Akuma e Orochimaru #3


Havia se passado uma semana. Orochimaru fora em duas vilas, passou em duas academias de esgrima, o ocupou a cabeça com a arte, mas uma coisa tinha certeza: não conseguia tirar ele da cabeça e era um inferno. De dia, pensava nele todo o tempo, a noite, sonhava com ele. Não sabia se ele fazia de propósito invadindo a própria mente, ou se só sentia falta. Alguns dias, podia sentir a presença dele, como se fitasse a si durante o sono, mas ao abrir os olhos, não havia nada nem ninguém. Um suspiro profundo deixou a si, havia pedido que ele fosse embora e não fora em vão, não iria pedir por ele, não iria pedir que ele voltasse. Um dia, enquanto passava por uma pequena vila, pôde ver a placa de uma casa, a conhecia muito bem, sabia o que era, sabia porque de certo modo, havia ido até aquela vila sabendo o que iria encontrar. Katsuragi era o dono do lugar. Parou na porta, sentiu o cheiro pelo ar, não parecia diferente de uma casa comum, exceto pelo perfume, era perfumado lá dentro, flores e chá. Não queria ir, não queria entrar, de jeito nenhum, mas era homem e a vontade estava acabando consigo. O corpo doía, a cabaça só pensava nisso. Ao entrar, falou com o dono, pediu um garoto, é claro, mas não um garoto comum, pediu algum com algo a mais, sede de sangue. Vampiros, criaturas noturnas, nem sabia que elas existiam até então, e ele pelo jeito não era igual a Akuma, era um simples vampiro comum, um amante noturno como ele se chamou para si. Era um rapaz bonito, bonito e rápido, nem havia percebido quando ele havia tirado as próprias roupas, mas seguiu o ritmo dele, ou tentou. Ele mordiscava a si, no pescoço, perto da nuca, era onde havia pedido que ele o fizesse, mas não era a mesma coisa. Ele havia tomado a si, mas não era a mesma coisa. Enquanto fechava os olhos, só esperava encontrar aqueles olhos amarelos quando os abrisse novamente, e encontrava olhos vermelhos. 
- O que foi? Eu não agrado você?
Orochimaru sorriu meio de canto, não queria decepciona-lo, mas a verdade é que não agradava. 
- Mais forte, garoto. Mais forte. Mais. 
- Senhor, se eu for mais forte, vou quebrar seus quadris.
Suspirou e negativou a ele, esperou que ele terminasse e pagou o valor combinado, mas havia sido um desperdício, de tempo e de dinheiro, a dor não era a mesma, as sensações não eram as mesmas, queria mais, precisava de mais. Ao sair, seguiu para uma estalagem próxima ao centro, havia tomado banho e lavado o kimono, agora estava polindo a espada e ainda pensava nele. 
- Mas que inferno... Por que você não sai da minha cabeça? O que eu fiz pra você...?
- Hum, parece frustrado. 
Akuma disse a ele, na distância que se fazia até então, observando como bem ele imaginava, embora houvesse de fato ficado aquele tempo longe. Já o havia espiado em algum momento, especialmente no bordel, se perguntava como ele não parava para pensar que poderia estar ali, vendo ele pedir força, vendo ele pedir as mordidas que lhe dava na pele, nem parecia disfarçar ou apenas estava acreditando que realmente podia confiar na própria palavra. Porém, ainda que estivesse longe, sabia quando era chamado, quando era lembrado e não, não estava tentando induzir seus pensamentos, embora lhe provocasse alguns sonhos, não provocava todos eles, mas estava no fim de tudo muito satisfeito. 
- Não foi o que você fez, foi o que eu fiz pra você.
Orochimaru suspirou e abriu os olhos rapidamente ao ouvir a voz dele, procurando-o pelo quarto, ele não estava longe. 
- Por que fez isso? Eu não sou uma pessoa ruim, só quero ficar em paz.
- Eu não fiz nada. Eu apenas fiz sexo com você, lembrar disso e me desejar, não sou eu quem está fazendo.
- É você sim, eu não pensaria nisso sozinho.
Akuma riu entre os dentes. 
- Meu caro, eu tenho ego, é muito mais prazeroso saber que está pensando em mim sem que eu o faça.
Orochimaru suspirou. 
- ... Eu não posso simplesmente gostar de algo que eu nunca gostei, muito menos de um demônio, eu preciso seguir a minha vida.
- Algo que nunca gostou? O que seria esse algo que nunca gostou? Sexo? Talvez por não ter experimentado antes?
- ... 
Orochimaru desviou o olhar, vendo pela janela do quarto a luz do sol que sumia no horizonte, estava escuro, só tinha uma luminária acesa no quarto.
- Você quer uma alma pra apodrecer, não quer? Vasculhou minha cabeça até achar um problema.
- Não quero apodrecer sua alma. - Akuma riu. - Você está complicando as coisas, é só sexo. Nós só nos divertimos um pouco, muito talvez. Mexi com seus sentidos, te dei mais prazer do que poderia sentir. Busquei seus pensamentos, mas apenas estava conhecendo algo de você, coisas que não gostaria de contar, no fim de tudo eu sou uma criatura, não agiria como um humano. Mas eu apenas gosto de estar perto de você.
Akuma o ouviu silencioso, naquele dia estava mais tranquilo do que geralmente, então estava disposto a conversar com ele, e também, havia amadurecido um pouco a ideia de que talvez, não devesse ser tão duro consigo mesmo e os próprios sentimentos ou vontades. Havia feito aquilo, unicamente porque via a mãe passar por tantos problemas, então ponderou que talvez fosse melhor nunca se apaixonar, nunca magoar ninguém, nunca se magoar. 
- ... Bem, acho que você não vai de fato me fazer mal, ou já teria me matado.
- Certamente. Posso te dar prazer então posso quebrar seu pescoço também. 
Era inevitável, Akuma estava prestando atenção em seus pensamentos, mas tentou fingir que não. Orochimaru uniu as sobrancelhas conforme o ouviu. 
- Eu não tenho medo de você. Se vai me matar, me mate logo. 
Disse num pequeno sorriso, podia ver o brilho nos olhos dele, estava desafiando, mas sabia que ele havia nutrido algo por si, ou não estaria tão preso a si aquele tempo todo.
- Eu já disse que não tenho essa intenção. 
Akuma disse, falava a verdade, mas notou seu ar desafiador, riu porém. Se levantou de onde havia se encostado, se aproximou, apenas para entender a profundidade do "desafio". Orochimaru manteve-se firme conforme ele havia se levantado, estava esperando, não tinha medo de morrer, ninguém dependia de si. Akuma se aproximou dele e de seu posto impassível, mas diferente do que passava em sua cabeça, não tinha intenção de feri-lo. Sorriu, imaginando se ele tentaria alguma coisa. Akuma sorriu meio de canto ao vê-lo se aproximar. 
- Vamos ficar nos encarando por quanto tempo?
- Você parecia desafiador, estava esperando algum gesto. - Akuma sorriu, mostrando-lhe os dentes.
- E vou fazer o que? Não tem como te matar. Só se eu arrancar sua cabeça e queimar.
Akuma riu. 
- Bem, eu saberia sua intenção e não deixaria isso acontecer.
- Então, tem isso também. - Orochimaru disse num pequeno riso. - Sente, quer saquê?
O maior sorriu novamente, sob sua reação tão branda, aceitou o convite sem entender porque ele vinha. 
- Claro. - Imaginava aonde a noite terminaria.
- Estou cansado de brigar com você, quer ficar? Fique. 
Orochimaru disse e pegou a garrafa de saquê que havia comprado mais cedo, servindo no pequeno copo e entregou a ele.
- É claro, eu posso ser de bom uso. 
Akuma disse ainda risonho e aceitou a bebida, agradeceu por ela e então a tragou. Era o tipo de bebida humana que costumava beber. 
- Eu não pedi sexo. - O menor disse num pequeno sorriso. - Eu nem senti tanto assim falta de sexo. 
Disse, mas é lógico que estava mentindo, e hesitou quando falou.
- Ah, é claro. Não estou falando apenas sobre sexo, estou falando também sobre companhia.
- Hum, como pode ser uma boa companhia? Você não é humano. Me conte uma boa história.
- E você acha que os humanos são bons companheiros?
- Se achasse, teria me conhecido rodeado deles. Mas eles tem boas histórias pra contar.
- Gosta de histórias para ninar, Orochi?
- Gosto, sou um bebê.
- Eu não sei que tipo de histórias eu poderia contar. Apenas que sou velho, já vi muitas coisas na vida, tantas que já não vejo muito sentido em continuar assim. Mas preciso me alimentar, então continuo caçando à noite, como os vampiros. Também percebi que mesmo uma criatura como eu, pode se interessar por alguma coisa, por alguém talvez.
Orochimaru sorriu meio de canto. 
- Se apaixonou por alguém, ah? E como demônios se apaixonam? 
Disse e não fazia ideia realmente de quem ele falava, era ingênuo, não achava que tinha nenhuma beleza para atrair alguém.
- Não posso dizer que é paixão, mas alguém que sinto que vale a pena ter companhia. Está na hora de conseguir alguém pra me acompanhar.
- Hum, ele é bonito? Ou ela.
- É atraente. É um homem forte e sensível. São opostos atraentes pra mim.
- Hum, sou eu então. - Ele riu.
- Certamente, ou eu estaria noutro lugar.
- ... - Orochimaru sorriu meio de canto. - Está brincando. O que eu fiz pra você gostar de mim?
- Nada, eu não preciso de cativo. Eu sei quem você é.
- Eu não sei se acredito em você. - Riu. - Não entendo porque alguém sentiria atração por mim.
- Bem, não importa se acredita ou não. Mas já deve saber que vou estar por perto sempre que pensar em mim. Não sou um homem humano, então não ache que vou embora só porque você não quer um demônio.
Orochimaru desviou o olhar a ele, como havia dito, estava passível a conversar e tranquilo naquele dia. 
- Bem, se não for me fazer mal... Eu não me importo que esteja por perto.
- Como eu disse, o mal é um ponto de vista. O que seria fazer mal a você?
- Me machucar, tentar me matar, me impedir de ficar perto das pessoas. Isso é ser mal.
- Machucar eu faço, mas você já sabe como. Matar eu já disse que não tenho porque fazer isso e sobre impedir que chegue perto das pessoas, por que eu faria isso? - Akuma indagou analisando sua ideia. 
- Não sei, se tiver ciúme de mim. - Disse e deu de ombros. - Algo assim.
- Não, porque eu sei o que você pensa. E eu sou muito seguro.
Orochimaru riu da situação. 
- Se pensar, eu não queria nem você, não vou querer outra pessoa. E as pessoas não são como você.
- Está dizendo que agora você quer, ah?
- Hum? Eu não disse nada.
Akuma riu, entre os dentes. 
- Não importa, você sabe disso.
- Eu sei que não. - Orochimaru disse num riso e serviu mais saquê a ele. - ... Pode dormir aqui se quiser. Eu sei lá onde você dorme.
- Eu não durmo há alguns anos.
- Adoraria não dormir. - Riu.
- Eu posso te ajudar com isso.
Akuma risse e tragou a bebida, deixou o copo curto ao lado. 
- Hum, vai me enfeitiçar?
- Hum, algo assim. Ou posso só transar com você a noite toda.
- Hum, aí amanhã eu estou acabado e morrendo de sono.
- Posso te dar alguma vitalidade.
- Não... Estou bem, eu falei brincando.
- Não quer fazer? 
Akuma indagou e sorriu, tipicamente mostrando os dentes.
- O que? Sexo? Não... Estou bem. 
Orochimaru disse, e sabia que havia feito com o garoto recentemente, ele saberia, não achou que ele estava lendo a própria mente.
- Certo. 
Akuma disse, risonho. Sabia sua razão, embora fingisse que não, sabia até mesmo do garoto com quem tentou ter prazer, com quem se frustrou no final, sabia mesmo de sua tentativa de conseguir mordidas na pele e um sexo mais intenso.
- O que foi? - O menor disse enquanto o fitava, ele parecia risonho, era estranho. - Está me analisando?
- Não, estou esperando você não aguentar de vontade.
- Isso não vai acontecer. - Orochimaru disse num sorrisinho.
- Ah, não vai? 
Akuma indagou e o provocou, provocou brevemente a sensação de excitação, no entanto não a prolongou. Orochimaru encolheu-se sutilmente e estreitou os olhos. 
- Não faça isso.
O maior riu, daquela vez foi quase travesso. 
- Por que esteve pensando em mim?
Orochimaru suspirou. 
- Eu não sei, pra ser bem sincero. É horrível porque isso nunca aconteceu. Eu fecho os olhos e penso em você, eu me distraio e penso em você. Talvez por estar intrigado por você ser um demônio... Talvez por ter gostado de... Ter sexo com você, eu não sei. Eu achei que você estivesse fazendo isso, mas percebi que quando você entra na minha cabeça, eu sei.
- Hum, você sabe quando eu deixo você notar. No entanto posso garantir que tenho algum orgulho, então não farei você pensar só porque eu quero, como você mesmo disse, não teria graça
- ... Eu não sei. Eu acho que estou curioso sobre você, sobre quem você é. Eu... Conheci vampiros e eles tem uma vida normal, aparentemente, então... Eu me pergunto como você vive, o que você faz.
- Eu posso viver como uma pessoa comum. Tenho uma casa, como uma pessoa teria. Não preciso de alimentos comuns, mas posso come-los. Me alimento de emoções humanas, sangue, já sabe. Gosto de sexo com humanos, não gosto muito dos da minha espécie.
- Hum... - Ao ouvi-lo, Orochimaru sorriu meio de canto. - Por que não?
- Não sei, a maioria não se suporta embora possam lidar entre si. Talvez isso seja parecido com os sentimentos humanos, ah?
- Bem, eu também não suporto os humanos. - O menor riu. - ... Mas... Vocês deveriam se dar bem, quer dizer, um conhece o outro.
- Não exatamente. Somos muitos, como os humanos, somos distintos.
- Hum, entendi... Você... Possui o corpo das pessoas, coisas assim? Ou é tudo ladainha?
- Posso fazer isso, não entrando em seu corpo mas controlando ele, como já fiz antes. Posso falar dentro da sua cabeça, então, de algum modo posso estar dentro de você. Gosto de provocar, só isso.
- Hum, você tem uns poderes bem legais. - Orochimaru riu. - Mas você não parece mau de fato...
Akuma sorriu canteiro. 
- Te conto mais histórias com o passar do tempo.
- Hum... Talvez seja um demônio bom. - O menor disse num pequeno sorriso. - Quer mais saquê?
- Você é mesmo sensível e ingênuo por dentro. É apetitoso. Claro. 
Akuma aceitou a sugestão e novamente tragou mais do saquê. Orochimaru riu baixo e negativou, servindo mais da bebida a ele. 
- Talvez eu fosse morrer logo mesmo, por isso você me achou.
- Não precisa ter um motivo, talvez você estivesse num lugar errado na hora errada e cruzou caminho com uma criatura que esperava encontrar mais que um jantar.
- Hum... Entendi. - Orochimaru disse e deitou a espada de lado, guardando na bainha. - Você vai ficar?
- Você quer que eu fique? 
Akuma indagou embora não esperasse que ele fosse ser sincero mas podia saber sua resposta mesmo que não falasse. Orochimaru assentiu. 
- Quero. 
Disse e desviou o olhar a ele com um pequeno sorriso, naquele dia especificamente, estava um pouco triste e queria companhia, mas não queria entrar em detalhes.
- Oh, que surpresa essa sinceridade. 
Akuma disse e ao se levantar de onde encostava, seguiu até seu futon onde deliberadamente se acomodou. Orochimaru sorriu meio de canto e assentiu, dando espaço para que ele se sentasse, não havia bebido do saquê ainda, e se serviu, bebendo de uma vez o conteúdo do copo. Akuma se virou e se deitou no futon, dobrou os braços que cruzou atrás da nuca, deitando sobre eles. Dali ficou a observar o moreno e imaginava se devia dar um dia normal para ele, tinha de cativa-lo no fim das contas. 
- Meus quartos nunca são muito confortáveis, então... - Riu. - A cama certamente deve parecer uma pedra.
- Então por que não consegue algo mais confortável? Eu não me importo com isso, posso dormir onde eu quiser, se eu quiser dormir.
- Não sobra muito dinheiro para os quartos. Eu faço pequenos trabalhos pra conseguir o dinheiro.
- Hum, posso te conseguir bons quartos.
- Não quero seu dinheiro, Akuma.
- Você não está me pedindo.
- Hum. - Assentiu.
- Quando quiser também pode conhecer minha toca.
- E como é lá?
- Vai saber se for lá.
Orochimaru riu. 
- Um dia me leve então.
- Amanhã.
- Hum, tudo bem.
- Hoje vamos dormir no seu pedaço de pano.
- Hey, ainda é uma cama.
- Não estou reclamando. 
Akuma olhou para ele, sorriu canteiro e claro, provocou suas vontades. Orochimaru suspirou conforme sentiu um arrepio percorrer o corpo. 
- ... 
Ao se levantar, ajeitou a espada e a bainha num canto. Ajeitou o kimono, dormiria com ele mesmo e deitou-se. Akuma ajeitou-se na cama, dando espaço embora o futon fosse grande o bastante. Se virou para olha-lo, imaginando o que ele realmente pretendia ali. Ao notar o olhar dele, Orochimaru fitou-o de canto e arqueou uma das sobrancelhas. 
- O que foi? Espera que eu arranque suas roupas?
- Se quiser, estou disposto. Mas estou apenas olhando você, imaginando o que espera com a minha companhia, quer só isso?
- Por que não posso apenas querer a sua companhia? As pessoas sempre querem algo mais de você?
- Eu só não entendi como aceitou a companhia de algo que nem humano é, como você dizia até então.
- Eu cansei de fugir de você, se eu só penso em você deve ter alguma razão, e também eu já estava de saco cheio de você vasculhando meus sonhos mesmo estando longe. Eu não sou otário.
- Eu não vasculhei seus sonhos. Talvez apenas uma vez, mas não todos. Fico feliz de saber que estava sonhando comigo. - Akuma riu entre os dentes.
- Hum... - Orochimaru estreitou os olhos. - ... Não coloque cobras nos meus sonhos.
- Eu não fiz isso. Eu me coloquei no seu sonho, as cobras são coisas da sua cabeça. Mas eu posso te fazer perder o medo delas. - Akuma sorriu, novamente.
- Hum, e como faria isso? Vai me hipnotizar? - Riu.
- Posso te fazer entender como é a essência de uma cobra. Bem, depois eu te ajudo com isso. 
Akuma disse, não usaria todas as palavras, apesar de não ser ao todo ruim, ainda era alguém arteiro.
- Não... Não quero isso não... - Murmurou.
- Não seja medroso. Não farei isso agora, primeiro quero saber se vai ser meu parceiro.
- Seu... Parceiro? Eu já disse a você que não posso ter um parceiro.
- Eu não sou uma pessoa comum, não vou te atrapalhar em nada.
- ... Não é por isso, é pelos... Sentimentos. Eu não posso me apaixonar.
- Por que não?
- Porque eu sei o que acontece quando alguém se apaixona.
- O que é que acontece?
- As pessoas se machucam.
- Eu não sou como uma pessoa.
- Por isso eu digo que é complicado, com você é pior ainda. Quando se cansar de mim, vai procurar outra alma e eu vou morrer.
- Não vou cansar de você, se for meu parceiro terá de ser pra sempre. Ainda tenho muito o que provocar você e descobrir mais sobre você.
Orochimaru sorriu meio de canto. 
- Você não me aguenta uma semana.
- Não seja enrolado, eu quem escolhi, sei com o que posso lidar.
- Hum, ainda não me conhece direito.
- Já sei o suficiente. Sei o que é você. Eu gosto do que sei, e não costumo gostar de muitas coisas.
O menor sorriu. 
- Hum, bem, por hora eu posso ter você por perto como um amigo se quiser viajar comigo.
- Amigo sexual, hum? Podemos nos divertir também.
- Não vou partir seu coração, viajante.
Orochimaru riu baixinho e negativou, mas sabia que era basicamente isso. 
- Hoje é aniversário da minha mãe.
- Hum, isso te deixa triste.
O menor assentiu e suspirou.
- Já faz um tempo que ela morreu.
- Então está melhor que muitos aqui.
Akuma sorriu meio de canto.
- É, acho que sim.
- Posso te garantir que não a vi no inferno. - Brincou com ele.
- Ah, ela não estaria lá, ela se doou pelos outros a vida inteira.
- Lamentável que tenha partido quando muitos outros mereciam isso.
- Mais lamentável ainda que meu pai tenha vivido mais tempo do que ela.
- Matou ele?
- Eu? Não, mas eu vivo pra isso. Eu quero ser forte pra um dia poder mata-lo.
- Oh, vai se corromper por ele? Vale a pena?
- Ah vale. Vale sim. 
Orochimaru disse enquanto fitava o teto do quarto, tinha raiva, ele saberia disso.
- Entendo, se é esse seu objetivo. Mas eu suponho que não precise de muito mais do que já tem se é isso o que quer fazer.
- Meu pai se chama Tokugawa Aoki, sei que sabe quem ele é. É um desgraçado que não merecia nem estar vivo. Ele é líder de uma gangue de bandoleiros, roubam os samurais e as pessoas das vilas quando querem. O problema, é que ele é forte, ninguém conseguiu derrotar ele ainda. E é por isso que eu preciso estudar.
- Hum, você sabe que eu consigo fazer isso. Mas claro, imagino que o mérito deva ser todo seu. Posso te ajudar a ter essa força.
Akuma desviou o olhar a ele. 
- Eu não quero fazer um pacto com um demônio.
- Não vai fazer pacto. 
O maior riu, imaginava quanta ficção ele costumava ler. 
- O que você quer então?
- Que seja meu parceiro.
- ... - Orochimaru suspirou. - Pra sempre é muito tempo.
- Oh, não acha que pode estar ao meu lado pra sempre?
- Não acho que você me aguentaria pra sempre. E eu mal o conheço.
- Ah, quantos rodeios. Tudo o que eu posso fazer já te contei. Não é como se eu fosse me tornar um monstro depois, isso ficou para os humanos.
Orochimaru sorriu meio de canto. 
- Me dê um tempo pra pensar.
- Claro que sim. Mas não pense que será fácil se livrar de mim.
- Hum, estou ciente disso. - Sorriu meio de canto. - Fique para dormir. 
Disse e puxou o cobertor na cama, cobrindo-o assim como a si.
- Espere, dormir de kimono parece horrível. Vou me despir. 
Dito, Orochimaru levantou-se o suficiente para tirar as roupas e assim o fez, desnudou-se deixando as peças ao lado, aonde pegaria no dia seguinte. Ao vê-lo se despir, Orochimaru não queria de fato olhar, mas os olhos pareciam pregados nele mesmo sem intenção. Dormia de kimono porque estava sempre alerta, se alguém tentasse atacar a si, ou alguma coisa acontecesse, levantaria num pulo, mas naquela noite, dormindo com um demônio, achou que estava seguro o suficiente. Ao se levantar, abriu o obi assim como ele, e despiu o kimono a deixar lado ao dele.
- Assim que é bom. 
Akuma disse diante de seu igual despir, fazendo-se por pouco, inteiramente nu. Ao se deitar, imaginava como seria descansar depois de tanto tempo, talvez fosse bom. Ao se deitar com ele, Orochimaru sorriu meio de canto. 
- Não deixe ninguém me matar enquanto durmo, hein? - Disse num pequeno riso. - ... Boa noite. 
Disse e há muito tempo não falava daquela forma com ninguém.
- Claro, sou um cão de guarda agora. 
Akuma resmungou, mas certamente não deixaria isso acontecer no fim das contas. Orochimaru riu. 
- Um cão dos infernos, literalmente.
- Na verdade eu sou um anjo caído, então meu inferno é essa terra abandonada.
- Isso soa muito bem. O que você fez de tão errado pra ser expulso do céu?
- Desejei mais do que deveria. Com mais intensidade também.
- Se apaixonou por um humano?
- Não me apaixonei.
- Apenas não tive a alma tão pura quanto deveria.
- Hum, entendi. Você é um pervertido.
- Não é só sobre sexo. Quis ter mais vivência do que se espera de um anjo protetor. Acho que sou mais como o que sou agora.
- Ah... Você era um protetor? Isso é bem bonito. - O menor sorriu meio de canto.
- Bem, todos os anjos são, não?
- Acho que sim, eu não entendo bem sobre céu e inferno... Eu nunca acreditei em nada até conhecer você.
- Que vidinha, ah?
Orochimaru riu. 
- Eu cresci num lugar meio caótico. Você viu as minhas lembranças.
- Depois eu abro seu livro de história novamente.
- ... Não faça isso... Não é algo que eu queira me lembrar.
- Hum, você não precisa lembrar.
Akuma assentiu e suspirou. 
- ... Vamos dormir, amanhã iremos até Edo.
- Vamos, hum. 
Orochimaru disse e ajeitado como estava, permaneceu até que se lembrasse como descansar e dormir. Por alguns instantes, Akuma fechou os olhos, mas curioso fitou o rosto dele enquanto tinha seus olhos fechados, ele era bonito, sempre se lembrava disso, e agora que seu rosto parecia mais calmo arrancou até um sorriso de si. Como um anjo poderia ser mau? Talvez ele fosse bom, mas ser expulso daquela forma e enviado ao inferno o corrompeu e fez dele uma pessoa que precisava tirar das pessoas coisas ruins. Sentiu empatia por ele. Devagar puxou o cobertor, cobrindo seu corpo descoberto nos ombros ainda que ele fosse muito quente e não precisasse daquilo, só então fechou os olhos para dormir. Akuma continuou de olhos fechados enquanto sentia as sensações dele, estava acordado e curiosamente encarando a si, esperou daquele modo, imaginando o que pensaria, o que faria, mas eram apenas questões sobre o que havia lhe dito a pouco. Sentiu o cobertor sobre o ombro, tolo, pensou, adorável, também pensou. 

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