Ikuma e Taa #66


Estava frio, mas não o suficiente para afetar a pele de um vampiro. Ikuma havia saído naquela noite, mas não sozinho, levava Shizuka, para sua primeira caça.
- O que vamos pegar?
- Um animal pequeno, você ainda não pode caçar um humano.
- Por quê? Prefiro um a um animalzinho...
- Porque você não conseguiria segurar um.
- Então me dá um pra você ver.
Ikuma riu e acariciou os cabelos dela.
- Não seja boba, vamos.
Ao cruzar a rua, Ikuma pôde ver, num beco, um pequeno bichinho mexendo em uma das latas, era um gato.
- Vamos caçar aquele gatinho. Tem que ser silenciosa.
- Papai, não quero caçar o gatinho...
- Mas é preciso Shizu, eu tenho que te ensinar a caçar.
- Mas ele é tão fofo... Não pode ser outra coisa?
- Se caçar ele, quando chegarmos papai te da docinho, bolinha.
- Bolinha? Eu estou gordinha?
Ele riu.
- Ah sim, você está tão gorda quanto sua mãe. Vá.
Shizuka estreitou os olhos e se abaixou na rua escura, seguindo em passos lentos até o beco, onde encontraria o gatinho. Podia sentir o cheiro dele, o cheiro de sangue e carne fresca, embora não quisesse caçá-lo, sabia que precisaria para sobrevivência e o pai não estava totalmente errado de fato, mas ter que fazer aquilo era um pouco difícil porque tinha um gatinho, e na verdade ele era bem semelhante àquele. Enquanto se esgueirava para pegar o animalzinho, nem se deu conta de que outra pessoa estava nas sombras, e pulou por sobre ela, derrubando-a no chão.



- Arisu, não corra!
- Eu só estou um pouquinho na frente.
Disse ela, mas novamente estava se afastando de Kazuto, que tentava segurá-la por seu bracinho pequeno, era tão arisca quanto Yuuki, então era difícil lidar por causa de seu temperamento.
- Escute, alguém pode te pegar e levar embora, fique perto da mamãe, tudo bem?
Ela fez um bico e estreitou os olhos, mas assentiu.
- Eu... Não sei ao certo o que vamos caçar... Na verdade eu nem sei exatamente caçar, mas Yuuki está sempre ocupado e alguém precisa te ensinar, então...
- Então por que nós viemos?
Kazuto uniu as sobrancelhas.
- Venha, vamos procurar algum animalzinho pequeno e eu te ajudo.
O menor fitou os passinhos apressados dela, ainda que segurasse sua mão, mas cessou os passos numa esquina, sentiu um cheiro estranho, era o cheiro de Yuuki, por isso ficou com os pés bem firmes no chão, não conseguiu se mover, e os olhos buscavam o loiro na escuridão, achando que ele talvez estivesse indo ao próprio encontro e ao da filha, mas não era ele. A distância podia ver um rapaz, de mesma altura que ele, mas os cabelos eram mais curtos e repicados, não fazia ideia de quem ele era, mas os olhos amarelos dele brilhavam na escuridão, sabia que ele era um vampiro nascido, assim como o próprio namorado. Enquanto olhava o vampiro, Kazuto nem se deu conta quando Arisu escorregou por seus dedos e soltou sua mão. Como um gato selvagem ela se aproximou da outra vampira e pulou sobre ela, a empurrando sobre o chão, pelo cheiro, Kazuto sabia que elas tinham a mesma idade, mas isso não deixou de apavorar a si, já que o vampiro era tão forte quanto Yuuki.
Shizuka caiu num baque seco contra o chão, sentindo as costas doloridas, ela desviou o olhar para a garota sobre ela, tinha cabelos negros e compridos, bonitos que caíam ao redor de seu rosto como uma cortina negra, podia ver claramente os ângulos do rosto dela e como era bonita, principalmente seus olhos amarelos brilhantes. Arisu não disse nada enquanto a encarava, era como um gato arisco, mesmo seus olhos afiados. Shizuka, que já era mais tranquila abriu um pequeno sorriso, mas não pôde prever quando a morena rolou com ela pelo chão, tinha unhas afiadas que tentaram arranhar a outra de qualquer jeito, mas quem conseguiu arranhar o braço de alguém foi Shizuka, alerta aos movimentos daquele pequeno gato feroz e a segurou com uma das mãos ao redor do pescoço, alcançando seu braço arranhado com uma das mãos, a loirinha lambeu a ferida e sentiu o gosto doce de seu sangue, como o de sua mãe, apesar de não saber exatamente isso.
- Sua maldita! Eu vou te matar!
- Arisu!
Kazuto gritou conforme alcançou a filha e puxou-a por sua mão, afastando-a da loirinha, e se quer percebeu quando o vampiro loiro estava ao lado dele, analítico.
- Quem são vocês?
- Me desculpe... Me desculpe senhor, eu estava levando ela pra caçar, não sabia que ela iria pular na sua filha.
Kazuto apertou o braço da filha, não realmente forte, mas estava repreendendo-a pela desobediência.
- Tome mais cuidado com a sua filha. Você está bem, Shizuka?
- Estou, ela não conseguiria me machucar.
Arisu estreitou os olhos.
- Vem aqui que você vai ver!
- Arisu!
Ao dizer, Kazuto ouviu o riso do loiro junto a sua filha, ele negativou.
- Tome cuidado porque da próxima vez, pode ser que você encontre um vampiro bem pior do que eu, garoto.
- Eu sou pai dela... Mãe, na verdade...
Ikuma o encarou, parecia uma criança cuidando de outra, e teve que abrir um sorrisinho. Sentia um cheiro nele, estranho, um cheiro que não sentia há tanto tempo, que até havia se esquecido de como era, Shizuka farejou o ar da mesma forma, era estranho porque o rapaz que se encolhia cada vez mais tinha algum traço de cheiro do pai.
- Me desculpe. Com licença.
Kazuto puxou a pequena que encarou a outra de olhos estreitos ao passar, a levaria para outro lugar e certamente a bronca estaria garantida. Quanto a Ikuma, tentou não entrar em detalhes sobre o garoto e desviou o olhar ao beco.
- Droga, o gato fugiu, teremos que achar outro.



- Estava bom?
- Oishi. Mas eu fiquei com dó do gatinho... Depois eu olhei pra ele e parecia tão indefeso.
- Será que é porque ele é indefeso?
- Ah, como é chato...  - Brincou ela. 
- Você entendeu!
Taa estreitou os olhos ao rapaz, que agora era retirado da boate pelo segurança e suspirou em seguida, desviando o olhar ao barman.
- Por que é só o Ikuma sair que tem sempre um imbecil pra querer arranjar confusão? Eu tenho cara de fraco que tem pena? Não responda. 
Virou-se a sentir o cheiro familiar, mesmo apesar de todos os vampiros no local e abriu um pequeno sorriso, caminhando em direção a entrada a procura do outro junto da filha pequena. Ikuma seguiu com a pequena ao outro, e o cumprimentou inicialmente com um sorriso e posteriormente um beijo superficial.
- Mãe... Matei um gatinho... Teria menos dó se fosse uma pessoa.
Taa sorriu ao marido e lhe selou os lábios, desviando o olhar a filha em seguida e lhe beijou a face.
- É mesmo? - Riu. - Mas conseguiu matar ou o papai ajudou?
- Eu fiz sozinha. Só apertei o pescocinho... que... parecia tão pequenininho, tão frágil.... Mas... - Ela lacrimejou. - Eu fiz rápido pra ele não ficar com medo.
- Ah... Tudo bem, não terá que fazer mais isso, só quando for mais velha, assim pode matar um humano.
- Sim, porque humanos podem ao menos tentar se defender.
- Sim, da muita pena fazer isso com animaizinhos, ainda mais pensando que poderia aconteceu o mesmo com o nosso pequenininho, não é?
- Hai. E que ele pode ter um dono ou uma mamãe esperando ele que nem você ficou aqui esperando a gente.
Taa assentiu e beijou o outro no rosto assim como a filha.
- Senti algo estranho, aconteceu alguma coisa?
- Encontramos outros vampiros. Um pai levando também a filha pra caçar, mas ela tentou atacar a Shizu, deve ser totalmente inexperiente, e os pais irresponsáveis de deixar uma criança atacar uma pessoa ao invés de começar por animais.
- Entendi... Mas você está bem? Não aconteceu nada com você, não é? 
Taa falou a observar a filha.
- Iie. Ela só pulou e me fez cair mas provavelmente era indefesa também. Eu arranhei ela, até peguei uma gotinha de sangue.
- Então tudo bem. Vamos descer, hum? Já lidei com muita gente bêbada e insuportável hoje.
- Vamos. Quero algo gostoso pra comer. 
Ikuma deu um tapa sob a nádega do companheiro, indicando a direção o qual seguiram para a moradia. Taa estreitou os olhos.
- Pelo jeito você também. - Taa falou ao outro e logo desviou o olhar a filha. - Mas não acabou de comer?
- Vai me chamar de gorda também? Eu só queria um docinho...
- Você não seria gorda nem se quisesse, pequena. - Taa riu. - Ta bem, ta bem.
- Papai está me chamando de bolinha. 
- Quer deixar a menina complexada? - Taa estreitou os olhos ao outro.
- Eu disse que ela é tão gorda quanto você.
- Eu estou gordo?
- Não sentiu a ironia, lagarta?
- Ah... Achei que estava ficando gordo mesmo.
- Quem sabe, se estiver buchudo de novo.
Taa riu e lhe selou os lábios.
- Hum... - Ikuma murmurou e sorriu a ele após o selar.
- Mamãe, a menina era bonitinha, podia ser minha amiga, mas é metida.

- Metida, é?
- Sim. Ia me xingar porque eu arranhei ela. E disse que conseguia me matar.
- Hum, eu duvido muito...
- Claro que não ia. Mas o papai dela, que deve ser a mãe, era fofo... - Ela ria. - Era menor que o papai, só pra imaginar, era miudinho e se encolheu todo de medo do papai.
- Menor que você? - Taa desviou o olhar a Ikuma. - Era um anão?
- Ah, então falta pouco pra mim, é isso?
- Ah, mas você é um anão sensual.
- Vá se foder, lombriga.
- Hey, olha o palavreado na frente da sua filha.
- Um dia ela vai falar também. Ele devia ter por volta de um metro de cinquenta. E o cheiro dele era familiar.
- Familiar? Um dos seus amantes? 
Taa arqueou a sobrancelha e riu baixo, seguindo o caminho para o andar de baixo.
- Quem sabe. Tinha o cheiro do papai nele mesmo.
Taa parou e virou a observá-lo.
- Não agita, Shizu.
- Papai está saindo com outro? Traiu a mamãe? 
- Shizuka, viu como ele ficou com medo.
- Por que ele tinha seu cheiro?
- Quem sabe. - Ele deu de ombros.
- Hum...
- Hum, não seja boba, lagarta. 
Ikuma o puxou na cintura, envolvendo-a. Taa estreitou os olhos a ele novamente.
- Como eu posso não ser bobo, se o outro vampiro estava com o seu cheiro?
- Porque eu não tenho cheiro de outro vampiro.
- Hum... 
Shizuka deu-lhe um peteleco sob a testa.
- Mamãe burro.
- Ai. - Taa segurou a mãozinha da filha e levou próxima a boca. - Vou morder hein?
- Morde, ó.
Taa abriu a boca a expor as presas.
- Vou morder hein?
- Morde pra matar a vontade. 
Ela riu baixinho e empurrou a mão contra ele, porém sem forçar a alcança-lo.
- Porque se tiver buchudinho que nem o papai falou, neném fica com vontade. - Brincou.
Taa riu e a beijou na mão tão pequenininha.
- Mamãe não está buchudinho.
- Ah... Mas parece que queria estar hein.
- Querer eu queria, mas você é minha princesinha, não preciso de mais uma.
- Hum... Queria é?
Taa assentiu.
- Podemos fabricar.
- Só fabricar, não é? - Riu.
- Sim, fabricaremos.
- Ah, eu queria ser filha única.
- Mamãe só esta brincando, pequena.
- Mentiroso.
- Verdade.

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