Midori e Akai #5


Um suspiro deixou os lábios de Akai, era pesado. Estava na escola, mas era obrigado a estar lá naquele dia, estava com dor, o corpo todo, mas especialmente uma parte dele. As três primeiras aulas, não havia visto o amigo, eram aulas diferentes, mas agora era o intervalo, e ao sair, teve que tomar outro remédio, bebendo alguns longos goles da garrafa d'água, tinha mesmo que voltar a praticar esportes, assim não sentiria o corpo tão dolorido por ter se esforçado minimamente. No corredor, viu Hiro sozinho, sorriu para si mesmo, meio de canto.
- E aí, nada das namoradas?
- Fala baixo, seu merdinha. 
Hiro dizia ao esfregar seus cabelos e bagunça-los, certamente não gentil como faria Midori.
- Ai, caralho, não faz isso que eu estou dolorido. - Akai disse a se encolher. - Ninguém ouviu porra.
- Dolorido por que? Você nem foi fazer a aula de educação física. Não vi o Midori hoje, você viu? Depois que chegamos ele desapareceu.
- ... Ah, eu... Estava fazendo uns exercícios em casa. E... Sabe como é. - Akai disse num sorrisinho, mas sumiu conforme o ouviu falar do amigo. - Desapareceu?
- Exercícios, sei, faz nem aqui imagine em casa. Se seu padrasto estiver sendo cuzão, você já sabe que pode ir ficar lá. É, você viu ele hoje depois da entrada? Sumiu.
Akai sorriu meio de canto. 
- Ah não... Ele não fez nada, tudo bem. - Disse e suspirou. - Hum... Vai ver ele só está ocupado com alguma coisa. Acho que depois ele aparece.
- Hum, deve ser. Vamos lá comprar uma pizza pra você.
- Hum, eu aceito. 
Akai disse num sorriso e ajeitou os cabelos antes bagunçados por ele. Na sala de aula Midori ainda estava ocupado, havia terminado sendo alugado por um dos professores, na verdade o alugou também. Ao desviar a atenção brevemente, viu os amigos passando pelo corredor, sentado onde estava, cruzou o olhar com Akai, que logo seguiu seu rumo. Não sabia se estava disfarçando ou se simplesmente não havia visto a si lá dentro. No fim, esperaria até o fim da aula. Ao passar pela sala dele, Akai o viu de fato, mas não entendeu. Não entendia porque ele ainda estava ali e não havia ido falar consigo, talvez estivesse bravo pelo que haviam feito, não sabia, mas era estranho porque no dia anterior ele estava tão dócil mesmo quando foram dormir juntos. Suspirou, estava preocupado, e nem a pizza conseguia pensar em comer, por isso, ficou com ela na mão. 
- ...
- Hey, não vai comer Akai Ito? - Hiro dizia, brincando com o amigo.
Akai desviou o olhar a ele e estreitou os olhos.
- Que nome romântico pra me dar. - Disse no riso. - Vou... Só estou meio sem fome.
- É um ótimo trocadilho. Talvez Midori deva te chamar assim. - Hiro disse, era uma provocação típica. - Como assim sem fome? Você está sempre com fome.
- Eh? Claro que não! Por que o Midori me chamaria assim? - Akai disse até meio exagerado e estreitou os olhos, mas mordeu a pizza. - ... Sei la.
- Rolou uma tensão? - Indagou diante da reação do amigo, mais intensa que o normal. Não que realmente soubesse de algo, mas tinha o hábito de provoca-lo, daquela vez porém fora mais exagerado ao reagir. 
- Vocês brigaram, foi?
Akai estreitou os olhos e bateu no ombro dele, sem força. 
- Não brigamos, ele é um merda, fica ignorando a gente.
- Ah, tá com saudade.
- Não estou com saudade!
- Tá beleza. 
Hiro sorriu e continuou o lanche, imaginando que algo havia acontecido com os amigos, mas o deixou comer enquanto fazia bico torto, resmungando sozinho durante o lanche. No fim seguira para a aula, até o final dela, onde acabou encontrando os dois, Midori e Akai, embora pouco pudessem falar diante da matéria. Ao terminar a pizza, mesmo ainda sem fome, Akai seguiu para a sala, e se sentou no único lugar vago, que era do lado de Midori mesmo. Mas tinha os olhos estreitos, estava puto com ele. Ao entrar, jogou na mesa dele o pacote com as balas, silencioso a desviar o olhar ao livro. Midori fitou-o ao lado confirme se sentiu, até deu um sorriso de canto, mas murchou antes de terminar um pouco maior, sem entender, imaginou que talvez fosse pelo que fizeram antes? Bem, já havia passado em frente a sala e ignorado a si. Akai manteve-se em silêncio a aula toda, não queria falar com ele, se estava puto consigo ou evitando a si, dane-se, bem, era o que dizia para si, porque estava irritado.No fim da aula, se levantou junto dos dois, Hiro e Akai, seguiram o caminho até a saída, trocando palavras que apenas Mitsuhiro vinha respondendo. 
- Parem de brigar, crianças.
Akai desviou o olhar ao amigo e negativou.
- Não estamos brigando.
-  Estamos mais para ignorando que brigando. 
Midori respondeu ao amigo, e por tabela, ele também.
- Hum. - Akai disse a estreitar os olhos. - Hiro, aquela não é a Sensei falando com a Miyuki?
Midori assistiu o amigo de virar com sutileza, tentando visualizar a situação sugerida, sabia disfarçar, teve de sorrir diante de sua calmaria.
- Vish. - Disse num sorrisinho. - Deu ruim, é?
- Deu nada. Fica quieto. Eu volto logo.
Akai riu e assentiu. 
- Tá bom. 
Akai disse e conforme o viu sair, desviou o olhar ao amigo, mas ainda não disse nada, cruzou os braços.
- Você está bravo hoje?
Akai desviou o olhar a ele. 
- Não estou bravo, você que me ignorou o dia todo.
- Eu não ignorei você.
- Ignorou sim, não veio falar comigo na entrada, nem na troca de aulas.
- Eu não vi você, mas quando passou na frente da sala ignorou, você quem estava me ignorando.
- Eu não estava ignorando você!
- Virou a cara quando passou.
- Porque eu achei que você estava me ignorando.
- Eu não estava, eu só fiquei falando com o professor de artes.
- ... Hum. 
Akai disse e suspirou, cruzando os braços.
- Vai pra casa do Hiro hoje?
- ... Vou. - O menor disse a fita-lo de canto. Midori assentiu com um maneio da cabeça. 
- Você vai?
- Sim, mas tenho que comprar uns materiais primeiro. Acho que não vamos passar no fliperama hoje.
- Hum... Tudo bem, eu posso ir com você?
- É claro, bora. 
Midori disse e como tinha hábito, tocou seus cabelos mas não bagunçou, diferente de Hiro. Akai sorriu meio de canto, mesmo sem perceber e ajeitou a mochila nos ombros, mas fez uma pequena careta, ainda tinha o corpo dolorido. Diferente do que costumava no entanto, daquela vez, Midori deslizou a mão até sua nuca onde acariciou brevemente. Bem, deduziu que era o menor dos problemas diante do que já haviam feito. 
- Hum... Vejo que fizeram as pazes. - Hiro dizia ao ver os amigos quando voltou até eles, notou a mão de Midori. - Rolou até o carinho.
Akai suspirou ao sentir o carinho, gostava dele, mas cessou quando viu o amigo voltar e segurou a mão do loiro, apertando-a sutilmente em meio aos dedos. 
- Ah, não... Midori estava coçando... Um mosquito me picou.
- E você não tem mão, não é? Mas então, vocês vão na frente, vou levar a Miyuki. 
- Beleza. Vamos passar pra comprar uns materiais.
- É que eu não alcanço. - Akai falou, fingindo-se desentendido e assentiu. - Vamos, já vamos pra sua casa.
Midori despediu-se do amigo e no fim seguiu o mesmo lado que ele, pelo menos até chegarem à saída e logo se tornou oposto. 
- Você quer ir de metrô ou de carro?
- Podemos ir de metrô mesmo. - Akai disse num suspiro. - Você... Pegou as balas, certo?
- Balas? 
Midori indagou, imaginando se havia deixado passar batido. No fim seguiu com ele pelo caminho até a estação que era próxima dali. 
- Sim, as que eu joguei na sua mesa.
- Ah, sim, eu peguei sim. 
Midori disse e se lembrou de inclusive pegar uma das pequenas bolas vermelhas de canela e levar para a boca. Akai assentiu, era o próprio jeito de pedir desculpas pelo fato, ou talvez um jeito sutil de agrada-lo. O maior entrou na estação logo após passar pelas catracas, numa das plataformas ficou no silêncio de espera até o metrô enfim chegar. Não estava muito cheio, mas também nada vazio, era o horário de saída dos colégios, então terminaram em pé. Ao entrar com ele, Akai ainda estava silencioso, segurava a alça da mochila com uma das mãos e com a outra na barra do metrô. 
- ... Não vou poder passar em casa hoje.
- O que? 
Midori indagou, não havia escutado exatamente o que disse então se aproximou para ouvi-lo. 
- Não... - Akai disse e fitou a orelha dele, os cabelos que cobriam sutilmente ela e suspirou. - Não vou poder passar em casa hoje.
- Aconteceu alguma coisa? 
Midori indagou, não entendendo bem do que se tratava, mas sabia alguma coisa sobre seus pais serem difíceis, por Hiro, não por ele. Akai desviou o olhar a ele e negativou. 
- Ah não, meu padrasto vai estar em casa hoje e eu não me dou muito bem com ele. Trouxe algumas roupas na bolsa.
- Ah, entendi. - O maior disse, mas se aproximou para dizer, o barulho fazia precisar se aproximar para não ter de falar alto. - Você pode dormir na minha casa se quiser.
Akai desviou o olhar a ele.
- ... Mas e a casa do Hiro?
- Hum, pode ir também. 
Midori ajeitou a mão ao se segurar, quase de modo clichê acabou por segurar a mão dele. 
- Eu prefiro dormir na sua casa. 
Akai disse, firme, não tinha traços de hesitação na voz, não estava encarando como se fossem algo além de amigos ainda e costumava dormir com ele em sua casa. Ao sentir o toque da mão, desviou o olhar a ele, e as bochechas queimaram por um momento. Midori havia notado o toque, embora ele fizesse perceber com maior veemência uma vez que pareceu fazer jus a seu nome, estava vermelho. Sorriu canteiro e subiu um pouco mais a mão, deixando de recobrir a dele. 
- Desculpe. Então vamos pra minha casa.
O menor negativou ao ouvi-lo. 
- Tudo bem... Então vamos sim. Que material você vai comprar?
- Materiais de arte. 
Midori sorriu, canteiro e embora fosse brando, estava animado. 
- Ah, eu sei, mas... Pintura? Ou vai desenhar?
- Bem, preciso desenhar pra pintar, então os dois.
- Ah, entendi...
- Eu... Eu gosto dos seus desenhos.
- Valeu. -
Midori sorriu e tocou sua cabeça, bem no topo, tipicamente. No fim deixou o vagão tão logo que atingiram a parada desejada e feito isso, não precisaram andar demasiadamente pelo centro até achar uma das lojas de materiais de arte. Akai assentiu a ele e seguiu pelo centro, silencioso até alcançar a loja que ele queria. 
- Nossa... É grande.
- É mesmo. 
Midori disse e sorriu, seguiu com ele pela loja, buscando pelos corredores tudo o que precisava e também o que era atrativo aos olhos. Silencioso, Akai seguiu com ele pela loja e observava os materiais apenas, não sabia muito bem pra que serviam, então só o fitava pegar. A única coisa que chamou a própria atenção foi um lápis de cor com a ponta bem colorida que parecia um universo. Midori seguiu caminho distinto dele, que não tinha real interesse nos materiais mas olhava ainda assim. Cruzou num dos corredores com ele e já tinha buscado tudo o que precisava. 
- Já peguei o que precisava. - Deu um risinho. - Se entediou?
- Bastante. Mas escolhi um lápis pra... Não vou usar pra nada, mas achei lindo.
Midori riu e pegou o lápis, levando consigo na cesta, junto do que havia comprado para si.
- Ah, pode deixar que eu pago. - Akai disse, tentando pegar o lápis. - Hey!
- É só um lápis, você veio comigo.
Akai assentiu no fim e fez um pequeno bico. 
- Tá bem.
Midori sorriu canteiro e percebeu que estavam de alguma forma, agindo esquisitos; ainda assim, normalmente, era estranho entender, mas era como se estivessem fingindo que nada acontecera ou que talvez tivessem sonhado. No fim pagou tudo o que precisava e então seguiu caminho até estação de metrô de onde haviam vindo. 
- Quer comer alguma coisa antes?
Ao sair com ele, Akai ajeitou a bolsa no ombro e se lembrou que talvez fosse melhor tomar outro remédio, mas longe do amigo. 
- Que tal pizza?
- Você só pensa em pizza. Podemos comer pizza a noite.
- Ah... - O menor disse a unir as sobrancelhas. - É que pizza é a melhor coisa da vida.
- Naa, devia me falar de onde é essa pizza que você tanto gosta.
- É da Oishi. Aquela pizzaria no centro.
- Bem, aqui no centro. Então certo, podemos ir.
- Ah, verdade estamos no centro. - Akai disse a fitar o local em volta. - Você nunca vai comer uma pizza tão boa! A massa derrete na boca!
- Hum, vamos ver. Então vamos até lá. 
Midori disse e por fim alteraram o caminho, seguindo pelo local normalmente cheio de pessoas, nas naquele dia estava mais tranquilo, talvez pelo dia da semana. Com ele, Akai seguiu até a pizzaria e ao entrar, pediu uma mesa, já conheciam a si, então fora muito bem recebido.
- Akai! Como vai nosso melhor cliente?
- Bem, e vocês? - Akai disse num sorriso. 
- Bem! Vocês podem escolher a mesa.
O menor assentiu e escolheu uma do fundo, sentando com ele. Midori cumprimentou o atendente junto dele e seguiu até a mesa qual escolheu. Imaginava o quanto ele ia ali para ser lembrado pelo atendente ou se era apenas muito extrovertido como sempre e chamava a atenção. No fim se sentou com ele. 
- E qual a sugestão?
- Eu gosto da de quatro queijos e brócolis. Apesar de não ser muito saudável, mas a de cheddar e bacon é a minha favorita.
- Sabores fortes. Eu quero uma tradicional, queijo.
- Que sem graça.
- É, mas você gosta de sabores muito fortes...
- É nada, você que é fresco.
- Você que é guloso.
- Sou nada. 
Akai disse a estreitar os olhos, e sentiu a face se corar por levar a frase de outra forma.
- O que? Não precisa ficar com vergonha. 
Midori disse, imaginando que a timidez era por provoca-lo, nada com teor sexual. 
- Não estou com vergonha. 
Akai disse, e estreitou os olhos, tirando da bolsa o pequeno remédio que tomou junto da água servida e fez o pedido da pizza favorita para si e a de queijo para ele. Midori observou a medicação mas não perguntou nada. No fim agradeceu ao serviçal esperando pelo lanche mas aceitou antecipadamente a bebida.
- Ah... Você vai fazer mais alguma coisa depois da aula, tipo... Esporte?
- Está falando da aula extra curricular?
- Isso.
- Bem, é por isso que estou comprando os materiais de arte. Sei que não vou realmente trabalhar com isso no futuro, mas se tenho que fazer aulas extras, que ao menos eu curta isso. E você?
- Ah... Entendi. Eu não sei, acho que não vou fazer nada. Não me identifico direito com nada.
- Ah, eu acho que no fim todos nós estamos desse jeito.
Akai suspirou e desviou o olhar a ele, por um momento percebeu que gostava de olhar pra ele, ele era tão bonito. Mordeu o lábio inferior e desviou o olhar ao cardápio. Midori olhou para ele e percebeu que mordera o lábio, parecia analítico, até arqueou a sobrancelha suavemente, sem intenção, mas no fim aceitou e agradeceu o pedido. 
- Tudo bem?
O menor aceitou o pedido igualmente e desviou o olhar a ele ao ouvi-lo. 
- Eh? Ah... Sim. É que seus olhos meio que brilham.... Nessa luz. 
Disse e arqueou uma das sobrancelhas para si mesmo, havia realmente dito isso? Realmente? Meu Deus.
- O que? - Midori riu, achando graça da leve brisa do moreno e negativou consigo mesmo. - Os seus também.
Akai desviou o olhar a ele e sorriu meio de canto, deixando evidente que não deveria ter dito aquilo. 
- Desculpe.
- Não é nada de mais. 
Midori disse e esticou a mão, tocou seus cabelos e daquela vez, diferente do habitual, deslizou suavemente e pegou uma mecha. O menor desviou o olhar a ele conforme sentiu o toque e sorriu meio de canto, percebeu que quando pensava nele, tinha um frio no estômago, e até perdia a fome, coisa que era quase impossível para si. É porque gostava dele, mas não sabia como dizer nem a si.
- Bem, vamos provar a pizza. 
Midori disse e sorriu a ele, não falara nada sobre o afago, nem mesmo tentou desvencilhar mesmo em público. No fim soltou a mecha e deu atenção a pequena pizza servida inteira. Akai suspirou e fitou a pizza, pegou sem a vontade que estava no início, queria mesmo era dar um beijo nele, absurdo. Mordeu a pizza e suspirou. O maior pegou a mini pizza e já estava preparado para seu resmungo enquanto fatiava a pequena pizza com talheres. Levou o pedaço a boca, sentindo o queijo e massa, macios como ele sugeria. 
- É mesmo bem gostoso.
- Hum, não estraga a pizza com o garfo e faca. - Akai disse a estreitar os olhos. - Só falta colocar ketchup.
- Não me enche o saco. Vou colocar ketchup em você.
- Vai o cacete.
- Vou colocar na sua pizza.
- Não vai.
Vagarosamente, Midori seguiu em direção ao pequeno frasco de molho, ameaçando pega-lo.
- Não! Midori, eu juro por Deus que eu enfio esse frasco no seu nariz.
- No nariz? Que bonzinho.
- É. - Akai riu. - Se quiser eu enfio em outro lugar.
- Não, eu não quero nada. Mas eu enfiaria noutro lugar se você me enchesse o saco. Come logo essa pizza.
Akai riu e desviou o olhar a própria pizza, ponderou a dor que seria ter aquilo enfiado em si dolorido como estava e estremeceu. Midori sorriu canteiro e no fim continuou a comer da própria. 
- Você quer passar no Hiro ou quer ir direto pra minha casa?
- Podemos ir pra sua casa mesmo.
- Hum. Então precisa avisar o Hiro, vai que ele quer levar uma das minas dele pra casa.
- Hum, eu mando mensagem, peraí. 
Akai disse e retirou o celular do bolso, digitando para o amigo enquanto tinha a pizza na boca. Enquanto comia, Midori prestava atenção nele digitando a mensagem, um pouco desajeitado com a pizza. Pôde ver com seus olhos baixos os cílios que pareciam longos para um rapaz. 
- Pronto. 
Disse o menor a deixar a pizza de lado e sorriu meio de canto a ele.
- Vou levar algo daqui pro meu pai, você pode sugerir algum sabor. 
Midori disse, perdendo o devaneio sobre seus cílios alongados. 
- Ah... Melhor você, se seu pai for que nem você vai gostar tipo... De queijinho.
- Qual do diminutivo? Somos japoneses, você que é esquisito.
- Acho que sim. - Akai riu.
- Provavelmente. Bem, acho que podemos pedir entrega hoje a noite, você provavelmente vai querer mais.
- Hum, comemos quentinha. Eu pago a entrega. Quer dizer... E a Pizza.
- Não, eu pago. Você é meu convidado, deixa de frescura.
Akai riu, meio desajeitado. 
- Ótimo, porque você sabe que eu sou pobre. 
Disse num riso, embora soubesse que meio que era verdade. Midori riu, entre os dentes. 
- Não seja tolo.
- É brincadeira.
Akai riu, dito, fitou a mesa, ele não sabia, só quem sabia era Hiro, que não tinha condições de pagar a escola, tinha bolsa, e tinha que manter as notas para sustentar essa bolsa, mas era um bom aluno, sem muitas surpresas, passava sempre na média, nada muito impressionante. Nunca o havia levado na própria casa, não queria que ele soubesse nada sobre si, nem a história correta dos pais achava que ele conhecia, e tudo bem. Não era o tipo de pessoa que se lamentava pela vida.
- Você quer mais? 
Midori indagou quando o viu terminar a pizza. Ele comia sempre com vontade, era agradável de se ver. Não sabia com certeza sobre toda a situação em sua casa, mas tinha noção de que as condições não eram das melhores, talvez não financeira, mas comportamental, sabia do que acabava comentando com Hiro, sem se aprofundar demais.
- Ah não, estou satisfeito. Teremos mais a noite. - Akai sorriu.
- E se pedirmos uma doce? Eu gosto de pizzas doces.
- Hum, pode ser. Eu gosto de tudo.
- Já provou todas?
- Todas. - Akai sorriu. - Menos a nova de frutas vermelhas com chocolate.
- Hum, e você quer qual?
- A que você quiser.
- Escolha uma que você gosta.
- Hum, doce eu gosto da de chocolate com morango.
- Bem mocinha. - Midori provocou, tipicamente, mas formulou o pedido. - Você quer beber o que?
- Mocinha porque gosto de chocolate e morango? O que seria uma pizza de macho?
- Não estou falando da pizza, estou falando do moranguinho com chocolate, geralmente as garotas gostam disso. Não precisa levar tão a sério. 
Midori disse e esfregou seus cabelos.
- Não tô levando não, queria entender seu raciocínio. - Akai disse e riu. - Eu quero uma coca.
- Hum, não é você quem sai com várias garotas? Deveria saber o quanto elas gostam disso. 
Midori disse e sorriu canteiro. Pediu também a bebida.
- Eu sei disso. Pff. - Akai pigarreou.
Midori sorriu a ele e esperou pela pizza doce, que anunciava a chegada pelo aroma adocicado do chocolate. Olhou para ele e percebeu que havia lhe dado uma alfinetada mesmo sem perceber. No fim repartiu a pizza e com o que sujou da mão, passou em seu queixo, onde ele conseguiria lamber. 
- Hey!
Akai disse e lambeu o local, meio desajeitado e estreitou os olhos. Midori riu enquanto o assistia esticar a língua para lamber o queixo, no fim, partindo a pizza ao meio, para os dois. 
- Vamos comer juntinhos. 
Midori brincou percebendo um pouco depois que a brincadeira parecia diferente agora. Akai sorriu meio de canto a pegar a pizza e mordeu um pedaço. 
- Hum... Você vai gostar, eu acho...
- É, é gostoso. 
O maior disse ao morder a pizza, embora fosse mais interessado no chocolate, não era muito fã de morangos. Akai sorriu e mordeu a própria também, observando-o enquanto comia, droga, achava ele realmente bonito.
- Gosto que tenha chocolate meio amargo. 
O maior sorriu e ao desviar o olhar para ele, percebeu que era encarado, imaginava se ele pensava as mesmas coisas que si. Akai riu baixo e desviou o olhar. 
- Ah, sim... O chocolate é bom.
Midori assentiu, quis toca-lo, não intimamente, não como a noite anterior, embora pudesse pensar naquilo novamente, mas, apenas encostar, foi assim que levou a mão a seu rosto e esfregou suavemente sua bochecha sem qualquer motivo. 
- Parece criança, se sujando pra comer. - Fingiu.
Akai riu ao sentir o toque e negativou, segurando a mão dele, queria que ele tocasse, mas ainda parecia estranho, não queria dar o braço a torcer nem para si mesmo. 
- ... Ah... Podemos ir?
- Vamos, você engoliu a sua. 
Midori disse e e finalizou a pizza, ele parecia apressado então após pagar, enquanto se levantava terminava de comer o que restava. No fim bebeu um pouco de refrigerante e esperou por ele.
- Eu queria pagar também, Midori. 
Akai disse, retirando o dinheiro do bolso e entregou a ele.
- Não precisa, cara. Você me acompanhou. - 
Midori disse, recusando o dinheiro.
- Bom, eu pago a da noite então.
- E você acha que meu pai vai deixar? 
O maior disse e sorriu canteiro enquanto já traçavam o caminho partindo à estação de metrô. 
- Bom, eu posso tentar. 
Akai disse num riso e seguiu com ele, com as mãos no bolso da blusa.
- Nem adianta. 
Midori sorriu canteiro e por fim adentrou a estação, parou na plataforma e com ele esperou a chegada nada tardia do metrô, tomou-o logo, levando as sacolas com os materiais, estava empolgado. Ao entrar com ele, o menor segurou na barra com um sorrisinho, sabia que ele estava feliz pelos materiais.
- Vai começar com o que?
- Bem, não sei como serão as aulas, falei com o professor hoje por isso demorei, mas aparentemente vamos passar por várias áreas, óleo, aquarela, grafite e mangá.
- Ah, entendi. Eu quero muito ver seus desenhos.
- Hum, vou mostrar pra você quando fizer algum.
Akai sorriu.
- Legal que você tenha esse talento.
- Não é nada impressionante. Mas vai ser um passatempo legal. E você? Você gosta tanto de comer, devia pegar economia doméstica, ia ficar cercado pelas garotas.
- ... Ah, não... Isso é coisa de viado.
- Não é coisa de viado.
- É sim, só tem mulher.
- Bem, como eu disse, melhor pra quem quer ficar só com mulher.
- Hum... - Akai disse e sorriu meio de canto. - Não, estou tranquilo.
- Sei, seu machista de merda.
- Eh? Não sou machista!
- E homofóbico.
- Não sou homofóbico! Caralho.
- É, quem sabe.
- Eu aceito você, não dá pra ser homofóbico. - Akai disse, mas estava zoando, era claro.
- Aceita, é? Até aproveita. 
Midori disse, talvez um pouco provocativo quanto ele.
- Aproveito nada. Palhaço.
O maior sorriu, sem mostrar os dentes. Akai sentiu a face se corar e negativou. 
Tão logo tomavam partida para casa, Midori dentro do veículo metalizado, com mais pessoas que na ida, agora a volta tinha também alguns trabalhadores em fim de turno. Ao sair da estação com ele, Akai ajeitou a mochila sobre os ombros.
- Vamos logo, estou cansado.
- Mas já? 
Midori indagou conforme seguiu caminho fora da estação até em casa, não era longe dali. Alguns passos e uns minutos e logo estava ali.
- Eu acordei cedo hoje. Dormi em casa. 
Akai disse num suspiro e seguiu com ele até a entrada.
- Ah, bem, hoje você vai dormir melhor. 
Midori sorriu, canteiro e tocou seus cabelos, como o de uma criança. O menor sorriu meio de canto.
- Sim, vou sim.
Ao ceder passagem, Midori fechou a porta logo atrás dele. 
- Você pode ir tomar banho se quiser, meu pai chega mais tarde hoje.
- Ah, tudo bem então. Me empresta uma toalha, eu trouxe algumas roupas.
- Tudo bem. Você vai ficar no meu quarto?
- Vou, ué. Sempre fico.
- Hum, tá bom.
Midori disse e talvez fosse o único pensando sobre a noite passada. Seguiu com ele até o quarto, mas buscou as toalhas antes de indicar o cômodo para o banho. Akai aceitou a toalha com um pequeno sorriso e tirou a gravata do uniforme, deixando sobre a cama, junto da mochila e seguiu ao banheiro, pensou em fechar a porta, mas deixou-a aberta. Sempre tomava banho assim na casa dele porque a verdade é que ele não tinha interesse em si antes, e achou que se fechasse, ficaria estranho. No meio do caminho, Midori seguiu para a própria cama, afrouxou da mesma forma a gravata do uniforme mas esperaria o banho dele. Enquanto desajeitava o uniforme, teve vista dele no banheiro, acabou dando uma breve observada, afinal, nunca havia feito aquilo, também nunca havia dado atenção ao porte físico de Akai, embora achasse o amigo consideravelmente atraente, mas em algum momento terminou curioso, talvez pelo fato de que haviam se beijando, haviam se tocado, e havia sido no escuro. Por um instante o olhar cruzou com o dele, mas  se olharam de fato, sem dizer nada, também não desviaram como se nada houvesse acontecido, haviam se visto e deixado claro, mas continuaram a atividade sem nada a dizer. 
Após o banho, Akai voltou para o quarto e o fitou, enquanto tirava seu uniforme, estava de toalha, mas também não queria falar sobre seu olhar ou sobre o que haviam feito. 
- ... O que vamos fazer? Jogar?
- Você pode descansar. Não queria dormir um pouco?
- Hum... Queria. Mas sei que você não, não quero te deixar entediado.
- Não vou ficar, se você não estivesse aqui eu teria de fazer algo diferente de todo modo. Dorme aí, sei que minha cama é como um calmante pra você.
- Hum...- Akai estreitou os olhos. - Tá bem. Escuta... Você vai viajar agora no natal?
- Hum, eu ia te perguntar. Não sei se meu pai tem algum plano, mas se você não tiver compromisso, podemos passar juntos e tal...
Akai sorriu meio de canto. 
- Ah, eu... Só ia passar pra te ver um pouco, vai me aguentar a noite toda? Até no bolo?
- Bem, já não te aguento normalmente? -
Midori sorriu, canteiro. Não era sacrifício algum. Akai riu ao ouvi-lo e assentiu. 
- Hum, então tá bom.
- Então tá marcado.
O menor assentiu e sorriu a ele, deitando em sua cama.
- Bem, eu vou tomar banho. Bom descanso. 
Midori disse e seguiu caminho ao banheiro. Gostava de vê-lo dormir na verdade, Akai costumava dormir feito uma pedra durante a tarde, era como se suas noites de sono nunca fossem de qualidade então estar ali dormindo, lhe dava um bom proveito, fazia sentir vigor por ele, fazia sentir que a cama era realmente muito boa. Após o banho, um pouco demorado, voltou e o olhou enroscado ao lençol da cama. Akai assentiu a ele, e ajeitou-se em sua cama, mesmo somente com a boxer e a camiseta. Não se importava de dormir daquela forma, achava que o que haviam tido fora algo isolado, embora as vezes, quisesse fazer de novo. Mal deitou em seu travesseiro, e dormiu como uma pedra.
Quando Midori voltou, diferente de Akai não ficava de roupa íntima facilmente pela casa, mas ficou de calça e sem camisa, estava um tempo fresco. Se sentou à beira da cama e olhou-o como estava, notando sua figura dorsal, na posição fetal que estava, acabou dando uma conferida em seu físico, na forma como a roupa íntima estava justa ali atrás, pensou sobre o que haviam feito e imaginava se deviam ter feito. Esticou a mão e gentilmente tocou sua nuca aparente, acariciando a pele, sem qualquer intenção. Akai suspirou, estava num sono tão gostoso, e sonhava com ele, então aquele toque, era mais vivido ainda, sonhava um dia comum de escola, onde ele bagunça anos próprios cabelos como sempre. Midori se deitou, devagar se ajeitou perto dele. Em silêncio continuou a encarar sua nuca, mas resolveu cochilar junto dele, apenas um pouco. 

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