Ryoga e Katsumi #45


- Hum. Vejo você amanhã. Certo. Eu sei do que você gosta.
Ryoga encostou-se na pilastra, observando a imagem pela varanda, tinha uma paisagem noturna vasta, a cidade era iluminada por luzes artificiais e falava ao telefone, que minutos depois finalizou a ligação. Tinha a breve impressão de que estava sendo olhado, se voltou para a direção, buscando saber se a privacidade da ligação estava sendo invadida por alguém. Ao se desencontrar então, seguiu para dentro.

Katsumi havia acabado de sair do banho, e ainda secava os cabelos com a toalha quando o ouviu conversar com alguém no telefone. Curioso, desviou o olhar a ele, acabando por ouvir a última frase e estreitou os olhos. 
- ... Quem era?
O maior fitou-o de soslaio, desviou a atenção em seguida e caminhou até o balcão, onde pegou as chaves do carro. 
- Alguém, enxerido. Eu volto em algumas horas.
- ... Ryoga. - Falou a ele conforme o observava sair. - Você não vai sair, que porra?
- Eu vou até o restaurante.
- Quem gosta do que?
- Um conhecido meu. Relaxa, Katsumi. Amanhã vamos jantar no restaurante.
- ... Certo.
Foi assim que Ryoga logo saiu, também voltou mais tarde, havia resolvido pendências do restaurante, recebido coisas novas. Em casa, Katsumi estava encanado, mas não deu importância, justamente porque não era nada de mais. À porta, um toque duplo não demonstrava a voz de quem estaria lá, mas aguardava abrir ainda que tivesse conseguido acesso ao prédio. Atrás da porta, ele tinha altura maior que a de Katsumi embora fosse um ou dois centímetros menor que Ryoga, tinha cabelos escuros e pelo menos um lado dele chegava na altura do peito, do outro parte o comprimento era menor e ligeiramente raspado, Ryoga costumava dizer que era o cabelo de quem começou mas não terminou de cortar, ainda assim tinha seu charme. 
- Katsumi. Quero uma tatuagem. 
Disse ao outro ao abrir a porta. O moreno de cabelos escuros e meio longo, meio curto, tinha olhos amarelos vivos, pele pálida e lábios quase morbidamente roxos. Podia-se ver surgindo de seu pescoço uma tatuagem, provavelmente era a ponta, dentro da camisa seguiria com a continuidade da arte traçada em sua pele. E ali ele estava, esperando por mais uma tatuagem. 
- Ryoga me falou que você é um tatuador.
Katsumi suspirou, estava puto, não gostava de ficar em casa a espera de que ele voltasse sem notícias de nada, era um vampiro, poderia muito bem ficar com outra pessoa por aí, ao menos sentia os sentimentos dele é enquanto arrumava o estúdio, ficava atento a qualquer atividade estranha vinda de seu corpo, mas ainda assim, estava puto, por ele não ter chamado a si para trabalhar, embora fosse o próprio dia de folga. Jogava as coisas no estúdio, de um lado para o outro, arrumaria depois. Só parou quando ouviu o toque na porta e desviou o olhar ao local, indicando ao rapaz que entrasse. 
- Oi... Ryoga disse? Ah... Bem, o que você quer fazer?
Ele entrou pela casa, tomando a liberdade de deixar sua bolsa pendurada. Com Katsumi seguiu até seu pequeno espaço profissional onde um pequeno tornado havia passado, folheou seus desenhos até que terminassem bolando algo que complementasse o que já existia em sua pele antes, em suas costas que pouco tinham da cor natural e agora terminaria preenchida pelo rapaz. Ao se sentar em sua cama de estúdio, tirou a camisa sem pudores e se deitou lá, era uma tatuagem imprevista, mas era uma boa ideia.
- Fique a vontade. Disse, indicando que se deitasse na própria maca e observou suas costas, tatuadas e bonitas, quer dizer, a tatuagem era bonita, não que estivesse observando o corpo dele, porque não estava, era profissional. 
- Fez essa quando ainda era humano?
- Humano? 
O rapaz indagou quando se voltou de soslaio para ele, seus olhos dourados diziam a razão da pergunta. Katsumi uniu as sobrancelhas, só então havia visto seus olhos. 
- Me desculpe. É que... Eu desenvolvi a tinta, nunca havia visto um vampiro tatuado que não fosse por mim, pelo visto, não sou o único.
Ele deu um sorriso canteiro, achava graça. 
- Ryoga me falou de sua tinta. Você é o único com a sua técnica. Essa daqui foi feita com o calor. Nada tão suave quanto a sua. Foi feita com agulha e tintas quentes, nada tão indolor quanto a sua.
Katsumi franziu o cenho, observando-o e deslizou a mão delicadamente por suas costas, onde havia sido feita a tatuagem, podia notar que a pele não estava tão lisa, parecia machucada, mas só podia ser notado se tocada.
- Deve ter sido horrível.
Disse e voltou a atenção a própria tinta, a qual retirou do armário, assim como a máquina e agulhas. Sob o toque era visível que a pele do rapaz se arrepiava, na verdade, uma ferida de calor podia cicatrizar mas se tornava sensível no contato, a de uma tatuagem porém não era tão dolorida quanto o fogo real, por isso sentia apenas arranhar quando tocada, como finas agulhas. Mas aquilo não era algo tão aversivo para ele. Já havia dado um tempo quando regrediu, sentiu um cheiro específico na casa, vinha da sala do moreno e também da mochila no canto, arqueou a sobrancelha e caminhou ao estúdio onde sua máquina ruía, ao chegar na porta, olhou dali mesmo o moreno deitado. 
- Olá, Ryoga - Proferiu, tal qual sorriu. 
- Não perdeu a oportunidade de tirar a camisa, ah?
Katsumi prendeu os cabelos num rabo de cavalo solto, e aos poucos começou a tatuagem, o toque da própria agulha era suave, não tão dolorida certamente quanto a quente que ele havia feito, também não doeria em sua pele posteriormente. Contornava o desenho, quando por fim desviou o olhar a porta, vendo o outro que havia chego e ainda estava puto. 
- Vocês são amigos, é?- Você não ia chegar apenas amanhã? 
Ryoga indagou ao moreno que pediu um instante a seu tatuador, ao se levantar, fez questão de cumprimenta-lo com um abraço seguido de bons tapas em suas costas. 
- Não faz assim, sabe que eu gosto. Brincando, Katsumi. 
- Põe a camisa, Ryoma. 
- Estou tatuando, já estamos no meio.
Katsumi arqueou uma das sobrancelhas ao fita-los e ajeitou as luvas na mão, meio desajeitado. 
- ... Você tem um irmão? E nunca me falou nada?
- Eu falo pouco. 
Ryoga deu aquela desculpa esfarrapada que não era de fato uma mentira. O outro rapaz voltou para a maca, queria terminar seus ajustes, faltavam poucos. Ryoma deitou de bruços e apoiou o rosto na palma da mão, na direção de Katsumi e sorriu, num novo cumprimento. O menor uniu as sobrancelhas e assentiu, agora estava nervoso em tatuar o outro, mas terminaria o serviço. 
- Prazer em te conhecer...
- Katsumi, convide o Haruki para o jantar.
Katsumi desviou o olhar ao namorado e franziu o cenho. 
- ... Ta, vou ligar.
Ryoga observou o irmão na maca que deu um sorriso mostrando os dentes, gostava da ideia, podia ver. Deixou então seu estúdio até que eles terminassem sua prática. 
- Ryo-nii...
- Já sei, Ryoma. 
Ryoga disse da cozinha e já sabia o que ele queria, já havia perdido as contas de quantas vezes ele pediu ao telefone. Já ele, onde estava deu um sorriso quase arteiro, entre os dentes, baixo porém audível. Katsumi sorriu meio de canto e negativou, ajeitando as luvas novamente e voltou a contornar a tatuagem, continuando o que fazia nas costas dele, e perguntava-se como não havia percebido, claro, não havia olhado o rosto dele, clientes eram só clientes, tinha um namorado que gostava demais, não desviava o olhar para qualquer um que entrasse.
- Hum... O que mais o Ryoga disse pra você?
- Hum? 
Ryoma desviou a ele, não sabendo sobre o que falava diante de seu modo repentino.
- Ele... Falou que eu era tatuador, mas... Só isso?
O outro se virou novamente, encostando a bochecha na mão ao encarar o outro, era bonito embora nunca houvesse imaginado o irmão com alguém como ele. 
- Hum, Ryoga é reservado. Ele falou pouco, falou que estava casado, que era um tatuador e que já tinham um filho.
- ... Casado. 
Disse o menor e cessou a tatuagem por um instante, desviando o olhar em direção a porta aperta, podia ver somente a silhueta de sombras na cozinha, sorriu de modo sutil. 
- ... Dois na verdade. Alias, três.
- Que rapidez. Três com o Erin, eu suponho.
Katumi sorriu meio de canto. 
- Sim, temos o Erin e o Natsumi.
- O terceiro está vindo. O Erin já conheço, na verdade a última vez que vi Ryoga o Erin era bebê.
O menor assentiu e deu uma pausa para trocar as agulhas, faria a pintura. 
- Natsumi tem um ano e meio.
- É bem recente, vai conhecer o titio hoje.
Katsumi sorriu novamente e assentiu, na pausa, enviou uma mensagem ao irmão, chamando-o para o jantar. 
- Você mora longe?
- Hum. Estava na China. Mudo de lugar até descobrir o que tem de interessante e depois troco.
- Entendi. Pensa em passar um tempo por aqui?
- Hum, acho que sim. Mas tenho minha casa aqui, então não se incomode.
- Não me incomodo, a casa não é minha, é do Ryoga, e mesmo se fosse, se quiser ficar, é bem vindo.
- Ryoga é velho que eu. Nasci quando ele tinha dezesseis. 
Disse o outro, não que ele tivesse perguntado, mas podia ver que ele não sabia quase nada, e parecia gostar de descobrir a informação.
- Hum, irmão mais novo então. Você conhecerá meu irmão mais novo hoje.
- Também foi transformado, hum?
- Foi sim. Eu fui antes dele, na verdade.
- Então você o transformou? Hum, você teve sorte de não mata-lo.
- Sim, muita na verdade, foi a situação mais horrível da minha vida. - Riu, sutil.
- Eu imagino. Um vampiro precisa ser muito velho para ter a taxa de transformação certeira. Como é seu irmão?
- Bem, então dei sorte. Na verdade, a moça que me transformou era uma vampira nascida. Pelo menos me lembro dos olhos amarelos. Ele é... Excêntrico.
- Excêntrico, hum. Como?
- Bem, ele é divertido. Mas se quer dizer de aparência, loiro, olhos azuis.
- Seu irmão foi importado da Polônia ou da Rússia?
- Importado é? - Riu. - Não, se chamam lentes de contato e tinta pra cabelo.
- Ah, então é chinês. - Ryoga brincou, embora parecesse sério ao falar.
- É, meio chinês. - Katsumi riu baixinho. -Acho que vai gostar dele. E ele vai pular no seu colo.
- Não terminou essa tatuagem ainda? Qual o tamanho disso? 
Ryiga disse de onde estava, terminando de mexer com a massa. Katsumi riu e negativou, finalizando a pintura em mais alguns minutos e limpou as costas dele. 
- Pronto. Só beber um pouco de sangue e tudo vai cicatrizar.
- Ah, terminou? Estava gostosinho. 
- Para com essas ideias aí, Ryoma. Vem mexer nisso aqui.
O menor riu e negativou, deixando-o se levantar e entregou a camisa a ele. 
- Melhor... Se vestir. 
Disse Katsumi, não que sentisse alguma atração, mas o outro poderia achar ruim. Ryoma sorriu meio torto, claro que iria vestir, não era nudista. Porém caminhou até a porta do estúdio, encostou-se no limiar e fitou o irmão na cozinha. 
- E aí, bonitão, tô crescidinho pra você? - Ele brincou. Ryoga por vez o olhou com uma digna cara de paisagem. 
- Vou te bater com essa pano molhado em água fervente se não por a camisa. 
E o riso dele novamente soava entre os dentes. 
- Obrigado, Katsumi. 
Dito, entregou a ele um valor qualquer, não havia contato mas certamente era um valor bem suficiente. 
- Uma parte é da tatuagem e outra por aguentar esse velho.
Katsumi riu a arrumar as tintas no estúdio e desviou o olhar a ele conforme viu o dinheiro, não aceitou. 
- Iie, essa é por minha conta.
- Eu faço questão. 
Dito, Ryoma deixou o dinheiro onde estava e visualizou o resultado nas costas agora quase inteiramente escuras.
- Agora sim. Viu, nii-chan
Disse e seguiu para mostrar as costas pintadas. 
- Claro, está a mais um passo de virar um afrodescendente. 
- Sim, só falta o resto dos braços, pernas, peito, cabeça e serei negro.
Katsumi negativou ao observar o dinheiro e deixou-o na própria cômoda, bem, acharia um jeito de retribuir depois. Ao seguir para a cozinha, observou a ambos juntos, e realmente se pareciam. 
- Você gostou?
- Ficou ótimo, obrigado. 
Dito a ele, Ryoga esperou que terminasse de ajeitar parte de suas coisas e então seguiu até o irmão, ajudaria-o com o jantar, embora quisesse na verdade comer a massa que ele fazia.
- Hum... Ryoga não me deixa tatua-lo.
O menor disse, sentando perto do balcão a observar a ambos.
- Isso porque ele é um pouco fresco.  
- Fresco, hum?
- Tem medo que eu tatue mal? - Riu.
- Sei que faria bem. Mas eu nunca vou morrer, então vou deixar pra permitir isso quando eu tiver muito tédio na vida.
Katsumi sorriu meio de canto. 
- Hum.
- E quando isso acontecer, deixo você fazer no meu braço. 
Ryoga disse e de soslaio via o irmão roubar um pouco do sangue que iria na receita.
- No braço é? Disse com um sorriso. Ryoma vai ficar com a gente aqui em casa?
- Se ele quiser ficar. 
- Hum, hoje seria bom, mas amanhã eu vou em casa, quero saber como estão minhas coisas.
- Tudo bem então, vou arrumar o quarto de hóspedes pra você. 
Disse Katsumi e experimentou um pedaço da massa, claro, roubou-a.
- O seu irmão está demorando hoje. Normalmente não perde a oportunidade de correr pra cá.
- Hum, deve estar se... - O menor disse e ouviu a campainha logo após. - Arrumando. 
Dito, seguiu em direção a porta e abriu, dando passagem ao menor que entrou quase voando pra dentro. 
- Oi onii-chan! O que deu que resolveu me chamar? Quer que eu seja babá de novo pra você poder dar pro Ryoga? Eu não ligo. Eu... Meu Deus.
- .... - Katsumi sentiu a face se corar conforme ouviu o irmão falar e negativou. - ... Esse é o irmão do Ryoga. Ryoma, esse é Haruki, meu irmão. 
- Você podia ter me falado pra eu não vir tão desarrumado e falando besteiras, Katsumi... - Murmurou o menor. 
- Você por si só já é uma besteira, Haruki. 
- Ah, oi, prazer em te conhecer! - Disse ele a estender uma das mãos.

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