Ritsu e Etsuo #15


Estava frio, é claro, não para Etsuo, mas para um humano comum talvez. Tinha nos olhos os óculos escuros, no céu não tinha sol, mas a claridade ainda incomodava a vista e esperava o irmão, visto que havia colocado sobre sua mesa de escola um bilhete informando que o estava esperando na mesa do refeitório, mas já faziam alguns minutos e nem sinal dele. Quando prestes a desistir, viu o rapaz se sentar em frente a si e o conhecia bem, mas não acreditou que era ele, somente quando retirou os óculos, observando-o.
- Perdeu a noção do perigo?
- Oi, Etsuo certo?
- Não. 
- Foi assim que o Ritsu me apresentou você aquela vez... Está usando um nome diferente, mas... Enfim. Você é irmão do Ritsu, não é?
- Não sou irmão dele.
- Então...?
- O que você quer?
- Eu quero saber se é irmão dele mesmo, porque... Eu... Estou gostando do Ritsu e não sei como falar pra ele, quero saber o que ele gosta... Mas não fique com ciúme, eu não quero tirar ele de você.
Etsuo arqueou uma das sobrancelhas, e estava prestes a voar no pescoço do garoto, por sorte, dele, não própria o sinal tocou.
- Está sim...
Após a aula complementar, Ritsu voltou à classe, notando o bilhete deixado ali, sem entender a razão dele, teria sido muito mais fácil de houvessem se encontrado para que ele dissesse ao invés de deixar o recado em papel. Finalmente pôde descer após a aula, passou na cantina no entanto e comprou algumas bebidas, aloe vera para ele e cappuccino enlatado para si, claro que não era a melhor opção de um cappuccino, mas na escola não podia esperar muito. Seguiu pelo refeitório, buscando encontra-lo, parou por um momento ao perceber o irmão junto ao colega, que não entendeu o motivo da conversa, que não poderia ouvir. 
- Não, você... Quer cuidar dele, eu entendo. E eu também.
- Você não vai cuidar de porra nenhuma seu desgraçado. 
Etsuo falou a erguer a voz e ergueu-se, segurando-o pela camisa do uniforme.
- Etsuo! - Ritsu disse e embora não houvesse corrido, caminhou com passos largos e precisos até ambos. - O que estão fazendo?
Etsuo desviou o olhar ao caçula ao vê-lo ali e estreitou os olhos, negativando, porém não soltou o garoto.
- Nada... Eu só... Quis falar com ele.
- Falar é? Eu vou te cortar em pedaços!
- Etsuo, solte ele. 
Ritsu disse ao irmão e não tinha intenção de soar suave como normalmente, soou impassível. 
- Não se meta, Ritsu!
O menor fitou o irmão, mais emputecido por sua grosseria em frente aos outros consigo, do que pela discussão em si. Se aproximou e até abandonou as bebidas num lugar qualquer, sem intenção de toma-los de volta. Segurou a mão do irmão e tentou se pôr na frente do menor, a fim de separa-los. 
- Ritsu, solta. 
O maior falou, desviando o olhar a ele, e os olhos brilhavam mesmo atrás das lentes de contato, expondo o quanto estava irritado com o ato do garoto a frente, se o menor não estivesse ali, certamente o enforcaria.
Ritsu não queria falar, o contrário do irmão, não era o tipo de pessoa que gostava daquele tipo de exposição, ele simplesmente não ligava, já para si, sentia-se enojado. Teria ido embora, dado as costas, com intuito de ao menos tira-lo de lá no susto, porém o menor parecia ainda mais assustado, não tinha como deixa-lo por lá. Olhou o irmão, tentando dizer a ele para parar com aquilo se que precisasse falar. 
Etsuo suspirou e estava puto, tanto que ao invés de soltar o rapaz simples, o corpo dele fora ao chão num baque seco, e o arremessou de cima da mesa, sem querer saber da expressão das pessoas ao redor, ou das perguntas de como havia feito aquilo. Também não quis saber se havia quebrado algo dele. Por fim levantou-se e ao invés de o pequeno sair, fora a própria vez, principalmente ao ver o caçula dar mais atenção ao amigo do que a si.
Talvez fosse aquela a primeira briga com o irmão. Já haviam discutido antes, nada que levasse àquele patamar. Ao ouvir o alarde diante de seus movimentos, Ritsu não tinha intuito de desprezar o irmão e talvez aumentar toda aquela sua ira, mas não tinha como respeita-lo diante daquela reação. Saltou em direção ao garoto, estupefato pela reação do moreno, exceto na discussão que antes haviam tido por conta de outro amigo, com que saíra com o pulso ferido, aquela havia sido a pior, ele parecia quase irracional, não entendia de onde sua personalidade havia saído, não via algo como aquilo nos pais. Ao se abaixar, pegou o amigo menor no colo, fitou o irmão e deixou claro, que havia sentido receio dele, e assim tratou de levar o mais novo até a enfermaria. 
Ao sair do local, prendendo as lágrimas nos olhos, o moreno seguiu direto em direção a sala, onde pegou a própria mochila e seguindo em direção a saída sentiu o puxão no braço, um dos garotos da turma dele havia parado a si, curioso com a própria fúria, e do modo como estava irritado, poderia jogá-lo longe, se as feições dele não lembrassem as do irmão quando mais novo e cessou os passos, observando-o, ainda com as sobrancelhas franzidas em evidente irritação.
- Yazu, está tudo bem?
- ... Quem é você?
- Desculpe, meu nome é Mitsuki.
- Mitsu... Ki? 
- Hai. Você não me conhece, mas vi você vindo tão raivoso pra sala e quis saber se estava tudo bem... Desculpe me meter.
Etsuo suavizou a expressão de raiva a observar o pequeno, e parecia uma menina, não era atraente para si, mas como havia notado, algo dele lembrava o irmão, e isso chamava a atenção, há muito tempo não via o irmão perguntar algo assim para si, desde que os ataques de ciúme começaram. Ergueu uma das mãos e deslizou pelos cabelos do garoto, bagunçando-os como fazia com o caçula e nada disse a ele, apenas se desviou e 
seguiu para fora da escola.
Após deixar o garoto na sala de enfermagem, Ritsu explicou a situação a enfermeira e mesmo ao garoto dolorido e deitado, por sorte pouco ferido. Após isso, já com os materiais, ajeitou no ombro e saiu caminho de volta, até cruzou brevemente o caminho do irmão, falava com alguém, mas não deu a menor atenção, estava irritado e com isso, o contrário dele, não se refletia em fúria mas sim em apatia, era um oposto gigantesco dele. E assim os passos se seguiam apressados, queria chegar em casa sem ter o caminho cruzado com o do moreno, não queria continuar a discutir, não queria ouvir asneiras e não queria ver sua expressão irritadiça. A única coisa que poderia fazer era falar com a mãe. 
Etsuo adentrou a casa, e estava frustrado, isso era óbvio, queria deitar e não levantar mais, porém sabia que o outro estava vindo pra casa igualmente, por isso preferiu sair. Jogou a mochila ao canto, trocando a roupa do uniforme por uma das qual costumava vestir, inteiramente preta e ao sair, cruzou com o irmão na porta, porém nada disse e seguiu para fora, batendo a porta ao passar.
- Etsuo. 
Disse o loiro ao cruzar o caminho com ele, havia chegado antes de si e havia sido rápido, mas no caminho havia conseguido refletir e até acalmar os ânimos em relação a sentir ou não, medo do irmão. 
- Você pode sair depois, mas quero falar com você antes. Entre por uns minutos.
- Não quero conversar, Ritsu.
- Eu quero falar. Tem como você parar de olhar só pro seu nariz pelo menos uma vez?
Etsuo desviou o olhar a ele, os olhos ainda brilhantes, embora tivessem um brilho estranho devido as lágrimas.
- Eu tenho passado a desejar todos os dias olhar pro meu próprio nariz, pra não cometer esses mesmos erros que eu ando cometendo, então não fale o que você não sabe.
- Então venha, eu preciso falar com você. 
Disse o menor e por fim esperou que ele seguisse consigo o mesmo caminho, e entrou em casa, seguindo ao próprio quarto onde deixou a mala de escola sobre a cama e fitou a porta, esperando ver se entraria em conjunto. Etsuo suspirou, sabia o tipo de coisa que ele diria, por isso, seguiu-o para dentro, ouviria logo de uma vez, já sabia que não voltaria para casa naquela semana. Ritsu não se sentou, preferiu começar sem rodeios. 
- Até pouco tempo tínhamos um relacionamento bom. Você é meu irmão, sempre foi meu melhor amigo e sempre foi tão dócil. Sempre quis cuidar de mim, embora sempre fora exagerado com isso, como se eu fosse um cristal. Depois que me beijou, você acabou me fazendo mudar a forma de passar esses momentos do seu lado, voltando da escola eu não queria só sair pra comer alguma coisa, não queria te desencontrar porque saiu com seus amigos, eu queria voltar e ir pra cama com você. Mas com isso, você também mudou, na verdade sempre foi assim mimado, mas enlouqueceu, você perde a linha. E não sabe ser normal, ficar com ciúme e simplesmente fechar a cara, discutir comigo, você fica louco, uma vez machucou meu pulso e na outra você arremessa um garoto de 40 quilos na parede. Então, não vou levar adiante. Não porque não gosto de você, mas porque você não percebe que gosto e por isso enlouquece, porque acha que vou te trair por qualquer coisa, então, eu não quero voltar pra casa com raiva de você.
O moreno observou o irmão enquanto falava, e já estava irritado o suficiente para ter aquela discussão, mas naquele momento, não sabia como agir, sentia as lágrimas que agora escorriam pela face, e de fato, não era culpa própria, por isso mesmo achava injusto, não é como se pudesse se controlar sobre o que sentia, e por isso, achava-o absurdo, mas era um vampiro, era perigoso, e talvez por isso mesmo precisasse ficar longe dele. Assentiu, queria puxá-lo para si, queria empurrá-lo para a cama, mas não teve forças para fazê-lo, justamente para não machucá-lo, e não queria fazer algo que ele não queria, visto que era tão "frágil". Passou por ele, silencioso e no armário buscou uma mochila vazia, onde colocou as próprias roupas no interior, jogando-as sem escolher muito.
- Etsuo, você não está morando na casa de um namorado. Você mora com seus pais, pare com isso. 
Ritsu disse e puxou a mochila, que por sua distração acabou soltando, jogou-a no chão.
- Ritsu, por favor, me deixe ir embora. 
Etsuo falou a ele e logo desviou o olhar a mochila no chão, e cerrou os punhos, não iria acertá-lo, mas estava irritado e todos os dedos estalaram ao fazê-lo. Ritsu fitou a seu punho conforme cerrado. 
- Certo.
O moreno assentiu e pegou a mochila no chão, as roupas e colocou-as para dentro novamente, junto de alguns objetos de higiene pessoal, e ao fechar, seguiu em direção a porta sem olhar para ele.
- Onde você vai? Etsuo!
- Mãe, não quero conversar. 
- Por que está chorando? Etsu, onde você vai?
- Vou ficar num lugar por alguns dias, não se preocupe.
- Não vai não. Pare ou vou mandar seu pai atrás de você.
- Mãe, me deixe sair, ta bem? Eu não quero discutir.
- Você brigou com o seu irmão?
- Mãe.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário