Kunisaki, Kurai e Kuroi #1


A noite era densa, os flocos de neve já começavam a cair, cobrindo tudo de branco, o frio era de trincar os ossos de qualquer humano que ousasse pisar para fora de casa, mas não era humano, nem o pequeno vampiro, nem o irmão de mesmo tamanho que ele, que tentava se cobrir com a pequena caixa de papelão, estava frio mesmo para dois vampiros, o mais velho podia sentir a pele engraçada, meio dura.
- Tudo bem onii-chan, se cobre, eu vou tentar achar algum cobertor. 

- Iie, onii-chan já procuramos, não tem cobertor no lixo... 
O mais velho apenas por alguns minutos, uniu as sobrancelhas e assentiu, segurando a mão do irmãozinho e com ele seguiu para dentro do beco novamente, iria em direção ao local já conhecido junto dele. A casa afastada da cidade, só haviam destroços, o teto havia desabado em boa parte dele, e a neve não cobria nada. Com o irmão, caminhava de quatro, como um pequeno filhote de gato, tinha marcas sujas nas mãozinhas e os joelhos viviam machucados, mas ao se alimentar, melhoravam. Ao adentrar a casa, em conjunto ao irmão, subiu as escadas para o andar de cima onde dava no quarto que antes espaçoso, e agora, coberto de preto em suas paredes, a casa havia sido queimada por um grupo de humanos. Na cama, subiu com um impulso, assim como o irmão, e ali podia ver os restos de cinzas de dois corpos marcados na cama, havia se deitado perto deles, junto do outro. As sombras na cama, um dia já haviam sido os próprios pais, não sabia exatamente o que havia acontecido, quando acordou, somente teve tempo de descer com o irmão do quarto em chamas. Sabia que ia ali algumas vezes, mas não conseguia dizer nada, se lembrava de pouca coisa da voz deles, ou de expressões faciais. Ali permaneceu algum tempo, na tentativa de dormir, mas era quase impossível. Tinha fome, o irmão também, sabia porque o sentia, e além disso ele chamava a si a cada dez minutos para lembrar daquilo. Ao se levantar, seguiu novamente ao beco e com a cabeça empurrou as pequenas caixas para dar a visão dos filhotes de gato e da gatinha maior, que cuidava de si e do irmão, era uma linda gatinha branca, que agora parecia ainda mais branca na neve. Miou para ela e sentiu-a roçar o rosto no próprio e no do irmão, empurrando um pequeno pedaço do que parecia um peixe tirado do lixo. Não gostava muito de comida humana, a fome era outra coisa, então negou com a cabeça e deitou como um pequeno filhote junto do irmão, atrás das caixas, tentando se aquecer. 
- Onii-chan... Onii... Está sentindo o cheiro? 
O mais velho abriu os olhos, amarelos, quase nenhum traço do vermelho que antes havia e assentiu, com o irmão seguiu para fora e fitou o rapaz sentado num banco a pouca distância, a refeição dele tinha cheiro de sangue fresco, era estranho, nunca havia visto aquilo.
- Talvez se... Chegarmos devagarinho ele dê um pedaço. 
O mais velho assentiu ao outro e devagar seguiu até o rapaz, engatinhando junto do irmão, e os olhinhos grandes o fitaram, silencioso.
Kunisaki sentou-se no banco em frente a praça, tinha árvores que pareciam ainda mais bonitas enquanto congelavam, mesmo que estivessem morrendo pelo frio. Costumava achar que coisas e pessoas se tornavam ainda mais bonitas após a morte, beleza esta que nunca haveria de conhecer. Podia sentir na roupas escuras o toque da neve nublando o preto do tecido. Sentia um cheiro conhecido, mas era noite, uma bela noite de neve e sem ninguém, embora vampiros saíssem para caçar. Oh, quase teve de suspirar feito um humano para ter o prazer de contemplar a forma como se sentia bem naquela imensidão congelada e silenciosa. Mas de um pequeno espaço o cheiro se intensificou, deduziu sem algum vampiro se alimentando por ali, embora não sentisse cheiro de sangue humano e também não imaginava como um humano estaria fora de casa naquele frio, tanto que precisava entrar nas casas para conseguir tomar de alguém sua vida e ganhar uma refeição, ou podia facilitar ao comprar no restaurante do amigo, mas certamente não comeria num beco, sim no banco, como estava a fazer. Pegou um dos pedaços da carne na caixa que parecia típica de comida chinesa, era um mix de carnes diferenciadas e para um vampiro, era como comer bombons esperando pelo sabor diferente de cada um. Numa mão tinha a caixa, na outra tinha um cigarro e junto a um dos pés uma garrafa de saquê com tipo O. Mas quem seria o maldito atrapalhador do bom momento de solidão? Olhou desdenhoso porém observou as crianças, se aproximando como pequenos animais, olhou cada minuto de sua cautela, se perguntando que porra era aquela, até que chegassem com grandes olhos dourados, para si. Estava um pouco surpreso na verdade enquanto analisava o fato de que estavam roxos, pouco vestidos e provavelmente um pouco empoeirados. 
- ...
Devagar, o gêmeo mais velho se aproximou dele, embora um pouco amedrontado já que ele parecia olhar a si como todas as pessoas olhavam, como se fosse um mendigo que merecesse o mínimo de atenção. Farejou o ar, mostrando o interesse no que tinha em seu potinho de comida, porém nada disse. Kunisaki p
ôde julgar por sua pequenez que não era muito vivido, talvez tivesse o que? 7 ou 8 anos de idade, menos que isso. Estranhamente agia feito um gato de rua. Parecia inútil perguntar sobre seus pais, porque pelo aspecto físico que apresentava e as roupas que usava, não parecia acompanhado. Pegou um dos pedaços da refeição qual se provia, e levou a altura de seu rosto, não disse nada, esperou por seu modo de agir. O mais velho aspirou o cheiro da carne, era carne humana, cheirava bem, nossa, e como cheirava. Porém, ao invés de aceitar, voltou-se ao irmão escondido atrás de si e lambeu o rostinho dele, indicando que pegasse a carne oferecida. Timidamente ele se aproximou e pegou com a boca o pedacinho da refeição dele no hashi. Kunisaki teria franzido o cenho para expor o fato de que não estava exatamente entendendo o comportamento deles, mas não era assim tão expressivo. Pegou porém outro pedaço da carne, ofereceu para suprir o que cedia a seu irmão. O moreninho mais velho aproximou-se devagar conforme viu a carne e aceitou, mordendo rapidamente o pequeno filete do alimento.
- Não deveriam estar em casa? 
Kunisaki perguntou enquanto pegava mais um pedaço de carne e lhes dispôs a frente. O mais velho deixou que o irmão pegasse a carne oferecida, quanto a si, negativou, encolhendo-se ao ouvi-lo.
- Vocês moram na rua?
Ele assentiu.
- Abandonaram vocês na rua?
- Nossa mamãe morreu... - Respondeu o mais novo.
- E a mãe de vocês era um gato?
O mais novo assentiu, porém o irmão negativou. Os pequenos desviaram o olhar ao beco e viram a gatinha branca que observava a ambos, atordoada por ver que estavam perto de um humano, ou o que parecia ser um, mas não tinha coragem de se aproximar, ela já havia sido maltratada. Kunisaki observou à distância tal a direção o qual ele olhava e pôde ver o pequeno animal. 
- É a mãe de vocês?
O mais novo assentiu.
- E faz tempo? 
Kunisaki indagou embora se achasse um tolo por perguntar coisas como aquela para crianças, duvidava que eles de fato entendiam o que estavam fazendo ou como estavam vivendo, agiam como bichos. O menorzinho assentiu novamente e cheirou pouco mais o potinho com carne que ele tinha. O mais velho permaneceu em frente ao irmão, como se estivesse de guarda, silencioso.
- Vocês dormem aonde?
- Na rua... - Respondeu o mais novo.
- Hum. 
Kunisaki murmurou e pegou mais um pedaço da carne, estendeu ao garoto atrás de seu irmão igual. O mais velho aceitou a carne, ficando ao lado do irmão agora.
- ... Você cheira bem. 
Ele disse conforme recebeu a permissão indireta dele de se aproximar e roçou-se em sua perna.
- Ah, eu cheiro? É o cheiro do meu sangue? 
Kunisaki indagou embora não tivesse certeza se ele sabia identificar aquilo. Levou a mão até a boca e mordiscou com um dos caninos o dígito polegar, gotejou suavemente e desceu a altura de seu rosto. O mais velho desviou o olhar a ele e notou as gotas vermelhas, vividas, nunca havia tomado sangue de vampiro antes.
- ... Eu posso?
Kunisaki não estava oferecendo a ele, apenas estava mostrando se era aquilo lhe lhe atraia o olfato, mas tocou rapidamente seu lábio, encostou a gotinha que deixou sobre ele, apenas isso. O mais velho aceitou a pequena gotinha de sangue e uniu as sobrancelhas, lambendo o lábio inferior e era tão gostoso que nem sabia expressar, nunca havia tomado algo tão gostoso antes. Kunisaki olhou o outro, que pouco falava atrás dele, mas continuava encarando o pote, na esperança de ter mais comida. Entregou a caixa com o que restava do jantar. 
- Pegue, garoto.
O mais novo observou-o conforme falou consigo e assentiu, devagar se aproximou e aceitou a caixa, tentando pegar com o hashi, mas não sabia usar.
- Use a mão, criança. 
Kunisaki disse e fitou a distância deles, a gata que ainda olhava atentamente a direção, aquilo era mesmo esquisito. Ao sentir na bochecha a brisa do vento, olhou para seus corpos pequenos e roupas insuficientes para suprir o clima. 
- Vocês querem vir comigo? 
Indagou, surpreso até consigo mesmo, não gostava muito de companhia, mas eram apenas duas crianças perdidas cuja mãe era um gato de rua. O mais velho desviou o olhar a ele conforme o ouviu e uniu as sobrancelhas.
- ... Eh?
- Se quer vir dormir em minha casa. Podem ter algum conforto nesse frio. A... Mãe... De vocês, pode vir também.
O mais novo desviou o olhar ao irmão e uniu as sobrancelhas, pensou nos gatinhos menores, mas eles quase nunca ficavam na rua consigo e ele.
- ... Podemos mesmo?
- Hum. - Kunisaki murmurou afirmativo. - Terão bastante espaço e não vão terminar partidos ao meio. 
Referia-se a dureza da pele diante do gelo. Pegou o saquê e tragou, observando aquelas crianças, sentiu uma pontada de consideração. O mais novo assentiu, buscando mais um pedacinho de carne. 
- Vamos onii-chan! Vamos! 
- ... Tá bem.
Kunisaki levantou-se por fim, olhou-os de cima e daquele modo pareciam ainda menores. 
- Vamos.
O mais novo voltou rapidamente para o beco e roçou-se na gatinha, indicando a ela que seguisse consigo, ela ponderou alguns instantes, mas silenciosa seguiu com ambos atrás do rapaz. Kunisaki observou a pequena felina, se abaixou e tocou seus cabelos brancos. Gostava de animais, eram mais semelhantes a espécie do que os humanos. Ao senti-lo tocar os pelos, a pequena se encolheu, na espera de que ele fizesse algo ruim, porém ao perceber que não viria, desviou o olhar a ele e afastou-se aos poucos, correndo novamente em direção ao beco. O mais velho desviou o olhar a ela e uniu as sobrancelhas.
- ... Ah, os onii-chans...
- Oe... 
Kunisaki disse ao vê-la sair, diferente deles, não tinha grande compreensão do comportamento daquela pequena coisa. 
- Acho que ela ficou com medo.
- Temos irmãozinhos... 
O mais velho murmurou, unindo as sobrancelhas e logo viu a gatinha sair do beco com quatro filhotes e um em sua boca.
- Oh meu... 
Kunisaki murmurou, embora fosse para si mesmo, ia passar da calmaria para uma casa cheia de gatos. Eram inteligentes demais, podia ver, a ponto de entender que conseguiriam ir para algum lugar. Seguiu até ela, que caminhava em marcha com o filhote na boca. 
- Bom... Precisamos andar, da pra pegar eles no colo?
O mais novo uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo, desviando o olhar a ele e logo a gatinha que parecia mostrar a ele os filhotes. 
- Acho que ela deixa...
- Vocês vão precisar andar também, vocês... Sabem andar?
O mais velho negativou, unindo as sobrancelhas.
- E-Estamos andando...
- Digo, em pé. Como eu.
O mais novo virou a cabecinha de lado, tentando entender.
- Em pé... Pff. 
Kunisaki resmungou, abaixou-se porém e pegou o garoto pela gola da camisa sem ter dificuldade com isso. O acomodou na coxa e pegou dois dos pequenos gatos a entregar para ele. 
- Segure. 
Disse e puxou seu irmão do mesmo modo, não era acostumado a lidar com crianças, portanto após acomoda-lo na outra coxa disponível, colocou os outros gatinhos em seu colo e também a gata maior, quando se levantou, parecia imerso em gatos. 
- Pronto, se segurem direito.
O mais novo sentou-se como podia no corpo dele, agarrando-se ao outro e também aos gatinhos, assim como o irmão, podia vê-lo pela lateral e o viu também encostar a cabeça sobre o ombro do rapaz. Kunisaki observou-o na facilidade como se confortou no colo de um desconhecido. Não tinha qualquer intenção senão livra-los do frio e mesmo da fome, mas sabia que não seria assim com qualquer um, principalmente humanos. Caminhou devagar, evitando que qualquer um acabasse no chão. Achou curioso como a gata maior olhava para si, encarando, parecia realmente inteligente. Assim como o irmão, o mais novo se sentiu livre para repousar a face sobre o ombro dele, silencioso.
Kunisaki caminhou pela neve, tomando rumo a própria casa, era um pouco distante dali, costumava caçar pelo centro enquanto a casa se localizava numa região mais afastada, no meio das florestas, mas bem, não era uma porcaria de um humano então logo estava lá, cruzando as árvores silenciosas, agora brancas em sua maioria e não mais verdes. Na própria casa, as cerejeiras já haviam partido e deixado apenas os galhos. Quando enfim pisou na varanda, se abaixou. 
- Pronto.
Ao descer, assim como o irmão, o mais velho colocou os gatinhos no chão, eram bem pequenininhos, ainda deviam ter cerca de dois ou três meses de vida. O miadinho fraco deles veio em direção ao rapaz e um deles até se roçou na perna dele, assim como a gatinha branca. 
- Aqui é quentinho... - Disse o mais novo.
Kunisaki teve as mãos livres embora as pernas fossem trançadas pelos novos hóspedes, do bolso tomou as chaves e então abriu a porta, se a varanda já lhe era quente o suficiente, dentro de casa o seria ainda mais. Deu passagem a eles, que por sinal, ajudaria a aprender a andar em pé. Ao adentrar a casa, o mais velho surpreendeu-se pelo modo como ela era enorme, e era bonita, até demais. Sorriu consigo mesmo. 
- Que quentinho!
- Hum, vocês podem tomar banho e então poderão se deitar nos sofás e na cama. Ainda estão com fome? Eu não sei o que a mãe de vocês pode comer.
O mais velho assentiu conforme o ouviu perguntar se tinha fome, os olhos pouco vermelho anunciavam que não comia há dias, nem a si, nem o irmão. 
- Ela come peixe... Você tem peixe?
- Hum, talvez algo assim. 
Kunisaki costumava ter alguma coisa, mas não por comprá-lo, tinha quem fizesse isso para si. Seus olhos foscos mostravam que mesmo a carne não lhes havia sido suficiente. 
- Vem até aqui. 
Ele disse e indicou o caminho até a cozinha. O mais velho assentiu e seguiu com ele para a cozinha, assim como o irmão e os gatinhos. 
- Hum... Você tem filhotes?
- Parece que agora eu vou ter. 
Kunisaki disse, embora fosse mais um breve raciocínio para si mesmo. 
- Não tenho filhos. 
Da pequena reserva tirou o sangue, entregou as bolsinhas de transfusão para eles após abri-las. Para os gatos, não tinha certeza do que poderia dar, portanto conseguiu alguns sashimis do dia anterior. O mais velho sorriu a ele conforme o ouviu e sentou-se no chão, aceitando a bolsinha de sangue, assim como o irmão.
-  Obrigado...
- Vocês sabem tomar assim? 
Kunisaki indagou e buscou uma frigideira, tostou rapidamente os sashimis embora achasse aquilo uma ofensa à comida. Só então colocou os pedaços num bowl qualquer e colocou no chão. A gatinha maior seguiu para o potinho e comeu os pedacinhos de peixe, os pequenos ficaram atrás dela, eles não comiam ainda, só bebiam leite.
- Uhum. 
O mais velho disse a sugar a bolsa, levando aos lábios e tentou lambe-la assim como o irmão.
- Não, não é pra lamber, só sugar.
- Sugar...? - o mais velho disse e sugou devagarinho o sangue do local, seguido do irmão que repetiu. - Hum...
- Conseguiu, hum?
O mais velho assentiu num pequeno sorriso com a boquinha cheia.
- Tem mais guardado ali, hum? Pode pegar se quiser.
- Tá bom, dono! - Disse o mais novo.
O mais velho desviou o olhar a ele num sorrisinho. 
- Podemos dormir aqui hoje?
- Dono, ah? - O maior disse embora não estivesse mesmo buscando uma resposta, era um devaneio. - Sim, vocês vão dormir aqui. Mas depois de tomar banho.
O mais velho uniu as sobrancelhas. 
- Não quero tomar banho...
- Por que banho?
- Porque estão sujos e se ficarem limpos, será muito mais confortável na cama.
O mais velho uniu as sobrancelhas novamente. 
- ... Cama?
- É, vão dormir na cama hoje. 
Kunisaki disse e lhe afagou o cabelo, estava um pouco úmido pela neve suavemente derretida.
- Ai onii! Vamos ganhar uma cama!
- E onde mais dormiriam, hum? Não estão mais na rua. - Kunisaki disse e desta vez afagou o cabelo do outro. - Qual o nome de vocês?
O mais velho sorriu a ele e roçou-se em sua mão como um pequeno gatinho. 
- Nome? - O mais novo perguntou.
- Como chamam vocês.
- Eu chamo ele de onii-chan!
- Eu também!
- A moça da vendinha chama a gente de "inundos"... Im...Imundos.
- Hum, é porque estão imundos, precisa de banho pra deixarem de ser. 
Kunisaki deduziu portanto que haviam perdido os pais antes de se lembrarem de seus nomes.
- Hum, bom, seus nomes serão Kurai e Kuroi. Decidam qual gostam mais e qual será o nome de qual. O mais velho sorriu, desviando o olhar ao irmão.
- Eu gosto de Kuroi! - Disse o mais novo.
- Ta bom, eu posso ser o Kurai.
- Então você Kurai e você Kuroi. É, parecem bem com seus nomes.
Kuroi sorriu e roçou-se na perna do maior. 
- Você é o dono!
- Kunisaki é o meu nome. Mas pode chamar de dono mesmo.
- Kuni... 
- saki! - Completou Kurai.
- É, isso. Agora vou levar vocês para o banheiro e vão tomar banho.
- A mãe de vocês também.
Kurai desviou o olhar a gatinha branca sentada e sorriu, ela ainda comia, lambendo o potinho com gosto de peixe.
- Quando terminarem.
Kuroi sugou o sangue, ainda sentado no chão e sorria conforme olhava o mais alto.
- Hum, e você não estava todo tímido atrás do seu irmão?
Kuroi uniu as sobrancelhas e engatinhou até o outro, escondendo-se atrás novamente.
- Ora, o que há?
- Não precisa ter medo, onii-chan, o dono é bonzinho.
Kuroi encolheu-se pouco mais e colocou no chão a bolsa vazia.
- Estava até agora roçando na minha perna.
- Para de ser bobo, onii-chan
Devagar, Kuroi saiu de trás do irmão e observou o rapaz, caminhando devagar até ele.
- Vocês querem mais?
Kuroi negativou, era tímido demais para pedir, mas na verdade, queria muito deitar na cama, estava muito cansado.
- Então vamos. Chame sua gatinha. 
Kunisaki disse, um pouco confuso e tão logo seguiu pela casa, levando consigo os novos hóspedes, lentos pelo modo de andar, teria de fazê-los levantar em breve. Tão logo ao chegar no quarto onde os deixariam se acomodar, abriu a porta e indicou o banheiro. 
- Já conhecem um?
Kurai assentiu e seguiu com ele, o irmão, a gatinha e os filhotes escada acima, alguns tinham dificuldade para subir, mas se esforçavam.
- Iie, não conhecemos...
- Hum. 
Kunisaki seguiu até a banheira, como levaria também seu mascote, deduziu que ali seria melhor. Abriu a torneira e deixou que a água morna, enchesse, embora não em demasia. Kurai uniu as sobrancelhas ao observa-lo e quase correu para fora do banheiro. 
- Iie!
- Não não, se não tomar banho não vai deitar na cama. Vem, vou te ajudar. - Kunisaki estendeu a mão e esperou que o garoto viesse. - Vem, Kuroi, você é corajoso e pode mostrar pro seu irmão. - Disse, tentando induzir o garoto.
Kuroi uniu as sobrancelhas a desviar o olhar ao maior e assentiu, erguendo os bracinhos a pedir colo. De seus magrelos braços erguidos, Kunisaki não o pegou no colo porém tirou sua roupa surrada, despiu-o, se sentiu como provavelmente um pai. 
- Caralho... Virei pai sem ter transado. 
Disse, embora fosse um murmuro para si mesmo. Kuroi virou a cabeça de lado ao ouvi-lo, confuso. 
- Eh?
- Nada não, estou falando sozinho. 
Dito, tão logo Kunisaki revelou suas formas pequeninas demais, despido o garoto, e era mesmo um rapazinho e não um gato. Após deixa-lo nu, só então o pegou no colo e levou até a banheira, mas antes de colocá-lo na água, até colocou uma bolinha espumante nela, teria de ser atrativo, o sal logo se desfez, precisou se gabar para si mesmo, estava sendo ótimo como pai. Enquanto sentado na beirada, devagar desceu o garoto, sabia que estava com medo embora estivesse tentando soar corajoso para seu irmão, devagar, colocou somente a ponta de seus pés. Kuroi segurou-se nele, firme conforme viu a água, tremia, nunca havia tomado um banho na vida, quer dizer, não depois da morte dos pais. Ao ver os sais na água porém, sorriu e esticou as mãozinhas, parecia legal de tocar, e sentiu as espumas nos pés. 
- Ah!
- Oe, não precisa se assustar. Não está bom assim? 
Kunisaki disse e desceu um pouco mais, colocou até que a água alcançasse seu calcanhar. Kuroi riu baixinho e moveu os pés, mexendo a água.
- Está gostoso? 
O maior indagou e se percebeu sorrindo com ele. Kuroi assentiu e moveu os pézinhos pouco mais, pedindo que colocasse a si no chão.
- ... Também quero!
Devagar, Kunisaki o colocou na banheira, tão logo seu corpinho se fez imerso em água e espuma. 
- Você quer? Por quê? 
Disse, ainda assim era um maldito provocador, tão criança quando os outros dois. 
- Quero porque o onii disse que é gostoso...
- Hum, vem aqui. 
Kunisaki estendeu a mão o menor. O pegou no colo e como seu irmão, tirou sua roupa velha, ganhariam uma camiseta qualquer naquele dia. Kurai ergueu os bracinhos como o outro, esperando que ele retirasse a própria roupa.
- Ai, é gostoso onii-chan! É morninha!
Kunisaki despiu seu igual pequeno corpo e o pegou como a seu irmão, colocou inicialmente a pontinha dos dedos, deixando sentir a água. Kurai riu baixinho e moveu as pernas, como o irmão havia feito. Devagar, o maior o colocou na água, visto que tinha a coragem de seu irmão agora. Ao entrar na água com a irmão, Kurai sentiu a temperatura gostosa na pele e sorriu ao maior. 
- Tem espuma!
- Tem espuma. Tem mais espuma ainda no sabonete. 
Kunisaki disse e pegou a esponja de banho, passou na barra de sabão e puxou o primeiro deles que veio, já nem sabia qual era qual, passou a esfrega-lo, sem força.
Kuroi uniu as sobrancelhas conforme sentiu o toque da esponja, áspero e fechou os olhos. 
- Aaai!
- Não estou fazendo isso com força. - Kunisaki disse, enquanto higienizava seu corpo em seu pequeno drama. - Tá vendo? Está ficando branco de novo. Antes parecia marrom.
Kuroi uniu as sobrancelhas conforme o ouviu falar e os olhinhos lacrimejaram. 
- Eu não sou marrom!
- Não, não é não, agora está branquinho de novo. Mas estava marrom.
- Hum... - O pequeno fez bico.
- Se ficar sujo fica marrom. Viu que agora está branco?
Kuroi assentiu. 
- Hum... Agora não tem mais sujeira...
- É. Vem, tem que lavar tudo. 
Kunisaki disse e deslizou a esponja além de seus braços, até as partes íntimas de seu corpo, frente e trás, desceu aos pés, eram bem pequenos, como suas mãos. 
- São quase uns chaveiros.
- Chaveiro? Que que é chavero?
- É uma coisa pequena que você pendura.
- Ah, sou pequeno...
- É.
- Somos pequenininhos!
- Sim, são uns chaveirinhos.
Ambos riram entre si e aos poucos a sujeira ia embora junto da espuma, até mesmo a tristeza e o frio da rua. 

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