Ritsu e Etsuo #2


- Eh? Etsuo caiu da cama?

- Ah iie, vou buscar o Ritsu na escola, eu volto logo, mamãe. 
- Hai, eu vou fazer o jantar pra vocês.
- Iie, eu vou comprar no caminho, por que você não faz aquele bolo de chocolate que eu gosto?
Shiori sorriu e assentiu ao filho, que mais parecia o próprio irmão e esticou-se para beijá-lo no rosto.
- Toma cuidado, tá?

- Ta bem, mamãe. Se cuide também, deixe as janelas fechadas, bem... Já sabe. Acho que depois da surra que o papai deu naquele imbecil, ele não vai voltar.
Etsuo falou a mãe, deslizando uma das mãos pelos cabelos dele e logo saiu, seguindo dali direto para o restaurante, onde comprou o jantar do irmão, o sushi que ele disse que estava com vontade, e não faria a mãe fazer por ser trabalhoso. Com o saquinho na mão, guiou-se pela sombra até a escola do outro não muito longe dali e sorria, pensando no sorrisinho dele ao ver a comida, que lembrou-se de comprar. Comprou também um suco para ele, que preferiu segurar na mão já que estava gelado, e esperava que ele gostasse do sabor escolhido, embora sempre tivesse a inclinação a comprar algo doce demais. 
Ajeitou os cabelos e por fim cessou os passos em frente ao local, mas não porque o estava esperando, e sim porque havia visto o irmão e estava com outro garoto, pouco menor que ele, que segurava suas mãos, e não acreditou quando viu.
O sinal deu fim a aula, mesmo que a última houvesse sido vaga, o que dava tempo para Ritsu dar uma volta pelos clubes do colégio, já que não podiam sair antes do horário. Dava tempo também, de ser perseguido pelo aluno da sala ao lado, o qual havia passado a ter uma amizade nos últimos meses. Ele era insistente, e um pouco puxa-saco, mas de alguma forma fazia lembrar o próprio irmão, não tinha os traços dele, mas seu comportamento cuidadoso era parecido, ainda que fosse realmente mais delicado com o vampiro. Tinha cabelos médios e castanhos, tinha a mesma mania de toques que o irmão mais velho, as vezes não tinha certeza sobre a sexualidade dele, era quase bipolar, hora mais dócil hora mais descontraído, mas foi assim que se tornaram amigos. Na verdade ainda que fosse tão divertido, parecido com o irmão, as vezes mais parecia querer carinho do que provê-lo, talvez fosse carente. Pensou e deu um breve sorriso, imaginando se Etsuo no fim não era desse mesmo modo, o que o fez voltar a si e segurar a própria mão enquanto indagava o possível motivo do riso.
- Não é nada, estava pensando sobre 
uma coisa.
Retrucou e o viu sorrir em conjunto, talvez imaginando algum motivo que o envolvia, porque pareceu animado a ponto de chegar mais perto do que já costumava e dar um selo nos próprios lábios. Surpreendeu-se, embora houvesse ficado parado no lugar. Estava sendo "muito" beijado, talvez algo estranho estivesse ocorrendo com os lábios.

Etsuo uniu as sobrancelhas, depois estreitou os olhos, ainda sem acreditar no que estava vendo. Queria protegê-lo de modo que ninguém podia tocá-lo se não a si, gostava dele, e ver aquilo era como uma facada, ainda mais por saber que o irmão não havia afastado o rapaz. A sacola com a comida fora ao chão, assim como a bebida e nem sentiu o chão abaixo dos pés, porque havia pisado com tamanha força e raiva, que desconsiderou todo o resto. A mão segurou o pulso do menor e fora apenas um puxão, afastando-o do mais alto, que empurrou igualmente e rosnou, sem ser preciso muito para amedrontá-lo.
- Se eu ver você perto dele de novo, no dia seguinte pode me esperar na sua casa, quem eu achar na minha frente, eu mato.
Falou e virou-se, puxando consigo o caçula e ainda o segurava com força no pulso, tamanha força que até ouviu o estalo, mas não o soltou, enquanto não havia se afastado o suficiente, e não olhou o rosto dele, continuou a carregá-lo.

Ritsu não teve tempo sequer de manifestar alguma pergunta ao amigo, sentiu o toque no pulso a medida em que um ruído se instalava ao lado, ao ouvi-lo parar perto de si e dar seu recado ao moreno, que o fitou tão confuso, mas sabia que ele mesmo já sabia quem era o irmão. Ele não disse nada e si mesmo também não, teve tempo de franzir o cenho a fim de evitar a dor no pulso, e mordeu o lábio tentando não ruir, a fim de evitar demonstrar ao amigo o fato de que aquilo estava sendo mais grosseiro do que ele já podia ver. Por sorte não havia agredido o garoto, mas o deixado para trás, tentou segurar com a mão disponível a mochila que deslizava no ombro, e somente quando longe o bastante, fora onde arranjou alguma força para jogar a bolsa nas costas do irmão. 
Etsuo cessou os passos ao sentir a mochila pesada contra si, embora não tivesse causado nem um arranhão em si e desviou o olhar a ele, os cabelos cobriam o rosto, embora nem isso fosse suficiente para deixar apagados os olhos que brilhavam no escuro, e aquilo era certamente a vontade de arrancar a cabeça daquele garoto e agora, encarava o irmão.
- O que?!

O menor fitou o irmão e seus olhos que cintilavam sob a pouca luz que ainda restava do dia. Sua voz exasperada e sua raiva sem motivo, como podia ser tão ciumento? Pensou consigo.
- Não tenho medo de você! - Resmungou como um reflexo ao vê-lo olhar daquele modo.
- É bom você ter! Você é meu!
Etsuo falou e puxou-o pelo pulso novamente, ouvindo o novo estalo do local.

- Pare com isso, Etsuo!
Ritsu retrucou e voltou a puxar o pulso dolorido, já havia se machucado, era impossível doer mais do que já o estava. Naquele momento lamentou o fato de não poder ser um vampiro como ele e poder ser sentido por um dos pais. O maior m
anteve-se a segurar o pulso do menor, se o soltasse, sabia que ele poderia correr e não queria ir atrás dele.
- Eu vou matar ele.

- Você vai quebrar meu pulso, seu idiota...
Disse e com a mão livre deu um soco, como podia, no peito do irmão. Era lamentável. 

Ao ouvi-lo, Etsuo cessou o que fazia, soltando o pulso dele e uniu as sobrancelhas, notando-o marcado pelos próprios dedos e certamente, bem dolorido.
- ...

Ritsu soltou-se depressa diante da afrouxada de seus dedos e tomou o pulso contra o peito, segurando sem qualquer firmeza entre os dedos, estava dolorido, mas não queria passar vergonha, era um homem, não queria chorar.
- Você ficou louco.

O moreno negativou, observando-o e uniu as sobrancelhas, dando um passo em direção a ele e estendeu uma das mãos, tentando alcançar seu pulso.
- Não. - Disse o menor, evitando o toque, do contrário podia ferir um pouco mais. Só não sabia porque havia se irritado tanto. Mordeu o lábio inferior, evitando protestar. - Vou embora. Vou sozinho.
- Iie... Ritsu...
Etsuo falou a ele e não iria tocá-lo se ele não quisesse, por isso manteve-se ali, no mesmo lugar.

- Não, não sou seu brinquedo pra você quebrar porque quer!
O maior uniu as sobrancelhas, os olhos enchendo de lágrimas ao perceber que havia de fato o machucado e abaixou a cabeça, assentindo.
- Por que está chorando? Eu que devia chorar. Vou embora, vou te deixar e vou morar longe de você.
O menor resmungou, provocando o irmão, talvez um pouco irritado, quis chantageá-lo. 

Etsuo manteve as sobrancelhas unidas ao ouvi-lo e logo ergueu a face, observando-o a sentir a pequena lágrima escorrer pela face. O menor negativou enquanto ainda recolhia o braço contra o peito, e com a outra mão pegou a mochila jogada no chão, jogou sobre o ombro e seguiu o caminho de casa. Não o entendia, estava chateado com ele, não entendia como podia ser tão ciumento, não havia feito nada que merecesse ser machucado. 
O maior abaixou a cabeça novamente, observando o chão e sentiu as lágrimas ainda formadas nos olhos, não o havia machucado de propósito, e sim porque o havia puxado com muita força, e não tinha consciência dela, sempre se esquecia que ele era humano. Virou-se em direção a parede e o punho fechado estalou contra o mármore que rachou no lugar onde havia batido e estalou os dedos logo após, que certamente machucados de mesmo modo, mas que ao beber sangue, voltaria ao lugar sem muitos problemas, negativou consigo e virou-se, seguindo em direção oposta do irmão.
- Ritsu! Ritsu!
O pequeno corria em direção ao amigo, observando-o a pouca distância e cessou quando parou ao lado dele, respirando rapidamente devido a curta corrida, e carregava nas mãos o suco e a sacola que estava levando a ele.
- Etsuo deixou cair ne... O que houve?

Ritsu continuou a marchar, mesmo a caminho de casa, mesmo naquele clima desagradável entre ambos e podia ouvir alguém chamar, mas não queria falar. Parou no entanto ao sentir o toque no ombro e suspirou com desgosto por ter de parar o caminho e teve de esconder o braço atrás do corpo. Observou a sacola e a lata na mão do amigo, e esperava que não houvesse visto muito além.
- Entregue a ele.
Disse, não quis olhar o conteúdo, estava chateado, não conseguia entender como o irmão podia ser tão estúpido, como podia machucar daquela forma visto que não tinha coragem de fazer qualquer coisa que lhe fosse dolosa, era um idiota louco. Sempre foi brusco. Pensou e deixou o amigo sozinho, seguindo caminho embora, e não esconderia da própria mãe o que havia feito, como já havia deixado escondido suas mordidas quando eram mais novos, agora ele bem sabia o que fazia.

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