Ryoga e Katsumi #47


- Katsumi, tem certeza que não precisa mesmo que eu ajude na limpeza todos os dias?
- Não se preocupe, eu dou conta sozinho. - Katsumi sorriu. - Sei que o Ryoga gosta de você, eu também gosto, mas eu não tenho nada pra fazer se você ficar, essa é a verdade. 
- Eu posso ficar com os meninos, sabe, sirvo Ryoga há anos, eu não quero ter que procurar outro patrão. 
- Eu vou falar com ele. Não estou te mandando embora, sabe disso, eu nem tenho autonomia pra fazer isso. 
- Bem, você é quase casado com ele. 
- Não somos casados. Eu tenho um cliente pra atender agora a tarde então, nos vemos depois. 
Katsumi disse num sorrisinho e despediu-se da serviçal, fechando a porta conforme a serviçal saiu, logo, alguém bateu na porta atrás de si, e uniu as sobrancelhas, seguindo a abrir. 
- ... Ryoma? O horário é seu? Porra, nem reconheci sua voz.
- Olá amiguinho. - O maior disse, ainda na porta e sorriu ao apelida-lo. - Foi de propósito. - Dito entrou com a passagem, observou os arredores. - Pronto pra trabalhar bastante?
Katsumi riu e negativou, dando espaço a ele e prendeu os cabelos no alto com um elástico. 
- Você sempre vem quando o Ryoga não está, é de propósito é? Ele não gosta que fique sem camisa. - Disse num riso. - Hoje não vai poder ver os meninos, Erin está na escola e Natsumi está dormindo. O que quer fazer?
- E quem disse que vou ficar sem camisa? Vou ficar sem calça hoje.
- ... Sem calça?
- Minha perna.
- Ah, por um momento eu quase te dei um soco.
- Aí ia ser um problema. - Ryoma sorriu-lhe com os dentes. - Calma cunhadinho, aposto que já viu coisas piores que penas.
Katsumi riu e assentiu. 
- Já, já vi coisas piores. Vem, senta. 
Disse num sorriso e colocou a babá eletrônica sobre a mesa de instrumentos, limpou a máquina e a cadeira com álcool, sabia que não era necessário já que ele era um vampiro, ainda assim, não gostava de nada sujo ou que parecesse mal feito. Trocou a agulha. 
- E aí, o que você quer fazer nas pernas?
- Eu pretendo fazer nela inteira. Quero um cenário bem caótico. 
Ryoma disse conforme buscava por si mesmo o que usaria para se cobrir ou se expor. Katsumi sorriu meio de canto. 
- Ta bem. Eu estive treinando aquela técnica de aplicação como a do seu ombro, parece ter dado certo, mas o cliente quase me matou.
- Pelo visto, é algo para os masoquistas.
- Hum, se interessou, ah? É, talvez devesse procurar cobaias na boate.
Katsumi assentiu num sorriso. 
- Hum, se souber alguém que queira, me indique. Eu não posso ir lá sem o Ryoga. Quer dizer, ele não me proibiu, mas eu o respeito.
- Não acho que ele vá reclamar se você for atrás de clientes. Eu te ajudaria com isso, mas acho que seu corpo não gostaria disso.
- Você quer que eu tatue você? - Katsumi riu.
- Eu deixaria, mas provavelmente Ryoga terminaria a tatuagem no seu lugar.
- Não vai me dizer que transou com o tatuador?
- Não. - O riso soou meio entre os dentes.
- Sei. - Katsumi riu, colocando as luvas. - Acho que não seja muito apropriado de todo modo. E como vai com o Haruki?
- Estou dizendo, desde quando ser masoquista é só sobre transar, hum? - Ryoma disse e sorriu de canto, sabia que o cunhado ainda era inexperiente naquele quesito. - Ele parece gostar muito de minha casa.
- Hum, eu sei que não, mas achei que sentir prazer com isso podia levar a outra coisa. - O menor disse num sorriso. - É, ele é meio grudento, se estiver te incomodando posso falar com ele.
- Bom, você transaria com o tatuador só porque a dor era interessante? Mas não, ele é um bom garoto. Gosto de meninos fofos.
- Não, eu não transaria, a menos que ele fosse bonitão. Mas claro que agora ninguém mais me parece bonito, só o seu irmão... Não conte pra ele. - Disse num sorriso. - Ah é? Vocês fazem um casal bonito.
- Direi ao Ryoga sobre a possibilidade de transar com o tatuador bonitão. 
Ryoma provocou e já havia se acomodado. Sorriu a ele diante do comentário, tinha algumas observações sobre o garoto, mas não era do tipo de falar sobre relacionamentos.
- Não faça isso, por favor, ou talvez eu acorde sem o meu pau, ou pendurado no teto. - Riu. - Vocês deram bons irmãos também, um sádico e um masoquista.
- Vou falar pra ele que está falando sobre seu pau comigo. 
Ryoma tornou brincar embora soasse sério. O menor negativou e deu um leve tapa no ombro dele, claro, não teve intenção de ser violento. 
- Palhaço.
Ryoma sorriu meio de canto. 
- Acho melhor não bater. - Brincou e esperou então pela tatuagem.
- Uh, desculpe, esqueci. - Riu. - Certo, tire a calça. 
Disse e virou-se de costas, dando privacidade a ele. Ryoma acomodado o observou enquanto se ajeitava para a tatuagem, parecia desconfortável, achou graça embora não estivesse rindo.  Katsumi virou-se em seguida para ele e ajeitou a máquina e as tintas para dar início ao que ele havia escolhido, não desviou o olhar da área da tatuagem nem uma vez.
- Ryoga está no restaurante? 
Ryoma indagou e fechou os olhos, se sentia quase num spa.
- Sim. Ele deve chegar em uma hora. - Katsumi disse, concentrado no desenho que fazia, nos traços iniciais da tatuagem. - Dormiu com o Haruki essa noite?
- Hum, ele passou a noite ontem. Ele provavelmente está se contendo pra não ligar. - Fitou-o de soslaio e sorriu.
- Isso te incomoda? - Riu.
- Não de fato. Ele só parece estar sozinho.
Katsumi sorriu meio de canto. 
- Hum, não leve ele a mal. Ele é meio efusivo e animado quando está com alguém, mas... Se ele diz algo pra você, ele é sincero. Quando ele gosta, ele diz, quando não gosta, também. Geralmente ele sai com os rapazes, mas larga na mesma noite, me surpreende que ele tenha voltado a dormir com você.
Ryoma achou graça da forma como ele falou, como se não fosse para seu irmão uma grande coisa, mas não deu importância ou disse algo. 
- Surpreende, é? - Estava defendendo seu irmão à sua maneira. - Eu não ligo, ele é um bom garoto.
Katsumi riu baixinho. 
- Não quis dizer que você não é bom pra ele, não duvido que seja, é irmão do Ryoga, deve ser maravilhoso. Mas... Ele não é do tipo que se apega fácil a pessoas que não são da família. Mas... Fico feliz que ele tenha gostado de você. Você é um bom rapaz. 
Ryoma sorriu meio de canto, achando graça as explicações e no assunto, não estava incomodado, portanto via graça em sua tentativa de consolo. 
- Calma, cunhadinho, não estou preocupado com nada disso. Não estou incomodado com o jeito dele de lidar com as coisas ou pessoas.
Katsumi ergueu a face a observa-lo. 
- Ah, desculpe... Eu só estava tentando achar um assunto.
- E como está o bebê? Já confirmou?
O menor sorriu meio de canto e desviou o olhar a ele. 
- Na verdade eu peguei o resultado do exame hoje, estou esperando o Ryoga chegar pra abrir com ele.
- E você quer ter o bebê?
- Por que não iria querer?
- Então boa sorte com o resultado.
Katsumi sorriu e assentiu. 
- Obrigado. Disse a limpar um pouco da tinta, o cheiro de sangue era intenso. 
- Precisa de um pouco de sangue?
- Não, eu estou bem. E você quer uma menina dessa vez, ah?
- Nós dois queremos. - Disse num pequeno sorriso novamente, e nem havia se dado conta dele. - ... Você... Quer ter filhos?
- Hum, eu não sei. Talvez um molequinho pela casa não seja ruim.
- Hum, Haruki ia gostar.
- Hum.. - Ryoma riu entre os dentes - Se ele for o meu parceiro, talvez ele goste.
- Não estou fazendo pressão nem nada assim. - Katsumi disse e piscou a ele.
- Claro, jamais pensaria isso. - Disse a ele, atentou-se porém. - Irmãozinho está vindo.
Katsumi desviou o olhar a ele e assentiu, concentrado nos traços da tatuagem. 
- Tudo bem, não se preocupe.
- Eu não estou preocupado. 
O maior disse e até fez pose, esperando a vinda do irmão e a cada passo se preparava para reagir a ele. Quando viu o moreno surgir, fingiu puxar a roupa para onde ela já estava. - Ah! 
Ryoga observou o irmão já deitado na maca, escondido por alguns poucos tecidos e sua nova tatuagem sendo traçada. O encarou com a maior cara de paisagem. Conforme o outro entrou, Katsumi riu baixinho e desviou o olhar a ele, cessando a tatuagem por um pequeno tempo. 
- Oi bonitão.
- Que pouca vergonha é essa? 
Ryoga disse embora não estivesse realmente considerando algo além da tatuagem. 
- Corre, Katsumi, corre. - Ryoma brincou. - Onii-chan, vem me dar um oi bem dado, vem.
Katsumi riu e negativou, afastando as mãos dele. 
- Não estou nem olhando o corpo dele, eu juro por Deus.
- Que comentário suspeito, Katsumi.  
Ryoga disse, ao observar o moreno e a região por onde ele passava. O menor riu e abaixou a cabeça a observar a máquina. 
- Como estava o restaurante?
- Estava tudo bem. - Ryoga disse e caminhou até o irmão, apertou sua coxa ao se apoiar nela. - E como foi por aqui?
Katsumi sorriu meio de canto e ergueu a face a observa-lo. 
- Foi tudo bem, já estou terminando com o seu caçulinha.
- Terminando nada, sabe que vai fazer até o tornozelo. 
- Pra que esse exagero, ah? - Ryoga disse e deu um tapa em sua perna recém tatuada.
- Para de bater nele, que ele gosta. - Katsumi disse e negativou. 
- Vai ficar inteiro tatuado?
- Hum, não inteiro. Não tenho nada do peitoral senão a que fez do ombro e das costas. Serão apenas costas, o braço e uma das pernas. Por que nii-chan, estou feio? - Dizia, fingindo-se magoado. 
- Ah vá.
- Sabe que uma hora vão acabar os lugares pra tatuar não é? - Disse Katsumi.
- Mas eu disse que não vou tatuar tudo. 
Ryoma arqueou a sobrancelha ao falar, havia acabado de dizer que não preencheria a pele completamente.
- Ele vai ter a das costas pra sentir dor, Katsumi.
- Ah, entendi. Bem, se quiser mais um pouco de dor, acho que posso te ajudar com uma na outra coxa. 
Katsumi disse a ele num pequeno sorriso, ele provavelmente havia entendido. Continuou atencioso ao que fazia, preenchendo mais uma parte de sua perna, porém desviou o olhar ao namorado. 
- Ryoga quer que eu faça o jantar?
Ryoga observou o moreno, no comentário ao irmão, não que sua intenção era maliciosa, mas a busca dolorosa do irmão era por algo não tão ingênuo, negativou a ele, evidentemente repreensivo. Katsumi desviou o olhar ao maior e uniu as sobrancelhas. 
- ... Hum?
- O que vai fazer de gostoso hoje, aniki? Faz um docinho, faz. 
Ryoma disse, tentando buscar atenção do irmão mais velho, assim tirar a tensão entre ele e seu parceiro. Katsumi negativou e desviou o olhar a tatuagem do outro, dando atenção a ela, e não entendia porque ele estava irritado, não era como se tivesse algum interesse em seu irmão.
- Vou fazer o doce. 
Ryoga disse e saiu do estúdio, daria à Katsumi alguma tortura psicológica. Katsumi estreitou os olhos, um pouco irritado e claro, pesou a mão sobre a tatuagem do outro, nada que ele não fosse capaz de suportar, sabia.
- Tsc...
- Hum, não sou eu o Ryoga, Katsumi. Além do mais, quanto mais você fizer isso mais ele vai te punir.
Katsumi desviou o olhar a ele e negativou. 
- É melhor você ir, amanhã eu termino.
- Eu ia dizer isso.
O menor assentiu e suspirou. 
- Farei o jantar pra vocês amanhã. Você e Haruki, tudo bem?
- Ele ainda está em minha casa agora. - Deu-lhe um sorriso tênue. - Inventou que a cama estava ótima. - Após se sentar voltou a por as roupas no lugar.
Katsumi sorriu e assentiu. 
- Aproveite então.
- Ryoma, busque seu namorado e volte pra comer. - Ryoga disse ao ver o irmão passar pela porta.
- Meu namorado, tá bom. Eu ligo antes.
Katsumi desviou o olhar ao outro e suspirou. 
- Isso. - Disse, indicando a porta para o cunhado. - Tome sangue pra cicatrizar, ou a tinta pode sair.
- Eu sei, eu sei. 
Ryoma dizia ao acenar já de costas aos outros dois até então sair, tentaria ser silencioso para pegar o garoto fazendo alguma arte em casa. Katsumi suspirou ao fechar a porta e se voltou ao outro. 
- O que foi? Não é como se eu quisesse o seu irmão, pelo amor de Deus.
- Eu não disse que o quer. - Ryoga retrucou, ainda se ocupava com o afazer. - Mas você não precisa se esforçar tanto pra agradar o meu irmão. Ou querer dar a dor que ele quer sentir?
Katsumi arqueou uma das sobrancelhas. 
- É claro que eu quero agradar seu irmão, é a única pessoa da sua família que eu conheço. E eu não quero dar dor nenhuma a ele, quem dará é o Haruki. Estou treinando o mesmo método das costas dele.
- O Haruki é seu único familiar também, não preciso agrada-lo tanto por isso. E por que? - Referiu-se ao método.
- Porque achei que seria interessante ter mais opções para os clientes.
- Hum, agora me diz uma coisa, uma pessoa que quer uma tatuagem, você tem uma técnica de pintura que mantém a tatuagem, certo? Tendo essa opção, qual seria a razão para um cliente querer a outra?
- Bem, se ele fosse como o seu irmão, é um excelente motivo. Sabe muito bem que existem mais vampiros assim, víamos todos os dias na boate.
- E qual seria a razão, Katsumi?
- ... Qual seria a razão do que? É o meu trabalho.
- Seu trabalho é tatuar. Estou falando sobre a razão de algum vampiro querer fazer um processo doloroso como esse.
- Poder sentir dor o resto da vida? Um meio de se punir? Um gosto? Como vou saber?
- O processo causa prazer, mais do que a dor da cicatriz. As pessoas vão na boate pra sentir dor, a dor não é apenas por sentir, é por causar prazer. Posso massagear Haruki como um trabalho?
- ... Isso não faz sentido. Eu não quero dar prazer ao seu irmão, não fazemos tatuagens só pra sentir dor ou prazer, ou eu fazia uma pintura preta na coxa dele. É a arte que importa.
- Se a arte que importa, por que iria querer fazer do outro modo?
- São métodos diferentes, como cortar a pele para deixar uma cicatriz na forma de um desenho, como o método antigo japonês, eu não sei porque as pessoas fazem de outros métodos é só... Arte.
- A pele você corta porque é o método que torna a cicatriz um desenho. A tatuagem você tem o método que cria o desenho tanto quanto o método mais doloroso, então, se todo método chega ao mesmo fim, qual seria a razão?
Katsumi deu de ombros. 
- Eu não sei, só sei que as pessoas gostam e é por isso que fazemos de diferentes meios, para que elas possam ter algo do jeito que querem.
- Ah, tanto faz Katsumi. 
Ryoga disse, deu de ombros e deixou isso claro. Colocou o chocolate de lado e separou dois pequenos tabletes para os filhos que por hora não estavam.
- ... Por que você não pode simplesmente entender o meu trabalho é respeitar ele? Me diz você então, se ovo tem o mesmo gosto, porque fazer ele frito, cozido, pochet?
- Isso sim não faz sentido. São tipos diferentes, teria sentido se fazer ele em imersão o deixasse frito como fazer em óleo. As pessoas não procuram uma tatuagem dolorida para ter a pintura na pele, ele quer isso pra sentir prazer enquanto faz. Me diga uma coisa, você gostaria de saber que meu cliente está tendo prazer enquanto eu o atendo?
- Comer sempre é um prazer, acha que sua comida não trás prazer a ninguém? Prazer não necessariamente precisa ser sexual. 
Katsumi disse e por um momento se viu igualando a fala de seu irmão.
- Oh, você acha que o prazer de um masoquista pela dor não é sexual?
- Não acho que seja estritamente por isso.
- Certo, Katsumi. 
Ryoga disse e por um segundo desviou a atenção do que mexia na cozinha para seu rosto, o encarou evidentemente acabando com o assunto. 
- ... Que inferno, diga a seu irmão então que não o atenderei mais, pronto. É isso que você quer não é? Então foda-se.
- Não é isso, mas não vou discutir com você, você é como uma criança. Na verdade mesmo Erin saberia discutir melhor que você.
Katsumi arqueou uma das sobrancelhas.
- ... Ah é?
- É, Katsumi, é.
- Então vai se foder. 
O menor disse e virou-se, seguindo para o quarto.
- É, porque meu filho sabe que não precisa mandar ninguém se foder pra saber discutir. Ainda mais - Ryoga disse a medida em que se aproximou dele. - Quando sabe o que quero dizer mas não quer admitir. Além do mais, é melhor você me respeitar.
Katsumi observou-o tão perto de si e estreitou os olhos. 
- Por que? Vai me bater? 
Disse, com o rosto tão perto do dele, e estava realmente irritado, não havia feito nada de errado, sempre recebia o irmão dele em casa e agia normalmente, nunca havia dado em cima dele, nunca havia se quer olhado torto para ele, na verdade, as intenções eram as melhores possíveis, simplesmente não via malícia naquilo.
- Não, se eu sequer sou mal educado a ponto de te mandar se foder, acha que eu bateria em você?
- Não me manda ir se foder, em compensação me chama de criança idiota, basicamente.
Te chamei de imaturo. De todo modo, seus argumentos foram tão cansativos que não consigo nem transar com raiva.
Katsumi arqueou uma das sobrancelhas novamente e assentiu, seguindo novamente em direção ao quarto. Ryoga esticou-se suficiente para pegar seu braço e puxa-lo de volta. 
- Não me dê as costas.
Katsumi virou-se em direção a ele. 
- Eu quero ir pro quarto, já estou cansado de você me chamando de criança, é só o que você sabe fazer.
- Já disse, chamei você de imaturo. Se quer discordar de mim, faça com bom argumentos, não com xingamentos. Além do mais, o que me irrita, é que você sabe o que estou dizendo, você entende isso, mas gosta de brigar comigo, não é?
-  ... Eu não gosto de brigar com você, eu só não vejo a menor malícia no que eu faço e não estou nem um pouco afim do seu irmão, então achei meio estúpido você ficar nervoso por isso.
Ele não queria ser chamado de imaturo, também não queria ser tratado como criança, mas para Ryoga ter paciência precisava falar como falaria com os filhos, mesmo que não fosse como eles. 
- Mesmo que não veja malícia, tenho certeza que não iria querer que eu trabalhasse com um cliente de pau duro.
- ... Seu irmão não estava de pau duro. Que nojo. - O menor disse a amarrar a expressão. - Mas se você está com ciúme, não o atendo mais, simples.
- Katsumi... - Suspirou.- Me diz que você entendeu isso. Não estou falando apenas do Ryoma, mas sim de lidar com clientes como se fosse uma dominatriz.
Katsumi assentiu, não queria mais discutir com ele, na verdade, não queria dizer mais nada. 
- Certo.
- Você é comprometido agora, não deve dar prazer a ninguém além de mim. 
Ryoga disse e sabia que daquela forma ele iria entender. Katsumi abaixou a cabeça e assentiu, não disse nada mais.
- Certo.
- Não chame eles pra jantar, não estou afim.
- Não acho que virão.
- Vou tomar um banho.
- Não fique magoado por tão pouco, Katsumi.
- Não estou magoado. 
Katsumi disse, embora estivesse, e suspirou, retirou o maço de cigarros do bolso e ofereceu a ele.
- Está sim. Mas não fique, e bem, hoje vou relevar seu comportamento ao mandar eu me foder. Na próxima vez talvez eu te deixe preso no quarto por uma semana.
O menor sorriu meio de canto e negativou, retirando o casaco que usava e guiou um dos cigarros a boca conforme seguia para o quarto, acendeu o cigarro e desabotoou a camisa, deixando sobre a cama igualmente. Ryoga tentou ao próprio modo fazê-lo entender que a discussão não era assim tão séria. Tinha um modo mais brando de levar situações como aquela, pensava que discussões tensas deveriam ser levadas apenas em situações drásticas demais, do contrário se gastariam sem necessidade. Deixou o que fazia de lado e decidiu pela primeira vez fazer o mesmo que ele, sair do lugar. Por um momento pensou em sair de casa, mas acabou por ir ao escritório, não era sentimental, então não queria lidar com ele para não tratar seus sentimentos como algo banal.
Ao seguir para o banho, Katsumi retirou o restante das roupas, suspirou, e estava realmente cansado. Sabia que ele estava simplesmente sentindo ciúme, mas o problema para si haviam sido suas outras frases, não o ciúme em si. Tragou o cigarro algumas vezes e por fim o apagou conforme entrou embaixo da água com ele. Podia parecer idiota pra ele, mas sempre havia sido chamado de criança, se lembrava de já ter dito aquilo a ele, vagabundo, criança, imprestável, tudo mais que podia ter sido chamado, e ouvir ele falar aquilo, por mais idiota que a discussão fosse, tornava algo sério para si. Ao sair, vestiu-se com a boxer e calça solta. Passou no quarto do filho pra saber se ele ainda dormia e só então seguiu ao estúdio. Guardou todos os materiais que havia deixado sobre o móvel aberto, guardou a máquina, limpou a mesa e a cadeira onde ele havia se deitado para que o tatuasse, deixou separado os materiais que usaria para ele em sua tatuagem no dia seguinte, as demais tintas, jogou no lixo, assim como o restante do material.
Quando Ryoga se deu conta do horário já era tarde, havia ficado tempo o bastante para organizar várias coisas do restaurante, andava pensando sobre abrir algum novo negócio, pensaria em algo além do bar, já responsável pelo Serizawa, talvez uma cafeteria. Ao olhar o relógio decidiu se levantar, após tomar banho rápido, pegou as chaves do carro e seguiu para a porta, voltou meio caminho e abriu a porta de seu estúdio. Observou o moreno por um minuto. 
- Vou buscar o Erin. Quer ir comigo?
Katsumi havia se sentado um pouco, mexia em algumas pastas, por fim, desviou o olhar a ele na porta e assentiu, levantando-se. 
- Vou pegar o Natsumi.
- Deixe ele dormindo, sabe que não vai acordar tão cedo.
- Hum... Tenho medo de deixar ele dormindo aqui sozinho. Mas tá bem.
- Bem, então vou pegá-lo. Vista sua roupa.
- Não, tudo bem. Só vou colocar algo rápido. 
Katsumi disse a seguir para o quarto e colocou uma regata branca, assim como uma calça jeans preta, era melhor do que sair do jeito que estava. 
- Vamos.
Embora Ryoga houvesse dito, pegou o filho de sua cama, o pequeno abriu os olhos por um instante, sorriu mas se aconchegou ao pescoço para tornar a dormir. 
- Vamos.
Katsumi assentiu conforme viu o filho com ele e nada disse, trancou a porta ao sair e seguiu para o carro, colocando o menor na cadeirinha no banco de trás, e o deixou dormir. Após sair, Ryoga seguiu ao carro e entregou o pequeno a ele, só então entrou no veículo. De lá observou o filho adormecido na cadeirinha e já dirigia. Tinha alguns minutos até a saída do filho, portanto dirigiu devagar. Katsumi colocou o cinto de segurança, embora não precisasse, era um hábito e observava o tempo chuvoso fora da janela, silencioso. Ryoga esticou-se para ele, tocou sua perna e apalpou com firmeza, mas não era forte. Katsumi desviou o olhar ao outro, notando a apalpada que havia ganhado e não entendeu por um momento. 
- Hum?
- Sinto pela minha forma de falar. 
Ryoga disse, referindo-se ao fato de que costumava ser sádico até mesmo na forma de falar. Sabia que ele era muito mais jovem que si, ainda era um garoto. Katsumi sentiu um estranho nó na garganta ao ouvi-lo e negativou, desviando o olhar novamente. 
- Tudo bem...
- Não fique chateado. Não penso em você como uma criança.
Katsumi pensou em brincar, porém achou melhor não fazer, como ele, faria a brincadeira por nervoso, não costumava estar numa situação como aquela com ele, era estranho. Assentiu mais uma vez e segurou a mão dele, apertando-a. Ryoga retribuiu o enlace, e aquela era uma das vezes que percebia que estava em um relacionamento sério, mesmo após um ano. 
- ... Por favor não me chame de criança de novo.
- Hum. 
Ryoga assentiu num murmuro, enquanto alternava o olhar a ele ou à direção. Katsumi assentiu e suspirou, deslizando a mão pelo pulso dele e voltou a mão, entrelaçando os dedos aos do outro, havia pensado em toca-lo, mas lembrou-se do filho no banco de trás. 
- Estive pensando em abrir algo novo. O que você tem de ideia? 
Ryoga indagou, achando graça até se si mesmo por perguntar. Katsumi desviou o olhar a ele. 
- Ah... Não sei, outro restaurante? Ou... Não sei, algo relacionado.
- Pensei numa cafeteria. Mas não sei se seria algo do feitio de vampiros, tomarem café.
- Bem, nós tomamos café. Você poderia fazer uns drinks com sangue, como fazemos no bar, mas... Algo quente.
- Quente? Vampiros não se atraem de fato por coisas quentes. Mas talvez, não sei. Hum, esqueci que somos meio masoquistas. É, tem razão.
- Talvez... Uma doceria?
- Hum, cheguei pensar nisso, como aquelas lojas com temas.
- Sim, seria legal. Sorriu. Tipo um maid café só que... Sem café.
- Eu gosto muito de café então fico em dúvida. Se chama ou não os clientes.
- Hum, talvez por ser algo diferente... Talvez eles gostem. Servimos morno.
- Hum, talvez uma confeitaria. Vai ter o café embora o foco seja outro.
- Seria bom.
- Hum. 
Ryoga assentiu, pensando na ideia. Não que realmente precisassem de muito trabalho para ter dinheiro, mas colecionar posses era uma coisa que gostava. Dirigiu até estacionar numa vaga rápida, desembarcaria para pegar o filho. 

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