Kazuma e Asahi #81


Um suspiro deixou os lábios de Asahi, eram cinco horas da manhã, havia passado a noite em claro, e embora alguns aviões passassem sobre a casa causando alvoroço nas outras pessoas por ali, não deu se quer um segundo se atenção aos barulhos, isso se devia ao fato de que estava extremamente concentrado na estrada, podia vê-la, inteira, até desaparecer no horizonte e nada dele ou do carro dele, os olhos eram vidrados, segurava a grade com força, nem podia notar a tensão que tinha no pulso.
- Asahi-san... Você... Precisa se deitar.
- Hum? 
Asahi desviou o olhar ao garoto. 
- Você precisa descansar... Vocês dois. 
- Não posso, Kaito... Não saio daqui até ele voltar. 
- ... Asahi-san sei que você sente falta dele, mas... Você não pode ficar sem dormir até ele voltar, sua febre abaixou um pouco, mas... Ainda está suando. Está frio, me deixe pelo menos trazer um cobertor.
- ... Ele não está voltando. Por que ele não está voltando? Ele me prometeu... Ele me prometeu. Não foi como na igreja, ele olhou nos meus olhos e disse que ia voltar. 
Sem que percebesse, Asahi podia sentir as lágrimas nos olhos.
- Não, não chore, Asahi-san... Ele vai voltar, por favor.



 Já era quase o terceiro dia, quase se fosse levar em consideração o horário. Kazuma não havia quebrado a promessa que lhe fez, e embora se sentisse aflito, sabia que havia deixado alguma guarda aos arredores do alojamento onde os colocara. Asahi porém, não tinha certeza de como estaria. Após finalizar tudo o que havia se proposto a ajudar, havia discutido com demais militares, instruído alguns soldados e se colocado a certa disposição de onde estivesse, mas desta vez, não poderia estar presente. Precisou porém, cuidadosamente passar pelo alvoroço até conseguir chegar lá. 
- Asahi... Você realmente precisa descansar, você dormiu só duas horas desde segunda, e só porque a febre derrubou você, por favor, você precisa melhorar. 
- Kaito, por favor, me deixe aqui, por favor. 
Asahi disse, e podia sentir os dedos do garoto na própria camisa, negativou a ele e continuou agarrado a janela, ainda tinha esperança de que ele chegasse, como dito, não sairia dali, e ao longe, no horizonte, pode ver o vislumbre de algo. 
- É um carro? Aquilo é um carro?!
A rota até lá havia sido tranquila, aquela era uma região isolada, muito afastada, Kazuma havia levado algo em torno de três horas para chegar lá, aquela altura, os ruídos explosivos haviam se tornado cada vez mais distantes e cada quilômetro parecia mais longo. Nesse meio caminho, podia ver a guarda de um ou outro soldado, algumas casinhas eram dispersas, cada uma delas, por mais escondida que fosse escondia no subsolo toda uma moradia, famílias de militares, em boa parte aposentados. Mas uma delas, tinha uma pequena presença, conforme chegava mais perto, via cabelos claros numa janelinha, maldito fosse, era irresponsável. Mas ao desembarcar, rompeu o que faltava do caminho a pé, tentando conte-lo no lugar antes que saísse da casinha. Era realmente um carro, Asahi não estava ficando louco, então, ele havia realmente voltado para si? Era verdade? Rapidamente dispensou o cobertor que o garoto segurava para si e caminhou até a porta, tentando alcançar a maçaneta, mas fora parado por um guarda.
- Desculpe, você não tem autorização para deixar a casa. Na verdade, nem estar aqui em cima. 
- Me deixe sair! 
- Não posso, senhor, acalme-se, por favor. 
- Kazuma!
Asahi gritou, atirando-se novamente em direção a maçaneta e fora segurado pelo rapaz, claro que não se sentia seguro em seus braços, e num reflexo, o acertou no rosto com o punho cerrado, alcançou a maçaneta e correu ao encontro dele. Quase pôde sentir o baque do corpo quando o alcançou, nem havia visto as lágrimas escapando dos olhos, sentia o cheiro dele, sentia sua pele quente, era ele mesmo? Era, tinha certeza que era. 
- Kazuma...
- Fique aí! 
Kazuma exclamou mas era um pouco tarde quando tão logo o recebeu nos braços, colidiu consigo tamanha força que pensou por um instante que ele esperava um bebê, talvez não fosse assim nocivo. Ainda assim, nos braços do menor, sentindo suas tragadas, aspirando o cheiro do próprio pescoço, murmurando de saudade ou talvez insegurança, ainda assim, com ele erguido passou a caminhar até a pequena casa. 
- Não seja irresponsável, aqui não é seguro. - Disse, tipicamente firme, mas era tão firme quanto abraça-lo. - Soldado, entre. Kaito, faça-lhe os cuidados. - Indicou seu rosto acertado, o qual havia visto a cena. Após entrar, mesmo ali na casinha, o deixou no chão e se afastou para olhar seu rosto o qual segurou entre as mãos. - Está tudo bem. Eu não faço promessas em vão.
Asahi nem se sentiu ser levantado por ele, sentia-se leve como uma pluma, era confortável estar nos braços dele, sentir o toque dele, firme como não sentia a firmeza em nenhuma outra pessoa. Estava tão feliz que ele realmente havia voltado para si, que não podia nem expressar. Não notou também o nariz ensanguentado do soldado, não podia ver nada, só ele naquele momento e o fitou conforme segurou a própria face. 
- ... Você demorou demais...
- Tive muito a resolver. - Kazuma disse-lhe enquanto evidentemente o repreendia com o timbre de voz. Mas apalpou suas bochechas entre a palma das mãos. - Você não pode ficar aqui em cima.
Asahi uniu as sobrancelhas. 
- Eu sei... Mas não consegui descer enquanto você não chegasse. 
- Desculpe senhor, eu tentei levá-lo...
- Você precisa ser prudente, se eu chegasse e você estivesse em problemas? Além de colocar em problemas todos os que estão alojados. Tudo bem, Kaito. Apenas de jeito no soldado.
- Sim senhor.
- Desculpe... Eu não consegui esperar...
- Não me desobedeça novamente. - Kazuma disse e apertou seu nariz, pequeno. Tão logo voltou a pega-lo no colo. - Vamos cuidar da febre.
Asahi assentiu e agarrou-se a ele conforme havia pego a si no colo, repousando a face em seu ombro, não queria solta-lo. 
- Eu estou bem...
- Não está, e com isso, nem o bebê. 
Kazuma disse, e naqueles três dias, havia sido suficiente para se acostumar com a ideia. Estava feliz ainda que estivessem numa época ruim. O levou para baixo, lá, encontrou os pais, ganhou um abraço apertado mesmo com o menor no colo. Asahi sorriu ao vê-los se aproximar e manteve-se ainda agarrado ao outro ainda que ele estivesse ganhando o abraço, estava junto.
- Leve as crianças para descansarem. 
Disse a avó e Kazuma sorriu a ela, que certamente iria preparar alguma coisa para ambos, saiu com passos rápidos e curtos. Só então levou o garoto para a cama onde o acomodou, não teve o pescoço liberado porém. Asahi assentiu, e na verdade não queria solta-lo, por isso mesmo na cama, se agarrou ao braço dele.
- ... Não vá...
- Não vou. - Kazuma deslizou as mãos em sua nuca, afagando-o. - Tive de instruir alguns soldados, brigar com meus colegas de trabalho, não foi rápido como imaginava.
Asahi assentiu e suspirou por fim, agora finalmente podia descansar. 
- Estou tão feliz que está aqui comigo... Eu... Nem acredito, achei que não ia voltar. 
Disse a unir as sobrancelhas.
- Não acreditou em mim? - Kazuma indagou e tocou sua orelha, afagando-o.
- ... É difícil depois de ficar dois anos sem você... Sem... Foram quase quatro dias. - Asahi disse ainda agarrado a mão dele, e o quepe estava ao lado de si no encosto da cama. - Eu... Nós... Sentimos sua falta.
- Uh... - Kazuma murmurou, num sopro nasal. - Também senti falta de vocês. Mas, precisa descansar agora. Vou pegar o remédio, minha mãe deve estar fazendo algum. Preciso trocar algumas palavras com meus pais.
- ... - Asahi uniu as sobrancelhas e não conseguia soltar a mão dele. - Tudo bem... Mas volte logo.
- É. Feche os olhos, eu volto rápido.
Asahi assentiu e realmente, fechou os olhos, firme. Após sair, Kazuma seguiu ao carro abandonado a alguns metros da acomodação, era cauteloso e àquela altura, nada se ouvia pelas árvores ou montanha, mas sabia que a guarda por lá era intensa. Após pegar o que queria, voltou, falou com os pais, o restante dos serviçais e somente então voltou ao quarto, porém, levava consigo um chá nutritivo, ganhou da mãe e antes que chamasse a atenção do garoto de olhos fechados como ordenado, colocou ali o pequeno toca discos e o disco que soou baixo, mas bem audível. Ao sentir a presença no quarto, Asahi ainda se manteve de olhos fechados, podia sentir o cheiro do chá, era gostoso, mas o que fez a si abrir os olhos fora justamente a música, se lembrava dela, se lembrava muito bem, dava uma sensação feliz em si, se lembrava do dia em que dançou com ele. Abriu os olhos só então e desviou o olhar ao rosto dele, notando-o lado a cama e sorriu. 
- ... A música...
- Hum, você queria pegar, não é? 
Kazuma indagou ao se sentar ao lado dele. Somente então lhe deu o chá.
Asahi assentiu e sentou-se devagar, aceitando o chá e sorriu. 
- Obrigado...
- Como foram seus dias? Gostou da casa?
- Eu prefiro a nossa. - Asahi disse com um sorrisinho. - Mas é melhor que a igreja.
- Prefere a nossa, hum? - Kazuma disse num sorriso canteiro. - Eu também gosto mais. Mas acho essa aqui bem aconchegante. Ao menos não estamos lá fora.
Asahi assentiu. 
- Por isso é melhor do que a igreja. Mas... Dessa vez não temos nenhum médico, e se... E se durar tanto tempo quanto a da China? ... Como vou... Ter o bebê?
- Eu tenho algum treinamento, posso ajudar com seu parto. - Kazuma sorriu. - Mas temos alguns soldados posicionados na região, eu posso conseguir atendimento médico.
Asahi uniu as sobrancelhas. 
- ... Não... Não obrigado. - Riu. - Você é a única pessoa que faz com que eu sinta dor, acho que não quero você me abrindo com um bisturi. Esse tipo de dor não é muito sexy... Kazuma... É verdade eu... Eu não sinto dor, como vou saber se o bebê está bem? Se não está doendo? Se... Como vou saber qual é a hora?
- Você não sente dor, mas a gravidez não é somente sobre dor, u? Imagino que você vá saber a hora certa. - Kazuma acariciou sua bochecha quente pelo estado febril. - É como as outras reações do seu corpo, você vai sentir, mesmo sem dor. Ele virá bem.
Asahi assentiu ao ouvi-lo e segurou a mão dele, entrelaçando os dedos aos do outro. 
- Eu... Quero chamar de Kasumi se for menina...
Kazuma sorriu-lhe canteiro. 
- Kasumi, hum? É um bom nome. Asami também é bonito.
Asahi sorriu e assentiu. 
- Eu também gosto...
Kazuma sorriu-lhe igualmente e acariciou sua mão o qual era segurado. 
- Bons nomes.
- Hai... São bonitos. 
- Beba o remédio. Não está cuidando apenas de si mesmo agora.
- Vou beber sim. - Asahi disse num pequeno sorriso e observou os avós dele um pouco atrás, ela olhava para si com alguma atenção. - Gosto muito dela. - Disse num sorrisinho.
Kazuma virou-se para ver a que se referia e assentiu. 
- Duvido que alguém consiga não gostar.  Ela também gosta de você.
O loiro sorriu. 
- Eu tinha medo que ela não gostasse de mim... Por ser homem. .
- Ela nunca se importou com coisas triviais. Ela é apenas amorosa.
Asahi sorriu novamente e bebeu pouco mais do chá. 
- Você pode deitar comigo? Agora que você voltou eu posso descansar... Finalmente.
- Eu vou me trocar, por hora tome seu remédio.
- ... Tudo bem.
- Feche os olhos, tem música. 
Kazuma disse e antes de sair para buscar o que vestir. Asahi assentiu e sorriu, acomodando-se na cama e deixou de lado a xícara já sem o chá, estava sonolento e com ele ali, conseguia dormir, não demorou muito para pegar no sono inclusive.
Ao sair, Kazuma levou um tempo para voltar, trocou algumas palavras com os serviçais da casa e mesmo os próprios pais, ou melhor, avós. Era estranho estar lá dentro, sabendo do caos ocorrendo do lado de fora, as vezes, podia ouvir das bombas que alcançavam a região, fazia as acomodações trepidarem, mas nada que causasse algum furor, principalmente nos pais, que já haviam ficado por lá antes. Quando voltou para o quarto levou consigo uma mochila, havia levado algumas peças de roupa, dele também, inclusive uma que ele estava guardando há algum tempo e que provavelmente achava que desconhecia de sua existência. A música continuava tocando enquanto ele dormia. Estaria mentindo se dissesse que não queria estar lá fora, que não queria ter controle da situação, mas se estivesse lá, seria incapaz de cuidar das coisas como antes podia, agora não tinha apenas os pais, agora seria um pai.

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