Daisuke e Misaki #3


Misaki abriu os olhos, incomodado pela pouca claridade que entrava pela janela do quarto, mas logo voltou a fechá-los, preguiçoso e virou-se de lado, abraçando o travesseiro. Aproximou-se do mesmo, beijando-o e notou que o outro não estava mais consigo na cama espaçosa. Suspirou, abrindo os olhos e procurou o vampiro, observando a lareira já apagada e ajeitou o cobertor sobre si, estava frio e ao contrário dele, a pele era bem sensitiva a isso. Outro suspiro deu e sentou-se, segurando o cobertor sobre o corpo nu e abaixou a cabeça.
- Hum... Então eu sou tão especial que me deixou sozinho aqui, não é...?
Murmurou, mais para si mesmo do que para ele, já que não estaria ali para ouvir. Levantou-se, pegando as próprias roupas no chão do quarto e vestiu-se, caminhando até o banheiro onde lavou o rosto, ajeitando os cabelos, sem abusar muito do local, afinal, a casa era do outro. Caminhou até a saída do quarto, observando brevemente a cama, tsc, era uma pena, haviam tido uma noite ótima, gostaria que ele fosse menos canalha. Logo fechou a porta, seguindo a própria casa em seguida e esqueceu, ou tentou, aquela noite, embora as marcas no pescoço fossem demorar para deixar a si esquecer.

A semana foi difícil para Misaki, ficava em casa, assistindo televisão ou fazendo algo sem importância como sempre fazia, escrevia quando se sentia entediado e decidiu ficar em casa até mesmo no fim de semana, não estava com ânimo para sair. O vampiro não lhe saía da cabeça, aqueles olhos bonitos, talvez escondidos pelas lentes de contato, os lábios dele a beijar todo o corpo e arrepiava-se ao se lembrar até mesmo dos pequenos toques. Já era terça feira da semana seguinte, nem se deu conta de como o tempo passou rápido, estava deitado na cama quente, mas tão fria de sentimento e tinha companhia apenas do pequeno gato preto que acariciava. Sentou-se, sentindo-se pouco enjoado e já não era a primeira vez em todo aquele tempo que sentia-se desse modo, algumas vezes tinha aquele enjoo de manhã, ou ficava apenas pouco tonto.
- O que tem de errado comigo...?
Levou uma das mãos até o pescoço sobre o local onde o outro havia mordido, mas não chegou a conclusão nenhuma, não havia um motivo para que aquilo tivesse deixado a si doente. Levantou-se, vestindo algumas roupas rapidamente e ajeitou os cabelos, a pouca maquiagem e caminhou até o carro, dirigindo até o hospital que não era longe, 
o pouco enjoo que sentia aos poucos foi passando e logo estacionou no local, saiu e fechou o carro. Ao entrar, falou com a atendente, esperando o tempo necessário até que pudesse falar com um médico sobre os sintomas que vinha sentindo.
As perguntas foram poucas, se alimentava-se corretamente, coisas do tipo e a última pergunta, se teve alguma relação sexual recente. Uniu as sobrancelhas ao ouvir o médico receitar o exame de sangue e suspirou, era uma completa perda de tempo, mas faria. Levantando-se e por um breve momento estremeceu, tinha um certo medo de agulhas e aquilo passou pela cabeça como um flash quando percebeu o que teria que fazer.
Dirigiu-se logo até a coleta de sangue e distraia-se com a sala banca enquanto a enfermeira retirava o sangue necessário. Porém, só teria a resposta alguns dias dali, até lá, teria de conviver com a própria ansiedade.
Enquanto voltou para casa, naqueles dias que se seguiram, roía quase todas as unhas, passava as palavras do médico pela cabeça e até a internet foi o alvo da própria curiosidade. Gravidez, mas o outro era um vampiro, não poderia engravidar de um vampiro, certo? De todo modo, deveria ter sido responsável e usado algum tipo de preservativo.
No dia da busca do exame, nem quis abrir dentro do hospital, ainda mais tendo pesquisado sobre, achava-se capaz de entender um simples exame de sangue, e entenderia. No carro, a segurar o envelope, suspirou e abriu o mesmo, lendo a letras pequenas e arregalou os olhos ao ler o resultado no fim, depois de muito custo pesquisando. Levantou-se, adentrando o hospital novamente e caminhou até o doutor, colocando os papeis sobre a mesa.
- Isso não é possível!
Ele assentiu para si, depois de ler os papéis, explicando o resultado do exame, que obviamente já sabia e apenas resmungou algo, saindo do local novamente.

Adentrou o carro, deixando os papéis ao lado e encostou a cabeça no volante, as lágrimas escorriam pela face, borrando pouco da maquiagem e logo ergueu o rosto, limpando as lágrimas com o casaco preto. O que faria? Procuraria o outro ou ficaria sozinho e enfrentaria tudo? Afinal, ele mentiu para si, não era especial e certamente ele deveria estar com outras pessoas na cama, falando a mesma coisa enquanto pensava nele.
Ponderou alguns minutos e decidiu que deveria ao menos contar ao outro, mesmo que ele não fosse ajudar a si, também era filho dele de todo modo, e seria incapaz de pensar em qualquer tipo de aborto. Ligou o carro e dirigiu-se a casa onde havia ficado com ele na outra semana ajeitando os papéis no envelope novamente e saiu do carro carregando o mesmo. Hesitou por alguns segundos e tocou a campainha, passando delicadamente a blusa pela face para limpar o rastro das lágrimas.

O cainita não tivera-se afetado em sua rotina, como habitual, durante o dia enfunava-se dentro de uma casa escura, enquanto seus companheiros eram apenas o computador, e o trabalho como romancista qualquer. Daisuke digitava o tema na tela de computador, enquanto permitia a mente a passear sob uma nova estória de romance, tendo ao telefone inúmeras reclamações da agente, que chegava a implorar para maior agilidade no trabalho. Ao apartar da ligação de celular, seus dedos abruptamente pressionavam as teclas do notebook, transpassando à tela branca, as letras a adornar o documento digital. Por um breve momento um tênue expandir de teus lábios adornaram a face suave ao recordar-se do jovem homem cujo havia passado a noite dias atrás, de fato havia sido demasiado agradável, porém não haveria de se envolver com qualquer alguém que fosse, não tinha interesse algum por mais que o andrógino bonito tivesse passado a mente em todos os dias seguintes, e agora o tema escolhido para o novo livro, seria o romance entre um mero humano e um ser da noite. Riu consigo mesmo mediante a ideia e pensava que talvez um dia retornasse àquela cidade, àquela casa, para que pudesse ver o jovem, porém, não agora.
Misaki não ouviu barulho nenhum dentro da casa e tocou a campainha mais algumas vezes, procurando resposta mesmo sem encontrar. Ele não estava e já imaginava isso. Por que ele ficaria num local onde pudesse encontrá-lo? Voltou ao próprio carro, as lágrimas novamente molhando o rosto e dirigiu para casa, estacionando o carro e adentrou o local, subindo as escadas novamente e deitando-se na cama, afundando a face sobre o travesseiro e apenas chorava, sabendo que não veria o outro novamente embora houvesse acontecido aquilo, era um maldito, queria poder odiá-lo, mas não o fazia, não conseguia.

Compartilhe:

DEIXE UM COMENTÁRIO

    Blogger Comment

0 comentários:

Postar um comentário