Ryoga e Katsumi #29


- Erin, você pode ficar aqui por um minuto? Vou descer pra receber o pagamento de um cliente, por favor, fique de olho no seu irmão, hum?
Katsumi falou ao pequenininho e logo saiu da casa, descendo pelo elevador ao andar de baixo e atendeu o rapaz parado ali, que entregou o valor nas próprias mãos, e era uma quantia considerável pela tinta feita por si, que nenhum outro vampiro da cidade usava.

- Hey, você... Ainda frequenta aquela boate?
- Não, eu meio que tenho um parceiro agora. 
- Hum, é uma pena.
Assentiu, meio sem saber o que dizer e guardou o dinheiro no bolso. A noite estava bonita e iluminada, sentia vontade de caminhar por ali com ele, mas ele havia saído, embora não demorasse a chegar. Suspirou e logo ergueu a face para olhar a lua e quase achou que poderia uivar como um lobo, até riu ao pensar nisso e ao olhar a sacada, quase morreu do coração, de novo.
- ERIN! Desce daí!
Gritou ao ver o garoto se pendurando no parapeito e entrou em pânico, ele era uma criança meio humana, meio vampira, meio...? Não sabia. Se caísse poderia morrer e agora, estava pendurado. Nem precisava dizer que o grito havia chamado atenção de meio mundo em volta, então, não podia pular até a sacada.
- Fique aí! Não se mexa!
Gritou e correu para dentro, pegando o elevador ao andar de cima e quase quebrou-o a bater algumas vezes em seu painel para que descesse mais rápido, porque diabos não havia usado a escada? Adentrou a casa, correndo em direção ao quarto e por fim, desviou o olhar a sacada, que estava vazia. Atirou-se ao parapeito, porém não havia nenhum corpo lá embaixo e uniu as sobrancelhas.
- ... ERIN?!

Ryoga entrou com o veículo no estacionamento do edifício, na própria vaga. Parou o automóvel o qual desembarcou e alarmou embora não houvesse realmente necessidade de fazê-lo por lá. Ao fechar a porta logo seguiu pelo lugar extenso até chegar a porta do térreo e tomar o elevador, como tomou-o primeiro, acabou passando pouco antes pelo andar do hall, impossibilitando a entrada do rapaz, que até então não havia cruzado consigo já que um piso acima. Encostou-se à parede metálica esperando subir os andares abaixo do próprio, quando finalmente chegou, caminhou até a própria porta e destravou com o cartão de segurança, encontrando o apartamento vazio, ainda que alguns pequenos ruídos indicassem atividade por lá.
- Papai, você demorou. - Disse o pequenino ao entrar da varanda para a sala e fora por si recepcionado.
- O que estava fazendo lá fora, Erin? Já te disse que você não é um macaco, pare de se pendurar. - Reclamou ao filho que ria travesso com aquela análise. - Não vou avisar de novo, na próxima eu aviso com a cinta.
Tornou dizer e o viu assentir enquanto pedia colo e deitava-se 
com a cabeça no próprio ombro, bem aconchegado. Aproveitou para seguir até o quarto do filho menor e fitá-lo bem descanso e adormecido no berço.
- E o Katsu...
Disse e completaria, se não houvesse sido interrompido com todo o barulho na casa e mesmo de fundo a voz do moreno que chamava pelo filho. Arqueou a sobrancelha e caminhou até a saída do quarto, logo para a sala.

Katsumi abaixou a cabeça, ajoelhando-se ali e até chegou a bater a testa sobre o local, fechando os olhos.
- Meu Deus, o Ryoga vai me esquartejar...
Falou e logo levantou-se, observando o local abaixo novamente e negativou, virando-se rapidamente para a sala e correndo em direção a porta. Havia passado em frente a ele e nem se quer o percebeu com o pequeno, somente quando já estava lá fora e arqueou uma das sobrancelhas, voltando os passos para dentro e o fitou ali parado, confuso.
- ...Quando foi que você entrou? Erin! Que susto.

Ryoga observou o recente companheiro passar depressa pela sala direção a saída e assim voltar um minuto inteiro depois, imaginava se não estava pensando antes de finalmente entrar com vergonha, mas quando o viu parecia mais surpreso que tímido.
- Eu entrei quando você não estava.

- ... Achei que ele tinha pulado, meu Deus, acho que infartei três vezes...
- Ele tem mania de ficar no alto. Já mandei não fazer isso, da próxima vez vai apanhar.
- ...Graças a Deus ele está bem.
- Graças a Deus, é? Você também vai levar cintada se sair e deixar os dois sozinhos.
- Eu fui ali embaixo.
- Fazer o que?
- Pegar um dinheiro.
- De que?
- Uma tatuagem que eu fiz, nada demais.
- Hum, e quando fez? Não fiquei sabendo.
- Na semana passada ora, eu te avisei quando saí.

- Não avisou, mas tudo bem. Hoje não precisa ir trabalhar.
- Eh?
- Estou te demitindo.
- ... Por quê?
- Estou brincando. Hoje o restaurante está tendo um jantar particular então, não precisamos de muitos para o atendimento.
Katsumi recuperou a respiração perdida e uniu as sobrancelhas.
- E por que está me dispensando?

- Porque já tem funcionários por lá.
- Ora, despeça outro.
- Não estou te despedindo, idiota. Estou apenas te dando uma folga.
- Não quero uma folga, vou fazer o que sem você aqui?
- Eu estou em casa, não estou?
- Vai ficar comigo?
- Vou ficar, deixei quem cuidasse do lugar.
- Hum... Então...
- Então? - Ryoga indagou, curioso sobre o que pensava na continuidade da frase.
- Vamos nos divertir um pouco? - Katsumi sorriu, meio de canto.
- O que pensa em fazer?
- Não sei... A cama é uma opção?
- Sabe que esse tipo de coisa não exige que eu esteja em casa a essa hora, ah?
- Eh?
- Sabe que podemos ir pra cama mesmo depois do trabalho, fala como se eu tivesse que reservar hora pra sexo.
- Bem, então... O que você quer fazer?
- Nada em especial, só queria ficar um tempo com os meus pirralhos. - Disse e deu um tapinha no bumbum do filho, agora mais velho. - E com a mãe deles. - Completou pouco depois, embora não tivesse olhado para o rapaz.
Katsumi desviou o olhar a ele ao ouvi-lo e abriu um pequeno sorriso de canto, meio desajeitado, não era acostumado a ouvir aquilo, embora fosse pai de um dos filhos dele.
- ... Ahn... E-Eu...

- Onde querem jantar?
- Quero comida italiana, papai!
O menor riu baixinho, desviando o olhar e assentiu.
- Pode ser.
- Hum, papai também quer. Vamos fazer aqui ou sair?

- Hum... Pode ser aqui. Quero jogar vídeo game!
- Eu não sei cozinhar...
- Só se levar o Natsumi pra ficar com você.  - Disse ao filho, tentando fazê-lo mais confortável com seu caçula. -  Eu te ajudo com isso.
- Ah... Mas...
Katsumi uniu as sobrancelhas.
- Por que você não gosta do seu irmãozinho?

- Ele não é meu irmão...
Katsumi observou o pequeno por alguns segundos e logo assentiu.
- Por que não?
- Porque não. Não nasceu da mesma mamãe que eu...
- Então eu não sou seu pai?

- É sim...
- O Katsumi, você chama ele de mamãe.
- Mas não é a mesma coisa... A mamãe não chora a noite.
- Ah, então eu devia não ser seu pai, já que você chorava de dia e eu tinha que ficar acordado cuidando de você.

Katsumi sorriu meio de canto a ouvir a conversa de ambos e obviamente havia se incomodado com o comentário do pequeno, mas era uma criança.
- Ta bom, ta bom...
- Se ele chora, você pode ir e deitar com ele, assim ele para.
- Hai... Quero brincar logo com ele, ele é muito pequeno.
- Então diga ao Katsumi.
- Mamãe, eu quero brincar com ele logo, faz ele crescer.
O outro riu baixinho, negativando.
- Não tenho esse poder, pequeno. Logo ele cresce. Leve seu irmãozinho pra jogar com você, vou dar a mamadeira pra ele.

- Dê a mamadeira pro Erin. Vamos fazer o jantar.
O menor assentiu e na cozinha, preparou a mamadeira pequena com o líquido denso e vermelho, colocando nas mãozinhas do pequeno no sofá, ajeitando-o na cadeirinha enquanto observava seu irmãozinho com o jogo. Seguiu em direção a cozinha com o maior e sentou-se no banco alto em frente a bancada de mármore.
- Ne, eu estou morando com você há meses e praticamente não sei nada sobre você.

Ryoga observou o moreno de volta com a mamadeira do filho, entregou ao pequeno.
- Preste atenção se não vai engasgar ele com o sangue.
Disse ao pequenino e deixou-o tomar conta da tarefa, certamente mais fácil do que para um humano. E ao deixá-lo, levantou-se para seguir até a cozinha onde preparariam o jantar. Alcançou consigo a cozinha e viu-o se sentar, tratou no entanto de buscar os ingredientes necessários. Mas o fitou de soslaio ao receber a pergunta.
- O que quer saber?

Katsumi sorriu, meio de canto.
- Quantos anos você tem?
- Visualmente, em torno de vinte e dois.

- Não quis dizer visualmente.
- Na verdade eu não sei.
- Eh?
- Eu não sei, faço mais um ano há muito tempo, não dou importância a isso.
- Ah... Ta bem... 
Onde você nasceu?
Você vai ver com o tempo. - Ryoga disse e deu-lhe um sorriso canteiro. - Kyoto. E você como foi virar um vampiro?
Katsumi sorriu meio de canto.
- É uma história meio longa.

- Simplifique.
- Basicamente, eu era um idiota desempregado que foi chamado para uma entrevista de emprego e acabou se ferrando. - Riu.
- Com o entrevistador ou no meio do caminho?
- O entrevistador.
- Que vampiro paciente. Seria mais fácil caçar.

- Segundo ele, eu era um adolescente muito bonito quando me olhava na escola. - Sorriu, meio de canto.
- Ele podia ter pego na escola mesmo.

- É, eu sei. - Riu. - Acho que eu podia ter morrido do coração primeiro, que bom que ele não me estuprou.
- Provavelmente era um vampiro sem experiência.
Ryoga disse e àquela altura, separava alguns ingredientes mas não mexeu neles, apenas os colocou na bancada. 

- Uhum. - Katsumi murmurou e suspirou. - Me largou na rua logo depois.
- Venha, pegue os ingredientes pra massa.

- Hai. O que vai na massa...?
- Os ingredientes que eu separei. - Disse o maior já ao lado dele, indicando-o sobre a bancada.
- Ah, hai... - O menor falou e seguiu a bancada, buscando os ingredientes deixados ali. - Você... Seus pais eram vampiros nascidos?
Ryoga assentiu num movimento com a cabeça, buscando a farinha com medida e dava para ele.
- Nunca fiz macarrão antes.
- Sim, você disse. Está aprendendo agora.
- Hai. Você não vai me contar mesmo sua história?
- É uma história como outra qualquer.
- Hum, meio que interessa pra mim.
- Um dia quem sabe eu te conte.
Katsumi estreitou os olhos, e negativou, desviando a atenção ao macarrão e seus ingredientes, e não fazia ideia do que estava fazendo, mas ao menos estava junto dele no dia de folga.

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