Ritsu e Etsuo #30


Antes de sair para o trabalho, Shiori havia passado no quarto do filho menor, esperando encontrá-lo sozinho na cama, porém, de longe podia ver uma silhueta coberta sobre seu corpo, os cabelos negros caíam quase como um véu negro em seus ombro, e sabia que o filho dormia ali com ele, abraçando-o contra o corpo, e já era o segundo dia, desde que havia entrado ali, não havia saído nem uma vez. 
- ... Etsu? Você precisa comer... 
Etsuo abriu os olhos, devagar conforme ouvira a mãe e negativou, agarrando-se ao corpo do irmão antes que alguém quisesse tirar a si dali.
- ... Estou bem. 
- ...Vou deixar a taça aqui na cômoda então. Se algo acontecer, me ligue, tá bem? Eu... Estarei aqui do lado no hospital. 
Shiori disse, e lamentou-se por ele, sentia sua tristeza, e ela era tão forte que podia derrubar a si se não tivesse a cabeça firme.
- Tchau, meu amor...
Ao voltar para casa, duas horas depois, o menor adentrou o quarto, fitando o filho ainda na cama e a taça, intacta ao lado da cama. Negativou, passou por ele e tocou seu rosto, notando-o adormecido. 
- ... Etsuo... Você não pode ser tão irresponsável.
Kaname observou o companheiro logo na entrada do quarto do filho caçula. Falava baixo, mas podia saber o que acontecia. Ao seguir até a porta, fitou o filho mais velho, parecia tão cadavérico quando o mais novo. Ao entrar, passando por Shiori, se sentou na cama e tocou o caçula, notando a maleabilidade que ele ainda tinha, no fundo aquela sensação era como um sopro de ar em um peito carregado, tinha mais um dia de espera. Após fazê-lo, tocou o queixo do filho mais velho, segurou e com a outra mão pegou a taça da bebida que levou para sua boca, como o banho que deu nele, o alimento lhe deu como se fosse novamente uma criança.
- Beba, se ele precisar de mais sangue, você precisa ter saúde para doar o seu a ele.
Etsuo fungou, aspirando o cheiro que se fazia presente no quarto, havia agarrado o irmão com mais força, claro, ainda dormia, e até chegou a rosnar, antes de ter o queixo pego pelo pai e acordar finalmente. Uniu as sobrancelhas, observando-o e sentiu o sangue na boca, que golou, sem muita opção. Tossiu ao fim, quando não havia mais nada na taça e estremeceu.
- ... Não precisava me fazer engolir...
- Precisava, você está ignorando sua mãe, mas comigo o negócio é diferente.
Etsuo limpou a boca, livrando-se do sangue e novamente se deitou, abraçando o irmão.
- Kaname... Ligaram da escola do Ritsu. 
Disse enquanto observava as ligações no celular.
- Diga que ele m... - Por um minuto impulsivo, Kaname queria ser grosseiro, mas não era o único em luto, Shiori também estava. - Mudou de escola.
Shiori uniu as sobrancelhas e assentiu, ligando para a escola e saiu do quarto, seguindo para a cozinha.
- Você não é mais uma criança, você tem aprender a lidar com as consequências dos seus atos. Se ele acordar, estará debilitado, não acho que é assim que ele espera ver você.
Etsuo desviou o olhar ao pai. 
- ... Só não estou com fome. Não estou fazendo greve de fome.
- Não me interessa, com fome ou não você precisa se alimentar. Antes disso acontecer, mesmo sem fome você comia, comia até a comida humana do Ritsu. Você vai se alimentar contra a sua vontade se preciso.
Etsuo assentiu, sem força para discutir, e ainda deitado, apertou o corpo do menor. Kaname suspirou e esticou-se para tocar o rosto do filho. 
- Ele vai acordar. Você deu do seu sangue, você é um rapaz forte. Tolo, mas forte. - Kaname acariciou seus cabelos negros.
Etsuo desviou o olhar ao pai e assentiu, unindo as sobrancelhas conforme sentiu a carícia. 
- Me desculpe, papai...
- Se você se cuidar direito. - Kaname disse e por fim se levantou. - Descansem...
Etsuo assentiu, não se levantaria dali. 
- ... Boa noite.
- Bom dia.
- Hai...

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