Yasuhiro e Yoruichi #2


A cigarrilha estava entre os dedos de Yoruichi, tinha o frescor da menta e o aroma do tabaco, levava vez ou outra aos lábios, distraidamente e observava, do alto da colina a cada daquele estranho humano que mais parecia uma garota, assim como a si. Não entendia o que ele via nele, não conseguia compreender como um ser tão frágil podia ser alvo da atenção de um vampiro que era claramente uma raça superior, também não entendia como poderia se preocupar tanto com aquele idiota, visto que seria um empecilho na tentativa de dormir boas noites de sono. O que mais preocupava a si era o fato dele ter um ano a mais, e era somente devido a isso que seria um problema caso ele quisesse fazer alguma coisa consigo, conhecendo os próprios pais, uma vez que estivesse casado com ele, gritar não adiantaria, fechariam as portas, fingindo que nada viram.
Senhor, quer que eu lhe traga o casaco? Está ficando frio.
- Quero que vá para casa, Saki. Eu não sinto frio, somente sentiria se estivesse nevando.
- Sim senhor, com licença.
Yasuhiro descansou sobre os ombros a camada de pele felpuda e negra, como o quimono que vestia, cujo alguns detalhes perolados embora ainda em preto, quebravam o blackout do traje ou talvez nem tanto. Sentou-se na mureta, onde de cima podia observar a rotina casual daquele jovem rapaz, que embora estivesse frio, animosamente tentava levar a vida de seu plantio adiante. Era fim de tarde, e o dia nublado não permitia a pele ser ferida pelo calor. Pela primeira vez pôde comparar o bom humor do menino ao do primo arisco. Com um trago na cigarrilha de cravo, soprou e desceu do local, seguiu ao garoto de cabelos curtos, bem curtos e louros escuros, e embora o comprimento de seus fios fossem tão míseros, imaginava porquê do moreno imaginar com confusão seu gênero. Ao dispensar a cigarrilha entre os lábios, levou as mãos ao adorno sobre os ombros que não se afetavam com o frio, ao tira-lo, guiou aos ombros do garoto, que se recolheu na pele animal, aquecendo seu corpo que sentia a temperatura. Seu nariz vermelho ainda assim não era motivo para esquecer de cultivar suas plantas. Eram amigos, achava-o adorável, porém não nutriam um relacionamento, apenas gostava de observa-lo, era como um bom passatempo. Após regredir ao ponto onde costumava estar, deu atenção a cigarrilha que continuou a fumar até que o garoto se recolhesse. Lembrou-se novamente do primo, e antes de partir virou-se em direção ao alto da colina, onde seu ponto de observação, para surpresa, podia ver de longe sua silhueta.
O moreno observava curiosamente o garoto, quase aspirava o ar para tentar farejá-lo dali, e como um gato, rosnou sozinho, mostrando as pequenas presas afiadas. Seria um bom aperitivo para palitar os dentes, principalmente se ele tentasse fazer alguma coisa com o garoto. Não se sentia como se gostasse dele, mas era propriedade própria, e perdê-la para um humano era no mínimo, degradante. Fora nesse momento que o viu ali, se aproximando do garoto e levantou-se quase no mesmo instante, observando-o, e os olhos amarelos haviam se mesclado ao vermelho num misto de raiva e ansiedade, e claro, não queria ser visto ali, fora exatamente por isso, que quando fitou o olhar dele sobre si, virou-se e irritado caminhou em direção a floresta que se tornava ainda mais escura devido a noite que chegava. Sabia que era perigoso, mas não tinha medo. Os pés pisavam exatamente por onde já conhecia, passando por galhos caídos e até mesmo alguns animais habituais e por fim, parou, e o punho atingiu certeiro a árvore que ruiu com um estrondo.
O loiro levou algum tempo até deixar o pequeno ponto alto onde se sentava. Após a partida do garoto, o qual verificou em segurança, desceu e seguiu sem dificuldade o caminho de casa, e claro que achava graça na partida do rapaz no alto da colina, certamente infeliz por ser visto, já que para o humano, ser capaz de enxerga-lo não era possível, mas consigo era diferente, podia vê-lo.

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