Kazuma e Asahi #62


Asahi sentiu uma brisa bater contra o rosto ao ouvir o barulho da porta, estava deitado na cama, sozinho e sentia-a fria novamente, teve até que cobrir o corpo com o edredom. 
- Bom dia padre... Está acordado? Estamos tomando café.
- Eh? Ah... Sim... 
Suspirou e desviou o olhar para a cama, enquanto esfregava os olhos, tentando ver alguma coisa. Estava mesmo sozinho, ele não estava ali, mas o havia sentido tão bem, o havia tido, havia visto quando ele voltou, não podia ser. Novamente, estava chorando, mas nos lábios tinha um sorriso, até voltou a se deitar. 
- ... Akemi eu tive um sonho tão bom... Sonhei que o Kazuma estava aqui, estava comigo...
- Asahi... Ele está mesmo aqui, está na mesa tomando café...
O loiro uniu as sobrancelhas. 
- Está? Está aqui mesmo?
- Sim, venha, vista-se. 
Asahi assentiu e rapidamente pulou da cama, não podia acreditar que era real, e após fazer a própria higiene, vestiu-se a rapidamente seguir para a cozinha onde havia a mesa.
- ... Kazuma.
Kazuma havia acordado mais cedo, ainda tinha o hábito. Levantou-se, se banhou e então se sentou para tomar café, somente a bebida puramente dita, uma vez convidado pela dona da pensão. Teriam algum tempo antes de enfim partir.
- Não quis te acordar. 
Disse a ele ao ouvi-lo e então se voltou para ele e seus cabelos loiros maiores do que costumavam ser. Asahi sorriu novamente, e correu em direção a ele, abraçando-o, sentando em seu colo, mesmo que estivesse a mesa e abraçou-o forte.
Kazuma arqueou a sobrancelha ao vê-lo correr, mas se preparou para pega-lo, deixou se acomodar quando fez e sabia que estava caindo na real, também estava.
- Kazuma! Eu achei que você fosse só um sonho, eu... Achei que não estava realmente aqui... 
Abraçou-o e escondeu a face em seu pescoço. 
- Hum, então sonhou comigo. 
Disse e afagou seus cabelos, sentindo sua face escondida no pescoço.
- Eu... Nunca imaginei que você estava realmente aqui... É tão bom poder te sentir...
- Hum, tem gente à mesa, Asahi. - Disse, dando ambiguidade a sua frase.
- Ah... - Asahi uniu as sobrancelhas e desviou o olhar as crianças. - D-Desculpem...
- Quer tomar café? 
Kazuma disse a ele, que continuou no colo embora menos recolhido.
- Hai... Quero sim. 
Asahi falou num sorriso e sentiu lado a ele, pegando uma xícara para si. O maior viu a dona da casa servir seu café, sorria, parecia feliz ao olhar o rapaz, perguntava-se a razão. O menor aceitou o chá, não tomava café e adoçou a bebida, até ver a pequeninha que estendeu a mão em direção a si. 
- Eh?
- Toma, é um docinho pra comer na viagem.
- Vai sentir falta de você. - Kazuma disse a ele, sobre a pequenina.
- ... Vou vir aqui te visitar, Aya-chan.
- Vai? Ah! Então vou te esperar.
Kazuma tragou do café e fitou a pequenina.
- Pode ir até Kyoto algum dia.
- Posso?! Eu posso mamãe?
Akemi sorriu a ela e assentiu. 
- Eu quero ser freira, Asahi, quero ser da igreja como você.
- Não, não quer não. - Sorriu gentilmente a ela. - Quer viver uma vida feliz e fazendo suas próprias escolhas.
- Você não precisa servir somente a Deus para ter fé nele. Você pode acreditar, respeitar e ainda assim viver. - Disse o moreno ao ouvi-la e voltou logo à pequenina.
- Hai... Tá bom.
- Padre, coma alguma coisa leve, pode se sentir desconfortável durante a navegação.
- Hai... Acho que vou só no chá.
- Poderemos comer durante a viagem de todo modo. Animado?
- Estou sim. - Sorriu. - Quero muito conhecer Kyoto.
- Mas não estou perguntando por isso. Sabe que sua vida vai ser totalmente diferente.
- Eu sei... Mas não vou saber se gosto se não tentar, certo?
- É. - Kazuma afagou seu cabelo.- Arrume o que precisar levar.
- Hai, vou pegar minha mala. Já a fiz ontem a noite.
- Ainda temos algum tempo se quiser se despedir de mais alguém.
Asahi uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, abaixando a cabeça, e havia pensado na igreja, mas negativou. 
- Estou bem.
- Tem certeza?
- Sim...
- Certo. Bem, podemos ir então. 
Disse o moreno e por fim se levantou. Terminou o café na xícara e se voltou para a dona da pensão o qual agradeceu pela hospedagem, pelos cuidados que havia tido para o ex padre e esperou que ele tivesse suas palavras com ela.
Asahi assentiu e se levantou, a primeira coisa que fez foi abraçar a moça, que havia dado um lar para si, trocou poucas palavras com ela, não queria se estender, ainda tinha uma mocinha pequena para abraçar, o bebê não se lembraria de si. Aya-chan, prometo que venho um dia te visitar, mas quero que vá a Kyoto me visitar também, ta bem?
- Ta bem... Se cuida, tá? E cuida do Kazuma...
- Cuido sim. - Asahi sorriu e beijou-a em seu rostinho. - ... Bem, acho que já podemos ir.
Kazuma saiu durante sua conversa, aproveitou para acender um cigarro. Não demorou no entanto, talvez despedidas fossem para ele como para si, desagradáveis, e antes que pudesse dar um quinto trago, viu-o ao lado com sua mala não muito generosa, não tinha muito a que se apegar por lá. De alguma forma estar lá e ter de novamente partir era igualmente estranho para si. Levou sua bagagem para o automóvel e após entrar em posse da direção, traçou percurso pelos caminhos tão bem conhecidos daquele lugar, podendo ver pelo espelho o reflexo das pessoas que o viam partir, pareciam tristes e ainda felizes, não era muito perceptivo sobre os sentimentos das pessoas.
Asahi observou-o colocar a mala no carro, e podia sentir o corpo arrepiado, na verdade, tinha medo do que poderia encontrar fora dali, que era onde havia crescido e vivido e vida toda, mas ao lado dele não deveria ter tanto medo assim. Ao entrar no carro, podia sentir as mãos trêmulas, desviou o olhar a Akemi e as crianças e apenas acenou pela janela, havia ficado quase dois anos com eles, eram boas pessoas. Quanto a igreja, somente a viu de longe, não poderia voltar lá novamente, e nem tentaria o contato com o próprio pai, nem tentaria convencê-lo de que era uma boa pessoa, estava morto pra ele, como ele mesmo havia dito, infelizmente, não era um conto de fadas.
O moreno fitou-o de soslaio ao passar pela igreja, por um momento até reduziu o movimento, deixando encarar melhor sua antiga casa. 
- Esperava alguém mais animado que isso, padre. Parece sozinho.
Asahi desviou o olhar a ele e negativou. 
- Não... No mundo perfeito, eu reformaria aquela igreja e faria nossa casa nela.
- Hum, gosto mais da minha casa. Passar por situações ruins como a guerra, somente é bom porque passamos por ela e não permanecemos. Você pode ter boas lembranças de lá, mas não é exatamente um lugar feliz.
- ... É, eu sei. Quero ir para um.
- Está indo.
- É... Com você. Eu ainda não acredito que está aqui.
- É, eu compreendo. A situação ainda parece igualmente irreal.
- Mas... Estou feliz. - Sorriu. - Muito, eu... Digo... Não sou mais padre, e posso ficar com você, você veio me buscar...
- Está feliz em não ser mais um padre?
- Claro que sim. Vivi pra isso minha vida toda. Agora posso ter a minha vida.
- Hum, agora vai ter uma vida.
Asahi desviou o olhar a ele, sentindo o coração bater tão forte, que quase saía do peito.
- ... Você... Quer que eu seja seu marido?
- Ah? 
Kazuma indagou, surpreso pela pergunta repentina com um termo inesperado.
- Vamos viver juntos e...
- Como um casal.
- Hum... Hai.
- Marido não combina com você, parece muito masculino. Esposa? Feminino.
- Hum... "Seu Asahi". - Sorriu.
Kazuma sorriu canteiro e deu um breve afago em seu cabelo.
- Estamos chegando no porto. Pode sentir a brisa?
O loiro fechou os olhos ao sentir o toque nos cabelos e desviou o olhar a ele, voltando-se a estrada em seguida. 
- ... Brisa? É... É o mar?
- Sim, olhe naquela direção. 
Disse o moreno e apontou ao rapaz, mostrando em distância a imagem pequenina do mar cada vez mais próximo. Asahi arregalou os olhos a desviar o olhar ao horizonte. 
- É lindo!
- É, terá algum tempo para aprecia-lo durante a viagem.
- ... Posso molhar os pés?
- Claro que sim. - Disse achando graça no pedido.
Asahi sorriu e assentiu, observando o horizonte, bonito, pareciam nuvens. Alguns poucos minutos foram suficientes para Kazuma alcançar o destino e com isso deixar o rapaz enfim descobrir como era o mar. 
- Aqui estamos.
Ao chegar, Asahi saíra quase num pulo de dentro do carro, seguindo para a areia onde pisou, mesmo com sapato, era fofa e teve de sorrir com isso. Só então, retirou os sapatos que usava, e a meia, sentindo a areia abaixo dos pés, macia, ainda seca. 
- Kazuma! Vem!
A medida em que ele saltava, o moreno ainda acomodava o veículo estacionado. Ao descer, ele já estava sem sapatos e meias, parecia uma criança, pensou e parou a observa-lo de onde estava. 
- Está gostoso?
- Hai! A areia é fofa! Você precisa ver! 
O loiro falou, caminhando rapidamente pela areia e correu em direção a água, onde sentiu agora a areia diferente, molhada e ainda mais macia.
- Ah é? - Kazuma disse alto o suficiente para que ele pudesse ouvir. Sabia como era a areia, mas não ia dizer porque para ele, era algo novo, parecia uma criança. - Como está a água? - Indagou e caminhou até ele.
- ... Eu não sei... - O loiro falou, e ainda não havia tocado na água, tinha medo. - ... E se ela me levar embora?
- Não vai levar, não se você ficar na beirada. O mar está calmo hoje. 
Kazuma sorriu a ele, meio de canto.
- ... Ah... Hai
Asahi falou a observar o mar e caminhou calmamente em direção a ele, sentindo a água passar pelos pés, pela perna, molhando a si, e era a sensação mais maravilhosa que já havia sentido.
- Não vá molhar a roupa. 
Disse o maior e viu aos poucos imergir os pés na água, descobrindo​ a sensação. Asahi assentiu e fechou os olhos, sentindo a brisa gostosa sobre o rosto. 
- Kazuma, é tudo tão lindo!
- Sim, você vai ver quando chegarmos em Kyoto.
- Você mora perto da praia?!
- Não tão perto, mas desembarcaremos no porto.
-Ah... Ta bem, então... Vamos? 
O loiro falou num sorriso, virando-se em direção a ele, porém cessou ao pisar na areia em algo que mais parecia um buraco e arregalou os olhos ao ver o pequeno bichinho que tinha ali, pequeno e com duas garras. 
- AH!
- Achou um caranguejo? 
Kazuma disse e riu, divertindo-se com a situação. Segurou-o porém, evitando que caísse.
- Ai, o que é isso? - O menor uniu as sobrancelhas. - Ele vai me morder!
- É um bichinho. - O maior disse e ao tirou do buraco ao pegar no colo. - Ele vai agarrar seu pé.
Asahi encolheu-se junto dele, observando o buraco onde havia pisado.
- Não quero!
- Vou colocar você em cima dele. 
Disse o moreno ao segura-lo e abaixou ameaçando coloca-lo sobre o pequeno com garras. O moreno uniu as sobrancelhas novamente e negativou, rindo. 
- Não! Kazuma!
- Vai apertar sua bunda.
O menor riu novamente e negativou, agarrando-se ao pescoço dele. 
- Nãão!
O riso soou entre os dentes do maior e por fim o reergueu. Colocou-o novamente em pé, a salvo do pequenino. Ao estar em pé, o menor abraçou-o corretamente, fechando os olhos a repousar a cabeça sobre o ombro dele.
- Hum, o que há? 
Kazuma indagou ao sentir o abraço e seu aconchego quase preguiçoso.
- Está tão gostoso com esse ventinho... Estar com você de novo...
- Hum, vai gostar do navio também. 
Disse o moreno e ergueu do chão, embora não estivesse de fato no colo. Levou-o consigo, como estava, até onde deixava seu calçado. Asahi riu baixinho ao senti-lo erguer a si e seguiu com ele, pegando os sapatos a seguir com ele para fora da areia.
- Quer mais água, sereia?
- Meus pés estão virando uma cauda! - Riu.
- É, então desvire porque precisa andar. Vamos subir.
- Ta bom... - O menor fez bico e assentiu, pisando no chão.
- Vamos almoçar no navio, vai ser um passeio legal.
- Hai, ta bom. 
O menor sorriu e bateu a areia dos pés, usando a torneira próxima a beirada para se livrar da areia.
- Agora parece animado.
Asahi sorriu a ele e assentiu, colocando os sapatos novamente nos pés. 
- Vamos, vamos!
Kazuma dirigiu-se com ele até a zona de embarque. Entregou as passagens de ambos e fora direcionado com a numeração do aposento. Levou a bagagem dele, o que levou consigo e colocou  no quarto quando enfim chegavam nele. O menor seguiu com ele pelo local, até o quarto e deu a ele um sorrisinho conforme observou a cabine, grande. Mas ainda caminhava meio devagar, tinha a impressão que se se movesse muito depressa, podia mover o navio também. 
- Isso é estranho...
- O que é estranho? - Kazuma retrucou ao deixar a bagagem sobre a cama.
- Estar num navio... Quer dizer, se eu me mover, ele vai se mover também?
- Claro que não. É muito pesado para ser afetado por passos leves. Pouco se sente dos movimentos ainda que sejam notáveis.
- Ah... Hai.
- Quer se deitar ou quer ir conhecer o barco?
- Quero conhecer o barco. - Sorriu. - Nunca estive em um.
- Então vamos. 
Disse o maior e após acomodar as bagagens e fechar a porta. Ao seu lado, tocou seu ombro num meio abraço e passou a leva-lo consigo. Asahi suspirou e seguiu com ele para fora, até chegou a sobressaltar-se com o abraço, mas sorriu por fim.
- Que medo. 
Disse o maior em seu sobressalto, mas continuou o caminho no entanto.
- Desculpe, não estou acostumado.

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