Kyo e Shinya #45


O telefone tocava desesperadamente na casa, ecoando pelas paredes, uma pena que só pudesse ser ouvido no andar de cima, no quarto não. De certo modo era até bom porque a Kasumi dormia, o problema é que dormia sobre o peito de Kyo, porém ele podia ouvir devido a porta que Shinya havia deixado aberta. Havia saído para buscar algumas coisas pra ele no estúdio e gravar a própria parte da bateria, estava um pouco enferrujado depois de tanto tempo, mas após pegar as músicas e observá-las, conseguira tocar para a gravação, o problema é que os braços não tinham mais tanta força quanto antes, o que exigiu mais esforço de si. Levantou-se logo após e aproximou-se do moreno sentado ao canto e sorriu a ele.
- Por que vocês não ficam juntos? Fazem um belo casal. - Disse a Toshiya.
- Eu não, pelo amor de Deus. Imagine aguentar o Die todo dia da minha vida, eu mataria ele sufocado com o travesseiro.
Shinya riu e pegou a garrafa de água sobre a mesa de canto, bebendo alguns longos goles da bebida.
- Não seja bobo, sabe que quando vocês se veem, ficam sempre juntos.
- Eu não, Die é amigo do Kaoru. Hey, por que não trouxe a Kasumi? Adoro pegar ela no colo, parece uma bonequinha.
O baterista sorriu a ele e negativou.
- Estava dormindo com o Kyo. 
- É estranho imaginar vocês dois juntos ainda, quer dizer, é estranho imaginar o Kyo fazendo qualquer coisa, ele é tão sério.
- Não é tanto como antigamente, hoje em dia ele está melhor. -Riu. - Até consegue brincar com você. E... Não está se cortando mais. 
- Que bom, eu ficava realmente preocupado com ele. Você ainda tem os cachorrinhos?
- Não, acabei deixando eles com a minha mãe, o Kyo não gosta de tanto barulho na casa.
- E como ele reage ao choro da Kasumi?
Shinya desviou o olhar a Die, que havia se pronunciado com a pergunta pela primeira vez desde que entrou e negativou.
- Ele ama aquela pequenininha, vocês pensam que não, mas passa o dia todo com ela. 
- Eu imagino. Quando ele veio, não desgrudou dela um minuto, ele parece um bom pai.
O baterista sorriu novamente e assentiu, permanecendo a observar a garrafa d'água e o rótulo por um pequeno tempo, quando sentiu a vista escurecer e agarrou-se a mesa, tentando se manter em pé.
- Shin? Tudo bem?
Shinya suspirou, fechando os olhos com a vista escurecida e sentiu a mão do amigo no próprio ombro, era Toshiya, e teve que segurá-lo porque havia perdido a consciência.
O telefone parou de tocar por um pequeno tempo e depois voltou com a nova ligação, obviamente era Toshiya, desesperado na sala do hospital a observar o baterista na cama, e tentava falar com o namorado.
Kyo resmungou consigo mesmo, embora não fosse proposital. Acordara mais com a puxadinha da filha na própria camisa, do que com o toque estridente do telefone noutro cômodo. Com desagrado se levantou, levando no colo a moreninha, com sorrisinho fraco e olhinhos repuxados pelo recém acordar. Ao pegar o aparelho, pensou em jogá-lo fora, se não fosse pelo companheiro estar fora de casa, teria o feito. 
– Fala. 
E assim atendeu ao telefone, com a voz grave e evidentemente sem humor para uma ligação. 
- Kyo! Ah, graças a Deus, eu estou te ligando já faz meia hora caralho. O Shin está no hospital, ele desmaiou na gravadora, pode vir até aqui?
De cenho evidentemente franzido e olhos quase fechados, Kyo ouvia-o ao telefone. Somente deu atenção para a conversa ao ouvi-lo se referir ao hospital. 
– Mas que porra... O que aconteceu? Desmaiou por quê? 
- Não sabem ainda, estão fazendo alguns exames. O Die saiu e está indo aí pra ficar com a Kasumi, achei que não ia acordar, então pedi pra ele fazer isso. Você pode vir?
- Quando o Die chegar eu saio daqui. Há quanto tempo ele saiu daí?
- Oi, estou aqui. - Falou o guitarrista que já havia passado pela porta e o observava. - Pode ir. 
- Ele chegou?
- Como entrou aqui? Shinya deixou a porta aberta? – Kyo indagou ao guitarrista ao vê-lo e entregou a pequenina nos braços do mais alto, deixando assumir os cuidados. – Faça direito, Andou. 
- Fica tranquilo, vou cuidar bem dela. 
Disse o ruivo e segurou a criança como se fosse quebrar há qualquer aperto mais forte e parecia um idiota empolgado a brincar com ela. A essa altura Kyo já havia se esquecido do baixista na linha, e até deixado o telefone na base, e claro, desligado sem aviso. Se informou com o maior a respeito do hospital, e chegou lá pouco depois, seguindo até o consultório médico aonde se encontrava o baterista e companheiro. 
– Shin.
- Ele ainda está desacordado, vou procurar o médico pra falar com você, ele desmaiou logo que terminou a música, assustou todo mundo. - Disse Toshiya a sair do local.
- Ora, - Kyo resmungou e sentou-se na poltrona a seu lado. 
Se não consegue tocar não precisa se esforçar tanto. – Disse ao maior, embora ele mesmo ainda dormisse, quietinho em leito hospitalar. Shinya uniu as sobrancelhas ao ouvir a voz dele tão perto, incomodado no sono, embora não tivesse acordado e suspirou.
- Kyo... - Murmurou, ainda adormecido.
O menor fitou o louro, sabia que ainda dormia e mexeu em alguns fios de sua franja, observando-o adormecido. Shinya suspirou e abriu os olhos, sonolento, desviando o olhar a ele ao lado de si e sorriu como se tivesse despertado na própria cama.
- Kyo... 
Piscou algumas vezes e só então se deu conta de que estava numa sala branca, e não no quarto. Uniu as sobrancelhas e ergueu-se.
- Kyo? Onde estamos? 
Kyo observou o baterista, notando seu rosto afeminado. Seus lábios fartos e sentiu vontade de beijá-lo ou... Mas não poderia. Ajeitou sua franja e notou seus olhos castanhos aparentes. Havia acordado, e sorria como a filha. 
– Você ainda pergunta? Passou mal na gravadora. Devia descansar se estava exausto assim.
- Mas eu não estava me sentindo mal na gravadora... Não sei o que aconteceu... De repente tudo ficou preto... Eu já posso ir embora? Estou sem roupa...?
- Não podemos ir, o médico trará um diagnóstico a respeito disso. Espere um pouco mais. Quer alguma coisa? Café, chá? Está? - Kyo indagou e observou embaixo de seu cobertor. - Ah, avental.
Shinya puxou o avental, cobrindo as partes intimas ao senti-lo erguer o lençol e uniu as sobrancelhas, sentia-se livre demais e... Balançante.
- Ta bem... Eu... Queria um chá, mas não quero ficar sem você..
- Você quer chá de que? Eu busco rapidinho e logo estou de volta.
- Iie, tudo bem, quando sairmos tomamos juntos...
- O que você sentiu?
- Nada... Só senti a vista escurecer, mas juro que não me cansei tanto com a bateria... Se tivesse, eu teria parado. 
- Boa tarde. - Disse o doutor a adentrar a sala, acompanhado do baixista. - Shinya, não é? 
- Isso, boa tarde, doutor.
Kyo virou-se, fitando o médico responsável por ele.
- E... Você deve ser... Niimura Tooru, certo?
Kyo afirmou ao médico, esperando resultado, impaciente com a enrolação. 
- Diga
- Doutor, foi muito esforço físico? Sei que já estou ficando meio velho...
- Bem, pelo resultado dos seus exames, não tem nada errado com o seu corpo e muito menos é por causa da idade, você fez sim muito esforço físico, porém com o resultado do seu exame de sangue. - O doutor indicou o curativo no braço. - Você tem algumas alterações que indicam uma gravidez, então... Parabéns. - Sorriu, meio de canto.
- Outro bonequinho? Ai meu Deus. - Disse Toshiya.
- Eh...? De novo? 
Shinya murmurou e desviou o olhar ao outro, sutilmente, preocupado com a reação dele com a notícia, por um momento achou que ele pudesse não gostar de ter outra criança na casa.
- Desmaios são um sintoma meio raro durante a gravidez, acredito que tenha sido causado pelo esforço físico mesmo. Como está tudo certo, você pode ir se quiser, porém pedi alguns exames do bebê para amanhã, pra saber se está tudo bem com ele.
Kyo observou o que dizia o médico, e os olhos se voltaram meio de soslaio ao baixista bonequinho? mas que porra de apelido. 
- Já que você e o Andou não fazem, parece que o Shinya se adianta por você. 
Disse ao moreno, e fitou o louro, deu-lhe um sorrisinho canteiro, um sorrisinho somente para ele, e tão logo deu atenção ao que dizia o médico. Assentiu sobre os exames  e viu-o deixar a sala após as indicações típicas. 
- Hitomi.
Shinya sorriu ao vê-lo sorrir para si, tranquilo agora pelo fato de que ele não havia ficado bravo e suspirou, porém o sorriso sumiu ao ouvi-lo, sem entender.
- Hitomi?
- É um nome unissex. Pode ser menino ou menina.
- Ah, você escolheu o nome?
- Você não gosta?
- É lindo. É que... Você pensou nisso?
- Eu pensei esses dias, sobre esse nome caso tivéssemos outro filho.
O baterista sorriu e segurou a mão dele, entrelaçando os dedos aos do outro.
- Ah, vocês são tão lindos juntos... Estou quase chorando aqui, caralho. - Disse Toshiya.
- Está mesmo, porque não é você esperando o bebê. Ou quem engravida é o Andou?
- Hey, me deixa fora dessa. Já falei que o Die é do Kaoru. Vou comer alguma coisa.
- Hum. Uhum. Vai comer, vai.
Shinya riu baixinho ao ver o outro sair e mordeu o lábio inferior.
- Esses dois... Mas... O que faremos com a turnê?
- De qualquer forma não podemos sair em turnê. Mas o CD não adiamos, a parte mais difícil você já fez.
O maior sorriu de canto.
- Desculpe. Devia ter dito pra você que ia gravar, é que como já estava lá...
- Tudo bem. Vamos lá tomar seu chá?
- Vamos, mas não é melhor voltar pra casa? Não confio no Die.
- Ah, Andou preza pela vida. Acho que mais pela Kasumi do que a dele. 
Shinya riu baixinho.
- Então me ajuda a me trocar? 
Falou e levantou-se, meio tonto ainda e suspirou, piscando a observar o quarto.
- Hey, não levante tão rápido.
Kyo disse e segurou-o, ajudando-o com a roupa e procurou as suas, substituindo aquele avental aos poucos por suas peças. 
- Mas está tão magrinho, sequer parece ter um bebê.
Shinya sorriu a ele, meio sem graça, se achava realmente muito magro, e tinha vergonha que ele visse a si daquele modo, então escondia o corpo quando ele retirava as próprias roupas, havia passado a fazer isso depois que percebera.
- Obrigado. - Falou a ele, vestindo por último a camisa.
- Vamos. Quero tomar chá com você, mas quero ir pra cama com você, logo.
- Pra cama? 
Shinya sorriu a ele, meio tímido e mordeu o lábio inferior.
- Sim. Seu corpo e seus lábios bonitos.
O maior riu baixinho e aproximou-se, selando-lhe os lábios.
- Meus lábios vão adorar ficar em torno de você.
- Vou esperar por isso.
Shinya sorriu e uma das mãos o tocou sobre a calça, apertando-o sem muita força e afastou-se em seguida, disfarçando. O menor sentiu a apalpada no sexo, mordeu o lábio e fitou o louro a continuar seu caminho. Suspirou e guiou-o para a porta, não dando trela a provocação, afinal, precisava chegar em casa com rapidez. 
- Vamos.
O baterista assentiu e sorriu a ele, guiando-se pelo local até o carro e encontrou o baixista lá fora com o sanduíche na mão.
- Foi mesmo comer então.
- O lanche, já que não podia virar a comida.
Shinya riu baixinho.
- Ah, é, e parece que você está realmente muito feliz que vai ser pai, não é Kyo? Tipo muito feliz. 
Toshiya disse a apontar a direção da calça do outro, marcada no membro ereto e Shinya sentiu as bochechas se corarem na mesma hora, quase voando para dentro do carro.
- K-Kyo... Melhor entrar.
- É, é tanta felicidade que o sangue não sabe aonde ferver. E você está olhando pra cá por quê? 
Kyo retrucou com os olhos que já pequenos estreitos e caminhava ao carro, vendo o louro corado e apressado para o automóvel. 
- Vai no carro com a gente?
- Eu vou, me leva que o Die me pega e leva em casa.
Shinya sorriu ao ouvi-lo, maliciando o dito, porém não quis deixar aparente.
- Ele pega você. 
Kyo disse e entrou no veículo, esperando pelo moreno que entrou logo após terminando seu lanche. O baterista riu ao ouvir o outro e adentrou o carro junto ao moreno, porém no banco carona, ao lado do menor. Aconchegou-se no local e esperou o caminho até em casa, deslizando suavemente a mão pela barriga, vez ou outra, tentava ainda se acostumar a ideia de que teria outro filho... Hitomi.

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