Kazuma e Asahi #82
Já haviam se passado alguns dias, poucos, Asahi não tinha mais febre graças aos remédios que havia tomado, estava bem, e ainda que não bem o suficiente para sair por aí fazendo várias coisas, estava fora da cama, ainda que todos insistissem que permanecesse deitado, não queria ser inútil. Havia feito o jantar, só sabia que era jantar por causa do relógio na parede e agora, levava para ele que sentava-se ao lado de um rádio numa cadeira nada confortável. Uniu as sobrancelhas, aproximando-se devagar, não queria atrapalhar.
- ... Kazuma, por que não deixa um pouco esse rádio? Sabe... Não vai adiantar.
Kazuma virou-se para ele, enquanto tragava um cigarro, arqueado na cadeira para ouvir o rádio. Queimou porém no cinzeiro, ao se lembrar de que estava esperando o próprio filho.
- Eu sei disso, mas meus ouvidos são os meus olhos nesse momento. Está melhor, hum? - Disse e sorriu para ele, com leveza.
Asahi assentiu com um pequeno sorriso e indicou a comida que havia feito, era macarrão chinês.
- ... Sei que não é algo sofisticado, mas... É o que temos.
- Eu gosto. - Kazuma disse e aceitou embora não tivesse realmente fome. - Vai me acompanhar?
- Por sinal, em breve receberemos novos mantimentos. Me diga se tiver algo que precise.
Asahi assentiu e aproximou-se dele, sentando-se a seu lado, a quantidade no prato era suficiente para ambos, não comia muito.
- Será... Que eles conseguem algodão?
- Algodão de que tipo? Algodão mesmo, tecido?
Kazuma disse e provocou do macarrão, que em seguida serviu para ele, guiando os hashis para sua boca. Asahi aceitou o macarrão e sorriu a ele.
- Algodão mesmo, eu... Guardei um óleo corporal, eu uso as vezes, mas pra alguns lugares preciso do algodão... Mas se não for possível tudo bem.
- Vou pedir seu algodão. Só isso?
- Hai. - Asahi sorriu. - Ah... Eu... Teremos sobremesa.
Disse num pequeno sorriso e retirou a barrinha de chocolate do bolso, também havia guardado antes de sair.
- Hum... - O riso soou entre os dentes de Kazuma. - Então coma a sobremesa. - Disse e pegou um pouco mais do macarrão, serviu a ele porém. - Depois do macarrão.
Asahi assentiu num sorriso e aceitou o macarrão.
- Está gostoso? Levei um pouco a sua mãe e... Seu pai.
- Está gostoso.
Kazuma assentiu ao que dizia e continuou a comer junto a ele. Estava realmente gostoso, leve e bem salgado. Asahi sorriu e assentiu.
- Então tá bom. Me senti melhor hoje, não tive tanta tontura.
- Logo estará melhor, completamente. Vocês dois.
O maior disse e se esticou, tocou a barriga dele, quase sem de fato ter volume, mas sabia que ele adorava aquilo. Asahi sorriu ao sentir o toque e a mão fora sobre a dele, segurando-a e apertou.
- Fico sonhando se... Será uma menina ou menino.
- Quero a surpresa ao nascer. - Kazuma sorriu.
Asahi assentiu.
- Será uma ótima surpresa.
- Hum. - Kazuma assentiu. - Não me importo com qualquer que seja.
- Eu também não. Eu só espero que seja saudável.
- Será, com certeza.
Asahi assentiu num pequeno sorriso.
- ... É difícil pensar que eu quase o matei.
- Hum. Mas com isso irá aprender a cuidar com mais atenção.
- Eu sinto muito... Nunca pedi desculpas pra você por isso...
- Não me deve desculpas.
Asahi assentiu e abriu a boca esperando o macarrão. Kazuma novamente o serviu, achou graça no pedido mudo.
- Um dia terá de disputar a comida na boca com alguém mais.
Asahi riu baixinho e assentiu.
- Tenho que aproveitar enquanto posso.
- É, acho que sim. - O riso de Kazuma soou entre os dentes enquanto o servia e juntos, aos poucos, terminaram o jantar. - Estava ótimo, obrigado.
Asahi sorriu novamente e beijou-o em seu rosto.
- Acha que vai durar muito tempo?
- Hum... Talvez.
- ... - O menor uniu as sobrancelhas. - Não quero que ele cresça confinado aqui...
- Desde que esteja seguro, não terá importância.
Asahi assentiu e levantou-se com o prato, seguiria para a cozinha quando ouviu o estouro, fora alto, geralmente alto, como uma bomba fora do local, não parecia ter atingido a casa, mas uma área próxima a ela. Ouviu os gritos no cômodo ao lado, e quanto a si, havia derrubado o prato no chão que quebrou em vários pedaços, estava agora no chão junto dele, encolhido.
- Kazuma!
O contrário dele, o impulso de Kazuma foi de se levantar. Rapidamente estava em pé e pela altura, podia julgar a distância a qual estavam do bombardeio.
- Calma. - Disse, atento e se abaixou, levantando-o pelos ombros. - Não foi tão perto quanto parece.
Ao se virar, Asahi quase agarrou-se a ele, as mãos e pernas tremiam, estava apavorado.
- ... Parece que foi aqui dentro!
- Não, ela só causa um ruído maior, mas essa área quase não tem atenção.
Kazuma disse, embora soubesse que havia sido próximo, podia ser convenientemente persuasivo.
- Venha, vamos. - Ao pega-lo no colo, o levou de volta para a cama.
Asahi uniu as sobrancelhas e agarrou-se ao pescoço dele, firmemente, mas não o suficiente para aperta-lo.
- ... Eu quebrei o prato... Preciso recolher os cacos...
- Não seja tolo.
Após coloca-lo na cama, Kazuma buscou numa cômoda por ali o macio abafador, colocou em suas orelhas. Asahi negativou, segurando as mãos dele antes que ele colocasse em si o abafador, não queria ficar surdo, queria ouvi-lo, a voz dele confortava a si mais do que aquilo.
- Por favor...
- Coloque, vai suavizar, não vai ficar surdo. Não quero que se assustem.
Asahi assentiu e colocou o abafador, ele havia passado a se referir a si como dois desde o bebê, achava adorável, mas naquela hora não podia dizer a ele. Agarrou-se a mão dele, firme conforme sentiu o chão tremer mais uma vez, podia sentir as lágrimas nos olhos.
- ... Que bom que você está comigo...
Disse, talvez pouco mais alto que o normal. Kazuma riu, achando graça da altura da voz. Assentiu porém.
- Não chore.
Asahi assentiu, piscando algumas vezes na tentativa de não chorar.
- Deita comigo.
Disse, alto novamente.
- Hum. Verei primeiro como estão meus pais. Já tem idade suficiente pra não aguentar barulhos repentinos.
Asahi assentiu e segurou firme o abafador nos ouvidos.
- Quer vir também?
- Sim...
- Então vem.
Kazuma disse e se levantou de onde sentado, esperou que se levantasse ao estender a mão a ele. Asahi levantou-se junto com ele, segurando sua mão e seguiu para fora, ainda segurando o abafador.
- Solte. Disse que não queria ficar surdo, ah?
Asahi assentiu e por fim abaixou as mãos devagar. Kazuma seguiu então até a acomodação dos pais. Tomavam seu jantar sentado à pequena mesa, pareciam mais calmos que Asahi, de longe.
- Parecem bem.
Disse a eles, ela sorria e ele assentia com a cabeça, tranquilo.
- Acho que já passaram por isso antes... - Asahi disse, mais baixo agora.
- É, certamente.
- Menino Asahi, não tenha medo, esse lugar é profundo. Não percebe quanto é calor? Não tenha medo.
Asahi observou-a e assentiu por fim, retirando o abafador, devagar e fez uma pequena reverência.
- Sinto muito... Enquanto eu estava na igreja... Kazuma estava lá fora. Ouvir uma bomba significava que ele poderia estar morto. Algumas vezes, ele foi atingido e eu mesmo cuidei dele, pensar que ele pode se ferir é o que me assusta... Sei que ele está aqui comigo, mas não consigo parar de me preocupar. - Disse a segurar a mão do outro, sutilmente em frente a eles. - Ele... Ele é tudo na minha vida.
Kazuma ouviu-o se disparar a falar, achou curioso na verdade. Ela, ao ouvi-lo, também achava graça mas sorriu com cortesia, o pai, olhou por cima, sutilmente enquanto continuava a comer.
- ... Desculpe, estou nervoso.
- Tudo bem. - Kazuma acariciou seus cabelos curtos e louros.
- Eu sei, meu anjo. Seu jantar está muito bom. Kyoshi-kun não fala muito, mas não se acanhe.
O loiro assentiu e sentiu a face corar.
- ... Eu peço desculpas porque... Foram muitos anos sozinho, então... Eu tendo a falar demais.
- Não falou demais, mas se declarou em público.
Kazuma disse, confortando-o em sua falta de jeito. Novamente, Asahi sentiu a face queimar, se sentiu constrangido, o riso soou entre os dentes do moreno.
- Não se envergonhe, querido. Já somos velhos, não somos jovens impressionados pelo amor. Além de que, está preocupado por nosso filho, isso é adorável.
Asahi assentiu, ainda assim estava meio chateado por ter dito.
- A senhora quer mais comida? Eu... Posso buscar.
- Estou satisfeita, rapazinho. Mas acho que o pai precisa de um pouco mais.
- Estou satisfeito, obrigado.
- Não, você tem comido pouquíssimo. Precisa de mais.
- Eu estou bem, mulher.
- Vai comer mais sim.
- Deixe ele, mãe. Em minutos é provável que alguém lhes sirva um chá de tarde. Sabe que nesse tédio o que fazemos é cozinhar e comer.
Asahi sorriu meio de canto.
- Eu farei o chá e verei se há ingredientes para fazer biscoitos, sei que o senhor gosta dos de gengibre.
Kazuma podia vê-lo assentir, sutilmente movendo a cabeça. Era um homem silencioso, visualmente carrancudo, mas evidentemente tímido. Asahi novamente faz uma pequena reverência e virou-se para ele, indicando que queria ir ao quarto. Após se despedir dos pais, tão logo Kazuma guiou o rapaz de volta ao quarto.
- Não fique tímido.
- ... Nossa, eu só falei bobagem...
- Claro que não.
Asahi negativou.
- Quer dizer, me declarei para os seus pais, isso foi... Desnecessário.
- Minha mãe lhe disse, demonstrações de afeto não lhes são impressionantes. Não são pais de primeira viagem ou adolescentes.
- Hai, mas... Me desculpe, é complicado pra mim agora socialmente, na igreja eu tinha tantas restrições... Não sei impressionar ninguém.
- Você não precisa impressionar ninguém. Eles gostam de você.
Asahi arrumou uma pequena mecha do cabelo atrás da orelha e assentiu num pequeno sorriso.
- ... Você é tão bonito, as vezes eu me surpreendo de olhar pra você. - Riu.
- Você é um pequeno padre tarado. Mas eu entendo, me pergunto como encontrei um adolescente pra pegar.
Asahi riu.
- Ah, um adolescente é? Eu tenho quase trinta anos, farei trinta esse ano.
- Uh, quem olha pra você não diz isso. É um garoto.
Asahi sorriu.
- Você me ensinou a ser, eu não tive muito tempo pra ser um garoto.
- É, agora vai ser como uma criança com outra.
- Acho que sim. Riu. Eu gosto... Que tenhamos essa juventude toda mesmo sendo mais velhos. É... Romântico.
- Gosta, é?
Kazuma disse, achou graça do comentário. Não era de fato um homem romântico, pensava, mas tentava ser ao menos mais gentil. Asahi assentiu num pequeno sorriso.
- Obrigado por me ensinar tudo.
- Ainda não ensinei tudo. Mas eu acho que teremos tempo.
Asahi assentiu e abraçou-o, firme. Kazuma retribuiu seu abraço, embora sem firmeza como ele. O levantou do chão e logo o devolveu para a cama. O loiro agarrou-se nele e riu baixinho conforme foi para a cama, deitando-se.
- Vem... Deita comigo...
- Ta bem, eu deito, eu deito.
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