Atsushi e Kaoru #38


Kaoru suspirou, estava sentado em frente a sala do médico, mais cedo havia recebido uma mensagem dele onde informava que o esperasse, ele queria ir consigo saber o resultado, mas de alguma forma, não conseguia imaginar ele ali consigo, ficava com medo do que ele ia pensar se o médico dissesse que era câncer ou algo pior, na verdade nem a si saberia como reagiria, mas se preparou para o pior. Observava o número dele no celular, silencioso, deslizando o dedo pela tela onde tinha a foto dele, ele estava tão bonito, o usava como protetor de tela, e parecia até meio bobo, não gostava de mostrar aquilo a ele, na verdade, achava que até então, ele não havia percebido e assim estava melhor. Ao receber o chamado do médico, entrou devagar, não tinha pressa para receber a notícia, sentou-se em frente a ele e observou as folhas dos exames, não eram poucas.
- Senhor Niikura. Não precisava ter vindo aqui. 
- Eu sei que não, mas meu... Eu... Estava ansioso. Para saber os resultados. 
- Entendi, bem, vou dar uma olhada nos resultados e dizer se há algum problema.
Kaoru Assentiu, observando-o e notou seu olhar sem muitos rodeios que passeava pelos papéis, analisando as folhas cuidadosamente e deixando-as de lado, cada uma delas era um suspiro em si, inquieto, até que ele percebeu.
- Hum... Nada de errado nessa. Nem nessa. 
O menor uniu as sobrancelhas, estava demorando demais, principalmente na última folha, que era o próprio exame de sangue, ele parecia ter ficado um minuto inteiro lendo ela. Devagar, viu o olhar dele se desviar a si, e em seguida a folha, como se analisasse alguma coisa, como se buscasse alguma coisa. 
- O que? O que houve? 
- Bem... Eu acho que pode ter ocorrido uma troca nos exames. 
- Como assim? É muito ruim? O que eu tenho? 
Ele permaneceu silencioso, na verdade parecia procurar palavras para explicar a si o que lia. 
- Não me leve a mal, por favor. Você tem relações com... Homens?
Kaoru desviou o olhar a ele e arqueou uma das sobrancelhas.
- O que isso tem a ver com o meu diagnóstico? 
Ele desviou o olhar ao papel novamente. 
- Bem... Seus exames de sangue indicam gravidez. 
Arregalou os olhos ao ouvi-lo e permaneceu um longo minuto a observa-lo, como se ele fosse uma pintura. 
- O que você disse? 
- ... Seus exames, bem, se você não se relaciona, posso pedir que a enfermeira verifique o erro. 
Kaoru negativou e por fim riu, não sabia mais nem porque estava rindo, se era da situação ou do fato de estar tranquilo por não ter nenhum problema sério. 
- ... Eu me relaciono com um rapaz, mas... Eu não... Não posso ter filhos. Eu já fiz vários exames, já tentei muito com a minha ex esposa. 
- ... Bem, não é isso que o exame diz. Você pode ter uma contagem baixa de espermatozoides, mas... Não é a mesma coisa engravidando de outra pessoa. 
- Espera... Está mesmo me dizendo que estou esperando um bebê? Isso... Isso é o que está me fazendo passar mal? 
- Aparentemente sim, você já tem 43 anos, é uma gravidez com um certo nível de risco, por isso é muito bom acompanhar um médico durante todo o período. 
Novamente o observou, como se fosse uma paisagem, estava absorto, não fazia ideia do que estava acontecendo, como se fossem uma mentira, uma brincadeira.
- Acho que seria bom marcar um ultrassom pra você. 
- Um... Ultrassom? 
Disse, e quase riu novamente, negativando. 
- Você não vai querer manter o bebê? 
Desviou o olhar a ele, e sabia que o trabalho dele era perguntar aquilo mesmo. 
- Doutor, eu entrei aqui achando que eu ia morrer. Eu quase me despedi dos meus amigos, do meu noivo, e... Agora recebo a notícia de que ao invés disso vou ter um filho dele. 
Ele deu um sorriso, meio de canto. 
- Entendi. Bem, meus parabéns. 
- Obrigado... Eu... Nem sei como vou contar pra ele. - Riu e negativou. - ... O que eu vou fazer com a banda... Eu... Bem, vou marcar o ultrassom.
Atsushi pegou o celular no bolso, àquela altura já estava em casa e ligava para o celular do moreno, se perguntando porque não estava lá. Havia chegado há alguns minutos, e ficava esperando no carro, mas sua falta de resposta fez com que entrasse para procurar e então encontrar a casa aos cuidados dos felinos.
Kaoru estava parado fora da casa quando recebeu a ligação dele, fora tempo de chegar em casa, e carregava na mão o envelope branco, com a logo do hospital. Estava ainda absorto com o que havia ouvido, se sentia muito estranho, não sabia como devia se sentir por estar carregando uma criança em si, achou que isso nunca fosse acontecer, era só se olhar no espelho, não parecia o tipo de homem que faria aquilo, e de alguma forma, estava encantado. Ao entrar em casa, procurou por ele, visto que seu carro estava ali parado e observou-o na cozinha, parecia nervoso, não entendeu, havia até se esquecido sobre achar estar doente. 
- Atsushi?
Talvez fosse aquela a primeira vez que o olhava com seriedade. O maior abaixou o telefone somente então. 
- Não esqueceu de nada?
Kaoru observou-o, e a expressão naturalmente havia se desmanchando conforme viu sua expressão séria, ele nunca havia olhado a si daquele modo. 
- ... Me desculpe, eu não... Não queria que você soubesse se fosse algo muito sério, eu fiquei ansioso e com medo.
- É exatamente por isso que deveria estar com você, se fosse algo sério poderia te apoiar. - Atsushi suspirou, em alívio ou mesmo em compreensão. - Mas vejo que está tudo bem, não é?
Kaoru assentiu, abaixando a cabeça por um momento e só então caía a ficha sobre o que havia ouvido do médico, tinha lágrimas nos olhos, embora não quisesse chorar realmente.
- ... Eu estou grávido. 
Disse, abaixando a cabeça, meio sem jeito e logo desviou o olhar a ele. 
Atsushi notou seu olhar marejar, esperou pela notícia e por alguma razão desconfiou do que se tratava, porque ele não parecia infeliz, mas estava emocionado. Quando enfim constou o que pensava, anunciando precisamente o que imaginava. Não soube exatamente o que pensar naquele momento senão. 
- Eu sou bom nisso. 
Brincou, referindo-se ao fato de que realmente o havia engravidado que disse que iria fazer. Ergueu a mão e direcionou a seu rosto levemente áspero, sentindo a barba sob a pele. 
- Parabéns. - Dito, o abraçou.
Kaoru riu ao ouvi-lo, baixinho e aproximou-se conforme sentiu o toque, o abraçou, apertando contra o corpo, e sentiu uma lágrima única escorrer pela face. 
- Parabéns a você também... Eu... Eu não sei o que dizer. - Riu. - Você... Queria mesmo um filho? Disse que nunca quis um e agora...
Ao se afastar, o maior observou seu rosto bonito e tão masculino, achou graça ao pensar que havia conseguido fazê-lo engravidar. Achou ainda mais ao perceber que ia ser um pai cinquentão. Tornou acariciar sua bochecha e sorriu-lhe com os dentes. 
- Era pra ser, não acha?
Kaoru sorriu novamente, na verdade, não conseguia parar de sorrir. 
- Acho que sim. - Dito, abraçou-o, forte, quase num pulo e apertou-o junto consigo, estava feliz, realmente feliz. - Amanhã eu tenho ultrassom, quer ir comigo?
- É claro que sim. - Disse o maior, risonho como ele, apertou-o mas foi sutil, agora esperavam um bebê. - Estamos grávidos.
Kaoru riu e assentiu, repousando a face no ombro dele, na curva de seu pescoço, e aspirou seu aroma gostoso. 
- Estamos.
- Você o queria mesmo, não é? - Atsushi disse e afagou seus cabelos ondulados. - Vou ser um pai cinquentão.
- Queria, quer dizer... Eu...
O menor suspirou, um pouco envergonhado pela felicidade, na verdade, estava feliz por ter um filho com ele. 
- Eu passei tanto tempo querendo isso, depois desapeguei dessa ideia, achando que eu nunca iria ter um, agora descubro que eu posso, que não é impossível. É estranho sabe. - Riu. - Mais estranho ainda por ser eu... Você vai ser um pai lindo. - Disse, corrigindo-o.
- Hum, talvez seu corpo estivesse esperando por mim. 
Atsushi sorriu novamente, ou melhor, continuava a sorrir. O menor riu baixinho e assentiu, desviando o olhar a ele e selou seus lábios. 
- Se não parar de sorrir, faremos outro filho. - Murmurou num riso.
- Ah, faremos? O que posso fazer, estou sorrindo por esse. 
Atsushi riu, sem altura. O apertou no abraço e beijou seu pescoço como antes ele fazia. 
- Então amanhã fará ultrassom. Precisamos saber como vai funcionar a gravidez.
Kaoru sorriu meio de canto e acariciou os cabelos dele. 
- Por eu ser homem ou por eu ser mais velho? - Riu baixinho. - O médico disse que há risco por eu ser mais velho...
- As duas coisas. - O maior acariciou brevemente seu ventre com o dorso dos dedos. - Menino ou menina?
- Entendo mais ou menos como... Uma gravidez assim funciona, o Shin... Comentava bastante. 
Kaoru disse, e só então havia notado o que fora dito, negativou por um momento, ele era parte da família agora. Sorriu conforme pensou nas possibilidades. 
- Menino.
Atsushi havia percebido o comentário e até assentiu a ele, porém nada perguntou, não tinha interesse em assuntos pessoais dos demais senão os próprios e agora, os dele também. 
- Menino. - Concordou.
Kaoru sorriu e deslizou uma das mãos pelos cabelos dele. 
- Menino então.
- Mas vou gostar se vier menina também.
- Eu também. - Sorriu.
- Então tá bem. Talvez devêssemos sair pra jantar hoje, hum?
- Comemorar? Bem... Acho que não posso mais beber ou fumar, não é?
- É, mas te dou uma cerveja sem álcool e uns pedaços bem gostosos de carne. 
Atsushi afagou seus cabelos, bagunçando-os. Kaoru sorriu meio de canto e assentiu, estava um pouco envergonhado na verdade, não costumava ser mimado. 
- Tudo bem, isso eu aceito.
O maior assentiu e selou seus lábios, uma duas vezes, mas acabou levando um pouco mais do toque a um beijo, embora não fosse malicioso. O sorriso de Kaoru de desfez aos poucos conforme sentiu seu toque de lábios e o retribuiu, nos selos e no beijo, fechando os olhos e deslizou as mãos pelas costas dele, acariciando-o suavemente, também não tinha malícia, era só um beijo bom, e chegava a suspirar.
Por um minuto Atsushi até abriu os olhos, diferente dele, apenas a ver seu rosto bonito e concentrado. Deu fim quando tragou seu lábio inferior, sugando de leve e lambeu seu queixo áspero, brincando com a barba. 
- Hum, lembrei de como era ser adolescente. - Brincou.
Kaoru desviou o olhar a ele no fim e sorriu meio de canto, segurando-o ainda perto de si.
- Ah é?
- É. - Atsushi disse e deslizou as mãos em seu dorso, chegando às nádegas. - Vamos, vamos sair.
O menor assentiu e deslizou uma das mãos ao braço dele e apertou sua mão. 
- Com você eu me sinto um adolescente todos os dias. - Sorriu desajeitado, como se estivesse fazendo uma confissão a um namorado. - Vamos...
Atsushi sorriu. - Como arrumei um namorado bonitão assim?
- Eu que me pergunto. - Riu.
- Vamos, bonitão.

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