Yasuhiro e Yoruichi #14


O kimono deslizou sobre os ombros de Yoruichi, até alcançar o chão, havia se entretido com algo na cozinha até a tesoura rasgar o tecido, e a pele. Havia aberto um buraco e precisava de sangue para melhorar, o problema é que não tinham sangue em casa, teria que sair para caçar, e o machucado expelia sangue. Estranhamente havia começado a sentir umas sensações estranhas vindas dele, alguns de seus sentimentos, por isso, esperava que ele pudesse sentir a si de alguma forma, chamá-lo, mas tinha todo o tronco desnudo e não havia pensado sobre quando o fez.

Yasuhiro caminhou pela casa extensa, cujo quarto detinha direção completamente oposta ao do moreno, precisava de uma caminhada até alcança-lo, embora é claro, não fosse a ponto de demorar alguns minutos pra isso. Deslizou a porta de seu quarto, sem bater, não tinha necessidade de fazê-lo. O contrário do que ele poderia querer, não havia de fato sentido sua sensação de dor, apenas algo como um chamado, era estranho mas sabia do que se tratava e por isso, seguiu até lá.
- O que ocorre, princesa? Resolveu ter a mim em sua cama?
Indagou ao vê-lo de costas, despido, não tendo em vista seu ferimento.

- Iie... 
O moreno falou e uniu as sobrancelhas, pressionando a cintura onde havia feito aquela proeza sozinho e expelia sangue suficiente para fazer cheirar por todo o ambiente, ele certamente o havia sentido.
- ... Não temos sangue, pode me ajudar?
- Como conseguiu algo como isso, Yoruichi? 
Disse o maior, quase exclamando e seguiu até ele com seu odor de sangue, fitando a pele manchada pelo sangue e tocou sua cintura, apertando a região onde ferido, estancando o sangue. 
- Cadê o gato? - Teve um tempo para brincar.
Yoruichi desviou o olhar a ele, estreitando os olhos.
- Eu queria abrir um baú que achei, mas... Foi uma só, eu não sei controlar a minha força. Já estou ficando tonto... Que gato? Caralho, foda-se o gato, eu estou morrendo!
- Você pode tomar o sangue do gato, idiota. - Yasuhiro retrucou - Talvez ele tenha sido amável sobre sua gentileza e foi atrás de um humano pra você conseguir se curar. - Provocou novamente. - Certo, tenho alguma coisa em meu quarto. Venha comigo.
- Não, não quero morder o gato, gosto de animais... 
Murmurou o menor e assentiu, levantando-se e apoiou-se nele, sentindo o sangue escorrer pelo corpo, manchando o kimono.
- Você é o que? Uma torneira aberta, ah? 
Disse o maior e por fim o pegou no colo deliberadamente, levando-o caminho pelo corredor, seguindo pelo aveludado extenso carpete vermelho sobre o piso de madeira até finalmente chegar no próprio quarto, já de porta aberta, onde o guiou para a própria cama e acomodou junto a seu quimono, onde seu novo bicho de estimação havia se acomodado sem pudores. 
- Ah?! Sai daí, folgadinho! 
Disse ao bichano, mas buscou o sangue numa jarra pequenina ao lado da cama e serviu no recipiente a pouco utilizado por si para a mesma finalidade, bebê-lo. 
- Aqui, devia ter algum em seu quarto.
Yoruichi agarrou-se ao redor do pescoço dele enquanto era levado, nem achou ruim estar sendo segurado no colo. Observou o pequeno cinzento deitado em sua cama e até sorriu de canto, aceitando o sangue que golou rapidamente, sentindo o ferimento se fechar, embora já houvesse sujado a cama ao redor de si e uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a ele.
- Desculpe...
- Oh, não se preocupe, podemos guarda-lo e dizer aos nossos pais que é de nossa noite de núpcias.
Yoruichi desviou o olhar a ele.
- Ah claro, só se você tiver me estourado inteiro por dentro.
Yasuhiro riu. 
- Bom, tudo depende do tamanho.
- Ah é? Como se você fosse muito grande...
- Ah é? Então você já viu?
- ... Não, mas eu imagino. - O moreno falou, ainda com um pouco de tontura. - ... Ah...
- Hum, então você fica imaginando sobre o tamanho do meu corpo, é?
- Não! Quem disse?
- Você disse que imagina como provavelmente é o tamanho. Então já pensou sobre isso, fez isso agora mesmo. Se quiser posso tirar sua dúvida.
- Não! ... Não precisa. Preciso voltar ao meu quarto.
- Se alimente e poderá ir. A hora que estiver capaz de fazê-lo. E bem, posso te mostrar, quer ver? 
Disse o maior e fingiu menção de desenlaçar o obi habilmente. O moreno deixou o pequeno recipiente ao lado e negativou, levantando-se a indicar a saída, observando o local, e parecia tão bonito, bem cuidado, sabia que era o quarto de ambos, e onde deveria dormir, ele dormia lá, mas havia trocado de quarto para não ficar perto dele, e embora tivesse raiva dele devido ao humano, observou seu rosto, seus traços brincalhões e aos mesmo tempo dócil, e sentiu-se mal por agir daquele modo com ele.
- ... Talvez outra hora. 
Disse, impassível até mesmo para si, gostava dele, mas não sabia o porque daquele medo que sentia.
- Ah, talvez é? Me diga algo que eu já não saiba, pra variar, meu docinho. - Disse o maior a ele e por fim soltou o obi, deixando de lado a brincadeira. - Fique aí, beba um pouco mais, eu posso sair enquanto isso, tenho vontade de comer, talvez alguns bolos de arroz com cogumelos.
Yoruichi segurou o braço dele, sem muita forma ao vê-lo se dirigir à saída negativou.
- Quero ir com você...
- Até a feira? - Indagou, confuso.
- Hai... Vamos na feira.
- Então precisa beber mais e se vestir.
- Hai
O moreno falou e encheu o pequeno copo com mais do sangue, bebendo alguns longos goles, suficientes para saciar ao menos a sede que o corpo tinha devido ao corte e seguiu ao próprio quarto, onde escolheria um kimono bonito para sair com ele.
Yasuhiro não precisou ajuda-lo quando por fim se levantou bem recuperado de seu ferimento. Era habituado ao corpo sobre-humano com fácil cicatrização e era por isso, que não se desesperava com algo como aquilo ou até mesmo piores. Em sua saída, aproveitou e igualmente se arrumou como ele, vestiu-se da típica veste chinesa que gostava de usar, prendeu o cabelo num rabo de cavalo solto, preso na metade do comprimento e assim deixou o quarto, que como ele mesmo notava, era de casal e pertencia aos dois, ainda que dormisse sozinho por lá, ou não, tinha um gato na própria cama, mas o deixou por lá mesmo. Aguardou-o próximo a saída, esperando por sua troca de roupas. 
Yoruichi colocou o kimono escuro, presente da própria mãe, e tinha pequenas flores vermelhas decorando todo o tecido. Penteou os cabelos, optando por não prendê-los, e apenas colocou um pequeno adorno de flor na lateral, seguindo para a sala onde o observou a esperar a si com o incomum traje chinês.
- Por que gosta tanto dessas roupas?
- Eu vejo um grande charme nessas roupas. 
O maior disse, fitando-o no caminho de onde vinha, observando sua roupa bonita e bem detalhada, embora com sutileza.
- Podemos ir? 
O moreno falou e com um dos braços segurou o dele, passando-o para se guiar com o outro.
- Vamos. 
Yasuhiro disse e cedeu-lhe o braço, tomado assim deliberadamente por ele. Bipolar. Traçou o caminho que era um pouco espaçado até que pudessem chegar onde costumava ir, mas nada que fosse de grande esforço para vampiros. O menor seguiu com o outro, e mesmo aquela caminhada era de alguma forma agradável, pensava consigo que talvez devesse dar uma chance a ele, para reconquistar a si depois do ocorrido quando era mais novo.
O contrário dele, Yasuhiro seguia somente com a caminhada sem demais devaneios, não imaginava os motivos dele, nem sabia o que ele poderia ter de rancores, também, por não imagina-lo, não pensava mesmo em perguntar. Não demorou muito mais que uns minutos para alcançar o fluxo de pessoas, entretidas com a feira que começava naquela noite, cheirava frutas, flores e comida. 
Yoruichi observou a rua movimentada, pessoas que passavam carregando e servindo a comida e até mesmo alguns acessórios feitos com variados materiais. Fitou um leque vermelho, bonito, com a pintura floral e abriu um pequeno sorriso de canto, soltando-se dele e entregando o valor na mão da pequena senhora, que entregou o comprado a si. Voltou logo após até ele e entregou-o nas mãos do outro.
- Pra você, achei que combina.
O loiro fitou-o em seu caminho desvencilhado, o liberou para o passeio, foi e voltou rapidamente, como se nem houvesse pensado em sua aquisição e bom, provavelmente era o que ocorria, afinal, era certamente algo novo para ele. Na primeira vez que visitara um local como aquele, acabara voltando para casa com diversas sacolas e presentes para todos os serviçais, era tudo incomum, agora já havia se habituado. Observou o leque, abriu e se abanou com ele. 
- Combina mais com seu quimono vermelho. - Disse e o abanou, deu-lhe também uma piscadela. 
Yoruichi sorriu meio de canto e parecia maravilhado com aquelas pessoas que montavam as pequenas barracas em suas casas para fazer as vendas, era realmente, tudo um mundo novo para si, e queria desvendar, passear, conhecer.
- Vamos! Vamos comer!
O maior sorriu a ele, achando graça.
- Vamos! - Disse, dando-lhe um pouco mais de empolgação. - Vê só como tem várias coisas legais pra ver por aí?
- Eu nunca disse que não tinha. - Yoruichi falou a observá-lo. - Mas eu não gosto dos humanos...
- Não comece, vamos ver as coisas. Venha. O que você quer comer? Legumes fritos?
- Certo... Hai, tempurá.
- Yakissoba? Missô? Sushi, onigiri. Takoyakis são bons também!
- Tako...yakis? Hai... Quero provar essas coisas...
- Escolha pelo cheiro, vamos, sinta o cheiro que mais te atrai e escolha qual começar.
Yoruichi assentiu e aspirou o ar, tentando se decidir, mas tudo parecia uma mistura de aromas gostosos, por fim, apontou o yakissoba.
O loiro seguiu com ele até a pequena barraca já pontada, onde o cheiro de molho de soja era quase tão forte quanto ao de brócolis cozido, ofuscado somente é claro, pelas frituras ao redor, formulou o pedido ao rapaz, no entanto o deixou se dispersar ao redor, suficiente apenas para onde pudesse chama-lo quando servido enquanto encarava os novos adornos que provavelmente levaria para casa. 
O moreno saiu de perto dele, claro, seguia atrás da pequena barraca de jóias pouco mais a frente, onde escolheu alguns anéis e colares, entregando as notas que para si nada significavam comparadas aqueles adornos e acessórios para decoração, para eles significaria mais do que para si. Logo, voltou-se em direção a ele, e até comprou um docinho no caminho.
- Olha! É de feijão!

Yasuhiro observou as embalagens indicando as compras do moreno, que trataria de frear por hora, deixaria mais de sua empolgação com adornos para outro dia, assim, teria algo para se empolgar na próxima vinda ao local. 
- O que eu levei pra você, tinha doce de feijão, aquele de morango.
- Ah, então é isso que é doce de feijão? - O menor falou a observar o docinho e negativou. - Bem, desculpe... Eu achei que não havia visto ainda.
- Iie, esse é diferente daquele. Iremos experimentar mais tarde, em casa. 
Disse o loiro e sorriu a ele, tomando por seu ombro a leva-lo consigo até a pequena cadeira onde o acomodou. 
- Vamos, seu jantar está pronto, venha comer.
Yoruichi assentiu, abrindo um pequeno sorriso e nem havia se dado conta de que talvez ele fizesse aquilo somente para agradar a si. Sentou-se, esperando pelo jantar, e tudo era novidade. Pegou os hashis, observando o macarrão e arqueou uma das sobrancelhas.
- Como... Vou segurar isso com o hashi?
Ao se sentar com ele, em sua pergunta, o loiro tomou o par de hashis descartáveis e indicou a ele como deveriam ser utilizados. Segurou o recipiente onde servido o macarrão, trouxe-o mais perto do rosto e rapidamente pescou o macarrão na tigela e levou para a boca. 
- Hum. - Murmurou como quem dizia um "assim".
- Ah... 
Yoruichi segurou o próprio recipiente e pegou um pedaço "pedaço" do macarrão, guiando-o aos lábios para tentar sugá-lo como o outro havia feito, mas o molho fora jogado em respingos sobre o rosto e uniu as sobrancelhas.
O riso soou nasalado em Yasuhiro, e limpou os respingos com o dorso do dígito indicador em seu rosto. Após lamber o leve resquício de molho de soja no dedo, voltou a pegar o hashi e assim indicar a ele, ao invés de sorver o macarrão, puxa-lo para a boca com a língua, sem pressionar o shoyu a deslizar pela massa. 
O moreno observou-o por alguns segundos a tentar entender o que fazia e assentiu, repetindo de modo que conseguiu comer o macarrão sem espirrar pelo rosto. Sorriu e deixou o pequeno recipiente sobre a mesa.
- Isso é gostoso.
- Uhum. - O loiro assentiu e selecionou os pequenos pedaços de carne que levou para a boca e ingeriu. - Quer outra coisa?
- Iie, está gostoso. 
Yoruichi murmurou, observando-o e viu seu kimono que dava passagem para observar seu tórax desnudo na parte de cima, na parte exposta pelo seu obi pouco frouxo. Desviou o olhar rapidamente, sentindo um suave formigamento no baixo ventre e negativou. O loiro fitou o moreno, que se calou por uns minutos, analisou alguma coisa, mas foi discreto o suficiente para não ser perceptivo em seu olhar, no entanto, não funcionava assim com seu corpo afinal, sentia sensações incomuns vindas dele, e aquela, tinha uma breve noção do que era, mas não se deixou perceber, imaginava que talvez, se parece despercebido, continuaria ele a nutrir aquela sensação. 
- Coma, Yoru, vai esfriar demais.
Yoruichi desviou o olhar a ele, rapidamente e logo desviou o olhar ao prato, assentindo, e comeu pouco mais do macarrão, alguns pedaços de carne, tentando se manter longe da imagem do corpo dele nu.
- Quer ainda provar o tempurá? O Takoyaki talvez!
- Ah eu... Quero levar pra casa. - O moreno sorriu meio de canto. - Está meio frio aqui...
- Não quer mais ficar na feira?
Yasuhiro indagou, surpreso, visto que ele parecia até então empolgado com o passeio, mas tinha certa noção do porque.

- Iie, acho que podemos voltar amanhã. - Disse o moreno e encolheu-se suavemente.
- Hai. Mas você é vampiro, não acredito nesse frio. 
Disse o loiro e sorriu a ele, pediu ao vendedor que embrulhasse mais uma porção para viagem e esperou até que finalmente pudessem deixar o local após o pagamento dos jantares. Yoruichi desviou o olhar a ele meio de canto, finalizando o próprio jantar e se levantou.
- Estou excitado. Vou dar um jeito nisso.
Yasuhiro tossiu, fingindo-se surpreso, brincando com ele é claro. 
- Você faz essas coisas, é? 
Retrucou e embora soasse sarcástico, estava realmente curioso sobre a resposta. O moreno desviou o olhar a ele.
- Iie, vou colocar um pano frio. Eu não faço essas coisas.
- Pano frio? Onde aprendeu isso?
- Sei lá, deve funcionar.
O riso soou entre os dentes do maior e após receber o pacote, passou a caminhar com ele, seguindo caminho para casa. 
- Como pôde se excitar aqui? Comendo yakissoba. Viu alguém que te interessou, hum?
Yoruichi suspirou e na verdade estava cansado de todo aquele jogo que fazia com ele, ele havia sido gentil o suficiente consigo o dia todo para que arrancasse ao menos um pouco de sinceridade, e ajeitando as sacolas no pulso, suspirou.
- Amarre melhor o seu obi.
Ante o comentário, Yasuhiro desviou-se brevemente para baixo, notando o tecido frouxo, embora não fosse de fato demasiado exposto, precisava estar alinhado nas típicas vestes chinesas, mas tinha uma fenda aparente. 
- Ara... Está excitado com isso? O quão sensível você é, meu primo?
Yoruichi sorriu meio de canto.
- Gosto de pele exposta, de modo sutil assim, me dá vasão para imaginar outras coisas. Mas segredo, não conte ao meu marido.
- Ah, um homem típico. - Disse o maior em seu comentário, não muito diferente de qualquer outro homem. - Himitsu.
- Hai. Himitsu. - Sorriu.
O loiro sorriu a ele, seguindo o caminho de volta a casa o qual moravam há pouco tempo. Ao chegar, descalçou as sandálias e pisou pelo piso de madeira, sentindo o carpete aveludado sob os pés. 
- Deixe-me saber como irá resolver seu problema, meu primo.
Ao adentrar a casa, Yoruichi estava visivelmente tenso, sabia que ele iria tentar algo sobre si, e não conseguiria ficar com ele no mesmo quarto, e ainda não sabia porque. Desviou o olhar a ele e sorriu meio de canto.
- Vou fazer o que disse.
- Posso ajudar você. - Disse e lambeu a pontinha do dedo, sugestivo.
- Iie... Não precisa.
- É só a mão, Yoruichi.
- Não... Eu não consigo, não consigo, Yasuhiro.
- Mas... Não vou fazer nada dolorido. É só na frente.
- Eu sei, mas o problema não é o toque, eu não consigo ficar sozinho com você...
- Já está ficando. Moramos juntos.
- Eu sei, mas no quarto.
- Posso fazer aqui na entrada.
- Não seja idiota.
- Posso fazer até na grama.
- Yasuhiro! Quem vê pensa que você está com tanta vontade assim de mim. Meu corpo não é pequeno, não sou fofo.
- Somos casados, quero ter esse tipo de coisa. Sei como é seu corpo, tenho olhos bem saudáveis.
- Por isso mesmo. Não sou um humano frágil. E não gosto de me comparar com aquele garoto.
- Eu não estou comparando você a ele, sou casado com você.
- ... 
Yoruichi suspirou e abaixou a cabeça, observando o próprio corpo pelas pequenas dobras do kimono e fechou-o pouco mais, até a gola e virou-se, seguindo em direção ao quarto.
- Yoru, não estou comparando você a ele. - Yasuhiro voltou a ressaltar, tentando deixar claro, embora imaginasse que não fosse surtir resultados. - Não estou comparando.
- O problema sou eu, Yasuhiro. Eu não posso...
- Não quer que eu fique com outra pessoa e também não quer estar comigo, o que você quer afinal, Yoruichi?
O menor uniu as sobrancelhas, desviando o olhar a ele ao cessar os passos.
- Eh? O que você quer que eu faça?!

- O que deveríamos fazer, ter uma vida normal de casados.
- Estamos tendo uma vida normal. Quer que eu transe com você mesmo sem conseguir, é isso?
Yasuhiro fitou-o por um instante, negativou por fim, um pouco chateado talvez? Pensava se estaria, talvez estivesse, já que não tinha vontade de discutir ou de fazer aquilo que ele mesmo dissera. 
- Mas você me quer, se excitou por uma tênue exposição de pele, se me quer, então o que pode impedi-lo?
Yoruichi uniu as sobrancelhas.
- Pensar naquele maldito humano, isso é o que me impede. Saber que você não queria estar comigo, que queria estar com ele, pensar que ele era melhor do que eu, e que quando eu nutria tanto interesse por você quando era criança, você só me trocava por um pirralho humano. Não consigo mais me olhar no espelho sem me comparar àquele garoto, achando que você gostaria mais de mim se eu fosse como ele.
Disse e sentiu as lágrimas que aos poucos tomavam conta da marca d'água dos olhos, e em pequenas gotas escorreram pela face, era a primeira vez que chorava em frente a ele, e não queria, se sentia muito maduro para fazer aquilo, por isso preferia dormir em quartos separados, para não dividir os sentimentos com ele, e talvez daquela forma, ele ficasse longe do que aquela máscara que usava buscava esconder. Não era rabugento daquele modo, na verdade, era doce, sensível, mas se tornara assim com aquela amarga sensação de ter sido trocado desde cedo, por ele. E o pior é que o amor que nutria por ele não deixava se afastar do outro, por isso o observava mesmo que soubesse 
onde ele estava indo, mesmo que soubesse que ele iria até o garoto, todos os dias.
Eu não o troquei por nada, Yoruichi, eu não tive ciência do casório desde cedo, como você. Fui saber quando completei 15 anos, onde minha mãe falava com a sua e acidentalmente ouvi a conversa. Como teria o trocado se nem o tinha desde o início? Não era como se eu tivesse ficado com você e o abandonado por outro posteriormente. Naquela época inclusive eu nem sabia que tinha um primo, quanto mais um casamento arranjado. O garoto, eu pensei que de fato poderia escolhê-lo como um companheiro, visto que meu pai costumava dizer que eu haveria de ter uma noiva ou noivo, independente de estar ou não apaixonado e que o amor viria com os anos, então eu deduzi que deveria escolher alguém para isso e não que esse alguém já existia e sido destinado desde tão cedo. Eu soube no entanto, desde cedo, que passaria minha vida sem a morte e que consequentemente seria tedioso se passasse eternamente dentro de meu quarto, assim conheci ele, conheci outras pessoas, conheci outros alimentos, outras coisas de uma forma geral.
Yoruichi uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, e não havia melhorado em nada com seu discurso, como talvez ele pudesse pensar. Provavelmente ele havia pensado que explicando a situação entenderia que ele não sabia sobre si, mas só se sentiu pior por ele ter de fato gostado do garoto e não ter dito nada de consolo para si, sobre ser diferente dele. Sentiu um aperto no peito, algo como uma batida forte no coração que se quer batia, e até se surpreendeu, guiando uma das mãos sobre o local rapidamente, talvez aquela fosse a sensação de um humano de ter um coração partido, na forma poética de se dizer.
- Disse que o via como um irmão, não é? 
Disse e tentou sorrir de modo irônico, mas não conseguia, estava magoado, na verdade, não conseguia nem olhar pra ele. Suspirou e tentou vencer a própria vontade de seguir ao quarto, mas não conseguira dessa vez e virou-se, não queria mais conversar.
- Mas ainda que tivesse dito que pensara sobre a possibilidade de torna-lo o meu parceiro, como uma criança que nada sabe, nunca disse que senti amor, Yoruichi. E estou nesse casamento porque acredito em meu pai e sobre o que ele me disse que aconteceria com meu parceiro de vida, no entanto, você continua a me recusar e ao mesmo tempo não quer que eu vá embora. 
O loiro disse e notou seu toque no peito, imaginava no entanto que era somente uma breve manifestação de expressão e não uma sensação vívida, embora soubesse que ele estava chateado porque podia senti-lo cada vez mais nitidamente, porém, ele também seria capaz de sentir a si que estava tentando fazê-lo perceber as coisas.
- ... Não quero falar com você hoje, Yasuhiro. Se é ir embora que você quer, então vá.
 Yoruichi falou e suspirou, sentia os sentimentos dele, bagunçados demais para entender alguma coisa, estava chateado, não seria agora que iria entendê-lo.
- Se não quiser isso realmente, não diga de novo, porque eu estou cansado e eu vou.
O menor assentiu e limpou o rosto com uma das mãos, observando-o de canto a cruzar os braços.
- Quer me dizer mais alguma coisa?
- Não. 
Disse o loiro, cansado, como dito antes, cansado de nunca resolver nada e ter de vê-lo sempre virar as costas para um problema. Dessa vez fez o mesmo, e seguiu caminho ao quarto que deveria até então ser de ambos, chegou a rir para si mesmo, desprovido de real graça ao perceber que nunca podiam encerrar um dia de alguma boa forma, ele sempre traria a tona algo ruim para quebrar o que quer que fosse bom entre ambos. Ainda que fosse naturalmente bem humorado, não tinha ânimo de ferro e aquele era um daqueles momentos.
O moreno assentiu novamente ao vê-lo se afastar e seguiu em direção ao quarto logo após o outro, o próprio, passando pelo longo corredor até o fim onde trancou a porta e se deitou, deixando o kimono de qualquer modo jogado sobre o corpo.

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