Broken Hearts #30


Hideki sentiu uma desagradável sensação, um sonho vívido talvez, suficiente para interromper a profundidade com que dormia. Não sentia o cheiro dele, quer dizer, sentia o cheiro de Yori na cama, suave, mas não era na intensidade com que sentia quando ele estava nela. Sentou-se vigorosamente no leito, tocou seu lado vazio e embora tivesse certeza de que não estava ali, ainda assim tateou o cobertor, sentindo a maciez afundar sem cobrir corpo algum. Levantou-se, não precisava de muito para que qualquer um que estivesse no caminho soubesse, estava puto. 
- Yori! 
Exclamou no chamado enquanto marchava pela casa sentindo o cheiro se aproximar com mais intensidade enquanto chamava seu nome evidentemente irritadiço, muito mais do que o cenho marcando minhas profundas de expressão. 
- Yori!
Disse quando enfim deixou a casa para o lado de fora, era um lugar afastado e também não se importava de fato com a questão de estar apenas com uma calça larga. 
- Yori! 
Chamou quando o viu a certa distância, caminhando pela pequena trilha que entre as árvores densas o levaria para onde quer que quisesse ir longe dali.
- Aonde vai? 
Indagou firme e seguiu o caminho até ele, mesmo que pudesse ver que ele já estava voltando seus passos igualmente para a própria direção, segurou seu pulso quando o encontrou próximo, firme. 
- Aonde você ia, Yori? 
Via-se certamente transtornado, era como no sonho afinal, havia acordado com a sensação de traição, não física, não com outra pessoa, mas como se tudo o que Yori dizia fosse seu passe para convencer a si e assim ir embora em sua oportunidade, quando lhe parecesse apenas um homem frouxo.
Yori ouviu a voz dele, alta e o viu caminhar até si, Hideki havia estado tão gentil nos últimos dias que havia se esquecido o quão transtornado ele poderia ficar se saísse, mas naquele dia com a intenção de colher algumas frutas no caminho para a cidade, fazer uma torta pra ele e também comprar o teste de gravidez que queria, saber se poderia estar esperando o filho dele, não tinha muita experiência sobre como saber aquilo, e tinha vergonha de pedir a alguém o teste, mas fora parado antes que pudesse sair do terreno dele e a cesta foi ao chão vazia conforme puxado.
- Eh? Hideki! Está me machucando! Eu só ia colher frutas!
Hideki olhou para ele com firmeza, olhos imponentes que ele já bem conhecia. O segurou no lugar como estava, em sua resposta não lhe disse nada, apenas continuou a encara-lo por algum tempo, era como se tentasse processar a informação e aceita-la como era. Cerrou os dentes, mas o soltou, queria deixar claro que havia entendido embora por fim estivesse incomodado e ele saberia disso. Assentiu e enfim deu um suspiro.
- Tá, tá bem.
Yori olhou pra ele, e embora estivesse com medo do que ele podia fazer, não deu se quer um passo para trás, sabia que ele não bateria em si, então esperou para ver o que ele faria e no fim, deu um suspiro, em meio a respiração descompassada pelo receio. 
- ... Você quer vir comigo?
O maior não disse nada além do consentimento e compreensão, no fundo no entanto estava esperando que ele chamasse para que fosse com ele. 
- Hum. - Murmurou positivo.
- Ah... Você pode por uma camiseta? Embora eu goste de te ver assim, eu não quero que alguém queira roubar você de mim. 
Yori disse a ele e sorriu meio de canto. Hideki sabia que estava falando para amenizar a situação, embora provavelmente fosse apenas neurótico. Abaixou-se no entanto e buscou cada fruta que deixou cair de sua cesta. 
- Bem, tudo bem, pode vir assim então... 
Yori disse num suspiro e pegou a cesta com as frutas novamente.
- Eu vou vestir a roupa. Vem. 
Dito, Hideki pegou a cesta por ele e levou consigo, assim como segurou seu braço, sem força desta vez. Yori assentiu e seguiu com ele para dentro, sentindo seu toque suavizar no pulso marcado. Ao chegar lá, só então o maior o soltou. Feito isso seguiu e buscou algumas roupas que substituiu, vestiu uma calça, camisa, ajeitou os cabelos desalinhados pelo recém acordar abrupto, voltou para ele apenas quando terminado. Yori sorriu conforme o viu arrumado e colocou uma mecha de seus cabelos atrás da orelha, achou sua expressão emburrada adorável. 
- Tudo bem?
- Sim, por quê? 
Hideki indagou como se já não fosse óbvio. Segurou sua mão antes nos cabelos, deu até um beijo em seus dedos.
- Você parecia meio histérico quando acordou.
- Não estou histérico. 
O maior franziu no cenho, desaprovando a palavra. 
- Hum... Tá bem. 
Yori disse e virou-se, pegando a cesta novamente, mas deixou as frutas já pegas em casa.
- Você está chateado?
- Não, por que estaria?
- Porque eu te segurei no pulso.
- Ah... - O loiro desviou o olhar ao próprio pulso e massageou suavemente o local. - Já nem dói mais. - Sorriu.
- Hum. - Hideki disse e tocou seus cabelos, afagou-os. - Achei que estava tentando ir embora.
- Eu já disse que não irei. Precisa confiar mais em mim.
- Hum, eu tive um sonho ruim.
- Eu não irei embora. - O loiro disse, firme.
Hideki suspirou sem precisar, era um forma de se expressar sem dizer nada. Assentiu porém, embora fosse muito provavelmente se encanar com aquilo outra vez.
- Vamos? 
O loiro sorriu a ele e seguiu para a porta.
- Vamos. Aonde você quer ir? Podemos ir de carro se quiser ir um pouco além.
- Ah, vamos sim. Eu quero ir até uma farmácia.
- Farmácia por quê?
- Quero um teste de gravidez.
O riso de Hideki soou baixo. 
- Mas você não funciona como um humano, Yori.
- Não? Ah... Mas eu tenho me sentido meio enjoado... Eu acho que posso estar...
- Não. Você vai sentir quando estiver e vai saber.
- Ah, tá bem... Então...
- Hum? Você sentiu isso?
- Eu... Acho que sim, sinto um cheiro diferente, algo estranho, sede.
- Você sente que sim? 
Hideki sorriu, mostrando os dentes, embora fosse um sorriso tênue. Yori abaixou a cabeça a ponderar por alguns segundos e assentiu. Aquele era certamente um momento que Hideki não sabia como se expressar, mas sentiu o peito palpitar, era uma coisa nova, uma notícia importante, se ele sentia aquilo, certamente era a resposta, estava esperando um bebê. Abaixou-se, descansando a testa em seu ombro enquanto segurava suas mãos entre as próprias. Yori olhou pra ele, e era evidente que ele não sabia como reagir, mas parecia estar feliz, e era feliz fazendo ele feliz, de alguma forma, gostava de cuidar dele, como de uma criança que não teve a atenção dos pais, ele precisava de carinho. Apertou as mãos dele em meio as próprias e beijou seu rosto, meio de lado.
- Você vai ser papai, não era o que queria?
O moreno fechou os olhos e tragou seu cheiro, talvez tivesse notado apenas porque ele disse, mas sentiu um toque diferente no odor de seu corpo. Silenciosamente moveu a cabeça em afirmação, queria, queria mesmo ter aquela casa com mais do que a si mesmo. Yori sorriu e tocou os cabelos dele, acariciando e o abraçou.
- Mas você precisa... Parar de me machucar quando ficar chateado.
- Eu não queria machucar. Eu apenas me esqueço que você não tem a mesma força que eu.
- Você sabe que eu não faria isso com você. Eu não quero mais fugir. Agora você me dá liberdade e me respeita, não tenho porquê. E eu... Eu te amo.
- Mas o amor não mantém as pessoas no lugar. 
Hideki resmungou, não contragosto, apenas com a voz baixa.
- O de um vampiro sim.
- Nem sempre. 
O maior sorriu canteiro, sabia que as história dos pais não era exatamente assim. Yori uniu as sobrancelhas. 
- Como assim?
- Meus pais não ficaram juntos.
- Mas tiveram você...
- E o que isso tem a ver?
- ... - Yori uniu as sobrancelhas. - Você não me disse que vampiros só tem um parceiro?
- Quando você escolhe um parceiro, será o único pra você. Mas é necessário que a escolha seja entre ambos.
Yori uniu as sobrancelhas. 
-... Um dos seus pais... Não amava o outro?
- É, a pessoa que me deu a luz amava alguém que não o amou de volta. Minha existência não foi analgésica o suficiente, acabou percebendo que estaria fadado a viver doente se não estivesse com o outro homem. Quando morreu, me deixou com quem seria meu pai, na época Ophelia já vivia com ele, era uma jovem humana de quem ele bebia. Certa vez decidiu ir embora, transformou Ophelia e deixou-a na cama, morrendo, não sem antes deixar claro que deveria cuidar de mim. Dizia que um dia voltaria, certamente para que Ophelia cumprisse seu papel. Esperei alguns dias até que ela recobrasse consciência, foi uma mulher forte apesar de tudo, podia ter morrido facilmente. Desde então, acordou e passou a ser algo como uma irmã.
- Ah... É uma pena. - Yori disse a unir as sobrancelhas. - Eu... Sinto muito por sua mãe.
- Não sinta, ele escolheu o que achou melhor para ele. Talvez devesse ter prendido meu pai num porão. - Hideki brincou, ácido.
- Bem, isso não seria amor.
- Não seria justo, mas amor ainda seria.
- Sim, sua mãe amaria seu pai, e seu pai odiaria sua mãe.
- Como você.
- Sim. Percebe que quando me soltou eu comecei a gostar de você? O amor não é uma posse.
- Mas não funciona assim com todas as pessoas.
- Claro que funciona. Se a pessoa não te ama, é melhor que ela vá embora.
- É, problema seu se você se apaixonou, Ah?
- Sim, problema seu. Você não pode obrigar alguém a ficar com você. - Yori disse a unir as sobrancelhas novamente. - Mas eu amo você, então não se preocupe.
- Tsc. 
Hideki disse, já aborrecido com o assunto, não gostava da resposta, mas aquilo também era um problema próprio.
- Hum, temos que escolher o quarto do bebê.
- Sim... 
O maior murmurou, evidentemente com outro humor. Yori sorriu. 
- Que cor você quer?
- Preto?
Yori arqueou uma das sobrancelhas.
- Não... Tem que ser uma cor clara.
- Por quê? - Hideki indagou confuso. - Você está feliz? Você quer meu filho?
- É claro que estou feliz. - Sorriu. - Porque cores claras são calmas.
- Hum, acho que precisamos ver o que é necessário, assim eu vou saber sobre cores. O preto é uma cor calma pra mim.
- Hum, eu gosto de roxo claro.
- O que você quiser será bom. - Sorriu, brando.
Yori sorriu e assentiu. 
- Não se preocupe, vamos cuidar bem dele. Eu não vou embora. 
Disse e o abraçou, repousando a face no ombro dele, ele era tudo que tinha, mas não só por isso, gostava mesmo dele, havia percebido que ele era uma boa pessoa por trás de seus atos duros, mas porque ele não tivera alguém que cuidasse dele, era como um filhote, e de certa forma era adorável. Hideki levou os braços ao redor de sua cintura, retribuindo seu abraço, tentou não pensar que era por pena.

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1 comentários:

  1. Ahhhhhhhhhhh!!!! Temos um babys a caminho, hum... será que será apenas um? Será que não virão logo dois para deixar as coisas mais animadas? Estou super feliz com está volta! Amo demais está fanfic! Sei que andam ocupadas, mas ver que não abandonaram já me enche de felicidade <3
    Obrigada por mais este cap!
    Espero poder descobrir mais sobre o Hide-chan, por hora é bom saber que um dos pais dele, infelizmente, não amava o outro e tiveram que se separar... o amor não se sustenta por um único ser...
    Obrigada novamente <3

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