Kyo e Shinya #52


O som suave dos passos preencheu os corredores, uma janela ali faria toda a diferença, mas o andar de cima era composto somente por duas portas, uma biblioteca que era o sonho de qualquer amante de livros e um escritório, igualmente grande em tamanho, mas que perderia logo quando as crianças crescessem, e seria uma pena, ter que reformar a casa, Shinya sabia que desde já ele pensava naqueles problemas que causariam acordar cedo com os barulhos de paredes sendo quebradas. Riu baixinho consigo mesmo ao pensar no maldito infortúnio que seria e negativou, havia colocado o filho menor na cama e a pequena estava com um dos amigos, tinha a casa somente para si e ele, mais ninguém e o cheirinho de café e bolo enfestavam
 a casa, mas não o encontrara no quarto e sim no andar de cima, mas não fora invasivo, até porque, nem teria coragem, era o espaço dele, e nem costumava subir, a casa não era própria, era dele, estava morando com ele já há algum tempo, mas ainda não eram casados nem tinham algum tipo de envolvimento realmente sério, e achava que nunca teriam, não era o tipo dele pedir alguém em casamento, e tudo bem, aceitaria daquele modo. O que havia deixado o baterista parado na porta fora algo que devia ser comum, mas não era, não em casa, e chamou a atenção de modo que o prendera no chão do lado de fora da sala, o som soava suave em cada tecla tocada pelo piano, tranquila, bonita e harmoniosa e vinha junto da voz bonita do outro, meio tremida por escutar através da porta, mas linda do mesmo modo. Decidido a permanecer ali e não incomodá-lo, o loiro encostou-se na porta, de costas e encostou a cabeça na madeira, mantendo o sorriso nos lábios enquanto escutava as músicas escolhidas por ele, tocadas finalmente em seu instrumento que há muito havia sido esquecido e se tornado apenas um objeto para juntar poeira no local, nunca o havia visto tocar, sabia que ele tocava todos os instrumentos, mas ele nunca havia tocado nada para si, nunca havia se quer pego um violão ou qualquer outra coisa e quando por fim o som cessou, o baterista levou um pequeno tempo para processar e afastar-se da porta, acabando por bater sutilmente contra a mesma e por consequência, alertar o vocalista de que estava ali.
"Doku no hana no youni saite miseru wa soshite kaeruzaku hana to naru... Kokoro wa kizutsuite iyasezu ni iro asete yuku ai wa kuzure yuku naka de hana to sakimidarete..."
Kyo cessou nas teclas o toque ao ouvir um breve ruído do lado de fora, como se alguém pisasse por ali, imaginou que talvez a casa estivesse a ser limpa, embora não ficara sabendo da vinda de alguém para limpá-la. E no entanto, no fim da última palavra, não teve um grande intervalo para que batessem à porta, e se levantou cautelosamente seguindo até a mesma, e abriu a dar vazão ao corredor, e notou o baterista, que certamente tentava disfarçar a presença ali.
- Tudo bem, bisbilhoteiro?
Shinya sorriu a ele, meio sem graça e desviou o olhar, afastando-se em alguns passos, sentindo a face se corar e observando-o.
- D-Desculpe... É que faz tempo que não escuto... Queria ouvir.
- Não fique sorrateiro. 
Kyo disse e pigarreou, limpando a voz e fitou suas bochechas tímidas, típico, mesmo depois de tanto tempo.
- Descupe... Sua voz continua linda. - O maior murmurou e sorriu, meio de cantinho.
- Não é como se não me ouvisse cantar nos ensaios, Shin.
- Ah, mas é diferente, em casa você canta pra você e mais ninguém. Então é de coração, não obrigação.
- Sempre canto de coração, Shin.
Shinya sorriu e queria amassá-lo, mas não disse nada.
- Gosto do que faço.
- Canta pra alguém?
- Pra todos.
O maior uniu as sobrancelhas e assentiu.
- Não adianta ficar chateado, Dir en Grey começou antes de nós começarmos, Terachi. Mas sabe que algumas letras são suas.
- Hai... Eu sei.
Kyo fitou-o, e ainda parecia chateado. Não sabia muito o que fazer, somente apertou seu nariz, pressionando-o suavemente. Shinya assustou-se e afastou-se rapidamente, porém logo notou ser uma brincadeira, que não tinha muito costume e riu baixinho. O menor o soltou ao notar o risinho e seguiu deixando a sala a descer direção a cozinha. 
- Vamos, o cheiro do café me mata.
Shinya assentiu e desceu junto dele, indicando o bolo de chocolate deixado sobre o móvel junto do café fresquinho.
- Hum, vim sentindo esse cheiro mesmo.
O maior riu baixinho.
- Você está lindo hoje.
Kyo fez menção de servir o café na xícara, mas claro, deu uma pausa ao ouvi-lo, levou algum tempo sem dizer nada, e voltou então a servir a bebida na xícara, nem disse nada sobre isso. Shinya sorriu e mordeu o lábio inferior, sentando-se ao lado dele, porém ouviu o barulho da porta e logo levantou-se.
- Ué, essa hora? - Disse e seguiu a olhar pelo olho mágico, abrindo a porta logo em seguida. - Eh? Posso ajudar?
- Ah meu Deus, é você mesmo?
- ... Oi? 
- O Shinya, nossa, eu procurei por tanto tempo... Estou tão feliz. 
- Você o que? Quem é você?
- Ah, desculpe, meu nome é Jun, eu sou... Muito fã seu, sou apaixonado desde que eu era pequeno.
- ... Eu não sou tão velho assim...
Kyo olhou a porta, com o típico olhar reto. Aquela talvez fosse a cena mais estúpida que já vira em toda vida até então. Um cara, bater a porta de casa, sem ter o que dizer senão tentar encontrar um ídolo e não dizer nada mais. 
- ... Que? - Disse, mais para si mesmo e seguiu até a porta. - Garoto, você não tem noção de horário, de privacidade?
- Ah, é que ainda são seis da tarde... Você é o Kyo? Ai meu Deus...
- Ah... Vai dizer que é apaixonado por ele também?
- Não, é que não achei que vocês morassem juntos... Você me da um autógrafo? E sairia comigo?
- Como assim você é o Kyo? Essa questão não tem hipótese de ser indagada, não que quisesse ser reconhecido, mas se um fã é um fã, não tem como não saber ou ter certeza de um vocalista de banda. 
Que ingenuidade, Kyo pensava. Fãs nacionais sempre eram estranhos mesmo. Mas tomou posse do posto do baterista e fechou a porta, deixando de fora o rapaz, não convidado. 
- Gostaria de saber como meu endereço foi encontrado.
Shinya desviou o olhar a ele por um momento e uniu as sobrancelhas.
- O que acabou de aconteceu aqui? - Shinya murmurou e ouviu novamente as batidas na porta, assustando-se. - ... Kyo, chame a polícia.
Kyo estendeu a mão, como se pedisse uns minutos ao baterista. Abriu a porta e fitou o rapaz. 
- Propriedade privada, você não pode estar aqui. Não sei como conseguiu meu endereço mas é bom desconseguir ele. E se bater nessa porra de porta de novo, vou bater a quantidade de vezes que tocar ela, em você.
- Nossa, que estresse. Eu só quero falar com o Shin, qual é o problema? Você não é dono dele.
- Se quer falar, vá no show e compre um meet. Não sou seu vizinho pra sair batendo na porta a hora que quiser. Aqui é minha casa. Sai fora. 
O menor disse e fechou a porta, e embora não demonstrasse, ainda estava pasmo com a falta de noção do garoto. O maior arqueou uma das sobrancelhas, sem entender nada realmente e esperou que ele não se irritasse o suficiente para estragar a noite.
- Kyo, sinto muito...
O menor negativou, dando de ombros. 
- Acho que preciso de um novo café. Garoto louco, não sei como ele conseguiu entrar aqui.
Shinya assentiu e logo ouviu o barulho novamente, unindo as sobrancelhas.
- Kyo, deixa, é só uma criança!
- Eu só quero um autógrafo, posso? - Gritou o garoto.
- O problema é ele se enfiar aqui sem poder estar aqui, isso é falta de noção. Dá logo essa porra de autógrafo, passa por baixo da porta.
Shinya assentiu e abriu a porta novamente, aceitando o caderno e assinou-o, entregando de volta.
- Por favor, vá embora, hum? 
- Poxa, eu fico chateado, eu tinha um sonho desde pequeno...
- Desculpe garoto, eu sou casado e tenho dois filhos, foi um prazer conhecer você. 
Falou e logo fechou a porta.
- Eu mandei passar pela porta, Shinya.
- Desculpe... Ele não vai incomodar mais.
- Esses pirralhos..
- Está com ciume dele?
- Não, é só que é sem noção de chegar aqui assim. Podia mandar alguém arrastá-lo daqui.
- Eu sei, mas não é importante, deixe. Esse é o preço de morar num bairro comum.
- E o que sugere, uh?
- Não quero mudar daqui, amo essa casa.
- Eu gosto dela também. - Kyo disse e sorriu-lhe sutilmente, de cantinho.
- Gosto das nossas cerejeiras, do nosso sofá da primeira vez e da piscina inútil. - Shinya riu.
- Ela será útil para as crianças logo.
- É. - O maior sorriu. - Você pensa em ter mais filhos? Ou só os nossos dois?
- Não penso em anda, não planejei nenhum deles e não espero planejar os próximos.
- Os próximos? - Shinya mordeu o lábio inferior. - Hum, você está me devendo aquela roupa, hum?
- Estou devendo nada.
- Ah... Mas você fica tão lindo nela. Você é lindo até respirando. Você acha que eu fiquei gordinho depois dos meninos?
- Não, você continua bem ripinha.
- Ah é? - Shinya riu. 
- É, e parece gostar disso.
- Gosto. Ser magrinho é bom, apesar do meu braço ser enorme por causa da bateria.. E você consegue ser mais forte que eu...
- Que braço enorme, Shin? Se ficar mais magro some a pele e fica o osso.
Shinya riu.
- Você sabe que eu tenho meus regimes loucos.
- Sim, e perigosos, não faça isso.
- Eu estou tentando comer melhor. - Disse o maior num sorrisinho e Kyo desviou o olhar à porta.
- Será que o moleque foi embora?
- Já deve ter ido sim.
- Não sei não, eu vou é adotar um cachorro pra proteger a casa.
- Você é o cachorro que protege a casa, Kyo.

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