Masashi e Katsuragi #32


- O que o senhor está fazendo? 
Disse o garoto, se inclinando para a mesa em frente ao outro, que se sentava ali há alguns minutos e parecia desenhar, ou escrever algo, certamente só passando o tempo, mas parecia realmente entretido, o que havia chamado a atenção do pequeno. O kimono estava bem alinhado sobre suas medidas menores que o normal para um garoto de sua idade, mas não tinha problema, seria um prostituto logo, e bem, havia sido vendido então estava aprendendo, o problema é que gostava de ficar mais ao lado dele do que dos outros garotos, era melhor tratado por ele.
- Senhor Masashi?
Masashi perdeu-se na pequena atividade que havia iniciado em algum momento de tédio, não se deu conta inclusive quando foi chamado pelo rapaz e continuou a brincar com o pincél junto ao papel um pouco velho, tornando as manchas de tinta ainda mais bonitas. Somente o percebeu quando se inclinou e tornou perguntar. 
- Hum? - Murmurou automaticamente, no entanto voltou-se a fitá-lo. - Sim, Kei-chi-chan. - Disse entre pausas. 
- Ah, que lindo! Como você faz essas coisas com a tinta? Me ensina! 
E num movimento rápido, logo o garoto estava sentado ao lado dele, juntando as pernas as do outro, quase a sentar-se em seu colo.
- Me deixa ajudar.
- Ah, eu só estou treinando esse tipo de caligrafia, sempre achei um jeito peculiar. 
Masashi disse ao garoto, embora em poucos movimentos o tivesse colado ao lado. Riu, achando graça, via-o com tanta inocência quanto via Jun, embora talvez não devesse. Levou as mãos até a cintura do menor, ajeitando-o corretamente ao lado. 
- Não tão em cima, Kei-chan. Tem estudado pra ter seus modos, sabe que não deve se sentar assim.
- Ah, hai... É que eu queria ficar pertinho pra poder segurar o pincel. 
O pequeno murmurou e sorriu ao outro, observando as linhas finas feitas com a tinta com um pequeno sorriso nos lábios.
- Como escrevo meu nome?
- Você quer tentar escrever? 
Masashi indagou, achando adorável seu interesse, embora não pudesse imaginar se aquilo era realmente por diversão ou segunda intenção. 
- Quero sim. - Ele sorriu e estendeu a mão para alcançar o pincel. - Me ensina.
- Hai
Masashi disse e entregou-lhe o pincel. Ao chegar um pouco mais próximo, ajeitou-se de modo que passou um dos braços atrás de suas costas e segurou sua mão, sobrepondo-a no único intuito de ajuda-lo a traçar as linhas de seu nome. Umedeceu as cerdas em tinta e descansou sobre o papel, passando a desenhar como se escrevia. O garoto sorriu a ele, meio de canto e aceitou seu meio abraço, sentia-se confortável entre os braços dele, e sentindo sua mão sobre a própria quase desmoronou, porém manteve-se firme a deslizar a mão pelo papel, escrevendo o próprio nome. Ergueu a face a observá-lo ao fim, parecendo feliz de fato por ter conseguido, mas estava feliz por estar com ele ali e repousou a face, sutilmente sobre seu ombro em seguida. 
Masashi tracejou a folha com a tinta escura até que completasse com uma última gota arrastava no papel, dando fim à caligrafia. Fitou-o como consigo igualmente o fez e sorriu, deixando-o repousar. Via nele o irmão caçula que havia perdido antes de chegar ali, o pequenino, responsável pela chegada àquele lugar. Antes de sua morte havia cogitado a ideia de trabalhar no bordel a fim de mantê-lo, tinha saúde debilitada e precisava de cuidados melhores, infelizmente, acabara o perdendo antes que finalmente pudesse ter algum dinheiro. Culparia-se até o fim dos dias, ainda mais por ter encontrado a imortalidade muito depois de sua partida, talvez se tudo houvesse ocorrido antes, hoje ele estivesse no lugar ao lado de si. Suspirou e por fim deixou o pincel de lado, há tempos não se remoía por isso e não o faria agora, assim como nunca falara sobre isso ao companheiro. O pequeno uniu as sobrancelhas e ergueu a face a observá-lo.
- Está chateado? Eu fiz alguma coisa?
- Iie, mas terminamos seu nome. Ou quer escrever algo mais?
- Hai... Mas ficaria mais confortável escrevendo em outro lugar, senpai
O pequeno murmurou e o tratava assim, justamente por não saber que ele era um dos donos daquele lugar, agora que companheiro de Katsuragi. Não os conhecia tão bem para saber como aquilo funcionava. Masashi fitou o pequenino de soslaio e deu-lhe um breve sorriso, imaginando o que se tratava sua frase, seria bom com os clientes, mas não lhe deu bola. 
- Diga, sabe algo sobre quem comprou você?
- Ahn... Sei que Katsuragi gosta de você. Mas... Você atende clientes também não? Talvez possa me ensinar algumas coisas...
O riso de Masashi soou baixo, mas embora sem som, podia ser notório. 
- Sabe só isso? Bem, não atendo clientes, nunca atendi algum cliente além de uma bebida.
- Você... É virgem...?
- Ora não, eu me deito com Katsuragi.
- Ah... Mas... Ativo?
- Sim. 
Masashi disse, naturalmente, sem entender o real questionamento do garoto.
- Ah... Katsuragi parece ativo.
- Ah, está dizendo que pareço passivo? 
Masashi indagou e deu-lhe um aperto repreensivo na bochecha.
- Ah, iie, ou eu não teria interesse... Mas o Katsuragi deve ser difícil de lidar.
- Ele pode ser difícil com outras pessoas, comigo é diferente. Já ouviu dizer que as pessoas são diferentes no amor, hum?
- Hum... Acho que nunca vou saber. 
O pequeno murmurou e abaixou a cabeça, porém logo desviou o olhar a ele, e ponderou sobre o que sentia pelo outro.
- Ne, Masashi-san... Não me sinto bem, pode me levar ao meu quarto?
- O que está sentindo, Kei?
- Estou com uma dor estranha no peito. Pode dar uma olhada pra mim? Ah... 
Masashi gemeu, claro, forjadamente e puxou o obi, expondo o tórax pouco definido de pele branca, afinal, não era um adulto ainda.
- Hey, não se preocupe. 
Masashi disse ao vê-lo desenlaçar tão rapidamente sua roupa, expondo seu corpo de formas pequenas e delicadas, deitou a palma da mão sobre seu peito e no entanto segurou suas roupas, ajeitando-as tão logo. 
- Você é jovem, dores no peito não podem ser nada ruim na sua idade.
Kei uniu as sobrancelhas e quase bateu o pé no chão, irritado e segurou as mãos dele no kimono, deslizando os dedos pelos do outro, porém cessou ao ouvir o barulho da porta, era o dono, que havia parado ali mesmo, seu quimono desajeitado posto sobre o corpo, e era tão bonito que sentiu vergonha por se oferecer ao outro o tendo a seu lado.
- Estou atrapalhando alguma coisa?
Masashi voltou a direção visual à porta, onde o ruído trazia consigo a presença do moreno e sorriu com sutileza, mesmo que continuasse com as mãos em suas roupas, ainda as ajeitando.
- Estava ajudando Keichi com a roupa, parece que ele ainda precisa aprender como ajeita-las apropriadamente. Keichi, você pode ir, acho que Katsuragi precisa falar comigo.
O pequeno assentiu, levantando-se sem dizer nada e seguiu para fora.
- Ajudando Keichi com as roupas? Foi a desculpa mais idiota que eu já ouvi.
Masashi riu entre os dentes. 
- Ele está tentando ser impressionante, não é nada de mais. - Masashi disse e se levantou, seguindo próximo a ele.
- Mas parece que você também não sabe arrumar suas roupas. 
Disse e desenlaçou seu obi, dando maior vista de seu corpo, que passou a esconder corretamente ao ajeitar o tecido. 
- Não estou gostando nada de você com esse garoto. - Katsuragi falou a ele e logo o sentiu arrumar as próprias roupas. - Estou em casa, hum. Não é necessário.
- É necessário, existem outros meninos aqui e eles não são cegos. E ele é só uma criança, como um irmão, como o Jun.
- A maior parte dos garotos daqui são passivos.
- E daí?
- E daí, o que um passivo ia procurar em outro?
- E existe alguma diferença entre corpo de passivo e corpo de ativo? O seu é bonito, independente da sua posição na cama.
Katsuragi sorriu a ele, de canto.
- Acha que eu sou bonito, hum?
- Como se você já não soubesse disso. Keichi disse que você parece ativo.
- Hum... Entendi. Belo modo de se safar disso, não vou esquecer.
- Não estou me safando, saberia se eu estivesse fazendo algo errado.
Katsuragi sorriu a ele, meio de canto e deslizou uma das mãos por seu rosto numa suave carícia.
- Faça bolo pra mim, estou com vontade.
- Hum... É raro me pedir que faça. Está com desejo, hum?
Katsuragi sorriu novamente e assentiu, aproximando-se e lhe selou os lábios. Com uma das mãos segurou uma das mãos dele, guiando-a ao próprio ventre e nada disse por alguns instantes, notando a expressão que ele poderia fazer.
- Talvez.
Masashi sentiu o toque sobre a mão e guiou-a até ele, sentindo seu abdômen plano e voltou-se a fitá-lo diante de seu comentário. 
- Eh? - Indagou evidentemente surpreso. - Talvez?
O maior sorriu novamente e deslizou a mão livre pela face do menor.
- Eu ainda não sei, mas... Acho que posso estar.
- Oh... Como sabe? 
Masashi indagou, curioso mas não exigia realmente uma resposta. Sorriu a ele no entanto e descansou a testa contra seu ombro, pertinho do pescoço onde deu-lhe um beijo. Katsuragi deslizou a mão de seu rosto a seus cabelos e beijou-o na testa, abraçando-o logo em seguida.
- Tenho os sintomas que tive nas outras vezes... Só espero que dê sorte dessa vez.
- Então, vou fazer bolo pra vocês dois. 
Masashi disse ao desencostar-se, recebidos seus agrados com beijos sutis, deu-lhe um igual, na ponta do nariz. Katsuragi sorriu ao sentir os toques e quase podia sentir os olhos molhados pelas lágrimas a assentir a ele.
- Limão?
- Limão. - Afirmou a sua escolha.
Katsuragi deslizou a mão pelos cabelos dele, observando-o enquanto cozinhava e puxou os fios ao lado, dando um pequeno beijo sobre a pele.
Masashi segurava num meio abraço uma tigela com ingredientes para a massa de limão, o qual tinha a fruta tão amarela e ralada deixado ao lado, com a metade espremida, "coitadinha". Sorriu ao sentir o beijo na pele enquanto batia à mão. 
- Você parece animado.
O maior sorriu a ele e mordeu o lábio inferior, deslizando a língua em seu pescoço.
- Eu estou.
- Não estava falando sexualmente. 
Masashi disse e sentiu o eriço da pele tocada por ele, mas não desviou a atenção do doce que fazia para ele, ou eles. 
- Também. - Katsuragi riu baixinho e beijou-o no topo de sua cabeça, abaixando a face e murmurou próximo de seu ouvido. - Eu te amo.
- Mo. 
Masashi disse num sussurro ao brevemente se virar para ele, fitando-o de soslaio. 
- Desculpe, eu... Vou preparar seu banho. - Katsuragi murmurou e sorriu a ele.
- Iie, fique e raspe o doce na tigela.
O maior riu.
- Tenho cinco anos é?
- A gravidez pode fazer isso se tornar uma boa atividade.
- Ah é? Você vai fazer o parto?
- Se... Você quiser.
Katsuragi sorriu.
- Eu quero.
- Achei que não fosse querer que eu fizesse isso. 
O menor disse e dispôs a massa dentro da forma onde o assaria e levou ao fogo, deixando-o alterar seu estado líquido à fofa esponja que virou alguns minutos depois e o serviu ainda quente sobre o prato, suficiente para dispor o creme doce e cítrico de limão acima dele. 
- E por que não iria querer? - Katsuragi murmurou e observou-o retirar o bolo do forno a adicionar o creme, sorriu meio de canto e mordeu o lábio inferior. - Tem um cheiro delicioso.
- Vai precisar esperar pra poder comer. 
Masashi disse e sorriu a ele, entregando-lhe o pote, verificando realmente se não iria querer a raspinha na tigela. Katsuragi fez bico e aceitou o pote, porém ouviu um barulho no corredor e desviou o olhar à porta, notando ali o garoto que espreitava. Negativou e seguiu em direção ao local, empurrando a porta corrediça a observá-lo se assustar com o estrondo contra seu limiar.
- O que você quer?
- D-Desculpe senhor...
- Estava espiando, não?
- ...E-Eu não quis.
- Quis sim. Você quer o Masashi, hum? É isso que você quer?
O garoto arqueou uma das sobrancelhas e viu o pequeno se encolher como uma criança ao chão.
- Tsc. Já cansei de você, criança. Já cansei de você espreitando pela casa!
Masashi voltou-se ao ruído causado e notou o pequenino, teve de fechar os olhos e suspirar embora não fosse necessário.
- Keichi, você tem de ir para suas aulas. Katsuragi, venha, ele é uma criança, mande-o ir estudar.
Katsuragi estreitou os olhos.
- Sim, eu vou mandá-lo, só que pra bem longe daqui. Arrume suas coisas, e fique feliz por eu não arrancar sua garganta aqui mesmo.
- E-Eh? Iie! Iie eu... Não faço mais, eu juro.
- Garoto, eu mandei você arrumar as suas coisas.
- Katsuragi, ele será bom com os clientes, deixe-o é só uma criança.
Katsuragi virou-se a observar o outro.
- Não vou deixar ele aqui, acha que eu sou idiota? Não vou cometer o mesmo erro de novo. - Voltou-se ao garoto. - Você tem uma hora.
- Que erro? 
Masashi indagou, realmente sem entendê-lo, ou pelo menos não totalmente.
- De deixar alguém roubar você de mim. 
Katsuragi falou a ele e fechou a porta da cozinha em outro estalo, deixando o garoto para fora. Chamou outro deles pelo outro lado e indicou que levasse o garoto para a cidade e o vendesse
- Por acaso você já cometeu o erro de deixar alguém me levar para algum lugar, Katsuragi?
O maior desviou o olhar a ele e estreitou os olhos.
- Você me entendeu. Ele vai levá-lo.
- Continua pensando nessa porcaria com o Fei?
- Só quando alguém ameaça tirar o meu marido de mim.
- Não sou o Fei, pare de viver com esse fantasma. Deixe o garoto, se eu quisesse algo com ele já o teria feito. Ele é como um irmão pra mim, não um parceiro.
Katsuragi uniu as sobrancelhas e negativou, irritado e acabou por desviar o olhar.
- Não me contradiga.
- O Fei não amava você, Katsuragi. Por isso ele foi embora.
Katsuragi manteve-se a observá-lo por alguns instantes e por fim assentiu, desviando o olhar ao bowl que tinha nas mãos e deixou-o sobre a mesa, sentando-se.
- Se ele gostasse, não importa o quanto o outro menino o quisesse, ele não teria ido. Não sou o Fei, não jogue o menino na rua por neuras do passado. Eu amo você, o Fei não amava.
O maior desviou o olhar a ele, assentindo em seguida mais uma vez, e não se sentia bem, fazia uns dias que estava meio abatido de fato, mas não por se lembrar do amante antigo, e sim pelas coisas que aconteciam, como estava tudo ficando rápido, tinha medo de perdê-lo, e quando o via com o garoto não sabia se controlar, não iria deixá-lo ali, se assentisse hoje, no outro dia ele viraria o jantar.

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