Masashi e Katsuragi #23


- U-um. 

Katsuragi murmurou, negativando ao pedaço de doce que o outro estendia a si, colocando perto dos lábios e abaixou-se beijando-o no rosto.
- Acho melhor voltarmos logo, logo vai amanhecer, a rua já está deserta.
Masashi assentiu a negativa, assim como o convite para finalizar o passeio, era conveniente.
- Hum, que cara é essa? - Katsuragi murmurou e segurou o nariz dele, na pontinha, abaixando-se e lhe selou os lábios. - Não está feliz de termos vindo passear?
- Sim, gosto dessas feiras. Mas o dia está vindo, e é uma pena que você não possa ver o sol nascer.
- Não me deixe triste, Masashi. 
Katsuragi falou e estreitou os olhos a ele, segurando sua mão, porém sentiu-a se esvair rapidamente e voltou-se me direção a ele ao sentir o puxão, sem entender o motivo da reação. Sentia o cheiro de sangue, já fazia um tempo, mas como haviam muitos humanos por ali, nem se dera conta do que havia por perto. O rapaz, alto havia puxado o outro e agarrado pela cintura, mantendo-o em frente ao corpo, enquanto tinha uma faca contra seu pescoço, bem próximo, suficiente para lhe roçar a pele, e chegou a rangir os dentes ao observar o modo como o segurava, por sorte era vampiro, mas se fosse um humano, como ele, certamente estaria apavorado, na verdade, ele nas mãos do outro também deixava a si apavorado, sabia que a vida dele podia simplesmente sumir num piscar de olhos.
- Hey... Solte o garoto.

- Não vou sair daqui sem nada, eu observei vocês o caminho todo. Me dê o dinheiro ou seu filho morre.
Katsuragi abriu um pequeno sorriso, era obvio que se ele havia observado a noite toda, saberia que ele não era o próprio filho, porém pela segurança dele, retirou o dinheiro do obitinha de sobra, não precisava de alguns trocados, mas se incomodava com o fato dele estar com o outro nos braços.
- Certo, vou te dar, mas tire a faca do pescoço dele. - Disse a mostrar as notas.
Masashi sentiu o toque suave de seus dedos que desvencilharam os próprios contra a própria vontade ou a dele. E sentiu um toque na cintura, bastante íntimo. O que causou um eriço na pele e um frio no estômago, de uma forma não muito agradável. De início tão logo se moveu a fim de empurrar o "molestador", se não sentisse algo fino e afiado no pescoço, o que fez com que prendesse a respiração, não intencionalmente. Tal como ele, imaginou sobre o blefe do homem, o qual não via o rosto, mas notou seu dinheiro exposto ao assaltante, de certo modo era o certo e seguro a se fazer, porém detestava o fato de que devia assentir as ordens de um lixo como aquele. Katsuragi manteve-se a observar o homem que segurava o outro, e parecia meio hesitante em soltar o outro, o problema é que também não queria dar o dinheiro a ele e deixá-lo a mercê das vontades dele.
- Me da logo esse dinheiro, ou eu mato o garoto!
- ... Certo. Vou te dar, mas o solte ao mesmo tempo, hum? 
Katsuragi observou-o e parecia meio hesitante, o coração dele devia estar acelerado, porque sentia ainda mais forte o cheiro de sangue, um sangue que não fazia questão de tomar, mas que fazia toda a questão de deixar escorrer num bueiro por aí. Estendeu as notas, devagar e entregou a ele, segurando a mão do outro para tentar puxá-lo para si, porém o outro não o soltou, ao invés disso, deslizou a mão pelo corpo dele e tão logo seu rosto.
- Você é bem bonito garoto, parece uma mocinha.
- Não fale com ele.
- Cale a boca que não falo com você.
Katsuragi estreitou os olhos e ao perceber o olhar dele desviado ao outro novamente, aproveitou-se de sua distração para se mover tão rápido, que nem ele podia ver. Puxou sua mão, afastando-a do outro e empurrou-o para longe dele, obviamente, teria puxado a faca, se o maldito não tivesse se esquivado com ela.
- Agora você vai aprender, seu imbecil. Masashi, se afaste. 
Murmurou e desviou o olhar a ele, como uma ordem e viu as notas derrubadas no chão serem levadas pelo vento, realmente não fazia questão. Aproximou-se dele num pulo e segurou-o pelo pescoço, mas esquecera-se da faca, o pequeno detalhe que no desespero dele, perfurou a própria cintura, logo abaixo da costela. Na própria vida como vampiro, havia sentido muita dor, mas nada como um ataque a faca. Uniu as sobrancelhas ao sentir todo o caminho da lâmina a atingir algum órgão do corpo, já morto e que se regeneraria assim que bebesse sangue, mas doía como um inferno do mesmo modo. Gritou, irritado com a ousadia do rapaz.
- Olhe pra lá! 
Gritou para o outro atrás de si e segurando-o pelo pescoço, empurrou a cabeça dele contra a parede, tamanha a força que sentiu o crânio abrir nas próprias mãos e tão logo ouviu o estalo, soltou o corpo em direção ao solo. Virou-se em direção a ele, encolhendo-se perto da parede.
- Tudo bem?
Masashi fechou os olhos, e bem, talvez parecesse mesmo uma mulher diante do comportamento patético, mas pelo menos não era covarde, teria se defendido caso não tivesse a faca no pescoço. Os movimentos seguintes foram tão rápidos, que ao passar pro outro lado, perdeu-se com a vista dos próprios cabelos. Quando pôde enfim fitá-los novamente é claro que encarava uma briga, tal como o dinheiro levado com o vento, embora quem certamente mais lamentasse era o assaltante. E toda agitação logo se perdeu com um estalo, um ruído que para si de nada soou agradável e sentiu um arrepio nas costas, imaginando o que havia se quebrado. De todo modo, não percebeu quando o moreno fora ferido, somente quando se acostou contra a parede, percebeu que algo havia dado errado, e sua roupa se sujava num rubro bonito. 
- Não deveria perguntar isso a mim. 
Disse enquanto se encaminhava a ele, e sustentou-o quando vira-o arquear contra a parede. De algum modo, já havia se acostumado com seus machucados, de modo que não se portava como um desesperado, mas lamentava sua dor. 
- Tome cuidado, idiota.
Katsuragi disse enquanto o tomava no colo, sustentando-o contra o ombro e afagou seus longos cabelos negros. E embora ele odiasse a vida humana que tinha, sabia que por isso mesmo, é que podia estar tranquilo naquele momento, dando a ele o que precisava para se recuperar. 
- Tome, antes que fique muito claro. - Disse, empurrando o pulso para seus lábios, ainda que estivesse perto o suficiente do pescoço. - Vamos logo!
- Iie... Eu estou bem. - Katsuragi disse ao senti-lo segurar a si e uniu as sobrancelhas, envergonhado por ter sido pego por ele. - Não precisa fazer isso... Masashi! 
Falou a ele e sentiu a vista escurecer sutilmente devido ao sangue que escorria de si, era um inferno, era vampiro, mas quando algo ocorria, tinha que agir como um maldito humano até a dor passar. Segurou a faca ainda na própria cintura e por um momento ponderou sobre arrancá-la porque sabia que a dor seria em dobro, porém se não retirasse, não cicatrizaria e lembrava-se de algo semelhante que havia feito há anos atrás, para Hazuki bem, o que vai um dia volta, certo? Suspirou e puxou a faca, arrancando-a de si e desviou o olhar a ele, esperando que ele não estivesse observando aquilo tão bem para ver o sangue que escorria pela lâmina.
- Calma, não é nada demais, não precisa me dar seu sangue... Sabe que vaso ruim não queb... 
Disse, porém fora cortado pelo sangue que invadiu a boca, certamente se fosse um humano, àquela altura, já estaria morto, e era isso que queria que ele entendesse, ter sangue na boca nunca era um bom sinal, provavelmente havia atingido um órgão importante, limpou o sangue dos lábios, que manchava também os dentes, não queria assustá-lo, para si não era nada demais, mas as reações do corpo eram exageradas, como se algo estivesse errado.
- N-Não posso te morder, me leve pra casa.
- Vamos logo, Katsuragi, senão vai ter de ir no colo até em casa. 
Masashi disse, sabendo que ele estava incomodado com isso, mas no fundo, ele até gostava, sabia disso também. Olhou para baixo, notando o machucado e mesmo a faca, que na verdade bem bonita, que se unia em seu corpo. 
- Vamos, morda enquanto eu puxo a faca.
- Não posso te morder... Vou morder o seu kimono... Você tira... 
Katsuragi murmurou, tentando falar em meio ao sangue que tinha nos lábios e uniu as sobrancelhas, sentindo as vistas que escureciam.
- Masashi... Rápido...
- Não vou conseguir te levar tão rápido, vai ficar claro. - Masashi disse, e se levantou, pegando-o no colo como já estava. - Katsuragi... Essa faca, como vou te levar com ela aí? Morda logo..
- Eu não posso... Me escute Masashi, por favor. - Katsuragi murmurou. - Você tem que puxar a faca... - O maior aproximou-se dele e mordeu seu quimono, contendo o gemido certamente dolorido que viria. - Hum.
- Katsuragi, vou abandoná-lo aqui se não morder logo! - Masashi protestou, aborrecido.
O maior uniu as sobrancelhas, e dessa vez não era só uma brincadeira, ou um capricho, não podia mordê-lo.
- Não posso... - Murmurou. - Se eu te morder, eu vou te transformar.
- Por quê? 
Masashi indagou, sem entender o porquê, visto que já era mordido antes. Mas notou o sangue em sua boca e talvez, colocá-lo em uma ferida, causasse alguma troca de fluído sanguíneo. 
- Quer o sangue dele? - Indagou, já desconfortável. - Se não vou levá-lo com a faca aí... Katsuragi desviou o olhar ao rapaz no chão.
- A maior parte do sangue dele já está no chão... Me leve pra casa, não estamos longe, acho que conseguimos chegar...
- Mas está clareando... 
Masashi disse e acomodou-o no colo, levaria-o com a faca mesmo. Acomodou-o do modo que melhor acomodava igualmente a faca. Ele não era pesado em demasia, mas também não muito fácil de levar com rapidez.
- Masashi... 
Katsuragi murmurou e repousou a face sobre o ombro dele, e acreditava que ninguém saberia como doía aquele corte. Agarrou-se ao kimono dele, e sentia as vistas escuras, sentia que não iria aguentar muito tempo.
- Masashi... Me escuta... 
Murmurou, quase inaudível e tomou força para falar com ele, não queria assustá-lo.
- Eu estou tonto... Certamente estou com hemorragia pelo sangue que tenho na boca... Se eu desmaiar, é porque certamente se eu fosse humano... Eu... Teria morrido... Me leve pra casa e me dê um pouco de sangue... Não se assuste, hum?
- Ah, é claro... - Masashi disse, um pouco ofegado. - Não se preocupe mas se preocupe sim. Não seja estúpido. 
Disse, e a manhã já dava as caras, embora o sol estivesse oculto pelas nuvens densas e uma neblina suave e branca. Fechou os olhos, e imaginava que talvez ele estivesse delirando. E mesmo seu desconforto fosse intensificado pela luz do dia. Caminhou até a parede e encostou-o, ajoelhando pertinho dele e segurou a faca em seu ventre. 
- Eu vou tirar, Katsuragi, você me morde pra parar o sangue e corra para casa assim que melhorar.
Katsuragi encolheu-se em seu colo, a luz realmente incomodava e quanto mais se encolhia, parecia que mais a faca entrava no corpo e revirava os órgãos por dentro, a dor que sentia era tanta, que já devia ter desmaiado há algum tempo, mas aguentava por não querer deixá-lo sozinho. Sentiu a brusca parada dele, cansado de carregar a si e esforçou-se para observá-lo.
- Iie... Eu não posso... Você não quer ficar sem o sol... - Murmurou, e realmente delirava, fraco demais para processar as informações. - Me deixe aqui...
- Não seja idiota, não quero ficar sem você. Você vai virar pó? Eu não tenho certeza do que acontece. Sei que é mais fácil você melhorar e cuidar de mim, do que eu conseguir cuidar de você agora. Só posso fazer isso assim. 
Masashi fitou seu quimono bonito, mas sujo e rasgado, e segurou a faca, sentindo-a bem afixada, presa a qualquer coisa dentro de seu abdome. Beijou-o na testa, não tinha certeza do que aconteceria, já que nunca havia falado com ele sobre o que aconteceria. E tentou ser logo, antes que desmaiasse sentindo a faca mover contra alguma coisa dentro dele. Ajeitou-se perto dele, tentando escurecer pelo menos o pequeno espaço onde havia o colocado, pelo menos reter a luz às próprias costas e chegou mais perto dele. 
- 1...2...3! - Na contagem, puxou a faca.
Katsuragi manteve-se silencioso ao ouvi-lo, e mesmo quase morto de novo, sentia as lágrimas nos olhos, sabia que ele não queria ser transformado, e não se sentia no direito de fazer isso com ele, viraria pó, mas pelo menos ele poderia viver feliz sendo humano, como ele havia dito a si no sonho. Pensou em fazer o mesmo discurso a ele, mas as palavras, não vinham a boca.
- Masashi... 
Murmurou e fora a única coisa que conseguiu dizer ao ouvir a contagem e gemeu alto, quase um grito ao senti-lo puxar a faca, unindo as sobrancelhas e contorceu-se no chão, sentindo uma das lágrimas que tinha nos olhos escorrer pela face.
- Me transforme, Katsuragi! Não posso chegar a tempo, você pode correr!
Katsuragi s
entiu o sangue escapar da ferida mais rapidamente, se não morresse com a luz solar, morreria com o sangue deixando o corpo, ou entraria em inercia até a luz solar matar a si. Desviou o olhar a ele, pouco mais lúcido, o choque havia deixado a si mais ativo, ao invés de desmaiar, certamente o fato de saber que tinha que protegê-lo, ou fazer alguma coisa.
- Eu não posso, Masashi... Eu não me perdoaria... Mas eu não quero morrer...
Murmurou, sabia que um dia, chegaria a hora, mas realmente não queria que fosse ali.

- M-Me cubra com o kimono... Vá pra casa... 
- Inferno. 
Masashi disse, embora soasse calmeiro, queria estapeá-lo e o fez. Deu-lhe um tapa, mas um beijo na boca, beijo este que invadiu a boca em um sabor horrível. Mas diante de sua fraqueza, era muito fácil ferir-se em suas longas presas pontiagudas. E após jogar a faca que tilintou na calçada, levou a mão em sua ferida que pressionou e tentou estancar ainda que o sangue tocasse os dedos, frio e denso. E foi assim que lhe cedeu o próprio sangue, impondo-se em sua maldita teimosia.
Katsuragi uniu as sobrancelhas ao sentir o beijo e tentou impedir, mas não conseguia, não tinha força, sentiu o sangue dele invadir os lábios e imaginou o quão corajoso ele podia ser a ponto de retalhar a própria língua nos dentes para dar a si o sangue dele. Deixou que as lágrimas escorressem pela face, queria contê-lo, mas não tinha como, e sabia que agora o próprio sangue já devia estar no corpo dele, era como uma praga, um veneno. Sentiu aos poucos a força retomar a si, quanto mais sangue dele conseguia tomar e sugou sua língua, sem conseguir conter a vontade que tinha pelo sangue dele, era uma delicia, o sangue mais gostoso do mundo para si, o amava, e o que doía, era saber que talvez ele poderia não sobreviver a transformação, e morreria com ele por um descuido próprio. Segurou a face dele após um pequeno tempo a sugar seu sangue e uniu as sobrancelhas mais uma vez.
- Por que você fez isso?! Por que? Você é idiota?! 
Falou a ele, irritado, e chorava feito uma criança a observá-lo, aos poucos perdendo a força que tinha, e a própria ferida, já não escorria sangue.
Masashi sentiu como se um ferro houvesse transpassado a própria língua, e o músculo estava tão tenso, que pareceu ainda mais sofrego que deixá-lo morder o próprio pescoço naquele momento, embora soubesse que por estar tão incomodado, no pescoço doeria tanto quanto ou mais. Aos poucos sentia o fluxo de seu sangue diminuir, a ponto em que nada mais tocava os dedos sujos. Seu gosto amargo ainda estava contra a boca, e mesmo o próprio agora em junção, enquanto ele tentava sugar o fel, mas naquela região, não corria facilmente, portanto, a sucção que formulava era forte. Quando por fim interrompeu sua sede por sangue, sentindo a carícia de suas mãos tão gentis, estava tonto, mas não se importava, afinal, quantas vezes mais já se sentira assim? Várias delas. Balançou a cabeça, e limpou suas lágrimas com um sorriso frouxo. 
- Não seja chorão. Vamos, está clareando! - Disse e tomou lucidez suficiente para levantar e sujá-lo de seu próprio sangue ao puxá-lo pela mão. - Rápido. 
Disse e correu, levando-o consigo, mas conseguiu três ou quatro passos largos até que cambaleasse e caísse de cara com o chão, enquanto ainda segurava sua mão, mas que soltou, se não fosse por ele segurar.
Katsuragi levantou-se, rapidamente com o puxão dele e ainda sentia as fisgadas no corte, dolorido demais mesmo com o sangue, demoraria para cicatrizar. Sentia o próprio sangue ainda entre os dentes, mas tinha força o suficiente para puxá-lo pela mão e não deixá-lo cair. Segurou-o, puxando-o contra o peito, e mesmo que sentisse a pele queimar pela luz solar, nada era comparado a dor que sentia ao vê-lo daquele modo por culpa própria. Apertou-o, com força, sentindo seu corpo quente contra o próprio e pegou-o no colo, ajeitando-o e tentou não chorar tanto, enquanto corria em direção a casa e sentia as pequenas feridas serem causadas pela luz solar. Adentrou a residência, as cortinas já fechadas estrategicamente e guiou-o rapidamente em direção a cama,colocando-o sobre o local e ajoelhou-se ao lado dele, abaixando-se e colou a face a seu peito, tentando ouvir os batimentos, ainda presentes, mas fracos e ficou por ali mesmo, as lágrimas escorrendo pela face sem nenhum controle e uniu as sobrancelhas, sem se preocupar sobre o modo como estava, sobre como estava sangrando, só queria ouvir o coração dele enquanto ainda batia.
- ... Masashi... 
Murmurou e rezou para que ele acordasse, acreditava nunca ter rezado, mas naquela hora, rezava seguidamente e até em voz alta.
- Por favor... Fica comigo... Não me deixa sozinho... Me perdoe...
Masashi sentiu a cama macia, e mesmo aquele conforto não era capaz de suavizar a dor que sentia no peito. Tentava respirar para buscar ar aos pulmões, mas nunca se sentira tão debilitado assim. Mas estava muito melhor do que na rua, e sabia que ele também, ainda que certamente estivesse sensível pela falta de sangue suficiente, ou a claridade que afetava sua vitalidade. Podia ouvi-lo chorar, parecia uma criança, e quis rir, mas de alguma forma, não conseguia mandar essa informação para si mesmo. Sentia-se péssimo, e aos poucos o ar quase já não passava mais ao pulmão, queria pedir ajuda, tanto para ele, quanto para si mesmo. Estava morrendo, certamente. 
Katsuragi passou uma hora inteira ali, nem se mexeu, nem respirou, manteve-se sobre o tórax dele, ouvindo seus batimentos até que tivessem fim, e não sabia mais se ele podia ouvir a si, o que podia sentir, mas sabia o quanto essa hora havia sido difícil para ele, afinal, morrera assim, sufocara até morrer, sozinho na rua, o contrário do que ele tinha ali consigo e não o deixaria sozinho, nunca, não queria que ele se sentisse como se sentiu. Poderia durar alguns dias, esperava que a quantidade de sangue fosse suficiente, tinha que ser. Ao último batimento do coração dele, levantou a cabeça em alerta, observando seu rosto bonito, e seria imortalizado assim. Afastou-se finalmente, quando sabia que ele não sentia mais dor, somente a inercia e aproximou-se de seu rosto, selando-lhe os lábios. 
- Vou esperar você. 
Murmurou e já não chorava mais, mas o rosto ainda estava molhado pelas lágrimas. Sentia-se pisoteado, e não podia esperar por ele assim. Retirou as roupas, rasgou-as mesmo e seguiu ao banho, onde limpou o corpo sujo de sangue e até a ferida parcialmente cicatrizada graças a ele. Limpou-se tão rápido, que não se lembrava de tê-lo feito naquela velocidade antes. Saiu logo, vestindo um kimono soltinho e na cozinha pegou seis garrafas de sangue estocadas para emergências, não sairia do lado dele. Tomou uma inteira e as outras deixou por ali, sentando-se ao lado dele e observando-o enquanto dormia, atento a qualquer movimento ou sinal de mudança nele.
- ... Você tem que ficar, não morra, Masashi.

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