Broken Hearts #25


Hideki não tinha a respiração dele, já se passavam três dias, podia parecer pouco tempo para qualquer vampiro, até mesmo para um humano, não para si, Yori despertava em si uma sensação de euforia e descontrole, uma sensação de necessidade por controlar tudo, mesmo seu tempo longe, mas sabia que não poderia fazer aquilo. Ainda que estivesse incomodado, por fora havia mantido paciência. Pegou seu corpo pequeno e desfalecido, o pescoço já não estava tão desajeitado, aquilo era um sinal de que estava vindo. Como nos outros dias, levou-o por todo o caminho até a ponte, nos braços, e quando chegava lá se sentava no mesmo lugar, o acomodava no colo e observava o horizonte escuro a noite inteira, até que o dia começasse a aparecer e tivesse de ir embora, esperava que ele acordasse ali e que renascesse onde se propôs a perder a vida em algum momento. Já faziam três dias, e Yori não dera sinal nenhum de que naquela noite fosse acordar. Já era quase de manhã quando ele ajeitou a si em seus braços e caminhou de volta para o carro. Dentro de si, era um vazio enorme, mas alguma coisa, um movimento suave, parecia com uma onda, como o mar, podia vê-lo e senti-lo tocar os pés, era frio, mas era confortável, gostava. Um sorriso delineou os lábios, mas não do corpo em seus braços, na própria cabeça, podia ver um homem de costas, era ele, e parecia esperar por si. Caminhou, devagar entre as ondas da praia, sentindo a água fria bater na perna, na cintura. 
- Hideki? - Murmurou. - Hideki por que você não me espera? Hideki! 
Yori falou, alto, e dessa vez havia reproduzido no corpo agora acordado, mas ainda de olhos fechados, em seus braços. 
- Hi... Hideki... - Murmurou.
Hideki esperava, por todas aquelas horas, e não sabia sequer o que fazer quando o ouviu finalmente falar. Jurou que precisou respirar, porque sentiu o peito tremer. 
- Yori. 
Sussurrou, baixo como ele falou, e ainda olhava o horizonte, sentindo seu corpo frio e seus movimentos tímidos, mas o abraçava calorosamente, ainda que o toque fosse frio. 
- Você demorou.
Ao ouvi-lo, o menor finalmente conseguiu forças para abrir os olhos, devagar piscando algumas vezes e fitou seu rosto, estava tão assustado, tinha tanto medo de se afogar, de não conseguir voltar com ele, para ele.
- ... Hideki... 
Murmurou e igualmente o abraçou, sem muita força, estava fraco, mas conseguia fazê-lo e sentiu o cheiro da água, tão vivido quando o cheiro dele, sentiu o vento bater no rosto, nos cabelos, sentiu o toque, mais pesado do que de costume, sentiu ele, como nunca havia sentido, mesmo o pequeno toque de seus dedos, conseguia sentir tão bem. 
- ... Ainda vamos nos afogar? Eu não consigo respirar... 
Disse e não tinha noção do tempo em que estivera morto, para si, ainda era o mesmo dia, e não sabia, mas não conseguia respirar porque não precisava mais. 
- Hideki, eu estou com medo... 
Murmurou, e agora, finalmente ele poderia sentir a si, o medo que sentia, por não saber o que estava acontecendo.
- Nós já fizemos isso. Você está nascendo hoje. 
O maior disse e pela primeira vez talvez, sorriu, sorriu mostrando os dentes, era na verdade muito suave ainda assim. Sentir seu medo era sentir alguma coisa.
- Já? 
O menor disse e desviou o olhar a ele, tinham um tom vermelho suave, bem no fundo, precisava de sangue, mas não disse nada ainda que a boca estivesse seca. Desviou o olhar com ele, para o horizonte, viu a água e sorriu, fora um sorrisinho fraco que aos poucos ficou maior, havia sobrevivido, havia acordado com ele, nos braços dele. 
- ... Eu voltei... Eu consegui voltar!
- Voltou, você voltou. 
Hideki disse e sentia suavemente suas sensações. Olhou seus ofuscados olhos vermelhos dos quais faria acender tão longo. Pegou seu queixo e segurou ao vira-lo para si, olhou por algum longo tempo, ansioso, mas não manifestou qualquer reação, guardou e esperou o que sentiria vir dele. Conforme o viu, Yori fitou seus olhos dourados, ah, e havia sentido tanta falta dele, do rosto dele, e pela primeira vez o via sorrir, o via sorrir para si. Sorriu de volta, mostrando os dentes novos, as pequenas presas e ergueu-se rapidamente, abraçando-o, firme e sentiu as lágrimas que deixaram os olhos, estava tão feliz de estar de volta, de vê-lo, ainda que estivessem naquela relação conturbada sempre, ele poderia sentir, ele saberia, o amava.
Por sorte, Hideki tinha um bom equilíbrio, senão teria caído na água conforme ele se moveu, o segurou, sentiu seu abraço, sentiu com alguma languidez seus sentimentos. Queria mais, queria sentir mais, mas por hora, era suficiente, por hora ao menos sabia que estava perto de ser para ele o que ele era para si. Sem querer, acabou sorrindo de novo, notando o quanto ficava bem com seus dentes novos. 
- Vou ficar com você mais tempo agora, não vou? Eu não... Não vou envelhecer como um humano, ficar fraco... Eu... Eu estou com sede...
- Não vai, vai ficar assim pra sempre. Vai jantar comigo, vai viver comigo. Vai dormir e acordar comigo. E vai poder sair porque eu vou saber onde está se tentar fugir.
Yori uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, mas sabia que ele era daquela forma, então não discutiria. Naquele momento, sentiu o velho Yori se afogar no rio, já não era mais o humano fraco que fora antes, sentia todos os cheiros ao redor, inclusive o dele, e estranhamente, era doce, suavemente azedo, como um morango, quase riu com a comparação. 
- ... Me leve pra casa. - Murmurou.
- Vou leva-lo. Mas eu imaginei que poderíamos ver isso quando você acordasse. 
O maior disse, sugerindo a paisagem. Não que tivesse aquele hábito, mas foi ali que começou, terminou e então começou outra vez. Yori uniu as sobrancelhas, ainda não enxergava corretamente, então virou-se pouco, observando o rio, que parecia calmo naquele dia, e no horizonte, o céu estava manchado de laranja. 
- ... Hideki... É lindo...
Hideki observou da mesma forma como ele. Mas ficou em silêncio, segurando-o no abraço, não tentaria porque não conseguia mensurar as sensações, pertenciam a si e também a ele. Yori suspirou, mesmo sem precisar e não tinha medo, se equilibrava no colo dele, fitava a água do rio, que parecia limpa naquele dia, estava tranquilo porque sabia que se o corpo batesse na água, não morreria, voltaria para ele como havia acontecido, não sabia que se quer havia caído. Estava feliz, verdadeiramente. Mesmo que fosse noite, podia ver os traços do sol no céu. 
- ... É o sol...
- É, estou vendo...
O maior falou em retribuição, mas não estava mesmo olhando adiante, olhava para sua nuca descoberta pelos cabelos, mas sim, via o sol.
- Ele não vai matar a gente? 
O menor murmurou e segurou a mão dele atrás de si, entrelaçando os dedos aos dele.
- Bem, temos que voltar pra casa agora. 
Hideki disse e segurou sua mão, embora não estendesse porque daquele toque. Mas se levantou e levou consigo o menor antes no colo, colocando-o no chão. De frente o olhou novamente e selou seus lábios. 
- É muito cedo pra caçar?
Ao ser colocado no chão, o menor sentiu-o nos próprios pés, estava sem meias, sem sapatos, foi um alívio, era só o asfalto, mas queria sentir a grama. Desviou o olhar a ele num pequeno sorriso e retribuiu o selo nos lábios, tentou caminhar para ele, mas as pernas estavam fracas, e quase caiu. 
- ... Caçar?
- É, ir se alimentar.  
Hideki o segurou pelos ombros estreitos.
- Ah... Eu não acho que eu consiga morder alguém, eu tenho que... Me acostumar com a ideia.
O maior assentiu, naquilo teria alguma paciência, afinal, quase o forçara a morder a si. 
- Você quer me morder?
Yori aproximou-se dele, devagar a se apoiar em seu corpo para ficar de pé e aconchegou o rosto em seu pescoço, aspirando seu cheiro, e ele tinha um cheiro tão gostoso. 
- Na verdade eu quero... Você tem cheiro de fruta fresca.
- Não vou matar sua fome, mas você pode fazer isso. 
Hideki disse e deslizou as mãos que foram de seus ombros até sua cintura. Yori assentiu e devagar aconchegou a face em seu pescoço e abriu a boca, como se fosse morde-lo quando humano, mas agora, antes que os outros dentes o tocassem, as presas furaram sua pele macia e o sangue dele veio para os lábios. Sugou, e não se lembrava de ter tomado algo melhor em toda a vida, era exatamente como o cheiro, como uma fruta doce e crítica, tão gostoso.
O maior sentiu sua mordida que cautelosa, parecia ainda pior do que se não fosse, era vagarosamente dolorido, mas gostava de sentir aquilo, junto da sensação de dor ou desconforto, vinha também uma certa satisfação. Fechou os olhos e apenas sentiu, até que ele se sentisse satisfeito. Yori bebeu bastante, concentrado no sabor dele, só cessou quando percebeu que havia sido demais e o lambeu na pequena ferida que devagar se fechou. 
- Você é tão gostoso... Tem realmente o mesmo gosto do cheiro.
Hideki sentiu um leve arrepio na pele ao tirar seus dentes pequenos e afiados do pescoço. Ia precisar se alimentar com ele, mas ia ser sua primeira refeição, sentiu-se como um pai deveria ser, deveria. 
- Está tudo bem? - O menor disse a unir as sobrancelhas.
- Sim, não sei exatamente expressar minha animosidade.
O menor sorriu meio de canto. 
- Eu... Deveria sentir você melhor... Não é?
Hideki segurou sua mão e o puxou para o colo, tomando-o nos braços logo seguiu o caminho com passos que talvez para ele agora parecessem normais, mas eram rápidos. 
- Vai amanhecer logo.
- Ah... - Yori aconchegou-se nos braços dele e fechou os olhos por um momento, era confortável. - Hum... Logo chegamos em casa
O maior não precisou de muito para chegar em casa, rapidamente entrou, livrando-se do possível alcance do sol. Percebeu que a casa havia ficado silenciosa demais sem ele, mesmo que sua voz fosse sempre baixa, ouvia-o facilmente. Havia se acostumado com ele e embora não quisesse assumir para si mesmo, tinha alguma dependência.
-... Yori-chan acordou? - Disse Ophelia ao vê-lo entrar com o pequeno e sorriu afável. - Bem vindo de volta, Yori.
- Oi Ophelia... - O pequeno disse num sorriso. - Obrigado.
- Vamos beber alguma coisa, você quer? 
Hideki indagou e pegou brevemente a mão do garoto, levou seu dedo pequeno até a boca e mordeu, queria sentir seu gosto novo, queria saber o que estava sentindo. Yori assentiu a ele, distraído, porém sentiu o dedo mordido e gemeu dolorido, mas não realmente, a dor era diferente agora. Naquele momento, não sabia o que ele poderia sentir, não estava pensando nele de modo romântico, ele precisaria esperar um pouco.
O maior olhou para ele, ficou confuso, havia sentido uma sensação diferente quando ele acordou. Franziu suavemente o semblante mas não disse nada. 
- Certo, Ophelia, dê algo a ele. - Disse, certamente não tão afável quanto antes.
Yori uniu as sobrancelhas conforme ouviu o tom de voz dele mudar, mas se levantou e esperou pelo copo de algo vermelho que ela havia dado a si. Observou o líquido e estranho um pouco, mas tinha um cheiro doce, parecia gostoso então deu o primeiro gole e sorriu a ela, com os gostos pequenos franzidos, só então golou todo o sangue até terminar com o copo. 
- Oishi.
Hideki o observava e sentia sua sensação de sede passar, mas tinha uma euforia pela nova descoberta de sabor, imaginava se ele estava entendendo que se tratava de sangue. Ainda assim, estava mais atento e curioso sobre outras coisas, sobre como ele deixava a si confuso e isso emputecia a si mais do que antes agora, porque agora não podia sequer se enganar.
- Posso tomar mais? 
Yori falou a ela e estendeu o copo, esperando pelo sangue que ela deu a si e  bebeu mais um copo cheio, deixando-o sobre o balcão. Aquela altura os olhos já estavam vermelhos. 
- Eu dormi por quanto tempo?
- Três dias, quase quatro. 
Hideki respondeu, precisamente. Fitava-o logo a frente, bebendo o sangue, saciando sua sede, havia esperado por tantos dias, eram poucos, mas quando não sabia o que ia acontecer, pareceram eternos e agora, estava ali, como se nada tivesse mudado. 
- Hum... Aconteceu alguma coisa? 
Yori murmurou e desviou o olhar a ele.
- Não, estava apenas esperando.
- É que você parece bravo. - O menor disse e uniu as sobrancelhas, Ophelia o olhava como se soubesse o motivo, mas não queria perguntar a ela. - ... O que eu fiz?
- Nada. - Hideki disse entre os dentes. - Vou me deitar. 
Ao menos saberia onde ele estaria se tentasse sair dali, ainda que descobrisse daquela forma que só sua presença não era suficiente. Yori uniu novamente as sobrancelhas conforme o viu sair e desviou o olhar a outra atrás de si. 
- ... Ophelia, o que eu fiz?
Ela sorriu num sopro nasal, já havia sido humana então muitas vezes tinha aquele hábito.
- Ele pensa demais, Yori-chan. Ele é silencioso mas tem muito barulho naquela cabeça, muitas vezes tanto barulho que não consegue ouvir a verdade corretamente. Mas após descansar, tenho certeza que ele será um pouquinho mais paciente, um pouquinho. - Novamente sorriu. - Mas foi bom ver Hideki-san cultivar alguma coisa. - Referia-se a ele.
Yori assentiu ao ouvi-la, estava um pouco confuso ainda.
- ... Ele está pensando que não gosto dele? Mas ele pode sentir a mim.
- Talvez ele esteja cansado, ficou acordado esperando anoitecer e então te levava até o local onde foram, chegava antes de amanhecer, banhava você e então te acomodava em sua cama. Então ele deve precisar descansar.
Yori uniu as sobrancelhas novamente, imaginou todo o percurso que ele fazia consigo naqueles dias, e sentiu um aperto no peito. 
- Ele fez isso por três dias? 
Disse a fita-la e sentiu as lágrimas nos olhos.
- Ora, não fique triste, ele vai saber se ficar triste agora. E estando aqui, vai achar que eu quem o deixou triste. Ele fez, queria que acordasse num lugar específico, eu imagino. Por não dormir, Hideki-san tende a se irritar mais facilmente, então espere por amanhã.
O menor assentiu e abaixou a cabeça, só então notou que realmente não usava as mesmas roupas que usava no dia, e que estava limpo, provavelmente ele havia dado banho em si há pouco tempo. Devagar caminhou para o quarto, ainda sentia aquele aperto incômodo no peito e ao abrir a porta, o procurou visualmente e no escuro agora podia ver. 
- Hideki...?
O maior saiu do banho, o que fez cruzar e parar em seu caminho, na verdade logo atrás dele. Ainda tinha a toalha ao redor do pescoço, certamente era por isso que sua conversa havia sido longa demais com Ophelia ou teria freado a língua da vampira. Ao sentir o cheiro de banho, Yori virou-se devagar e fitou-o, ele era tão bonito que teve que suspirar ao vê-lo. 
- Eu não sabia que tinha esperado tanto por mim...
- Foram apenas três dias. Não precisa ter pena de mim. 
Hideki disse, sentindo sua leve angústia.
- Eu não tenho pena de você. Eu na verdade, achei adorável. 
Yori disse num pequeno sorriso e aproximou-se dele, abraçando-o, apertado e agora ele poderia sentir a sensação gostosa que irradiava o peito, era a prova de que gostava dele. O maior tocou seus cotovelos ao sentir o abraço da forma como sentiu o enlace. Satisfação foi sentir o que sentiu vindo dele, não pelo carinho mas sim porque falava a verdade, porque sabia que era verdade. 
O retribuiu no abraço. Ao sentir o abraço, ainda que ele fosse frio, era quase quentinho, era confortável. Yori ergueu a face e selou os lábios dele, podia sentir o toque da pele dele de modo mais suave.
- É estranho, porque toda vez que eu fico perto de você eu quero te morder. - Riu baixinho. - Seu cheiro é muito bom. Como você aguentava ficar perto de mim?
Hideki sentiu seu beijo, seus lábios agora pareciam ter o mesmo toque, não sentia um leve choque com a sua temperatura como costumava sentir. 
- Eu sempre bebia alguma coisa antes. Mas agora é diferente, porque você é um vampiro, seu sangue agora vai ser mais saboroso pra mim. 
Disse e subiu a mão até seus cabelos, o segurou e desviou até seu pescoço, roçando os lábios, os dentes. Yori arrepiou-se conforme sentiu os lábios dele contra o pescoço, sentia o cheiro dele, o que acendia os olhos, e era assim que tinha uma ideia suave de que estava apaixonado por ele, como vampiro era óbvio, mesmo perto de Ophelia, o cheiro dela não parecia com o dele, não era interessante. 
- Hideki... - Murmurou. - Faz amor comigo?

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1 comentários:

  1. Eitcha, eitcha! Foi só virar vampiro que ficou danadinho né Yori? :v eita menino safadinho, mas a gente gosta assim e como gosta! Agora sim vai pegar fogo! Sem dó! Só bora!!!

    Obrigada novamente Kaya, você é demais <3

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