Ryoma e Haruki #8


Quando Ryoma foi, foi como sempre fez, sem aviso. Não tinha o hábito de dar satisfações nem mesmo ao irmão ou os pais mas daquela vez algo não parecia certo. Ryoga era desapegado, alguém que ficou para trás não tanto assim. No meio da viagem havia sentido algo vagamente incômodo, não sabia se pertencia a si ou a outra pessoa, com o passar dos dias foi ficando mais intenso, logo, começou a desaparecer, percebeu então que pertencia a alguém, mas que mesmo o dele indo embora, restavam os próprios e a saudade que sentiu daquela pequena coisa. Havia ido à trabalho, normalmente quando terminava o que ia fazer, sempre andava pelas cidades, morava algum tempo fora, mas daquela vez era diferente, daquela vez terminou amarrado. Parou à porta, não a própria, bateu contra ela, podia sentir seu cheiro, sabia que estava ali, se surpreendeu inclusive que tivesse sentido uma pontada no peito obrigando a mão a estar em frente a caixa torácica só por sentir um simples perfume. 
- Olha só que mocinha. 
Falou para si mesmo diante da sensação. 
Haruki não o ouviria tocar, mesmo que quisesse, mesmo que desejasse muito. Desde que ele havia ido embora, havia sido uma tristeza vivida, que incomodava o irmão por vezes e o obrigava a ir até a própria casa, ainda assim, se recusou a comer, se recusou a beber sangue, se recusou a tudo. Não queria admitir, mas havia encontrado um sentido nele, que se quer sabia que existia em outras coisas. A cama estava fria quando se levantou, mal conseguia ficar em pé, e por isso foi se sentar no box do chuveiro, deixando a água cair sobre os cabelos. Naquela altura, já não sentia mais nada, nem o cheiro dele. Havia restado um buraco tão grande, que a única forma que encontrou de não sentir aquela sensação, era não sentindo mais nada, era recusando os próprios instintos de vampiro, e também de ser humano. 
- ... 
Olhava para o chão, vendo a água escorrer para o ralo, não achava que iria aguentar mais uma semana, estava contando os dias, dormiria, até que pudesse vê-lo de novo, e não achou que ele fosse voltar, não achou que ele sentisse tão vividamente quanto sentia aquele pequeno fio vermelho imaginário. Ele era muito importante, era o que faltava, sem ele... Não queria mais fazer absolutamente nada, e se sentia um idiota, um idiota gigante, Katsumi passava lá sempre para lembrar a si de como era idiota. Mas sabia que ele seria igual sem Ryoga, ele não conseguiria. 
- É isso, Haruki... Você é um idiota. - Disse, para si mesmo e encostou a cabeça na parede, lado a si. - ... Eu não fui suficiente pra você... E eu me apaixonei. - Sorriu, certamente sem graça nenhuma, para si mesmo. - ... E você vai achar outra pessoa, mas eu nunca vou ser feliz. Eu sou um idiota...
Ryoma bateu à porta, esperando que ao menos desse modo fosse atendido já que o cheiro não era suficiente para fazê-lo sair e voar no próprio pescoço. Talvez estivesse sendo ignorado, pensou, mas decidiu abrir a porta e lhe fazer uma surpresa, indesejável ou não, e não estava trancada. O cheiro do irmão estava vagamente por ali, mas sabia que não era dele de fato mas sim o de seu companheiro, indicando que havia passado recentemente. Ouviu o barulho do chuveiro, teria decidido se sentar na cama e esperar sua volta mas o cheiro de Haruki parecia muito suave, não parecia ter sua vitalidade natural. Seguiu ao banheiro após deixar a mala em seu quarto pequeno, abriu a porta e notou seu corpo magrelo e desnudo, jogado como uma peça de roupa, como se estivesse enfrentando um tsunami e não um simples banho. 
- Ha_ru_chan.
Com a cabeça encostava junto a parede, Haruki fechou os olhos, não conseguia mais manter eles abertos. Deveria saber e deveria ter ficado na cama, porque o chuveiro ficaria ligado até o irmão voltar para ver a si, ou até que ele chegasse, mas não contava com isso. Ryoma percebeu porém que a falta de vitalidade não era apenas em seu cheiro, não estava só distante mas estava desfalecido, não estava apenas dormindo ou teria acordado ao ser chamado. Careceu na fala, não tinha o que ou a quem dizer, mas sabia que havia menosprezado a intensidade das sensações que vieram no corpo e que foram sumindo, já não sabia se haviam sumido pelo tempo sem seu sangue ou se apenas foram sumindo com a força de seu pequeno corpo. Abriu o box atônito, o pegou no colo, marchou de volta ao quarto enquanto o enrolava na toalha de banho. Quem olhasse de fora talvez deduzisse alguma calmaria nos próprios gestos, porque era rápido e sabia bem o que fazer, mas era apenas um estado de alerta. Imaginava há quanto tempo já não se alimentava. 
- Haruchan, eu estou aqui. 
Chamou, soando próximo de sua orelha, suave como quem fala com uma criança adoecida. Sabia que o próprio sangue não era o alimento que ele precisava naquele momento, mas sabia também que se tinha culpa por tudo aquilo, o cheiro que lhe daria, o gosto que daria para ele, faria sua consciência voltar, como ao álcool para um humano inconsciente, podia não ser a solução, mas por hora faria alguma coisa. De fato Haruki estava desacordado, de forma que nem a voz dele ou o toque fizeram a si abrir os olhos. Havia esperado por muito tempo, muito, para si eram anos, embora houvessem sido apenas alguns dias, oh eram meses? Não sabia dizer. O sangue dele porém, o cheiro, havia despertado a si, mas foram apenas os olhos que abriram, ainda estava um pouco distante, e os olhos vermelhos, agora eram castanhos, eram quase acinzentados, não tinham mais brilho. 
- ... Ryoma...
Por um minuto, Ryoma imaginou que precisava respirar. Notou seus olhos nublados, sentiu uma pontada no peito. 
- Tem um ookami que fugiu mas encontrou o caminho de volta. 
Disse ao pega-lo no colo. Envolveu seu corpo desnudo com o cobertor em sua cama, o acomodou no braço como a um bebê, porque seu peso era como o de um. Esticou-se ao se lembrar que na mala havia uma garrafa intocada durante a viagem, agradeceu a si mesmo pela falta de sede, abriu e então a verteu em sua boca, entregando em pequenos goles, o que não seriam ao todo suficientes diante do tempo que ele precisava ficar sem alimento até chegar naquele estado, mas ao menos faria mais do que mantê-lo acordado.
Ao ser pego no colo, Haruki ainda não conseguir assimilar o que acontecia, achou que estava sonhando, porque havia sonhado muito com ele, mas não achou que ele teria voltado. Ao sentir a garrafa na boca, bebeu, ou tentou engolir rapidamente, porque havia quase se esquecido de como fazer isso, levou um tempo, mas no fim, pôde piscar, pode respirar e o viu, viu o rosto dele. 
- Ryoma... Você está mesmo aqui?
Ryoma fechou os olhos por um instante, não sabia se brigava com ele, se brigava consigo, se só sentia alívio ou se era cedo pra isso. Verteu um tanto mais do sangue em sua boca, até que as seiscentas miligramas dela fossem embora. 
- Estou aqui, mestrinho. 
Falou baixo, quase um grunhido, mas ele estava ouvindo. Por sua casa pequena, fazendo jus a seu pouco tamanho, procurou em sua cozinha onde estivesse guardando seu sangue, achou sem nada além de umas tragadas no ar, num canto de seu balcão e junto a elas um recado, deduziu ter sido de Katsumi assim como o que ele tinha de alimento ali, era um pequeno irresponsável. Ao voltar para o quarto, tornou se sentar em sua cama desarrumada, colocou o sangue novamente para bebericar beirando seus lábios, parecia mais como um pai alimentando seu filho. Haruki sorriu, de canto, não sabia ainda se era ele mesmo, mas se fosse, estava tão feliz. Não se importava também se fosse um sonho, ou se tivesse morrido, desde que ele estivesse ali, era o que importava. Bebeu, tudo que ele havia dado a si, sentia o corpo pequeno e frágil um pouco mais forte, mas ainda dolorido. 
- ... Onde você foi? Por que me deixou sozinho?
Ryoma ficaram em silêncio por algum tempo, enquanto ia alimentando aquela criança com o que restava de sangue em sua casa. Aos poucos podia ver a cor tomar conta de seus olhos astutos. Sorriu a ele ao ouvir sua pergunta, não por ela, mas por sua boca suja de sangue, parecia adorável. 
- Eu tive de ir à trabalho. 
Disse e se abaixou, recostou a testa junto a sua e fechou os olhos. Não sabia bem o que pensar ao ver Haruki daquele modo tão débil, havia, como já observado, sido negligente sobre a importância que causou na vida daquele garoto. Talvez não fosse ser capaz de entender, mas podia imaginar como seria se ele tivesse ido para qualquer lugar onde não soubesse encontra-lo, para si havia sido mais fácil pois sabia exatamente onde achar.
- ... Por que você não me contou? Por que você me deixou aqui pra morrer sozinho? 
Haruki disse, já voltava a consciência e tossiu, era difícil ainda engolir corretamente o sangue, a garganta doía, mas cessou qualquer movimento quanto sentiu a testa dele tocar a própria. 
- ... Você faz ideia... Você... - Disse e tinha lágrimas nos olhos avermelhados. - Você faz ideia do que eu passei sem você? Eu não tinha mais sentido...
- Não... Eu não tinha ideia. - Ryoma disse ao reabrir os olhos, dali mesmo como ficou e olhou os dele, marejados e cintilantes, mas ao menos tinham sua essência. - Eu sempre fiz isso. Meus pais sempre souberam disso, meu irmão também. Eu nunca precisei me preocupar se alguém estava me esperando, eu também nunca me preocupei em voltar para alguém.. Mas agora parece que eu encontrei uma casa de novo.
Haruki uniu as sobrancelhas, estava tão magoado com ele, mas tão feliz de vê-lo novamente. Os braços deslizaram ao redor de seu pescoço e o abraçou, firme, como podia, já que o abraço não estava nem um pouco firme.
- ... Por favor, não me abandona de novo...
- Eu achei que dessa vez seria como qualquer outra, mas eu senti sua falta. Senti de modo que eu nunca imaginei que fosse sentir. Voltei porque sou um egoísta filho da puta... Me desculpe, Haruki.
Haruki o ouviu em silêncio e assentiu, acariciando os cabelos dele. Sentiu um nó na garganta que nunca havia sentido antes, era a primeira vez. 
- ... Eu te amo, Ryoma... Eu senti tanto a sua falta... Por favor não me deixa de novo... Não me deixa...
Ryoma deslizou os braços novamente ao redor de seu corpo, desta vez num abraço. Deitou o rosto em seu pescoço e ali sentiu o cheiro confortável de sua pele. Talvez não fosse do tipo que dizia com facilidade aquele tipo de coisas, mas sabia que também sentia aquilo, também sentia amor. 
- Eu não vou, vou te pendurar na minha mala de viagem...
Haruki sorriu ao ouvi-lo, iria ao inferno com ele e agora sabia disso. O beijou em seu rosto, seu pescoço, sentiu o cheiro dele, várias vezes, era ele mesmo, estava tão feliz. 
- Eu não acredito que é você... Não acredito. Meu Ryoma...
- Seu merdinha irresponsável... Eu não quero ver você assim nunca mais. 
Ryoma o apertou, cuidadosamente, no abraço. E era verdade, esperava nunca vê-lo daquele modo outra vez, preferia ter sido ignorado, talvez até visto ele com outra pessoa, claro, mataria essa pessoa depois, mas preferia a vê-lo tão fragilizado, ainda mais por saber que havia lhe causado aquilo. 
- Sinto muito..
- Eu... Me desculpe... Mas eu preferia não sentir nada a sentir a saudade que eu sentia de você. Era como se meu corpo fosse morrer mesmo estando vivo, era tão horrível que eu... Eu... O apertou. Não quero ficar sem você...
- Eu já estou aqui. 
Ryoma sabia no fim que não seria capaz de imaginar mesmo que ele avidamente tentasse descrever. Como pensava, sabia onde ele estava e embora houvesse sentido saudade tamanha daquele pequeno, sabia onde encontrá-lo, sabia para onde voltar quando sentir falta dele tirasse o sentido de qualquer outra coisa que fizesse estando longe, era por isso que estava ali, mas de modo egoísta havia deixado de pensar sobre o quão impactante teria sido para ele. Afagou seus cabelos descoloridos e manchados de preto na raiz, era a primeira vez que os via sem retoque. 
- Vou te levar pra minha casa, você quer ir?
Haruki desviou o olhar a ele e assentiu, embora os braços ainda se agarrassem a ele. 
- ... Eu levei comida... Pra gente e quando cheguei você não estava lá.
- Então eu vou comprar a comida que você queria e vou estar lá.
O menor assentiu e sorriu, voltando a abraça-lo e aperta-lo contra o corpo. Ao se levantar, Ryoma pegou a mala do lado, jogou no ombro e levou no braço desocupado. O outro ainda tinha o menor, enrolado em seu cobertor como o acomodou e mesmo que estivesse nu sob o tecido, levou consigo caminho a fora, levaria-o de carro afinal. Quando chegou no estacionamento, acomodou o menor no banco. Haruki seguiu silencioso com ele até o carro, e no banco de ajeitou no meio do cobertor, não se lembrava que estava tomando banho quando ele chegou, então demorou um tempo pra assimilar as coisas. 
- ... Vamos comprar no Ryoga?
- Sim, mas antes vou te levar pra casa... Você vai deitar quietinho, tomar uma tonelada de sangue e então eu vou comprar o seu lanchinho.
Haruki assentiu e sorriu a ele. 
- Tá bem...
Ryoma sorriu a ele, ainda parecia aéreo. Ao entrar no carro se ajeitou e tomou posse do volante, dirigiu com certa rapidez mas não deixou de permitir que ele tivesse algum proveito da vista. Negativou consigo mesmo enquanto pensava nos dias dele. Ao chegar em casa, levou-o no colo caminho a cima. Ao abrir a porta, como sempre o irmão havia mantido alguma atenção ao próprio apartamento. Sobre a mesa um breve recado com algum xingamento, merecia. O levou ao quarto e acomodou na própria cama, só então seguiu a busca de mais sangue o que levou até ele e deixou as porções. 
- Tome todas elas. Eu vou pegar mais com o Ryo depois.
Ao estar com ele, tudo que importava era ele, mais nada. Tanto que encostado no banco do carro, Haruki só conseguia fita-lo e não a vista, estava feliz por poder vê-lo de novo. Quando foi acomodado em sua cama, aspirou bem o cheiro dele, era tão gostoso, teve que sorrir. 
- Eu bebo sim... Promete pra mim que você não vai demorar.
Ryoma riu entre os dentes notando seu olhar firme, parecia falar com um pequeno robô. Assentiu no entanto. 
- Não vou demorar. Me diz o que você quer jantar, hum?
- Hum... Eu quero curry. - Sorriu. - Peixe. E você de sobremesa.
- Eu não. 
Ryoma sorriu canteiro e o apertou no nariz, não que não quisesse ser a sobremesa, mas agora sabia que ele não tinha vitalidade sequer para engolir o sangue que sorvia devagar. 
- Primeiro você vai comer até ficar bem fortinho.
- Ah, eu estou fortinho... Eu senti sua falta, preciso de você pra melhorar.
- Precisa de sangue, seu merdinha. Precisa de força pra poder punir seu bichinho desobediente.
Haruki sorriu. 
- Ah, e se prepare, porque eu vou te arregaçar.
- Uh, me arregaçar não, mas vai se arregaçar em mim.
- Não, eu vou arregaçar você de tanto bater.
- Ah vai, hum? 
Ryoma sorriu e levou a mão a seu rosto, o acariciando, estava um tanto mais afável naquele dia, fosse pela saudade imprevista ou por seu aspecto abatido, levaria um tempo para se acostumar com aquilo novamente. 
- Vou sim. - Haruki disse a estreitar os olhos. - E depois eu vou... Beijar bastante onde eu bati e pedir desculpas...
Ryoma riu, sabia que era real. 
- Hum, então assim parece ótimo. Pode bater no meu pau.
Haruki riu. 
- Pelo menos eu posso bater no seu pau e depois beijar sem estar totalmente curado.
- Não, vou te deixar quase um carrapatinho explodindo em sangue.
Haruki riu. 
- Vou ficar gordinho.
- Vai ficar prestes a estourar. - Ryoma sorriu canteiro e no fim se levantou. - Eu vou buscar o jantar.
- Tá bem... Não demore. Por favor.
- Curry. 
Ryoma disse, ao olha-lo, não queria ir, não queria preocupa-lo, mas precisaria ver o irmão estando por lá, portanto, logo deixou a própria casa, mas antes disso ligou o televisor, o acomodou na cama de modo mais confortável e lhe deu mais sangue, deixando claro que devia tomar até que voltasse. Haruki sorriu a ele, queria ele ali, não queria que ele fosse embora, mas ficou confortável, sabia que ele não daria de novo, esperaria.
- Eu não demoro. Tome todo seu suquinho. 
Ryoma dito, pouco depois deixou o quarto, tal como o apartamento. Seguiu ao restaurante, fez o pedido enquanto encarava o olhar torto de Katsumi. 
- Leve a sobremesa também pro Haruki, ele precisa comer. E se for deixar o meu irmão de novo, era melhor nem ter voltado.
- Eu vou levar. 
Ryoma sorriu canteiro, iria mesmo fazê-lo, comer com Haruki era uma atividade que gostava, havia se tornado um hábito.
- Eu não vou. Parece que nos tornamos algo como parceiros em algum momento.
- Hum. Eu vou levar um tempo pra perdoar você pelo que fez ao meu irmão.
- Eu... 
O maior suspirou, não havia feito algo ao irmão dele, pelo menos não na intenção de causar algo a ele, no fim apenas assentiu e seguiu a trocar algumas palavras com o próprio irmão. Após isso, pegou os pedidos já embalados, voltaria para casa sem demorar, não tinha como prever o que encontraria por lá caso demorasse. 
Na cama, Haruki bebia o sangue que ele havia dado a si, o esperava silencioso, mas estava desconfortável por estar pelado, por isso, buscou roupas dele que pudesse vestir. Quando Ryoma chegou, o cheiro do jantar anunciava desde o corredor ao olfato apurado de um vampiro, embora não tivesse certeza sobre o dele. Entrou em casa, não havia demorado mais que uma hora, quarenta minutos talvez e logo estava ali. Ao entrar o observou a fuçar as roupas. Haruki vestiu a calça, que era grande demais para si e uniu as sobrancelhas, era difícil ainda se manter em pé e tinha que se apoiar. Mas percebeu que ele estava ali porque a porta fez barulho. 
- ... Ah oi.
- Oi... 
Ryoma disse e riu, entre os dentes, notando seus pés escondidos pelas barras da calça que não terminavam antes de suas pernas. 
- Talvez uma camisa seja melhor. 
- É... Talvez seja. 
Haruki sorriu meio de canto e tirou a calça, pegando uma camisa, que vestiu. 
- Agora pareço aquelas moças dos filmes, peladas.
Ryoma observou escolher a camisa sem muito critério, vestiu mesmo sem desabotoar, por cima da cabeça.
- É, parece mesmo
Haruki riu e bebeu pouco mais do sangue. 
- Trouxe a comida? Eu escolhi um filme na Netflix.
- Bom que entra um ventinho gostoso aí embaixo, ah? 
Ryoma disse e ergueu a camisa, olhando sua falta de roupa íntima, no fim lhe deu um tapinha na nádega, sem qualquer força de fato, não sabia exatamente quão fraco ele estava, era melhor não se arriscar. 
- Que filme você escolheu?
Haruki riu baixinho, e já estava um pouco melhor sim, os olhos agora estavam completamente vermelhos, mas precisaria de uma noite de sono para melhorar ainda. 
- Crepúsculo. Não, é brincadeira. - Riu - Cinquenta tons de cinza. Não, brincadeira de novo.
Ryoma sorriu, mas franziu o cenho diante do comentário, afrouxou porém diante da negativa mas tornou fazê-lo em seguida. 
- Ah, claro. Vamos ver aggretsuko. 
Haruki riu. 
- Tá bom!
Ryoma sorriu e o pegou pela cintura, o levou como um adolescente leva um caderno escolar ao lado da cintura. 
- Vamos, que tipo de filme você gosta?
Haruki riu e se segurou ele, tentou, era estranho ter ele de volta depois de tanto tempo. 
- ... Qualquer um que eu possa me aconchegar em você.
- Hum, pra isso não precisa de filme.
Ryoma sorriu, estava feliz em vê-lo revigorado. Se sentou à beira da cama e o colocou no colo. 
- Eu sei... Eu estou tão feliz... Você nem faz ideia.
- Eu também. Senti saudade de você, pirralho.
Haruki sorriu. 
- Eu te amo... Nunca achei que fosse dizer disso pra alguém.
- É, eu também. 
Ryoma sorriu canteiro. Bem, não havia dito, não diretamente, mas sabia que sentia, não que estivesse contrário aquilo, só era uma frase incomum. Haruki sorriu e mordeu o lábio inferior.
- De verdade? Quer dizer... Você me ama mesmo?
- Hum... - Ryoma fingiu-se pensativo. - Não sei, deixa eu ver... - Sorriu porém. - É, eu quero falar sobre isso aos poucos. Mas parece que já encontrei alguém que me importa. - Sorriu novamente e aproximou-se dele, beijando-o no pescoço. - Eu estarei com você onde quiser ir.
- Vou prender você na mala.
Haruki riu. 
- Mas nunca mais me deixe pra trás... Eu faço o que você quiser.
- Bom, estará pendurado na mala, ela precisa ir, sabe como é. Agora me dá um beijinho.
Haruki riu e assentiu, aproximando-se dele e selou seus lábios.
- Me dá minha comida, Okami!
- Mas esse beijinho não valeu. Como pode me dar um beijo desse se estava com tanta saudade?
- Bom, eu posso enfiar a língua na sua garganta.
- O que? Parece até que está nervoso. Está ansioso pra me beijar, fala aí.
- Estou sim. É que... Parece que faz um ano, quanto tempo você ficou fora?
- Um mês...
- Nossa... Parece um ano mesmo. - Riu.
Ryoma sorriu e o beijou na testa. 
- Eu sei, eu senti a saudade do mesmo jeito.
- Então me dá um beijo aqui. 
Haruki disse a se aproximar e selou os lábios dele novamente, fora um selo breve, porque empurrou a língua para a boca dele. Ryoma sorriu mas o retribuiu no selar breve, abriu a boca e invadiu a dele mutuamente. Ergueu a mão e segurou seus cabelos loiros, agora mesclados com sua cor natural. O beijou firme e devagar. Haruki sorriu contra os lábios dele, estava tão confortável e tão feliz que o coração batia numa batida pesada no peito, as mãos o abraçavam, sem querer deixar ele sair dali, não queria deixá-lo partir nunca mais. Ryoma sentiu na proximidade que estava, ou apenas escutou pelo sentido apurado, aquele palpitar intenso que veio dele, sorriu contra seus lábios e o lambiscou conforme freou o beijo. 
- Que emoção, hum? Cuidado pra ele não fugir do peito.
Haruki desviou o olhar a ele e riu baixinho, negativando. 
- Desculpe... Eu não percebi que... Você poderia ouvir... Quer dizer, eu não posso controlar, mas...
O maior sorriu, mostrando-lhe os dentes. Pegou sua mão no entanto e levou até o próprio peito, o deixou sentir o que não podia ouvir. O menor ergueu a mão a guiar só peito dele e pressionou no local, podia ouvir, podia ouvir seu coração. 
- ... Ryoma...
- Hum? 
Ryoma murmurou e o tocou novamente em sua nuca, acariciou seus cabelos. 
- Você sabe que eu sinto.
- ... Eu sei, mas sentir isso é totalmente diferente. 
Haruki sorriu, tinha lágrimas nos olhos.
- Ah, mas é um bobão...
Ryoma disse e ergueu o queixo, alcançou seu rosto e lambiscou sob seus olhos marejados. Haruki sorriu novamente e o abraçou, firme, puxando-o para si. 
- Hum... Eu quero comida na minha boca!
Ryoma riu, entre os dentes, mas o retribuiu no abraço e na facilidade que tinha por enlaçar seu corpo.
- Ah tá.
- É sim! Tem que cuidar de mim porque eu sou um neném.
- Ah então assim sim, vou dar sim. Mamadeira também...
- Hum, eu aceito a mamadeira. - Riu.
- Eu vou tomar banho e te dou a mamadeira.
- Hum, então vai correndo.
- Não pode passar fome assim. 
Ryoma disse e estava mesmo se levantando para ir, estava recém chegado da viagem, mal havia feito qualquer coisa senão recuperar a vida daquele garoto irresponsável. Haruki sorriu meio de canto.
- ... Desculpe.
- Quer vir?
- Quero sim... - Haruki disse a se levantar. - Achei que não ia chamar.
- Parece que teve um banho incomum hoje.
- Ah, eu nem tomei banho direito na verdade.
- Verdade, estou sentindo o cheiro.
- Ah é? Palhaço.
Ryoma riu, travesso. 
- Vem, porcaria.
Haruki riu e levantou-se, segurando a mão dele. 
- Não gosta de queijinho não? Tô um queijinho.
- Olha... - Ryoma disse e negativou, risonho. - Vou te lavar até virar do avesso.
Haruki riu. 
- É mentira, eu tomei banho né.
- Vai ficar peladinho, sem o couro. 
Ryoma disse e o puxou pelos ombros, levando caminho ao chuveiro. Haruki riu e seguiu com ele, segurando-se em seu braço. No fim antes de despir as roupas, Ryoma ligou o chuveiro, feito isso o despiu da única peça que vestia, que colocara recentemente. Estapeou seu traseiro pequeno, assim como o restante de suas formas miúdas e o encaminhou ao banho. 
- Vai lavar, queijinho.
Haruki riu conforme sentiu o tapa e negativou. 
- Hey! Eu que bato em você! - Disse e entrou no banho, ligando o chuveiro.
- Nós trocamos tapas as vezes. 
Ryoma disse, por fim dando atenção as próprias roupas. Despia-se, observando o menor já na água, bem diferente do que havia encontrado. Haruki riu. 
- Vem aqui pra eu te dar uns tapas, hum?
- Não, hoje não quero tapa. Estou calminho hoje. 
Ryoma resmungou com um bico ao falar. Na verdade estava mesmo, afinal, havia encontrado o garoto quase morrendo em seu banho, não era algo normal num dia-a-dia.
- Ah, então tá bom. Disse, um pouco sem graça e pegou a esponja dele, sentindo o cheiro de seu sabonete típico, sentia falta.
- Não disse que não vou querer pra sempre. E também não disse que não pode me tocar.
Ryoma dito, entrou logo despido ao banho, pegou a esponja e usou para lava-lo, esfregando seus costas estreitas. Haruki sorriu a ele, virando-se para deixá-lo lavar a si. 
- Tá bem...
- Quer dizer, você não pode, vai ter que fazer à força. Mas não acho que você consiga isso a essa altura.
O maior disse e o beijou no pescoço, no pouco que estava aparente. Lavava-o devagar. Haruki riu baixinho e assentiu. Na verdade eu acho que se você me der um tapa eu desmonto e você vai ter que juntar meus ossos.
- Não viu bater no meu mestrinho.
- Seu mestre que bate em você, ah? 
Haruki disse num sorrisinho e virou-se para abraça-lo, as mãos tocavam suas costas e apertou-o firme, mesmo sobre as tatuagens.
- Hum, meu mestre finge que bate sim, mas só dá carinho com força. 
Dito, Ryoma sorria e o retribuiu no abraço, não tinha força a ponto de incomodar nas tatuagens e isso era um tanto de partir o coração.
- Ah... Eu tento. - Haruki disse num sorrisinho. - É que aí eu olho pra você e... Não consigo, parece que estou te machucando de verdade.
Ryoma riu, entre os dentes. 
- Tudo bem, eu gosto como faz.
- Desculpe... Sei que preferia alguém melhor.
- Você sabe, é?
- É... Acho que era isso que você estava procurando, alguém mais forte.
- Não é sobre a força física, Harucchi. E eu não fui procurar ninguém, eu fui trabalhar, fui fazer o que sempre fiz.
- Eh? Não eu não... Não disse que foi, é que mesmo quando me conheceu, acho que você esperava alguém que tivesse mais imposição, é que eu... Sempre fui tão... Fraco. - Sorriu. - ... Gostaria de ser mais forte pra você.
- Você não é fraco. Mas é isso que eu gosto, eu gosto que seja fofo, pequeno, um molequinho, tentando dominar, isso é atraente pra mim. Não um homem como eu por exemplo.
Haruki sorriu e virou-se a fita-lo. 
- Verdade?
- Certamente, eu gosto assim, eu já disse.
O menor sorriu novamente, dessa vez parecia mais animado do que antes e selou os lábios dele, abraçando-o mais uma vez, só que dessa vez não repousou a face em seu ombro e sim em seu peito, encolheu-se junto a ele, confortável. Ryoma o deixou ali, se acomodar no peito. O abraçou em retribuição. Falava a verdade, não tinha atração por homens muito masculinos, mas preferia não falar pra ele daquela forma, não queria que se sentisse menosprezado como homem. O beijou no topo da cabeça. 
- Vamos, mestrinho. Vamos lavar esse bumbum.
- Hum... Meu bumbum está limpinho, mas eu vou lavar só pra garantir. 
Haruki disse e fez um pequeno bico. Ryoma riu entre os dentes e pegou o sabonete, deslizou na mão e então levou em suas nádegas, era íntimo, mas nada que já não tivesse tocado, o lavou, "só por garantia" como dizia ele. Haruki encolheu-se sutilmente, envergonhado conforme o sentiu lavar a si e encolheu-se em seus braços.
- Hum, está limpinho mesmo.
- Eu disse!

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