Broken Hearts #23


Hideki já havia saído do banho há algum tempo após ele, sentia o cheiro do que ele havia decidido cozinhar e então, se sentou à mesa. Ao terminar de fazer a refeição, Yori colocou os pratos a mesa, acendeu as velas, que tratou de proteger em caso de acidente e o queijo, já ralado. Vem, vem. Disse num sorriso, estava feliz que iria sair com ele num encontro, então, havia se arrumado, com as roupas que Ophelia havia dado a si, camisa e calça. O maior olhou para ele e suas roupas novas, bem conhecia seu tamanho, havia servido e também ficado bem para ele. Se sentou à mesa. Ophelia havia saído, certamente buscando seu tipo de jantar e provavelmente, dado privacidade ao garoto como se fossem dois adolescentes. 
- Você está cheiroso. 
Yori disse num pequeno sorriso, havia tomado banho com ele, mas quis constar, o cheiro da pele dele era sempre gostoso. Já havia servido o macarrão nos pratos, então indicou pra ele o queijo. O dele tinha sangue misturado, havia feito depois de pronto, e com a ajuda de Ophelia, havia usado o próprio sangue também. Na taça de vinho, tinha sangue misturado também no dele, o próprio havia trazido da feira. Hideki acomodou-se com ele e observou o jantar diversificado, sabia que era massa italiana embora não costumasse comer massas senão orientais, pouco diversificava da alimentação, embora houvesse aprendido a come-la na companhia de Ophelia. 
- O cheiro está bom. - Era um agradecimento e um elogio.
Yori sorriu a ele e sentou-se a sua frente, bebendo pouco do vinho. 
- Experimenta.
Hideki olhou para ele e então para o jantar. Ele parecia animado, lidar com aquilo era estranho, lidar com sua luminosidade de vida, era estranho. Pegou o vinho o qual rodeou pela taça, circulando pelo material delicado antes de então traga-lo. Mas logo repousou a bebida à mesa e por fim, provou do jantar. Sentiu o molho forte e denso, não pelo sangue mas pela textura do tomate. Era bom, era exatamente como o cheiro que tinha. 
- Ficou muito bom, Yori.
O menor sorriu novamente, satisfeito por ter feito um bom trabalho e mordeu o lábio inferior, provando do macarrão igualmente. 
- Eu coloquei sangue no seu... Porque você gosta.
- Hum, sinto o seu gosto. 
Hideki disse logo após assentir. Sentia mesmo, sabia exatamente o sabor dele, o cheiro dele. 
- Eu coloquei dele também. - Yori disse num novo sorrisinho. - Tirei com a seringa.
- Obrigado... - O maior falou baixo, mas audível o suficiente. - É uma massa gostosa.
O menor uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo agradecer, mas passou a comer silencioso, tinha apenas o sorrisinho nos lábios. Hideki fez com ele o mesmo, silenciosamente formulando o jantar. Olhava-o vez ou outra, imaginando se não sentia nada. Vez ou outra, Yori também o fitava, curioso para saber se comia o jantar.
- Eu posso cozinhar assim pra você toda noite.
- Você gosta de cozinhar? 
Hideki indagou, não sabia coisas corriqueiras sobre ele.
- Gosto. - O menor disse num pequeno sorriso. - Gosto de cozinhar mas gosto mais de fazer doces.
- Eu vou saber mais sobre você em algum momento.
- Depois que comer todos os docinhos que eu fizer. - O menor riu.
- Você parece feliz.
- Eu estou. - Sorriu.
- Por quê? - O maior perguntou, realmente curioso.
Yori desviou o olhar a ele num pequeno sorriso. 
- Porque você quer me levar num encontro.
- Não estou falando de hoje, mas sobre os últimos dias.
- Ah, bem... Eu não vivo mais no porão.
- Hum, é por isso? Eu não consigo entender como funciona sua cabeça.
Yori riu. 
- Se você me deixar livre, eu vou ser melhor pra você.
- Não vai me convencer a te deixar sair sozinho, Yori.
- ... Mas por quê? Eu não voltei sempre?
- Aonde você iria precisar ir sozinho?
- Comprar um presente pra você?
- Não preciso, prefiro que esteja aqui.
Yori uniu as sobrancelhas, mas assentiu.
- Você pode ir com a Ophelia.
- Sim... Ela é uma boa companhia.
- Hum. 
Hideki disse embora não entendesse realmente os motivos dele querer ir sozinho. Já havia pensado em morrer por se sentir sozinho e agora que estava ali, ele precisava de momentos a sós.
- ... Hum, estou com frio. Acho que peguei um resfriado...
- O jantar estava ótimo. - Hideki elogiou, imaginando se deveria soar assim. - Vista um casaco.
O menor sorriu e assentiu.
- Obrigado. 
Disse e se levantou, seguindo para o quarto onde buscou o casaco preto, na verdade, um cardigan que havia ganhado e seguiu novamente para a sala. Hideki se levantou e seguiu atrás dele, esperando-o logo à porta conforme se vestiu. Evitou toca-lo, se já sentia frio, pioraria, embora tivesse feito menção de segurar seus ombros. Yori desviou o olhar a ele. Na verdade, queria que ele segurasse a si, por isso segurou a mão dele, timidamente. 
- Vamos.
O maior sentiu seu toque antes de então seguir o caminho, o que por consequência fez parar e então olhou para ele de volta, então sua mão, o segurou e apertou, ou pensou que fazia. Gostava dele, gostava mesmo. Yori sentiu o aperto, não era realmente forte, parecia cuidadoso e sorriu sutil, não entendeu porque ele olhava para si, mas não parecia confuso dessa vez. 
- ... Você quer que eu solte?
- Não. Só estou pesando, gosto muito de você.
Yori sorriu ao ouvi-lo. Na verdade era inesperado, mas de certa forma, era bom de ouvir. Gostava dele também, quer dizer... Não, realmente, realmente gostava dele. 
- Eu... Eu também gosto.
Hideki continuou por olha-lo, não iria contestar, não daquela vez porque já havia iniciado algo que faria descobrir se ele sentia aquilo mesmo. O menor sorriu meio de canto, estava tímido na verdade. 
- Vamos? Eu acho que vou voltar e me deitar quentinho, estou com febre...
O maior não teria acreditado, se não soubesse a razão. Tocou sua nuca, não para sentir sua febre, mas para esfria-lo.
- Vai ficar bem.
Ao vê-lo se aproximar, o menor fechou um dos olhos e se afastou num pequeno sobressalto, pensou que ele pudesse bater em si, ou algo semelhante, mas não propositalmente, era uma reflexo. Por fim, sentiu sua mão gelada, estava com frio, mas pareceu de alguma forma reconfortante. 
- Hai... Obrigado.
Hideki imaginou que o sobressalto seria pelo toque frio, ainda que tivesse vindo antes do contato. No fim, após solta-lo, seguiu com ele, levando-o caminho ao carro, não precisaria dele se não fosse pelo garoto. Yori seguiu com ele, e ao adentrar, colocou o cinco de segurança, era um costume. Hideki dirigiu por algum tempo, percebeu que não havia saído com ele desde a primeira vez que o encontrara. Não tinham atividades como aquela.
Yori desviou o olhar a ele, só havia saído com ele uma vez, para ir até a própria casa, então era estranho, meio silencioso até. Olhou pela janela e viu a floresta escura naquela hora, para outras pessoas poderia ser um desespero, mas para si, era lindo. 
- Existem... Outras criaturas também? Ou só vampiros?
- Hum, bem, algumas coisas existem.
- Ah... Tipo... Lobisomens?
- Hum, eu nunca lidei com um.
- Ah... Espero que não existam.
- Espera? Por quê? - Hideki indagou, meio risonho.
- Porque já pensou um dia estarmos saindo de carro e um lobisomem bater no carro?
- Mas isso pode acontecer com um vampiro, um cão, um humano...
- É, mas... Sei lá, tenho medo de lobisomem.
- Mas vampiros não são como os filmes, então lobisomens também não devem ser.
O maior disse e quando enfim chegou no lugar, na ponte onde o encontrara, desceu do carro antes de ouvir perguntas e esperou por ele.
- É... Acho que sim. 
Yori disse e o fitou desligar o carro e sair. Permaneceu ali por um instante, confuso. O fitou, ele não parecia se mover ou ir para algum lugar, então saiu, unindo as sobrancelhas. 
- ... O que houve?
- Estou esperando você. 
Disse o moreno e então caminhou até a beira, fitando a água no limite de segurança da ponte. Yori seguiu até ele, devagar. 
- ... Eu... Eu fiz alguma coisa?
- Venha, não vou fazer nada com você.
- ... - Devagar, o menor seguiu até ele, embora desconfiado. - Você vai me jogar?
- Eu acabei de dizer que não farei nada. 
Hideki disse e daquela vez mais irritado certamente, detestava insistir. Yori assentiu e parou ao lado dele, tinha medo, se perguntava se por algum motivo ele havia enjoado de si e agora queria se livrar de si, sentiu um aperto no peito, mas não discutiu. O maior estendeu a mão e esperou que ele segurasse, era curioso ver o receio que ele tinha do mesmo lugar que escolheu, se perguntava se era receio de si ou do que havia planejado ali. Tinha algumas palavras na cabeça, coisas para dizer, mas sabia que poucas sairiam como esperava então tentaria ir aos poucos até conseguir dizer algo que fizesse sentido. 
- Eu disse que seria um reencontro.
Yori segurou a mão dele ao se aproximar, e ainda estava nervoso, mas ao ouvi-lo, a sensação suavizou um pouco, talvez estivesse enganado, e ele quisesse fazer algo bom. 
- ... Ah, agora eu entendi.
- Você disse que confiava em mim, não parece.
- É que eu achei que você fosse me jogar... É difícil pra mim ainda porque você é imprevisível.
- Eu quero que você se jogue. Mas vou junto com você.
Yori uniu as sobrancelhas ao ouvi-lo. 
- ... Mas Hideki... Eu vou morrer.
- Eu te dei meu sangue, não foi muito, mas sei que foi o suficiente porque você está esfriando e com sintoma febril mesmo que esteja frio. Quando você chegar lá embaixo, vou estar com você. E você vai morrer, mas vai renascer e vamos nos reencontrar. Eu sei que você não queria isso, mas eu quero você e não vou deixar você ir embora, então, assim eu vou saber como você está, mesmo se não estiver ao meu lado. Quando eu tocar você, não vai ser só dolorido. Eu vou aprender sobre você e você vai aprender sobre mim. Você queria ver o sol, mas desde pequeno eu nunca quis nada, você foi a primeira coisa que eu tentei ter por capricho, mas parece que você foi quem acabou tendo a mim, então, vou tirar a luz do dia de você, e vou te ensinar que a noite pode ser tão iluminada quanto. Queria dizer muitas coisas pra você, mas não importa o que eu diga, nunca é exatamente o que penso.
Yori o fitou enquanto ele falava, e embora a expressão fosse de apreensão por pensar em morrer, não se prendeu realmente a isso naquele momento, e sim ao restante do que ele havia dito. Sabia que um dia se transformaria em vampiro, porque havia escolhido ficar com ele, mas ele queria aquilo tão logo, tão rápido. Mas... Era uma declaração? As palavras dele embora um pouco confusas eram tão carinhosas de alguma forma. Teve que sorrir ao fim, ele era exatamente o que imaginava que era. Os punhos cerrados, descerrou aos poucos e uma das mãos, devagar guiou ao rosto dele, o tocou em sua bochecha fria. 
- Então... Quando eu morrer... Você vai saber que o que eu sinto por você é real, não vai?
- Se você sentir, eu também vou. Mas pode acontecer de não sentir e se isso acontecer, vai ter que viver comigo, mesmo se não sentir nada por mim.
Yori uniu as sobrancelhas e negativou. 
- Mas eu sinto. - Disse num sorrisinho. - Eu pulo com você.
- Eu espero que sinta. Ou continuarei amargurado. - Hideki até brincou, até sorriu.
O menor riu e estendeu a mão a ele, não tinha medo, sentia. O maior pegou-o pela mão e caminhou até a beirada da ponte, exatamente onde o havia encontrado. Se sentou como podia após subir e então o puxou, colocou-o no colo, sobre as próprias pernas. Yori seguiu com ele, embora estivesse decidido, ainda tinha medo de altura, então se sentou em seu colo e virou-se de lado, de frente a ele e escondeu a face em seu pescoço.
- Vai... Vai doer?
- Não, não mais do que os dias que teve comigo. 
Hideki disse e o abraçou, daquela forma como estava, pareceu íntimo. Yori uniu as sobrancelhas e fechou os olhos apertado, assentiu.
- Te vejo em breve. - Hideki disse e o segurou no abraço. Ao se ajeitar, fez menção de iniciar o salto. - Vamos?
Yori ergueu a face a fitá-lo e assentiu, agarrou-se nele, firme e fechou os olhos, apertado. O maior fez menção de levantar como até então, dessa forma porém, ameaçou pular, mas antes que fizesse isso, pressionou seu pescoço num gesto rápido e sentiu estalar nos dedos quando tirou sua vida. 
- Assim não vai doer. 
Falou, ainda que já houvesse feito o garoto dormir, ou algo parecido com aquilo. Sabia que se caísse, além do medo, morreria afogado e não seria rápido, daquela forma seria mais fácil, ainda que a sensação de tirar sua vida fosse estranha. Logo se acomodou novamente, sentado, com ele no colo, podia ver a água, a noite enquanto segurava seu corpo inerte. 
- Não demore, garoto.

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2 comentários:

  1. MAS O QUE? COMO ASSIM GENTE? Sim! to em lágrimas aqui! ai que cena triste e linda ao mesmo tempo! Agora o amor deles vai superar o tempo..gente..Kaya tu é a melhor em fazer cenas sentimentais, nossa...só tem lágrimas aqui

    Obrigada por este capítulo tão sensível, amoroso, gentil que fez <3

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    1. A Kyo também conseguiu fazer umas acoes faltasticas do Hideki então não posso levar todo o crédito <3 eles são lindos juntos. Fico feliz que esteja gostando!

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