos e se encaixa nos meus espaços. 
Kazuma sorriu a ele, um pouco de canto, mas não queria mesmo ensinar uma grande dança, queria apenas que ele apreciasse consigo a ideia de se divertir com a música.
- Posso tentar? - Asahi disse num sorrisinho tímido.
- É claro. Deve.
- Ta bem. - Asahi sorriu e desceu dos pés dele, tentou acompanhar seus movimentos, devagar, porém acabou por pisar no pé dele de novo. - Aí desculpe.
Kazuma reiniciou o movimento e a música era um pouco animada, mesmo não tão rápida, não era muito vagarosa. Seguiu com ele e sentiu sua pisada, embora não estivesse incomodado por ela. O riso soou nasalado e continuou a move-lo. Asahi abaixou a cabeça, meio desajeitado e riu, segurando-se nele.
- Isso é muito legal.
- Com boas músicas, é certamente divertido. 
Ao parar junto dele, como na primeira vez, Kazuma o inclinou, desta vez não o beijou porém e quando o puxou de volta, deu a voltinha e apenas então parou, retomando consigo a bebida. Asahi sorriu conforme se debruçou e o observou, ele era tão bonito que sentiu o coração bater num soco no peito. Quando se virou, sentiu o braço dele junto a si, e quase estremeceu. 
- ... Ai, fiquei um pouco tonto. - Riu.
Kazuma riu, desta vez um pouco mais audível e segurou sua mão, indicando, ou o levando até a almofada no chão, onde poderia se sentar e dali, olhar o lado externo da cama. Se sentou logo ao lado dele. 
- Um dia posso levá-lo para visitar um bar, pode jogar, provar alguns drinques, mas certamente será convidado para dançar.
Asahi riu conforme se sentou e deitou no chão, rindo divertido ainda.
- Ah, eu quero sim. Mas... Não vamos poder dançar juntos...
- Mas poderá se divertir mesmo assim. 
Kazuma disse e pegou a pequena lata de cigarros, acendeu um deles e tragou, era o acompanhante da bebida, que por sinal voltou a entregar para ele. 
- Podemos dançar mais vezes.
Asahi aceitou a bebida e bebeu mais um pequeno gole, ardido. 
- Ah. - Riu. - Eu posso experimentar o cigarro?
- Você quer mesmo? 
Kazuma indagou, não que tivesse qualquer coisa contra, mas ele ainda tinha seus certos hábitos religiosos. Tragou a bebida e dispôs a ele o pequeno cigarro.
- Hai... Eu não sou mais um padre, não é mesmo? 
Asahi sorriu e pegou o cigarro, observando-o meio perdido, porém guiou-o aos lábios e sugou a fumaça, claro, tossiu a afastar o cigarro de si.
- Não trague com força, é como um charuto mais fino. 
Kazuma disse, mas o ouviu tossir tão logo. - E aí? - Indagou risonho.
- Ai... - Asahi riu enquanto tossia e bebeu um gole da bebida, sentiu-a queimar a garganta e tossiu mais ainda. - Socorro. - Riu pouco mais, segurando-se nele.
O maior riu, entre os dentes. 
- Quer água?
- Iie... - O loiro tossiu. - Tudo bem. - Novamente ria, e chegou a conclusão que estava rindo mais naquela hora do que havia tido em dez anos de vida. Ao se voltar para ele, abraçou-o forte. - ... Obrigado. Muito obrigado.
Kazuma o retribuiu com um abraço de um braço só. Descansou o rosto contra o seu, tentando retribuir sua afabilidade. 
- Também sou feliz com você. - Disse, deduzindo.
Asahi sorriu, ficou feliz que não precisava dizer nada a ele, apenas descansou sobre seu ombro e agora a música era lenta, então apreciou-a em silencio. Kazuma ergueu a mão e tocou sua cabeça, acariciou a raiz de seus cabelos louros recém aparados.
- Que docinho. Vou querer dançar também.
Asahi assustou-se com a voz vinda de trás e virou-se rapidamente, observando a senhora ali parada, só então sorriu. 
- Boa noite, oba-san...
- Talvez Asahi te mostre como dançar, vovó. 
Kazuma disse embora fosse uma brincadeira, provocando o menor. Asahi riu baixinho e negativou. 
- Só se a senhora quiser que eu pise no seu pé algumas vezes.
Kazuma sorriu, num riso mudo, ao ouvi-lo. 
- Ele não é muito pesado. 
- É tão franzino. Tem de malhar com o Kazuma. Vamos, queridos, vamos comer alguma coisa.
O loiro sorriu ao ouvi-la e assentiu, levantando-se e estendeu a mão ao outro. Kazuma levantou-se com ele, deu-lhe a mão sem saber exatamente o porque e antes que saíssem, segurou a mais velha, fez um passo e outro com a música, mas abandonou breve. 
- Mais tarde eu vou cobrar isso.
Asahi riu baixinho ao observar os dois e mordeu o lábio inferior, se segurando ao braço do outro conforme saiu.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário